Quando Jakson Follmann conseguiu dar os primeiros passos sem se apoiar, se sentiu como um bebê. Quase três meses depois do acidente, o jogador voltava a estar de pé, sozinho, com uma prótese substituindo a perna perdida no acidente aéreo da Chapecoense, e com uma nova vida pela frente.
E o sobrevivente de 24 anos não pensa em deixar passar nenhum momento desta nova oportunidade.
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"Não caberia a mim estar sentado num canto chorando, me lamentando. Muito pelo contrario. Estou bem, estou muito feliz, e isso aqui foi só uma coisa muito pequenininha que aconteceu", afirmou calmamente o goleiro do time durante a tragédia de 28 de novembro de 2016.
Depois de semanas mágicas chegando à final da Copa Sul-americana, o avião do time catarinense bateu nas montanhas de Medellin quando a equipe se dirigia para a decisão. 71 pessoas morreram e apenas seis sobreviveram, entre eles Follmann.
O jovem arqueiro chegou ao time em maio com a esperança de dar um salto na carreira, quando deixou a cidade de Alecrim para jogar nas categorias de base do Grêmio.
Desde então, por cada time que passava o sonho de vestir a camisa de uma equipe da primeira divisão seguia vivo. Até que tudo mudou, ou quase tudo.
Depois do acidente "meu maior desejo foi ficar de pé, caminhar e ir sozinho ao banheiro, escovar os dentes... Essas coisas simples que passam desapercebidas para outras pessoas", explicou com sorriso de quem lembra o quão difícil foram as conquistas.
- Mais atleta do que nunca -
Com o corpo ainda cheio de cicatrizes e dores depois de várias operações e 56 dias de internação, Follmann espera instruções do médico José André Carvalho, do centro de reabilitação do São Paulo, onde reconquista a autonomia.
Desde que começou as sessões em fevereiro, o progresso do jovem sorridente avançou mais rápido do que o esperado.
Além de amputar grande parte da perna direita, o acidente deixou o tornozelo esquerdo seriamente danificado e Follmann precisou operar as vértebras e se recuperar de várias fraturas.
Mas os músculos de atleta não perderam a memória, nem ele.
"Quando comecei a dar meus primeiros passos sem muletas eu queria subir e descer escadas. Meu pensamento era de fazer muitas coisas, ainda que eu saiba que não é a hora e preciso respeitar meu corpo", conta de maneira serena.
O acidente mudou suas prioridades, mas não tirou as conquistas que já teve na vida.
"Eu quero conhecer muitas coisas. Eu nunca vou deixar de praticar o esporte, porque sou amante de esporte. Não me vejo como menos atleta, muito pelo contrario. Eu me vejo muito bem, eu me vejo mas atleta do que antes", acrescentou rindo.
Atento aos detalhes, Follmann não se distrai quando o doutor passa os exercícios de recuperação. Com a mesma concentração que durante tantos anos investiu para se tornar melhor goleiro e que agora briga contra o chão.
O espírito lutador poderia levá-lo aos campos como atleta paralímpico, uma ideia que quer pensar com seus familiares quando chegue sua prótese definitiva.
Aproveitando os dias em São Paulo, Follmann visitou o centro nacional de esporte adaptado, onde praticou vôlei sentado e ficou cheio de ideias.
"Pude perceber mais uma vez que as limitações das pessoas está na cabeça. Se estamos com a mente boa, com pensamentos positivos, podemos fazer muitas coisas", sublinhou.
- Feridas abertas e luta -
E ninguém melhor que Follmann para saber disso. O otimismo tem sido o motor da recuperação e devolveu os passos, mas a luta contra as sequelas da fatídica noite não é uma batalha fácil.
"Quando acordei no hospital eu sabia que tinha acontecido algo grave, porque eu vi que estava muito ferido. A última coisa que eu lembrava era de estar bem no avião", lembrou de cabeça baixa.
Follmann voltou à consciência pouco depois da família chegar ao hospital San Vicente de Rionegro, onde ficou duas semanas internado. Durante o período, não queria ver televisão nem saber detalhes, só queria seguir a luta pelos "irmãos" que se foram.
"Na Colômbia eu chorava muito, estava muito emotivo, mas quando coloquei os pés no Brasil comecei a ter forças para enfrentar as coisas", conta.
Outra vez de pé, Follmann voltou a ser dono dos próprios passos.