A Organização Pan-americana da Saúde (Opas) alertou nesta terça-feira (23) para o aumento "terrível" dos casos de covid-19 no Brasil, que também castiga seus vizinhos, Venezuela, Bolívia e Peru, e destacou a alta de contágios em Chile, Paraguai e Uruguai.
"O vírus da covid-19 não está retrocedendo, nem a pandemia está começando a desaparecer", advertiu em coletiva de imprensa Carissa Etienne, diretora da Opas, escritório regional da Organização Mundial da Saúde (OMS).
A região das Américas é a mais afetada do mundo pela covid-19: soma 54,4 milhões de contágios e 1,3 milhão de mortos desde que o novo coronavírus foi registrado pela primeira vez na China em dezembro de 2019, segundo contagem da AFP com base em cifras oficiais.
Etienne disse que a transmissão do vírus "segue aumentando perigosamente em todo o Brasil", onde considerou "crucial" que se adotem as medidas preventivas para frear a propagação.
Com mais de 298.000 mortos, o Brasil é o segundo país do mundo com mais óbitos pela covid-19 depois dos Estados Unidos. Nesta terça, o país bateu o recorde de mais de 3.000 mortos em 24 horas.
Sylvain Aldighieri, gerente de incidentes da Opas, disse que 23 dos 26 estados e o Distrito Federal no Brasil reportam 85% de ocupação de suas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).
Além disso, destacou que a variante P1, detectada inicialmente na cidade de Manaus, capital do Amazonas, no fim de 2020 e considerada muito contagiosa, foi identificada em 15 países e territórios das Américas.
- "Emergência de saúde pública ativa" -
A diretora da Opas chamou atenção para o que considerou uma "emergência de saúde pública ativa".
"Infelizmente, a terrível situação do Brasil também está afetando os países vizinhos. Os casos aumentaram na Venezuela, particularmente nos estados de Bolívar e Amazonas, que fazem fronteira com o Brasil", afirmou.
"Foi reportado um aumento de casos no departamento de Pando, na Bolívia, e a ocupação de leitos de UTI continua sendo muito alta em Loreto, Peru", acrescentou.
Etienne também destacou um aumento dos contágios no Cone Sul, destacando a pressão que isto representa para o sistema sanitário no Paraguai, onde a maioria dos leitos de UTI estão ocupadas, e chamando atenção para a situação "alarmante" no Uruguai, país de 3,4 milhões de habitantes.
"O Uruguai reportou mais de 1.000 casos por dia várias vezes nas últimas semanas, o que é alarmante dado o tamanho do país", disse.
No Caribe, Etienne destacou um aumento constante de contágios em Jamaica, Cuba, Aruba, Curaçao e Antigua e Barbuda, enquanto na América Central, a Guatemala está com os hospitais no limite.
Embora as infecções tenham começado a se estabilizar nos Estados Unidos, Canadá e México, foram reportados novos contágios em Ontário, Canadá, e um crescimento no número de mortos nos estados americanos de Minnesota e Virgínia Ocidental.
- Cuidado com a Semana Santa -
Mais de 155,8 milhões de doses de vacinas anticovid já foram aplicadas nas Américas, das quais mais de dois terços nos Estados Unidos. Dos 35 países do continente americano, apenas dois ainda não iniciaram suas campanhas de imunização: Haiti e Cuba.
Etienne destacou o avanço das campanhas de vacinação, inclusive a entrega de mais de 2,1 milhões de doses através do mecanismo Covax, impulsionado pela OMS para assegurar um acesso equitativo à imunização.
Mas reforçou que embora se espere que todos os países latino-americanos e caribenhos disponham em abril de vacinas do Covax, estas doses não serão suficientes para proteger os grupos mais vulneráveis.
Etienne instou encarecidamente aos países ricos com doses excedentes de vacinas a compartilhá-las com os que receberam poucas, através de doações ao Covax e por outros meios. Também pediu para "ampliar urgentemente" a produção de vacinas para todos os países.
"Estamos muito longe de superar a marca de 70%" da população vacinada que os especialistas consideram necessária para controlar a transmissão da covid-19, disse Etienne.
Por isso, ela pediu que se mantenham estritamente as medidas de saúde pública recomendadas: distanciamento físico, uso frequente de máscaras e lavagem frequente das mãos.
Ciro Ugarte, diretor de Emergências em Saúde da Opas, destacou a preocupação do organismo com o relaxamento da população no cumprimento destas medidas que, segundo disse, provocará um reforço das restrições, toques de recolher e conflitos.
"Na Semana Santa é necessário reduzir as viagens ao essencial", disse, implorando que não se repita o aumento "muito significativo" de casos após as festas de fim de ano e do carnaval.