Funcionários da limpeza percorrem os corredores silenciosos do Grande Bazar de Istambul, borrifando desinfetante nos pisos, colunas e paredes a poucos dias da reabertura deste local icônico na capital econômica turca.
Com cerca de 3.000 lojas e 30.000 comerciantes, o Bazar foi fechado em 23 de março como parte de medidas para conter a pandemia do novo coronavírus. Até agora, a Turquia registra cerca de 4.500 mortos.
Segundo as autoridades locais, é o fechamento mais longo em quase seis séculos de existência do Bazar, à exceção de desastres naturais e incêndios.
Esse mercado coberto, um dos maiores do mundo, que recebia cerca de 150.000 pessoas por dia antes de fechar, agora está imerso em um silêncio lúgubre que contrasta com o barulho de milhares de comerciantes que ligam para clientes em todos os idiomas do mundo.
Apenas cerca de 20 joalheiros e casas de câmbio permanecem abertos e recebem clientes mediante agendamento.
Lâmpadas tradicionais e vidros decorativos esperam, nas vitrines, a reabertura nesta segunda-feira. Enquanto isso, há várias semanas, o Bazar é desinfetado toda quarta-feira por equipes da prefeitura.
"Após o fechamento temporário de 23 de março, se Deus quiser, reabriremos nosso mercado respeitando os imperativos sanitários", disse à AFP o presidente do conselho de administração do Grande Bazar, Fatih Kurtulmus.
Embora antecipe uma baixa atividade nas primeiras semanas, ele está "convencido de que os turistas voltarão a Istambul a partir do final de junho, porque não podem prescindir (...) do Grande Bazar, da Hagia Sophia e da Mesquita Azul", acrescenta, listando outros lugares emblemáticos de Istambul.
- "Fechamento raro" -
Localizado na parte histórica, o Grande Bazar é uma das principais atrações turísticas de Istambul. No ano passado, 42 milhões de pessoas visitaram o local. Foi construído em 1455, dois anos após a conquista de Constantinopla pelos otomanos.
Coração pulsante da nova capital otomana, renomeada Istambul, o Grande Bazar floresceu em paralelo com a expansão do império que se estendia do Magrebe aos Bálcãs, passando pela península Arábica, antes de afundar no final da Primeira Guerra Mundial.
A paralisação da atividade do mercado, devido à pandemia de Covid-19, "é um dos raros fechamentos em sua história", disse Kurtulmus.
"Nosso Grande Bazar, o coração da economia, cultura, história e turismo, nunca foi fechado, exceto após catástrofes naturais", explicou ele.
"Mas tivemos que colocar a segurança e a saúde acima da economia", afirmou.
Depois que os primeiros casos de Covid-19 apareceram em meados de março, o Bazar ainda ficou aberto por alguns dias. À época, profissionais de saúde passaram de loja em loja para testar os comerciantes. Segundo Kurtulmus, apenas sete casos de coronavírus foram registrados.
- Medidas estritas -
A reabertura do mercado será realizada sob as rigorosas medidas determinadas pelo Ministério da Saúde: uso obrigatório de máscara e número limitado de clientes nas lojas.
"Algumas lojas têm apenas 15m2, apenas dois clientes serão aceitos ao mesmo tempo", explicou Kurtulmus.
Os comerciantes estão preocupados com o futuro do mercado coberto, que dependerá do retorno do turismo.
"É a espinha dorsal da economia do Grande Bazar", comentou o joalheiro Ayhan Oguz.
"2020 será um ano de perdas econômicas. Se os negócios forem retomados, o turismo for retomado, e as conexões aéreas forem restabelecidas até setembro, a situação deve melhorar", acrescentou.
Enquanto isso, Namik, dono de outra joalheria, reclama da situação difícil.
"Estamos em um momento ruim. Como vamos pagar o aluguel? O Bazar reabrirá em 1º de junho, mas mal conseguimos chegar ao fim do mês", desabafa.
Mais otimista, Kurtulmus acredita que os comerciantes vão-se recuperar rapidamente.
"Trabalho aqui há três gerações. Passamos por tempos difíceis. Estou convencido de que o Grande Bazar vai-se recuperar e compensará totalmente suas perdas até o final do ano", afirmou ele.