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Em todo o ano passado, 257 pessoas LGBTQIA+ tiveram morte violenta no Brasil. Isso significa que, a cada 34 horas, uma pessoa LGBTQIA+ perdeu a vida de forma violenta no país, que se manteve no posto de mais homotransfóbico do mundo em 2023. O dado foi divulgado neste sábado (20) pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), a mais antiga organização não governamental (ONG) LGBT da América Latina.

Há 44 anos, a ONG coleta dados sobre mortes por homicídio e suicídio dessa população LGBTQIA+ por meio de notícias, pesquisas na internet e informações obtidas com parentes das vítimas.

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O número, no entanto, pode ser ainda maior. Segundo a ONG, 20 mortes ainda estão sob apuração, o que poderia elevar esse número para até 277 casos. “O governo continua ignorando esse verdadeiro holocausto que, a cada 34 dias, mata violentamente um LGBT”, disse o antropólogo Luiz Mott, fundador do Grupo Gay da Bahia.

Do total de mortes registradas pelo Grupo Gay da Bahia, 127 se referiam a pessoas travestis e transgêneros, 118 eram gays, nove foram identificadas como lésbicas e três, como bissexuais. “Pela segunda vez em quatro décadas, as [mortes de] travestis ultrapassaram em número absoluto a dos gays. Isso é preocupante porque travestis e transexuais representam por volta de 1 milhão de pessoas e os gays representam 10% da população do Brasil, cerca de 20 ou 22 milhões de pessoas. Então, a chance ou o risco de uma trans ou travesti ser assassinada [no país] é 19 vezes maior do que para um gayou uma lésbica”, ressaltou Mott.

O relatório da ONG revela ainda que a maioria das vítimas (67%) era de jovens que tinham entre 19 e 45 anos quando sofreram a morte violenta. O mais jovem deles tinha apenas 13 anos e foi morto em Sinop, Mato Grosso, após uma tentativa de estupro.

Dentre essas mortes, 204 casos se referiam a homicídios e 17 a latrocínios. O Grupo Gay da Bahia também contabilizou 20 suicídios, seis a mais do que foram registrados em 2022.

Quanto ao local da violência, 29,5% das vítimas morreram em sua residência, mas uma em cada quatro pessoas (40%) LGBT morreram nas ruas ou espaços externos. “Persiste o padrão de travestis serem assassinadas a tiros na pista, terrenos baldios, estradas, motéis e pousadas, enquanto gays e lésbicas são mortas a facadas ou com ferramentas e utensílios domésticos, sobretudo dentro de seus apartamentos”, diz o relatório.

Regiões

Outro dado que o Grupo Gay da Bahia considera alarmante é que a maior parte das mortes ocorreu na Região Sudeste. Foi a primeira vez, em 44 anos, que o Sudeste assumiu a posição de região mais impactada, com registro de 100 casos.

A Região Nordeste apareceu na segunda posição, com 94 mortes. Na sequência, vieram as regiões Sul, com 24 óbitos, Centro-Oeste, com 22, e Norte, com 17.

“Chama a atenção o aumento inexplicado da mortalidade violenta dos LGBT+ no Sudeste, que saltou de 63 casos, em 2022, para 100 em 2023, ocupando o primeiro lugar nacional, fenômeno jamais observado desde 1980: aumento de 59%. Infelizmente, tais dados evidenciam que, diferentemente do que se propala e que todos aspiramos, maior escolaridade e melhor qualidade material de vida regional [IDH] não têm funcionado como antídotos à violência letal homotransfóbica”, disse Alberto Schmitz, coordenador do Centro de Documentação Luiz Mott do Grupo Dignidade de Curitiba.

São Paulo, com 34 mortes; Minas Gerais, com 30; Rio de Janeiro, com 28; Bahia, com 22; e Ceará, com 21, são os estados que mais concentraram mortes violentas da população LGBT no ano passado.

Políticas públicas

Para a ONG, esses números alarmantes reforçam a urgência de ações e políticas públicas efetivas para combater a violência direcionada à comunidade LGBTQIA+. A começar pela contabilização oficial dessas mortes. “O Grupo Gay da Bahia sempre solicitou ou reivindicou que o poder público se encarregasse das estatísticas de ódio em relação a LGBT, negros e indígenas. Mas, infelizmente, nem o IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] incluiu os LGBTs no seu cnso de forma sistemática e universal, e muito menos as delegacias e secretarias de Segurança Pública deram conta de registrar, em nível nacional, todas as violências de assédio, bullying, espancamento e mortes de LGBT”, disse Mott.

“Consideramos que essa ausência do poder público em garantir a segurança da população LGBT é um dado grave, reflexo da homofobia e homotransfobia institucional e estrutural. E a inexistência de dados oficiais, que permitiriam políticas públicas mais eficientes, também é um dado que reflete homofobia e transfobia estrutural, institucional e governamental”, acrescentou.

O Grupo Gay da Bahia enfatiza que é importante esclarecer essas mortes. “Infelizmente, as autoridades policiais conseguiram elucidar os autores de apenas 77 casos de mortes violentas”, informou o relatório. “Esse quadro reflete a falta de monitoramento efetivo da violência homotransfóbica pelo Estado brasileiro, resultando inevitavelmente na subnotificação, representando apenas a ponta visível de um iceberg de ódio e derramamento de sangue.”

O LeiaJá publica, nesta sexta-feira (17), a primeira de cinco reportagens sobre o crescimento de lideranças políticas de grupos de minorias que buscam protagonismo nas eleições municipais em Pernambuco no próximo ano. Nesta primeira reportagem, entrevistamos Flávia Hellen (PT-PE), primeira parlamentar negra e lésbica a ocupar uma cadeira na Câmara Municipal da cidade do Paulista e que agora sonha em ser a primeira prefeita do município de mais de 300 mil habitantes.

Um caminho pela frente

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Se para toda realização de um sonho é necessário encarar as inúmeras dificuldades que aparecem no caminho, na vida política não é diferente. Flávia, ciente que enfrentará alguns percalços, terá que aguardar a decisão do partido que tem a missão de escolher qual o político que poderá usar a imagem do presidente Lula (PT) na próxima campanha eleitoral.

Após o conhecido prefeito Yves Ribeiro (MDB-PE), figura política que coleciona mandatos em cidades do litoral norte, solicitar filiação ao Partido dos Trabalhadores, a única parlamentar petista do município, conhecida pelas suas duras críticas à atual gestão municipal e por levantar as bandeiras de pautas do campo progressista, informou ao LeiaJá que está à disposição da sigla para disputar a prefeitura.

Por enquanto, a vereadora segue com a dúvida: o partido de Lula escolherá uma jovem vereadora que sempre esteve presente na militância da sigla ou o atual prefeito do Paulista, que é considerado uma liderança recordista em mandatos no país?

Vida política

Na entrada do gabinete de Flávia na Câmara Municipal, logo é possível observar um porta retrato em uma parede com uma foto na qual aparece a vereadora ao lado do presidente Lula. O mandatário, que derrotou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições do ano passado, é muito elogiado pela parlamentar, que faz questão de falar da boa popularidade do atual chefe do Executivo entre os paulistenses e o que essa aprovação gera para os políticos do município.

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“Todas as pesquisas recentes mostram a alta aprovação do governo Lula e isso faz com que as forças políticas que querem vir como alternativa ou querem se perpetuar no comando político da cidade, tenham no PT a preferência para disputarem a eleição em 2024. Paulista é uma cidade que o partido sempre teve uma expressiva votação e isso demonstra que o povo paulistense reconhece nos governos do PT uma priorização para terem suas vidas transformadas”, disse.

Com esses mesmos elogios a sigla em que é filiada há 10 anos, a vereadora defende seu nome para a disputa do próximo ano: “Essa boa aprovação também mostra a sede das pessoas de terem, pela primeira vez na história, um governo popular em Paulista que é alinhado com o que representa o modo petista de governar no qual as pessoas mais pobres são prioridades”.

No seu currículo, Flávia carrega anos de participação em movimentos sociais que pedem direitos para a população feminina brasileira, respeito ao povo de periferia, proteção a comunidade LGBTQIAPN+ e protagonismo da população preta. Além disso, a primeira vereadora negra e lésbica do município, já precisou trazer sua experiência como militante para dentro do Prédio Vereador Gedeão Rosa, quando precisou defendeu seu mandato que correu risco de ser cassado em 2021. Na época, adversários políticos alegaram que o Partido dos Trabalhadores não tinha atingido a cota mínima de gênero nas eleições municipais de 2020. No entanto, o Ministério Público do estado considerou a ação improcedente e a Justiça indeferiu o pedido de cassação do mandato, pontuado que a retirada do mandato de uma candidata eleita seria uma afronta ao propósito da norma que estabeleceu as cotas de gênero para equilibrar a participação política.

“Desde que assumimos a Casa, a gente sempre teve uma postura propositiva. A gente sempre ao saber os problemas de Paulista, sempre buscamos fazer proposições legislativas na perspectiva de apresentar uma solução”, afirmou.

Autocrítica

“Nós precisamos ampliar as prefeituras do PT. Em todo o estado, temos apenas cinco gestões. Porém, das cinco, três não passam sequer de 100 mil habitantes. E, na Região Metropolitana do Recife não temos nenhuma prefeitura”, falou Flávia ao ser explicar a força da sua sigla nos municípios.

A vereadora afirma que não admite enxerga “Lula liderando em tudo e o PT subrepresentado em todos os espaços”, pois acredita que a sigla tem a capacidade de dobrar suas prefeituras em Pernambuco. Ela afirma que isso “pode ser mudado no próximo ano”, e brinca ao afirmar que a sigla tem “a bola e uma rede sem goleiro”, apostando que será a “grande chance” do partido em reverter a sua situação no estado.

Foto: Júlio Gomes/LeiaJá

Ao ser questionada sobre como seria sua reação caso o PT autorize a filiação de Yves Ribeiro, para assim, ampliar o número de gestões municipais comandadas pela sigla, a vereadora pontuou que “sempre foi e sempre será alinhada as resoluções do partido” e que é “uma militante que cumpre decisão partidária”.

“Eu vou até o limite defendendo minha candidatura e apresentando o meu programa de governo. Mas, obviamente, caso o PT faça outra escolha, seguirei com os princípios que me fizeram ser uma militante política do partido. Continuarei com a minha independência, com a minha capacidade de articular e de defender o que acredito para a minha cidade, na qual eu cresci e crio hoje os meus filhos”, revelou.

Quem representará o partido?

Mesmo sem nenhuma resposta oficial do Partido dos Trabalhadores, até o momento, sobre a disputa em Paulista no próximo ano, o LeiaJá entrou em contato com o deputado estadual João Paulo (PT-PE), que é ex-prefeito da capital pernambucana e uma das maiores lideranças do PT no estado. Em entrevista, ele afirmou que “Paulista é uma cidade muito importante para o PT”, além citou os principais nomes da próxima disputa no município.

“Nós temos o atual prefeito, Yves Ribeiro, que fez uma solicitação de filiação ao PT, e como ele é um quadro político, tem uma representação de prefeito, isso passa por uma avaliação e uma discussão pela estadual. Agora, a orientação do partido é que essas decisões, elas primeiro passem pela estância local, pelo diretório municipal. Paralelamente, o PT tem muitas coisas positivas na cidade de Paulista. Tem uma vereadora, a Flávia Hellen, que é um potencial. Mulher, negra e que pode ser nossa candidata a prefeita, como também, Lula tem em torno de 80% de aprovação na cidade. Então, estamos nessa fase ainda de discutir com a direção municipal para que possam dar uma orientação e depois, essa decisão, se não houver o entendimento local, ela virá para a decisão do diretório estadual”, explicou.

 

Nesta segunda-feira (16) tem início, oficialmente, a 10ª edição do Festival de Cinema da Diversidade Sexual e de Gênero (Recifest), um dos maiores e mais importantes festivais de cinema LGBTQIA+ do Brasil. O evento segue até o dia 31 de outubro, de forma presencial e virtual nas cidades do Recife e de Vicência, em Pernambuco. Já as mostras competitivas do festival ocorrerão até o dia 20 de outubro, no Cineteatro do Parque, exclusivamente em formato presencial.

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Para a competição de curtas-metragens, foram selecionados 30 filmes brasileiros de um total de 170 inscritos, representando 23 estados brasileiros e o Distrito Federal. Dentre os selecionados, destacam-se obras de ficção, documentários, filmes híbridos e curtas experimentais, provenientes de várias regiões do país, incluindo Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Sergipe e São Paulo.

Um júri técnico e popular escolherá os vencedores nas categorias de Melhor Filme Pernambucano e Melhor Filme Nacional. Também serão eleitos os melhores profissionais nas categorias de melhor roteiro ou argumento, melhor direção, melhor produção, melhor direção de arte, melhor fotografia, melhor som, melhor montagem, melhor intérprete (ator/atriz) e homenageade. O festival tem como homenageado Rutílio de Oliveira, um dos criadores do Recifest.

A programação ainda inclui a exibição de um longa-metragem convidado, "Máquina do Desejo", um filme construído a partir do acervo audiovisual da Associação Teatro Oficina Uzyna Uzona que, em seus mais de 60 anos, ultrapassa os palcos e penetra na história do Brasil.

O 10º Recifest também apresenta a Mostra Internacional e a Mostra Div.A – Diversidade em Animação, duas mostras desenvolvidas para inspirar e impactar, com uma duração total de 80 minutos que abordam questões essenciais e experiências de indivíduos LGBTQIA+.

Vale ressaltar ainda que o Recifest não se limita às salas de cinema. O festival também promove, de maneira gratuita, oficinas e masterclass para o público interessado. Além disso, de 22 a 28 de outubro, o Recifest levará, de forma itinerante, atividades para escolas públicas, penitenciárias e centros sociais do Recife e Vicência.

O Recifest é produzido pelas produtoras Olinda Produções Audiovisuais e Casa de Cinema de Olinda. O festival também conta com o incentivo do FUNCULTURA-PE, do Governo de Pernambuco. Já a direção geral é de Rosinha Assis e a direção artística é de Carla Francine.

Obras selecionadas – Os curtas-metragens que participam das mostras competitivas são: A vida secreta de Delly, Aceso, Anarriê, Arapuca, As Inesquecíveis, Ave Maria, Casa de Bonecas, De noite, na cama, Deus Não Deixa, Dinho, Lalabis, L’Esquisse, Milkshake, Nem O Mar Tem Tanta Água, O Fim da Imagem, Os Animais Mais Fofos e Engraçados do Mundo, Pe ataju jumali / Hot air, Procura-se Bixas Pretas, Promessa de um Amor Selvagem, Quando a noite ainda não existia, Quinze Primaveras, Rosa Neon, Se trans for mar, Shoes Off, Tá Fazendo Sabão, Tese de mestrado em História, Todas as Rotas Noturnas Conduzem ao Alvorecer, Travessias, Transviar, Um transe de dez milésimos de segundos.

As obras foram escolhidas por um time de curadores convidados pelo festival. O grupo conta com nomes de peso, como Ander Beça, Chico Ludermir e Mariana Souza.

Oficinas – No dia 18 de outubro, o Recifest realiza a oficina de Políticas e Direitos LGBTQIA+, com Irene Freire e Lilian Fonthinelly, das 15h às 17h, no Centro Municipal de Referência em Cidadania LGBT, no Recife. O encontro contará com a roda de diálogo “Papo reto, sem caô, sem blábláblá, conversa séria, sem mentiras, sem enrolação, um papo sincero sobre políticas e direitos LGBTI+ na cidade do Recife”. Ao todo, são oferecidas 25 vagas que podem ser preenchidas por qualquer pessoa, acima de 18 anos, que tenha interesse em ter acesso ao conteúdo proposto.

Já entre os dias 17 e 19 de outubro, das 13h30 às 17h, no auditório do Espaço Pasárgada, acontece a oficina “Vou pintar um arco-íris de energia: os elementos básicos da direção de arte para o cinema queer contemporâneo”, com Henrique Arruda. A proposta da oficina é vivenciar os elementos básicos da direção de arte no cinema, passando por todas as suas principais funções e subdepartamentos, como assistência de arte, produção de arte, produção de objetos, cenografia e contrarregragem, tomando como base a experiência do diretor, roteirista e diretor de arte pernambucano Henrique Arruda. São 20 vagas.

Em Vicência, no interior de Pernambuco, Carla Francine e Rosinha Assis promovem a oficina “Iniciação à produção executiva e controladoria para projetos audiovisuais”, que acontece no dia 27 de outubro, das 13h30 às 17h, com a proposta de dar noções de gestão, produção executiva e controladoria para projetos audiovisuais de baixa complexidade. São 20 vagas.

Voltando para o Recife, no dia 29 de outubro, das 14h às 17h, acontece a oficina “Corpos dissidentes, estéticas dissidentes” e a mostra Ocupação Tamara Ferreira. A atividade será comandada por Ga Olho, Mira Katz, Ossy Nascimento e Viq viç vic.

A atividade é ofertada por integrantes da Coletiva Madame Satã, composta por pessoas não-binárias de Pernambuco, que, a partir de curtas selecionados pela curadoria do Recifest, irão falar sobre como as vivências de corpos que fogem da norma têm a capacidade de criar estéticas que também serão desviantes. Após esse bate-papo, haverá um momento prático com as pessoas presentes.

Masterclass – O 10º Recifest, de forma gratuita, dentro da programação, também oferece masterclass para o público interessado. Assim, no dia 17 de outubro, das 14h às 17h, acontece o “Encontro Transpofágico”, com a atriz, diretora, dramaturga e transpóloga Renata Carvalho. Trata-se de um diálogo sobre representatividade, a prática do transfake, o mito do corpo neutro, estereótipos e arquétipos, narrativas viciadas x positivas, transfobia recreativa, escrita e linguagem, imagético social e semiótica, responsabilidade e ética nas produções artísticas. São 150 vagas, no auditório do Sindicato dos Bancários.

Já no dia 20 de outubro, das 14h às 17h, Lígia Verônica (Verner) ministra o “Encontro”, com a proposta de conversar sobre procedimentos e formas de aquisição de provas em casos de discriminações institucionais, e em outras situações, que violem os direitos de pessoas LGBTQIAPN+, visando possíveis judicializações a partir de queixas crimes, denúncias ao Ministério Público, solicitações de abertura de processos judiciais via Defensoria Pública ou advocacia particular e outros meios legais disponíveis. São 20 vagas no auditório da Gestos.

*Da assessoria de imprensa

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) concluiu que o Projeto de Lei (5167/09) que visa impedir o casamento homoafetivo no Brasil é inconstitucional. O debate sobre a proposta considerada discriminatória pela instituição está na agenda da Comissão de Previdência da Câmara dos Deputados desta terça (10).

Regulamentada no Brasil há mais de dez anos, a união estável entre pessoas do mesmo sexo também é reconhecida pelos tribunais superiores. No entanto, o relator do PL, deputado Pastor Eurico (PL), entende que a Constituição Federal só reconhece como entidade familiar aquela formada entre um homem e uma mulher.

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“Não é razoável a proibição que referido projeto quer instituir, por ser segregacionista pretender que toda a parcela de uma população seja proibida de exercer o direito ao casamento civil em razão de sua orientação sexual ou identidade de gênero. E nem se diga que não haveria discriminação porque pessoas LGB+ poderiam se casar com pessoa do outro sexo ou gênero como incrivelmente se alega por vezes, porque o que se discute é a discriminação que existe a pessoa que deseja se casar civilmente com pessoa do mesmo sexo e é impedida de fazê-lo”, apontou a OAB, que ainda considerou o projeto como um "desperdício de tempo e dinheiro de contribuintes".

O texto foi escrito pela Comissão Nacional da Diversidade Sexual e de Gênero e subscrito pela Comissão Nacional de Direitos Humanos, com apoio de outras 25 comissões estaduais da diversidade. A iniciativa partiu de um pedido da Aliança Nacional LGBTI+ e da deputada trans Erika Hilton (PSOL).

"Os fundamentos pretensamente ‘constitucionais’ do PL 5167/2009 constituem, na verdade, visão simplória sobre um tema constitucional complexo, porque desconsideram lições basilares de hermenêutica jurídica e a própria jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, enquanto guardião da Constituição (CF, art. 102). Desconsideram a história institucional da jurisprudência constitucional do STF, que têm o dever de respeitar, pela citada imposição constitucional que atribui ao STF a guarda precípua da Constituição. Logo, ao invés de ‘ativismo judicial’, o que vemos aqui é um ‘ativismo legislativo’, por se tratar de Projeto de Lei que visa introduzir no país uma norma flagrantemente inconstitucional no ordenamento jurídico brasileiro. Um desperdício de tempo e dinheiro de contribuintes, pela instrumentalização do Congresso Nacional para discutir algo que, se aprovado, criará uma lei natimorta, por contrariar entendimento da Suprema Corte acerca do tema por mero inconformismo e não por ‘diálogo institucional’ constitucionalmente válido, já que fundado em inépcia constitucional”, frisou a comissão de Diversidade em outro trecho.

Projeto de lei complementar que cria mecanismos de proteção à população LGBTQIA+ encarcerada é o primeiro item da pauta da reunião de terça-feira (10)  da Comissão de Segurança Pública (CSP), que tem início às 11h.

Apresentado pelo senador Fabiano Contarato (PT-ES), o PLP 150/2021 determina medidas como a construção ou adaptação de celas, alas e galerias prisionais específicas para o recolhimento de presos com esse perfil.

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O autor propõe que parte dos recursos do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen) também sejam destinados à capacitação dos profissionais que trabalham no sistema prisional sobre direitos humanos, igualdade e não discriminação.

Na justificativa do projeto, Contarato menciona que um dos problemas centrais de vulnerabilidade LGBTQIA+ em estabelecimentos prisionais é a ausência de espaços específicos onde possam cumprir suas penas, resultando na violação generalizada de seus direitos.

O senador Otto Alencar (PSD-BA), que já foi relator do texto na Comissão de Direitos Humanos (CDH), também é o responsável pela relatoria na CSP. O voto é favorável ao texto, com três emendas já aprovadas na CDH.

Saidão e pirâmide

Também está na pauta o PL 2.253/2022, que extingue o benefício da saída temporária dos presos, determina o exame criminológico para a progressão de regime de pena e a monitoração eletrônica de quem passar para regime aberto ou semi-aberto. O projeto, da Câmara, tem como relator o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). 

*Da Agência Senado

Após o prefeito da cidade de Boa Vista (AM), Arthur Henrique (MDB), cancelar a participação do cantor pernambucano Johnny Hooker do festival Mormaço, devido as críticas de evangélicos e políticos da extrema direita, o deputado estadual Pastor Júnior Tércio (PP-PE) elogiou a decisão do gestor. 

O cancelamento da apresentação ocorreu após alguns parlamentares locais de direita compartilharem vídeos antigos de Johnny, durante um show dele em 2018, no qual o artista aparece dizendo que "Jesus é travesti" para os seus fãs. Na época, o cantor protestava contra o cancelamento de uma peça teatral sobre Jesus em que a atriz principal era uma mulher transexual.

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O prefeito Arthur pediu desculpas e disse que “não abre mão” dos seus princípios e valores.

"Eu quero pedir desculpas, respeito é algo que eu não abro mão, todos sabem dos meus princípios e dos meus valores, e como prefeito sempre vou fazer o melhor pelas pessoas e pela cidade de Boa Vista. De imediato, iniciamos as tratativas jurídicas e a meu pedido, a Fetec cancelou essa atração do festival", destacou o gestor municipal.

Com a decisão, o deputado Júnior Tércio logo usou suas redes sociais para elogiar o prefeito.

"Prefeito Arthur Henrique de Boa Vista, estamos juntos. Corretíssimo. Um sujeito desse não merece estar na sua cidade. Veio aqui em Pernambuco e disse que Jesus é travesti", afirmou o pastor bolsonarista, ao também definir as músicas de Johnny Hooker como "ruins".

Cantor se defende

Em sua página oficial no Instagram, o artista classificou como LGBTfobia e extremismo religioso a decisão do prefeito de Boa Vista.

"O mais curioso é que o prefeito Arthur Henrique fala em vídeo que o festival Mormaço é um festival que vai sempre se pautar pelo respeito. Ora, prefeito Arthur Henrique, o meu show é um show de respeito, o meu show é um show de respeito de celebração de diversidade, um show que incita a palavra do amor e do respeito a todos", disse Johnny, que finalizou convocando os seus amigos Duda Beat e Xamã para se posicionarem contra o cancelamento.

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Ele ainda destacou a fala do gestor, na qual o mdbista afirmou que os artistas foram escolhidos pela Fundação de Educação, Turismo, Esporte e Cultura de Boa Vista (Fetec), através de interações nas redes sociais, em que os moradores do município "apontaram quem eles gostariam de assistir no festival".

"Arthur diz em um vídeo publicado em suas redes sociais que a programação do festival Mormaço foi composta através de pedidos que foram realizados no site da prefeitura e no site do festival. Olha, meu show foi incluído na programação por clamor popular, por que a nota de cancelamento da Fetec fala em motivos de interesse público pra cancelamento?", questionou o artista.

Ao G1, a Fetec disse que o cancelamento da apresentação no festival "não se deu, em hipótese alguma, por LGBTQIAPN+fobia" e que "algumas manifestações ultrapassaram o limite da crítica, com ameaças que poderiam colocar em risco a segurança do cantor e do próprio público".

 

A batida da polícia pegou Iván Valera de surpresa, que disse estar conversando com um amigo quando foi preso. Ele é um dos 33 detidos em uma sauna LGBTQIA+ na Venezuela.

Valera enfrenta, entre outras, uma acusação de atentado ao pudor - crime referente a atos obscenos em público, com penas de 3 a 15 meses de prisão - em um caso considerado por ativistas como uma consequência de uma política de "homofobia de Estado".

"Em nenhum momento eles nos contaram o que estava acontecendo, o que nos disseram é que estávamos em flagrante de um crime", disse Valera, de 30 anos, em entrevista à AFP.

"Não estava ocorrendo nenhuma ação indevida", acrescentou o homem, do lado de fora do tribunal, onde foi buscar seu celular, apreendido no momento da prisão. Ele está em liberdade condicional.

"Os 33", como agora são conhecidos popularmente, foram presos em 23 de julho no Avalon Man Club, um spa privado em Valencia (estado de Carabobo, centro-norte).

Valera lembra que os policiais falaram que se tratava de uma operação de rotina, que teriam recebido uma denúncia anônima por "barulho" e atos públicos obscenos.

Durante a detenção, antes de ficar em liberdade condicional, ele denunciou que a linguagem dos policiais foi muito homofóbica, embora tenha ressaltado que garantiram o seu bem-estar.

O procurador-geral, Tarek Saab, disse na terça-feira que o caso ainda está sob investigação, mas pode ser arquivado.

- Ansiedade e frustração -

O Avalon Man Club, inaugurado em novembro do ano passado, é uma sauna voltada principalmente para a comunidade LGBTQIA+, embora seja aberta a qualquer público.

A imprensa local publicou que as prisões ocorreram por causa de uma "festa de sexo", o que Valera nega.

"A maioria de nós não se conhecia, estávamos nos conhecendo naquele dia lá", disse o ativista de direitos humanos. "Em nenhum momento o relatório policial indica que um ato sexual estava sendo praticado lá", acrescentou.

"Não teve nada além de uma conversa entre amigos (...). Algumas pessoas estiveram, para quem não sabe, em uma sauna, onde geralmente as pessoas vão para relaxar, para conversar", concordou Alfredo Rodríguez, outro dos homens que foram detidos.

"Eles querem criminalizar uma atitude e conduta que de forma alguma envolveu um ato criminoso", afirmou.

Alguns dos detidos mantinham em segredo a sua orientação sexual para se protegerem dos preconceitos neste país conservador, sem leis que protejam os direitos da comunidade, como o casamento homoafetivo ou a mudança de identidade de gênero. E, de repente, foram expostos na frente de familiares e colegas de trabalho.

Araujo conta que foi abordado por duas pessoas no supermercado que perguntaram se ele era um dos "33" e depois disseram que era uma "vergonha".

Embora os ativistas tenham dito que foram libertados, três homens continuam atrás das grades: o proprietário do local e dois funcionários, a quem a Justiça pede fiadores e não aceitou, até agora, nenhum dos apresentados por eles.

"Eles estão muito nervosos, muito frustrados", disse Jesús Araujo, funcionário do local, de 24 anos, também em liberdade condicional. "Se alguém tivesse cometido um crime, teria que cumprir, mas não é o caso".

O senador Fabiano Contarato (PT-ES) afirmou, nesta segunda-feira (3), que vai entrar com uma ação contra o pastor e cantor André Valadão por incitação à violência e manipulação da fé. Nesse domingo (2), o bolsonarista usou a sua pregação durante um culto para difundir um discurso de ódio e incentivar os fiéis a matar quem é LGBTQIA+.

Em reação ao posicionamento de Valadão, Contarato defendeu a comunidade LGBTQIA+ dos ataques criminosos.

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“Por tudo que sou, pelo que acredito, pela minha família e por tudo que espero para a sociedade, não posso me calar diante do crime praticado por André Valadão. Vamos representar criminalmente para que ele responda por manipular a fé e incitar a violência”, escreveu no Twitter.

O senador ainda emendou: “Em um país onde tanto se mata LGBTQIA+, André Valadão não pode falar em nome de Deus. Deus é união, amor, respeito e tantos sentimentos bons, jamais um incentivador de discurso de ódio e de assassinatos em massa”.

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Ao pregar durante o ato religioso nesse domingo, Valadão disse que se Deus pudesse, “matava tudo”, ao se referir à comunidade LGBTQIA+. 

“Agora é a hora de tomar as cordas de volta e dizer: não, não, não. Pode parar, reseta”, começou o pastor. “Ai Deus fala: Não posso mais. Já meti esse arco-íris aí. Se eu pudesse eu matava tudo e começava tudo de novo. Mas prometi para mim mesmo que eu não posso. Agora tá com vocês”, emenda.

Logo em seguida, Valadão reforça o chamado: “não entendeu o que eu disse? Agora, tá com vocês! Deus deixou o trabalho sujo para nós”.

A postura levou o nome de Valadão aos assuntos mais comentados desta segunda-feira no Twitter.

Esta não é a primeira vez que Valadão faz um discurso de ódio contra os LGBTQIA+. Recentemente ele declarou que Deus 'odeia' o orgulho da comunidade. Por conta disso, a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) protocolou uma denúncia no Ministério Público do estado de Minas Gerais contra o líder da Igreja Batista de Lagoinha.

 

No dia 1° de julho, acontece a primeira edição do Festival de Cultura e Empreendedorismo LGBTQIA+ no coletivo “Nossa Casa”, no bairro Jardim Pinhal, em Guarulhos (SP), das 12h às 19h.

Com o tema “União pela diversidade: celebrando arte, amor e igualdade”, o evento gratuito contará com feira de empreendedorismo, oficinas, comida, ações sociais e de saúde e apresentações artísticas.

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Entre os artistas confirmados estão: Marina, Renata Sou Cia de Teatro Pimentardida, Lucas Dollar e Feeh Santos, Mar Freire, Katrina, Slam do Prego, Warley Noua, Kell C, Anuby Messias, Baobá, MC Ruam, Lilith do Nilo, Alien, Leo Lotho, Daphny Ginetta, Kieza, Valente, Coletivo Lumar, Chris Chave, Leda e Magus, Oliveira e Thauane. 

A feira também terá a presença dos empreendedores: Urban Bag, Encantaria Ateliê, Crisol Arte, Enteógeno Crochê, Oficina Intrínseca, Trance Rasta e Pingo D Tinta.

Serviço - Festival de Cultura e Empreendedorismo LGBTQIA+

Data: 1 de julho de 2023

Horário: 12h às 19h

Local: Coletivo Nossa Casa

Endereço: Avenida Avelino Alves Machado, número 367 - Jardim Pinhal, Guarulhos/SP

Entrada gratuita 

Desde 1969, o dia 28 de junho é conhecido como o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, onde é levantado as bandeiras do conhecimento e tolerância para as causas de gênero e sexualidade. Comemorando seus 54 anos de história, a homofobia, bifobia, lebofobia, transfobia e muitos outros preconceitos ainda estão fortes na sociedade e podem afetar qualquer pessoa, em qualquer idade.

O ódio, a descriminação e o preconceito direcionado a pessoas trangêneros se caracteriza como transfobia e pode aparecer em discursos de ódio, em estereótipos, em bullying e até em violência física. Em 14 anos no topo da lista, o Brasil é líder em assassinato de pessoas trans, segundo dados do Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), a expectativa de vida de uma pessoa trans no país é de apenas 35 anos.

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O primeiro contato das crianças fora de sua família é com a escola, onde passa grande parte do seu tempo e, por causa disso, deixa de ser apenas um espaço de ensino, mas também de socialização e desenvolvimento. Com o preconceito enraizado na sociedade, muitas crianças podem acabar sendo vítimas deste tipo de violência dentro do seu próprio ambiente escolar.

Uma pesquisa feita em 2021, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS), com 120 famílias que possuem crianças e adolescentes (entre 5 e 7 anos) transgênero aponta que 77,5% destes jovens já sofreram bullying dentro da sua escola.

Caso Peróla

No mês do orgulho, no dia 21 de junho, se tornou público um caso de transfobia com uma aluna da Rede Estadual de Pernambuco. Anne Pérola Canuto, de 15 anos, é uma travesti pernambucana e estudante do primeiro ano do ensino médio da Escola de Referência em Ensino Médio Joaquim Nabuco. Em vídeo, Pérola relata o caso de transfobia que sofreu por parte de uma professora da sua escola.

“Eu entrei na sala agora pela manhã e ela me chamou para conversar, após já ter sido transfóbica comigo e eu não ter aceitado isso, porque eu não aceito, eu não abaixo a cabeça para transfóbicos. Ela veio conversar comigo sobre isso e ela se referiu a mim como ele e eu falei ‘É ela’, e ela disse ‘Ele. vou me referir a você como homem, porque aqui é uma conversa de homem para mulher’, como se ela fosse a mulher e eu o homem”, narra a aluna.

Pérola menciona que a professora se recusou a chamá-la pelo seu nome social sendo desrespeitosa e utilizando pronomes masculinos propositalmente, mesmo após ter sido corrigida e solicitada que respeitasse os pronomes que a estudante utiliza. Com o apoio de seus colegas de turma, Pérola foi corajosa em expor sua história.

“Eu me sinto sentida com tudo isso que vem acontecendo e sem saber como reagir, sem nem pensar no que eu possa fazer. Comentários, ameaças e muito ódio de pessoas que, para mim, estão no século 18 e acham que o futuro será denominado por heteronormatividade e cisgenerabilidade. Essa caminhada será longa e com pessoas que me amam e que estão comigo, meu único medo agora é perder minha vida!”, declarou em suas redes sociais.

Pérola agradeceu o apoio dos seus amigos e demais internautas que prestaram sua compaixão com a jovem pela internet. Ela menciona que está sendo difícil processar tudo mas está grata a todos, pois ela não está só.

“A transfobia que eu sofri dentro da sala de aula foi totalmente radical e que são coisas que as pessoas não devem normalizar e romantizar, porque é totalmente ridículo”, finaliza a garota em seu vídeo.

O LeiaJá entrou em contato com a Secretaria de Educação e Esportes (SEE) de Pernambuco para saber uma resposta sobre o caso de transfobia dentro na escola e a Secretaria informou que está atenta ao caso da unidade EREM Joaquim Nabuco.

“Técnicas da Unidade de Educação para as Relações de Gênero e Sexualidades (Unergs) da pasta estiveram na escola para realizar a escuta das partes envolvidas e promover a mediação do conflito. A falha foi reconhecida e a unidade de ensino recebeu as devidas orientações para que o caso não volte a se repetir”, afirmou a SEE.

Escolas não trans-excludentes

Não ser preconceituoso, é um ato individual. Lutar para que não haja preconceito, é um ato coletivo. É nisso que se baseia o trabalho de tolerância e não exclusão de estudantes transgêneros nas escolas. Um ambiente trans-excludente possui normativas e práticas que ferem os direitos de pessoas trans ou não valorizam sua existência.

Uma escola trans-excludente é aquela que não reconhece e não protege seus alunos ou alunas que estão em situação de vulnerabilidade, de desrespeito ou de bullying por serem quem são. Como um espaço de diversidade, o ambiente escolar deve aparecer como forma de acolher e não afastar seus alunos.

O trabalho não trans-excludente deve aparecer com atitudes de conscientizar os colaboradores e os estudantes da instituição escolar, estar dispostos a ouvir as dificuldades e situações de perigo que os estudantes se encontram e trabalhar a inclusão para que a escola não se torne um local de preconceito.

A secretária executiva de Gestão Pedagógica do Recife (PE), Ana Selva, contou ao LeiaJá que a Rede Municipal do Recife possui ações diárias para prevenção de transfobia dentro das suas escolas, além de ações formativas para enfrentar o preconceito não só com pessoas trans, mas com mulheres, pessoas pretas e LGBTQIA+.

“Dentro dos trabalhos realizados estão o programa “Recife: por uma cultura de paz”, onde os profissionais dessas unidades são escutados e, a partir daí, são desenvolvidas vivências para que todos se comprometam com uma convivência mais respeitosa diante das diferenças. As ações formativas voltadas para o enfrentamento dessas violências de gênero e raça, além do esclarecimento sobre sexualidade, precisam ser constantes”, defende a secretária.

“Os estudantes da rede também contam com o apoio do programa “Escola que Protege”, que oferece suporte psicológico quando solicitado. Para além dessas iniciativas, a política de ensino da Rede Municipal do Recife também aborda temas voltados para o respeito e a igualdade, temas que devem ser inseridos de forma contínua no currículo escolar”, finaliza Ana Selva.

A Secretaria de Educação e Esportes (SEE) de Pernambuco também afirmou, em nota enviada ao LeiaJá, que promove uma educação inclusiva através de ações, projetos e formações que “buscam acolher estudantes mediante as suas múltiplas individualidades, entre elas, as diferentes identidades de gênero e sexualidades.”

“Projetos e formações continuadas para estudantes e profissionais de educação, tais como o Grupos de Pesquisa e Práticas Pedagógicas em Gênero, Sexualidades e Currículo e a Mostra Andanças de cinema em gênero e sexualidades na sala de aula, buscam enfrentar mitos, tabus e preconceitos que envolvem a temática”, explica a SEE.

Além destes trabalhos, a rede estadual de ensino de Pernambuco possui uma política de uso do nome social desde janeiro de 2018. A Secretaria declara que segue normatizações que favorecem o enfrentamento à violência de gênero e à LGBTfobia.

Um jovem de 23 anos que matou a tiros cinco pessoas, no ano passado, em um clube da comunidade LGBTQIA+ no estado do Colorado, no centro-oeste dos Estados Unidos, se declarou culpado do crime nesta segunda-feira (26) e enfrentará uma condenação à prisão perpétua.

Anderson Lee Aldrich, de 23 anos, e autoidentificado como não binário - não se considera nem homem nem mulher -, enfrentava mais de 300 acusações criminais pelo ataque perpetrado em 19 de novembro de 2022, na cidade de Colorado Springs.

Foi acusado de assassinato em primeiro grau, tentativa de assassinato e de cometer crimes motivados por preconceito, entre outras acusações.

As acusações de assassinato acarretam em prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional.

Aldrich compareceu, nesta segunda-feira, a um tribunal do condado de El Paso e disse ao juiz que aceitava os termos do acordo de culpabilidade.

Após invadir o "Clube Q" e abrir fogo com um fuzil de assalto modelo AR-15, matando cinco pessoas e ferindo outras 18, Aldrich foi neutralizado e dominado por dois clientes do local.

Esse foi o último de uma longa lista de ataques a locais frequentados pela comunidade LGBTQIA+ nos Estados Unidos. O mais mortal tirou a vida de 49 pessoas em um clube noturno em Orlando, no estado da Flórida (sudeste), em 2016.

Com mais armas de fogo que habitantes, os Estados Unidos - cuja população é de quase 340 milhões de pessoas - têm a taxa mais alta de mortes relacionadas ao seu uso entre os países desenvolvidos: 45.000 mortos em 2020 e mais de 49.000 em 2021.

As exclusões sofridas no mercado de trabalho por Nanny Mathias e sua esposa, Isabelly Rossi, obrigaram o casal de mulheres negras a apostar no empreendedorismo para sobreviver e construir uma vida melhor. E o entendimento sobre essas dores vivenciadas foi o ponto de partida para desenhar um projeto voltado ao fortalecimento de empreendedores mulheres, negros, LGBTQIA+ e pessoas com deficiência, o Hub Diversidade Colorida, que realizou neste domingo (18) a Feira Diversidade Colorida, no Parque Madureira, na zona norte do Rio de Janeiro.

Em entrevista à Agência Brasil, no Mês do Orgulho LGBTQIA+, a CEO do Hub, Nanny Mathias, disse que a proposta da feira é reunir empreendedores desses grupos para criar mais conexões, possibilitando parcerias, investimentos e também mais negócios.

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"A gente gera esse espaço seguro e inclusivo para que as pessoas possam expor o seu trabalho, sua arte, seus negócios, porque são pessoas que historicamente são marginalizadas e violentadas pela sociedade, que sofrem exclusão social, educacional e profissional", disse Nanny, que conta com a parceria da mulher na realização da empreitada.

Essa violência é algo que a própria organizadora do evento relata em sua trajetória. Ao se matricular com a mulher para concluir o ensino médio, já que a necessidade de trabalhar havia empurrado ambas para a evasão escolar, ela narra um episódio de lesbofobia que exemplifica o por quê da necessidade de uma educação que seja segura para minorias.

"Quando a gente voltou ao âmbito escolar, há alguns anos, eu e minha esposa, no primeiro dia de aula, sofremos um ataque lesbofóbico pelo nosso professor de história, que queria saber quem era o homem da relação. E, não contente com a gente dizer que não tinha homem na relação, ele insistiu e criou histórias, perguntou quem pagaria pensão se a gente se separasse, quem ficaria com os filhos. Ele constrangeu a gente de forma muito violenta, e quando fomos falar com a direção, a direção simplesmente ocultou o fato", disse.

O episódio, segundo Nanny, foi antes de a LGBTfobia ser criminalizada pelo Supremo Tribunal Federal.

"Na delegacia, falaram para gente que poderíamos denunciar se tivesse uma lei que protegesse a gente, mas não tinha".

No mercado de trabalho, ela também relata experiências dolorosas, que impediam que se mantivesse muito tempo no mesmo emprego.

"Além de ser uma mulher lésbica, sou preta e sapatão. Tenho uma forma de vestir e viver que é diferente. Exigem um padrão das mulheres, e eu chego quebrando isso. Eu trabalhei em uma empresa em que as pessoas queriam saber quem era o meu marido, porque eu não dizia que era casada com uma mulher. Me pressionaram tanto que mostrei a foto, e começaram a dizer 'eu já sabia'. Minha gerente na época disse que minha vida pessoal não tinha nada a ver e que não tinha preconceito. Mas, no dia seguinte, ela me demitiu".  

Essas experiências fizeram a empreendedora pensar o projeto também como uma rede de apoio, já que o fato de ter partido para gerir seu próprio negócio não a poupou de novos episódios de discriminação.

"As violências são diárias e em todos os âmbitos. Hoje, eu sofro as do mundo dos negócios", afirma.  

"O meu corpo representa muito, sou mulher e enfrento machismo. Sou preta e enfrento racismo. Sou lésbica e enfrento LGBTfobia. Sou do axé e acabo sofrendo intolerância religiosa".  

Entre os micro e pequenos empreendedores que participaram da feira deste domingo há negócios de diferentes setores, como artesanato, gastronomia e moda. Os participantes foram inscritos também em um laboratório de empreendedorismo, focado em capacitar essas pessoas.

 

"São pessoas que estão no empreendedorismo por necessidade em muitas das vezes, pessoas que não puderam estudar para depois empreender e estão fazendo isso ao mesmo tempo. Entendendo essa necessidade, de tantos negócios quebrando por não saber gerir, a gente criou esse laboratório, para gerar um espaço de inclusão e capacitação. A gente tem uma rede de mais de 100 empreendedores", disse Nanny, que vê o empreendedorismo desses grupos vulnerabilizados como uma ação transformadora no mercado de trabalho.  

"Infelizmente, o mercado ainda tem uma exclusão muito grande de pessoas pretas e LGBTQIA+, e quando você é preta e LGBTQIA+, tudo dentro do mesmo corpo, essa exclusão é muito maior. Essas pessoas, muitas vezes, dentro dos seus próprios negócios, já levam mensagens sobre aquilo que elas vivem, viveram e sobre a exclusão que elas sofrem. Então, elas vão transformando, assim como eu, as dores delas em um negócio criativo. Isso é muito interessante".

Fotos: Tânia Rêgo/Agência Brasil

No próximo domingo (11), ocorre a 27ª edição da Parada do Orgulho LGBT+, a partir das 10h, na Avenida Paulista em São Paulo. O tema deste ano é "Política Sociais para LGBT+ - Queremos por inteiro e não pela metade”. Entre os destaques, estão os shows de Pabllo Vittar, Thiago Pantaleão, Pocah, MC Rebecca e Daniela Mercury.

Confira a programação completa: 

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Trio 1 – Abertura - Organizações de Paradas do Orgulho LGBT+ do Brasil - Juan Guiã, Paulo Pringles

Trio 2 - Famílias LGBT+

Trio 3 – Prefeitura I - Artistas: Aristela

Trio 4 – Prefeitura II - Artista: Megam Scott

Trio 5 – Prefeitura III - Artista: Márcia Pantera

Trio 6 – HIV/AIDS - Artistas: Xênia Star, Luh Marinatti, Lorran Ciriaco

Trio 7 – Pessoas Aliadas - Artista:Filipe Catto

Trio 8 – Rede de Orgulho - Artista: Kauan Russell

Trio 9 – Patrocinadores: Burger King, Philip Morris, 3M, Kellogg, Accor, Microsoft - Artistas: Brunelli, Juan Nym, Dj Zuba

Trio 10 – Lésbicas - Artistas: Ana Dutra e Laura Finochiaro

Trio 11 – Patrocinador Amstel - Artistas: Pabllo Vittar, Salete Campari, Dj Transalien

Trio 12 – Gays - Artistas: Fiakra, Tiago Cardoso, Gustavo Vianna e Douglas Penido

Trio 13 – Patrocinador VIVO - Artistas: Daniela Mercury, Agrada Gregos e Paulete Pink

Trio 14 – Bi+ - Artistas: PC, MC Soffia e Litta

Trio 15 – Patrocinador Mercado Livre e L'Oreal Groupe - Artistas: Majur, Thiago Pantaleão e Cris Negrini.

Trio 16 – Travesti/Trans - Artistas: Boombeat, Lorenzo Zimon e Nick Cruz

Trio 17 – Patrocinador: TERRA - Artistas: Urias, Grag Queen, Minhoqueens e Mama Darling

Trio 18 – Patrocinador: Sminorff - Artistas: Pocah, WD, DJ Heey Cat e Batekoo

Trio 19 - Encerramento Diretoria APOLGBT-SP- Artista: Bixarte, Luana Hansen e Tico Malagueta

Inclusão PCD

A Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência (SMPED), em parceria com a Associação da Parada do Orgulho LGBT-SP (APOGLBT-SP), levará um grupo de pessoas com deficiência para abrir a Parada com a faixa do arco-íris (símbolo da causa), à frente do Trio de Abertura. 

 

Os PCDs e seus acompanhantes também poderão assistir ao evento numa área reservada, ao lado do restaurante Méqui 1.000, que disponibilizará intérpretes de Libras e equipes de apoio (sujeito à lotação). O transporte será feito pelo Atende+ - serviço destinado às pessoas com autismo, surdocegueira, deficiência física e mobilidade reduzida.

Ativação Boticário

A Boticário promoverá uma série de ativações gratuitas para comemorar o Dia dos Namorados e o Mês do Orgulho, apesar de não ser patrocinadora da parada.

No dia 10 de junho, as lojas-conceito do Shopping Morumbi e Rua Pinheiros receberão um holograma da médica e influencer Marcela McGowan, que oferecerá conselhos amorosos e dicas de presentes.

 

Já no dia 11 a Estação Paulista - linha 4 amarela do metrô, das 13h às 19h, os visitantes poderão experimentar produtos de perfumaria e retocar a maquiagem com profissionais em um espaço instagramável. Além disso, o público será convidado registrar seu amor com uma foto feita por um fotógrafo profissional. Uma parte das imagens estampará a campanha do Boticário em cerca de 60 relógios digitais de rua distribuídos na principal avenida de São Paulo e seu entorno. A ação ficará disponível até o dia 12 de junho.

Transporte público

A SPTrans terá 33 linhas com itinerários desviados, das 11h às 18h. As alterações vão desde a Praça Oswaldo Cruz/Rua 13 de Maio; Avenida Paulista, entre a Al. Joaquim Eugênio de Lima até a Praça do Ciclist e a Rua da Consolação, da Praça do Ciclista até a Praça Franklin Delano Roosevelt/R. Caio Prado, na região central. Confira as mudanças no link.

Outras informações no Instagram ou no site oficial do evento.

Dezenas de milhares de pessoas participaram, nesta quinta-feira (8), em Tel Aviv, do maior desfile do Orgulho do Oriente Médio, marcado por protestos contra a presença de ministros hostis à comunidade LGBTQIA+ no governo israelense.

As pessoas desfilaram, às vezes dançando entre carros alegóricos com música, ao longo do calçadão desta cidade, considerada um oásis de tolerância na região, observaram jornalistas da AFP.

Este ano, a prefeitura afirmou sediar "a maior marcha do Orgulho" já organizada em Israel, por ocasião do 25º aniversário da primeira edição, em 1998.

Os festejos continuarão nesta sexta-feira, de acordo com um comunicado da prefeitura.

Segundo o portal de informações israelense Ynet, "dezenas de milhares de pessoas" estiveram na marcha. Em 2022, foram mais de 200 mil, segundo a prefeitura.

Para Yaël Ben Yossef, uma estudante de psicossociologia de Beersheva (sul), de 22 anos, é "particularmente importante" participar do desfile este ano porque o governo de Benjamin Netanyahu, formado em dezembro, inclui ministros abertamente homofóbicos.

"Precisamos mostrar que estamos presentes, que não temos medo e que não seremos forçados de volta ao armário", disse a jovem, enrolada em uma bandeira arco-íris.

Itamar Ben Gvir, ministro da Segurança Nacional, foi um dos organizadores do "Desfile das Bestas" em 2006 em Jerusalém, no qual religiosos contrários ao Orgulho saíram às ruas com burros para comparar pessoas homossexuais a animais.

Muitos israelenses temem que, com a controversa reforma judicial planejada pelo governo, que limita os poderes do Tribunal Supremo, muitos direitos conquistados estejam em perigo.

 As gêmeas Mayla Phoebe e Sofia Albuquerck fizeram uma cirurgia de redesignação sexual em uma clínica de Blumenau, em Santa Catarina, em 2021. Com isso, elas se tornaram as primeiras irmãs a realizar a operação juntas no mundo. Em 2023, elas estrelam a série “Gêmeas Trans: Uma Nova Vida”, da HBO Max e Discovery +, hoje (1), sobre a vida após a cirurgia.  

A série também retrata a mudança de país de Mayla. Ela saiu da cidade onde nasceu, em Tapira, interior de Minas Gerais, para estudar Medicina em Buenos Aires, na Argentina. Já Sofia foi aprovada em uma faculdade particular de Franca, interior de São Paulo, que cursa Engenharia. O seriado surge em um Brasil que, pelo 14º ano seguido, é o país que mais mata pessoas trans no mundo, de acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transsexuais (Antra).  

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Sofia contou que é motivo de chacota por ser quem é na universidade. “A minha experiência na faculdade é bastante complicada. O preconceito diminui muito depois da cirurgia (de redesignação sexual), não tem comparação com antes, mas o preconceito ainda existe. Isso porque sou vista como um objeto de curiosidade”, pontuou. Como a série aborda a transfobia na faculdade, Sofia não explicou o porquê os alunos a enxergam dessa maneira e disse que a situação a “destroçou” emocionalmente a ponto de pedir transferência para outra universidade.  

“Não tive forças para procurar ajuda na época. Eu me senti culpada por muita coisa, me senti violada. Foi uma parte da minha vida na qual pensei: ‘Se lutei até aqui, por que vou deixar alguém fazer isso?’. Só percebi isso depois de muito tempo, quando não tinha mais o que fazer. Então, quero ajudar pessoas que passam pela mesma situação”, acrescentou. A realidade de Mayla, em Buenos Aires, e a da Sofia, em Franca, é distinta. A imigrante brasileira considera os argentinos menos preconceituosos. “As pessoas te acolhem mais por quem você é”, assegurou a futura médica. 

Para assistir a entrevista das irmãs gêmeas trans brasileiras, acesse o link a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=YRFYM67bMig

 

“Foi um ato de amor, mas também um ato político”. Essa convicção une os três casais homoafetivos que aceitaram conversar com a Agência Brasil sobre os 10 anos da decisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de que nenhum cartório no Brasil poderia recusar a celebração do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Desde 14 de maio de 2013, portanto, esse registro civil deixou de ser um privilégio de pessoas heterossexuais.

Otávio e Fernando, Fabia e Gabi, Toni e David. Os casais que você vai conhecer melhor nessa reportagem estão entre os 76.430 que registraram a união em cartório desde 2013 em todo o país. Uma média de 7,6 mil casamentos por ano: 56% entre casais femininos e 44% entre casais masculinos. A lista dos estados com mais celebrações é liderada por São Paulo (38,9%), seguido pelo Rio de Janeiro (8,6%), Minas Gerais (6,6%), Santa Catarina (5%) e Paraná (4,6%). Os números são da Central de Informações do Registro Civil (CRC Nacional), administrada pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil).

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Até 2011, os cartórios eram obrigados a pedir uma autorização judicial para registrar uniões homoafetivas. E a sorte do casal dependia do magistrado que julgasse o caso, que em muitos casos negava o pedido. A justificativa era a ausência de lei, que, vale lembrar, continua não tendo sido contemplada no Congresso Nacional. O que mudou em 2011 foi uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que igualou uniões estáveis homoafetivas às heteroafetivas. Mas foi só a partir da Resolução nº 175, de 2013, do CNJ que foi autorizado o casamento civil em todos os cartórios do país.

Otávio e Fernando 

Quando Otávio Furtado (44 anos, jornalista) e Fernando Gomes (44 anos, advogado) decidiram que era a hora de se casar, havia a certeza de que seria preciso travar longa disputa judicial. O ano era 2012 e apenas a união estável homoafetiva era oficialmente permitida no país. Os poucos que tinham conseguido o registro civil de casamento tinham entrado com ações na Justiça. Mas por uma coincidência feliz, a união foi oficializada de forma mais simples e rápida do que pensavam. 

 “A gente deu entrada nos papéis em maio de 2013 e normalmente o processo todo levava 30 dias, que era o tempo padrão para o Ministério Público manifestar se existia algum tipo de irregularidade. Isso para qualquer casal, inclusive hétero. Nesse tempo, a CNJ determinou que nenhum cartório poderia negar o registro para casais homoafetivos. E o nosso pedido foi o primeiro a ser aprovado no estado do Rio”, lembra Fernando. 

Em julho, eles estavam legalmente casados e, em setembro, celebravam em uma festa com amigos e família. Todo o processo até o dia cerimônia acabou despertando nova consciência no casal. Eles contam que até, então, não tinham passado por situações mais graves de homofobia. O que admitem ter muita relação com algumas posições de privilégio: são homens, brancos, de classe média, morando em um bairro como Ipanema, que concentra um número grande de pessoas LGBTQIA+.

“Eu sempre falava que não queria ficar levantando bandeira por ser gay. E o nosso casamento foi a grande virada de chave na minha vida. Pela primeira vez, de forma repetida, eu tive que lidar com situações de homofobia. Na hora de organizar o casamento, por exemplo, a maior parte dos fornecedores não estava preparada para celebrar uma relação homoafetiva. E tinha de tudo, desde a pessoa que achava que na cerimônia ia descer uma drag queen do teto, até as pessoas que perguntavam quem ia fazer o papel da noiva”, conta Otávio.

A partir desse conjunto de experiências, os dois passaram a se preocupar com pautas que iam além da própria “bolha”.  “A gente pensava no casamento como um momento só nosso. E começou a perceber que era egoísmo pensar daquele jeito. Na cerimônia, uma das nossas madrinhas falou de como nossa decisão iria atingir outras pessoas. E aí, mais uma vez, caiu a ficha de que aquilo também era um ato político, que já tinha começado lá atrás quando a gente decidiu registrar em cartório. Outras situações foram surgindo e mostrando que eu deveria aprofundar esse caminho do ativismo. Usar o nosso privilégio para abrir portas a outras pessoas”, afirma Otávio.

Fabia e Gabi 

Gabi Torrezani (31 anos, produtora audiovisual e doula) conseguiu uma oportunidade de estágio na produtora de vídeo da Fabia Fuzeti (47 anos, videomaker). Durante meses, a relação entre as duas evoluiu das conversas sobre trabalho para a amizade e, então, o namoro. Depois de dois anos, veio a ideia do casamento. O pedido, feito pela Fabia, está registrado em áudio no início do documentário “Vestidas de Noiva”, produzido pelas duas para falar tanto do processo de casamento delas, que aconteceu em 2014, quanto do histórico da união homoafetiva no Brasil. 

 “Com a gente foi super fácil, o juiz de paz foi bem fofo, quis tirar foto com as noivas. Mas a gente sabe que nem todos os cartórios foram assim. Na época, muitas pessoas ainda escreviam para a gente e falavam que tinham tentado casar na cidade em que moravam e não deixaram. Era obrigatório, mas muitos cartórios alegavam que não faziam o registro lá”, diz Fabia Fuzeti.   

Até o dia oficial do “sim”, as duas tiveram de passar por algumas situações desconfortáveis. A mãe de Fabia teve dificuldades para lidar com o fato de a filha estar namorando uma mulher. Mas ao ver que outras pessoas ao redor não se importavam com a situação, não só superou o estranhamento como ajudou nos preparativos do casamento. Os avós da Gabi não compareceram no dia da cerimônia, o que a deixou muito triste pela proximidade que tinha com eles. Mas um ano depois estavam presentes no lançamento do documentário.

As duas dividem um blog de viagem chamado Estrangeira, que com o tempo passou a focar em experiências específicas do público LGBTQIA+. Além das dicas de viagens sobre destinos mais atrativos e mais seguros, compartilham momentos do casal. Dizem que estavam cansadas de ver histórias com mulheres homossexuais sempre a partir de um viés negativo, seja na ficção ou no noticiário: “A gente queria ser um modelo de final feliz”, diz Fabia.

Por ser uma história ainda em construção, elas pensam nos próximos capítulos e em novas lutas que precisam ser superadas. O casal planeja ter filhos e lamenta não ver uma movimentação política mais contundente sobre a igualdade quando se trata dos direitos de maternidade para as mulheres homossexuais.

“Para a mulher que não é a gestante do casal registrar o bebê como filho dela, tem que ter feita a fertilização em uma clínica. As duas têm que levar um papel provando que são casadas e que fizeram o processo na clínica. Quando um casal hétero vai ao cartório, ninguém pede para ver o papel com o registro da relação sexual que gerou o bebê. Simplesmente chega lá e registra. Isso faz com que mulheres que não tenham grana para procurar uma clínica, que topam uma inseminação caseira, estejam à margem da lei e precisem entrar com uma petição judicial. Isso, para a gente, é muito violento”, afirma Gabi.

As duas defendem a necessidade de que o Sistema Único de Saúde (SUS) possa oferecer o direito de fertilidade assistida para todos os que desejarem. Hoje, a legislação privilegia apenas casais heterossexuais.

“A fertilidade assistida no SUS é para pessoas que eles consideram inférteis, que são basicamente os casais héteros que passam por uma triagem. Mulheres saudáveis, férteis, que precisam do tratamento para engravidar e ter acesso ao banco de sêmen não se encaixam nessa categoria. Toda uma população fica excluída de um serviço de saúde que teoricamente é universal”, diz Gabi.

Toni e David 

Toni Reis (59 anos) e David Harrad (65 anos) se conheceram na saída da estação de metrô Highgate Station, em Londres, em uma noite de março de 1990. Nascido no interior paranaense, Toni tinha se formado há um ano em letras na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e passava uma temporada na Europa para estudar e conhecer novas culturas. Nascido no interior da Inglaterra, David era casado com uma mulher quando conheceu Toni. Do encontro veio a convicção de que era o momento certo para viver um relacionamento homoafetivo. Ele se separou da mulher e em 1991 os dois vieram juntos para o Brasil.

No novo país, David viveu um tempo com a documentação irregular e acabou sendo preso em 1995. Tinha duas opções para não ser deportado e conseguir o visto de permanência: se casar com uma mulher brasileira ou assinar um contrato de trabalho com uma empresa local. A segunda alternativa era a única viável naquele momento, porque o casamento homoafetivo estava longe de ser autorizado no Brasil. Até que em 2011, depois da decisão do STF, o casal conseguiu registrar a união estável. 

 “Aparecíamos nas paradas LGBTI+ vestidos iguais de smoking, de noivos, para chamar a atenção pelo direito ao matrimônio igualitário. Mas além do significado político, o registro da união estável proporcionou uma segurança jurídica que nós não tínhamos antes como casal. Cansei de conhecer histórias de famílias que queriam tomar os bens do parceiro do filho, quando este faleceu. Também possibilitou que pudéssemos finalmente realizar o sonho de adotar filhos e ser pais”, explica David.

O casamento civil dos dois no cartório, apesar de autorizado pelo CNJ desde 2013, só aconteceu em 2018. Até então, consideravam a união estável suficiente. O que os fez mudar de ideia foi o medo de que a eleição de Jair Bolsonaro provocasse a perda de direitos, uma vez que sempre foi explícito o posicionamento homofóbico do ex-presidente. Eles cogitaram morar fora do país e queriam mais uma proteção jurídica caso precisassem viajar com os três filhos, então adolescentes.

“A gente nunca precisou do papel para o amor. Porém, ele dá segurança jurídica para o patrimônio e para os filhos. Então, tem as vantagens legais. E tem o significado político. Hoje, ninguém pode falar que nós não somos uma família”, afirma Toni Reis.

Toni se tornou uma referência na luta pelos direitos da população LGBTQIA+. Ele foi o primeiro presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), fundada em Curitiba em 1995. É especialista em sexualidade humana, mestre em filosofia e doutor e pós-doutor em educação. Para ele, o direito ao casamento foi uma vitória importante, mas ainda existe uma série de desafios a serem superados.

“Todas as nossas decisões sobre direitos LGBT foram tomadas pelo STF. O que nós precisamos é colocar todas essas decisões de adoção, casamento, doação de sangue, discriminação em leis que passem no Congresso Nacional. Pode durar cinco, dez ou 50 anos, mas nós vamos conseguir. Nós queremos ter também o nosso Estatuto da Diversidade Sexual e um estatuto que proteja todas as famílias”, diz Toni Reis.

O Ministério da Justiça e Segurança Pública aprovou nesta quinta-feira (18) a adoção de procedimento simplificado para análise de pedidos de refúgio de pessoas LGBTQIA+ provindas de países que aplicam pena de morte ou prisão para gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais.  

A medida foi deliberada em reunião ordinária do Comitê Nacional para Refugiados (Conare). O órgão reconhece a população em questão como “grupo social com temor de perseguição, que merece a proteção do Estado brasileiro”, conforme definido pelo Estatuto Nacional do Refugiado e pela Convenção da Organização das Nações Unidas (ONU) para Refugiados. 

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De acordo com o Conare, a decisão representa um marco histórico e possui caráter interministerial em razão da participação do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. 

“Com esta decisão, simbólica, tendo em vista o Dia Internacional de Combate à Homofobia, em 17 de maio, o Conare ressalta a posição histórica do Brasil de país de vanguarda na defesa nacional e internacional da população LGBTQIA+ e cria possibilidades para a integração, de forma segura e humanitária, desses migrantes na sociedade brasileira.” 

Na última quarta-feira (17), Dia do Combate à LGBTfobia, o deputado federal Pedro Campos (PSB-PE) protocolou, na Câmara Federal, um conjunto de ações que contempla seis projetos e duas ações de fiscalização para assegurar os direitos da comunidade LGBTQIA+.

A iniciativa faz parte das ações do Gabinete Compartilhado que, além do deputado pernambucano, contou com as assinaturas das deputadas Camila Jara (PT-MS), Duda Salabert (PDT-MG) e Tabata Amaral (PSB-SP), do deputado Amom Mandel (Cidadania-AM) e do senador Alessandro Vieira (PSDB-SE). 

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Com o objetivo de incentivar medidas de inclusão e respeito à diversidade no mercado de trabalho, Pedro é coautor do Projeto de Lei N• 2460/2023, que propõe a criação do Selo Empresa Amiga da Diversidade, a ser concedido às sociedades empresárias que estimulam a contratação da população LGBTQIA+, especialmente de travestis e outras pessoas trans. 

 “A taxa de desemprego da comunidade é de 21% enquanto a taxa nacional é de 12%. No recorte sobre a ocupação de postos de trabalho pelas mulheres trans, o cenário é ainda pior: apenas 14% possuem emprego formal, configurando o maior índice de desemprego dentro da comunidade. É preciso que a legislação fomente políticas protetivas de ingresso e manutenção de empregos como forma de combater essa realidade de exclusão laboral”, aponta Pedro Campos.

No que diz respeito à Declaração de Nascido Vivo, o parlamentar também é coautor do PL N• 2643/2023, que visa permitir o registro de dupla maternidade ou paternidade no documento, de forma a não discriminar os filhos de casais homoafetivos, além de criar um campo para a produção de dados sobre o nascimento de crianças intersexo, estimulando a elaboração de políticas públicas fundamentadas em evidências para essa população.

Na área da saúde, por meio do PL 2644/2023 na Câmara e do PL 2649/2023 no Senado, pretende-se assegurar o uso do nome social nas redes de saúde pública e privada também integram o conjunto de proposições. O assunto também foi  tratado através do Requerimento de Informação (RIC) 1406/2023, enviado ao Ministério da Saúde, onde o Gabinete Compartilhado, solicitando esclarecimentos sobre um possível bloqueio da inclusão do nome social em novos cadastros nos aplicativos ligados ao Sistema Único de Saúde (SUS). 

“Na nossa realidade o desrespeito ao nome social é um fator de agravamento de doenças psicológicas e até mesmo físicas. Não é raro ouvir relatos de pessoas, que por saberem que um determinado equipamento de saúde não utilizará o nome social, ficam constrangidas a ponto de pedir outra pessoa para passar pela consulta médica no seu lugar e relatar os sintomas que está sentindo, o que obviamente dificulta o diagnóstico, impedindo exames clínicos e laboratoriais. Essa proposta mudará a vida de muitas pessoas que passam por isso diariamente”, defendeu a deputada Duda Salabert.

A pasta também foi questionada, através do RIC 1403/2023, sobre as diretrizes adotadas no Processo Transexualizador, especialmente em relação ao tratamento hormonal e intervenções cirúrgicas realizadas no âmbito do SUS. 

Colaboração - Com o intuito de instituir o Prêmio da Diversidade Janaína Dutra, Pedro protocolou Projeto de Resolução de Alteração do Regimento Interno da Câmara dos Deputados (PRC) 65/2023  busca agraciar organizações, entidades governamentais, empresas ou lideranças que tenham se destacado por suas ações, projetos ou iniciativas em prol dos direitos, igualdade e inclusão do público LGBTQIA+.

Já o PRC 66/2023 incentiva a criação da Secretaria LGBTQIA+ para promover eventos, debates e fiscalizar as políticas governamentais relacionadas aos direitos da comunidade. Em conjunto com Duda Salabert, Camila Jara e Tabata Amaral,  Pedro Campos assinou, como coautor, o PL 2654/2023 para criação do Dia Nacional do Orgulho Trans, a ser comemorado em 15 de maio.

Sobre o Compartilhado – As ações do Gabinete Compartilhado são construídas com a participação de todos os seus membros, em um processo técnico e estratégico de análise, desenho, revisão e aperfeiçoamento até o produto final. Ainda que seja uma iniciativa coletiva, não existe a necessidade de consensos definitivos, fechamento de questão ou quaisquer outras obrigações nesse sentido, uma vez que os mandatos são individuais e independentes.

*Da assessoria

A professora Jenna Barbee, disse que está sendo investigada pelo Departamento de Educação da Flórida, nos Estados Unidos, depois de exibir “Mundo Estranho” (2022) para seus alunos da quinta série. O filme de animação da Disney tem um personagem gay.

Em um vídeo postado no TikTok no último sábado (13), a educadora explicou que uma das mães das crianças, que atua no conselho escolar da região, a denunciou por exibir a animação em uma aula realizada no dia 3 de maio. Jenna afirma que exibiu a animação para a turma, mas que havia papéis de permissão assianados de todos os pais e responsáveis dos alunos, permitindo que a turma assistisse ao filme.

“Eu sou a professora que está sendo investigado pelo Departamento de Educação da Flórida por doutrinação por exibir um filme da Disney”, disse a professora. A mãe que realizou a denúncia acusou a docente de tirar a "inocência" de seu filho de 10 anos ao exibir a obra.

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Jenna explicou que as pessoas a acusaram de doutrinar os alunos sobre identidades LGBTQIA+ e comprometer a segurança dos estudantes. “Este é o sistema de ensino público, em que alunos de todas as origens, culturas e religiões são bem-vindos e devem ser celebrados e representados. Não sou e nunca doutrinaria ninguém a seguir minhas crenças”, destacou a professora. “Eu, no entanto, sempre serei uma pessoa segura que espalha a mensagem de bondade, positividade e compaixão para todos", afirmou.

Jenna disse que os funcionários da escola e um investigador do Departamento de Educação entrevistarão todos os estudantes, sobre a aula do dia 3 de maio, com ou sem o consentimento dos pais.

Créditos: Divulgação/Disney

Na Flórida, os políticos estão buscando reduzir cada vez mais os debates sobre a comunidade LGBTQIA+ nas unidades de ensino. Em 2022, os legisladores do estado promulgaram uma lei educacional que proíbe a instrução de orientação sexual e identidade de gênero nas séries K-3 (pré-escola), e o Departamento de Educação aprovou recentemente uma regra para expandir a proibição até a 12ª série. Os educadores que violarem a política estadual podem ser suspensos ou ter suas licenças de ensino revogadas.

A obra que foi exibida para a turma, é dirigida pelo norte-americano Don Hall. O longa traz a história de uma família de exploradores e os conflitos centrais do enredo se concentram em: Searcher Clade, um fazendeiro de 40 anos, seu pai, Jaeger, um explorador de 60 anos, e seu filho Ethan, um bem-humorado adolescente de 16 anos, que é gay e gosta de um outro personagem masculino da animação. A paixão do jovem é mencionada apenas uma vez no filme e a sexualidade dele não é abordada com detalhes na animação.

Estudo revela que pessoas com idade a partir de 50 anos que pertencem à comunidade LGBTQIA+ têm atendimento de saúde pior do que a parcela de mesma faixa etária que não faz parte desse grupo. A situação é a mesma tanto na redes privada quanto no Sistema Único de Saúde (SUS), revela estudo de pesquisadores do Hospital Albert Einstein, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP e Universidade de São Caetano do Sul, publicado na revista científica Clinics.

Os pesquisadores destacam que 31% do grupo LGBTQIA+ estão na pior faixa de acesso à saúde no país, enquanto a proporção entre a população que não está nesse grupo é de 18%. Para chegar aos resultados, a equipe analisou as respostas de 6.693 pessoas de todo o Brasil em um questionário online, que pôde ser preenchido anonimamente. Ao todo, 1.332 dos participantes se identificaram como LGBTQIA+.

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Com a comparação de respostas, observou-se que 74% das mulheres heterossexuais relataram ter feito pelo menos uma mamografia na vida. Ao mesmo tempo, a proporção de mulheres com identidade de gênero ou orientação sexual que as encaixa na sigla LGBTQIA+ era de apenas 40%, o que evidencia a disparidade em relação aos cuidados com a saúde e pode indicar ainda dificuldades, por parte desse grupo de realizar exames.

Desnível semelhante pode ser observado em outro dado: o de triagem preventiva para câncer de colo de útero, entre pessoas que se identificam como mulheres cisgênero. A porcentagem de heterossexuais que realizou o exame foi de 73%, contra 39% de LGBTQIA+.

Quanto ao exame preventivo de câncer de intestino, também entre mulheres cisgênero, a discrepância é menor, mas existe. No total, 57% de mulheres afirmaram ter feito o exame em algum momento, número que cai para 50% entre as LGBTQIA+.

Segundo os autores do trabalho, um dado relevante é que mais da metade (53%) do grupo não acredita, ou não sabe, que os médicos saibam lidar com as particularidades de sua saúde. Além disso, 34% dos que responderam ao questionário acreditam que os profissionais que os atenderam não conheciam sua identidade de gênero ou orientação sexual, fato que pode mostrar como há assuntos relevantes para o diagnóstico e o tratamento que ainda são tabu. 

"A partir do momento em que a gente conhece essa realidade, reforça a importância de eliminar as desigualdades, as barreiras de acesso", afirma Milton Crenitte, um dos autores da pesquisa e geriatra do Hospital Israelita Albert Einstein.

O hospital já desenvolve protocolos e ações específicas para os pacientes LGBTQIA+, desde a criação do Grupo Médico Assistencial voltado a esse público. 

Para Crenitte, um dos equívocos que mais influenciam a forma como os profissionais de saúde encaram especificamente esse grupo é limitar os cuidados a infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), o que se explica pelo estigma da década de 1980, quando teve início o esterótipo que associou homossexualidade ao HIV, que permanece até hoje, de certo modo.

"Muitas vezes, a saúde LGBT foi tratada apenas nas políticas de prevenção ao HIV e a outras ISTs. Então, o que acho que a geriatria tem para contribuir nessa seara do envelhecimento LGBTQIA+ é entender que vai além disso. É preciso acolher essas pessoas, fazer com que elas entrem nos nossos cenários de prática, nos nossos serviços de saúde, para tratar pressão alta, diabetes, fazer atividade física, tratar de saúde mental e também falar de HIV e aids", diz o geriatra.

Crenitte destaca que um fato importante, hoje em dia, no cenário do HIV é que a ciência mudou muito e avançou muito no tratamento. “Mas, uma coisa que permanece, em 40 anos de epidemia de HIV, é a sorofobia. Um espaço que também precisa ser discutido é o da discussão da sorofobia, que é o preconceito contra quem vive com o vírus."

O receio de se tornarem alvos de LGBTQIAfobia em consultórios ou hospitais faz, inclusive, com que muitas pessoas deixem de fazer acompanhamento e exames regulares e preventivos, o que pode acabar em diagnóstico de doenças já em estágio avançado, com poucas chances de tratamento eficaz. "Isso é real. Muitas pessoas da comunidade LGBTQIA+, por medo de sofrer discriminação ou por experiências prévias negativas ou outras barreiras de acesso, que são inúmeras, deixam de procurar o serviço", afirma Crenitte.

O médico ressalta ainda um dado da pesquisa que mostra que a maneira como o usuário percebe a disponibilidade do serviço vai impactar na decisão dela de sair, ou não, de casa para procurar ajuda. “Muitas pessoas, em vez de fazer o cuidado preventivo, evitam e só acessam a saúde no momento da emergência, o que é muito pior."

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