Nesta terça-feira (14), é celebrado o Dia Nacional da Poesia, data escolhida por ser o mesmo dia do aniversário de Castro Alves, renomado poeta brasileiro que utilizava de seu ofício para defender a abolição da escravidão no Brasil. Parte da cultura e história do País, a poesia brasileira costuma aparecer nas questões de literatura do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e é preciso estar atento a elas.
Algo muito comum para confundir os alunos é a definição de poesia e poema. Poema é a estrutura de texto que se organiza em versos e estrofes. Já a poesia, ao contrário do que se entende, não se prende a esta organização padrão, poesia é o conteúdo e a mensagem que traz para quem a observa. A poesia pode estar presente em um poema, em um quadro e até em uma prosa, ela está em obras de arte no geral.
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Entendendo essa diferença, o aluno já conhece um pouco mais dos gêneros textuais existentes nas linguagens. Contudo, popularmente, os poetas são comumente lembrados como artistas do ramo do poema. Em conversa com o LeiaJá, o professor Pedro Santos destaca essa diferença.
“Falar de poesia, primeiro, é lembrar que poesia e poemas não são as mesmas coisas. No Enem, é preciso lembrar de dois momentos literários que sempre caem quando envolve poemas: o parnasianismo e a modernidade”, diz.
O docente explica mais sobre esses momentos na arte: “Os principais poetas no primeiro [momento], seria a tríade parnasiana, que consiste em Alberto Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac. Todos defensores de uma poesia pura, sem influências dos problemas sociais, que prezasse a arte pela arte. Os poemas parnasianos possuem formato e métricas muito cuidadosas, eles amavam o soneto.”
“Quanto à modernidade, temos que lembrar de Manuel Bandeira, pernambucano, sempre cobrado na prova. Ele possui uma lírica única na nossa literatura, participa da construção ideológica da Semana de Arte Moderna, além de ser crítico literário. Bandeira nos deu de presente um universo poético único: Pasárgada. Lá, ele podia ser o que ele quisesse, como uma forma de escapar das pressões sociais e pessoais, pois sofria de tuberculose”, continua Pedro.
Veja, abaixo, o famoso poema:
"Vou-me embora pra Pasárgada", por Manuel Bandeira
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Como poemas e poesia podem cair no Enem?
Quando falamos de linguagens e literatura, saber o contexto histórico e as definições dos gêneros textuais não basta. O professor Pedro Santos explica que há outra competência muito importante para se sair bem nas questões do Enem: a interpretação da linguagem poética do poema.
“Compreender a linguagem poética (poesia) é fundamental. E, para isso, é importante lembrar que a literatura não se expressa utilitariamente, como esta notícia que você está lendo, ela usa da palavra como instrumento artístico. O Enem vai cobrar do aluno justamente essa sensibilidade artística a de compreender a poesia do poema”, finaliza Pedro.