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Com atividades que foram de mostra competitiva de videoclipes, sessão de curtas e longas-metragens, lançamento de filme, homenagem, atividades paralelas de oficinas e workshops até premiações, a 8ª edição do Amazônia FiDOC – Festival Pan-amazônico de Cinema apresentou a temática "O Cinema de todas as Amazônias na luta pela floresta em pé". A programação começou dia 10 de novembro e se encerrou no domingo (20), em Belém.
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Pra promover a discussão, reflexão e circulação da produção cinematográfica e de ficção dos nove países que compõem a Amazônia – que são Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela –, o festival teve o foco na realização audiovisual de cinema documentário. Na última sexta-feira (18), foi a vez da apresentação da masterclass "As Amazonas Pioneiras no Cinema Nortista", realizada pela jornalista Lorenna Montenegro. O workshop abordou a história do cinema amazônico e reforçou a potência das cineastas que abriram caminhos na produção nacional.
Lorenna disse que a troca de informações, tanto para ela como mediadora quanto para quem está participando, é o maior significado de ter a possibilidade de apresentar o tema e que o debate é uma oportunidade de revisitar a história. “Existem algumas pesquisadoras que eu não tenho nem material dos filmes que elas fizeram, tenho informações, indícios. Então, também é uma oportunidade de não só enriquecer a minha pesquisa, mas oportunizar que a cultura amazônica, paraense e da região Norte seja cada vez mais amplificada, especialmente no cinema”, relata.
Lorena destaca que a ideia da palestra é pontuar de forma cronológica, desde a cineasta pioneira até as que estão atualmente na produção, e ainda trazer à discussão por que as mulheres abandonam o audiovisual. “Trabalhar com uma linha do tempo desde que a primeira cineasta, que é da década de 70 e teve uma produção que ganhou uma visibilidade num festival internacional, e a partir daí cruzando algumas informações sobre cineastas do Pará, da Amazônia, de Rondônia, de Roraima, do Acre e também outras profissionais do audiovisual como produtoras, realizadoras de festivais e pesquisadoras, fazer um panorama dessas mulheres”, descreve.
A mediadora fala que usa bastante a metáfora da própria cosmogonia indígena, principalmente dos grupos que habitam a região. “Tudo meio que corre em paralelo, para eles – os Jurunas, os Mundurucus e os Caiapós – não tem distinção e para a gente – que fazemos essa distinção – colocamos a memória muito no lugar do passado, [e a memória] fica em um lugar de apagamento, porque acaba que não prevalece, não permanece, não é preservada e não é cuidada como deveria ser”, pondera.
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Lorenna falou sobre a relevância de revisar, reforçar e abrir caminhos para novas produções do cinema amazônico. Para a palestrante, é preciso trabalhar para que isso se materialize na realidade, porque a Amazônia está no centro das discussões do mundo. “A gente tá tendo a COP – Conferência do Clima e não só a questão da preservação ambiental, mas também os investimentos na Amazônia e nos projetos que falam da Amazônia. As pessoas querem ouvir narrativas da Amazônia e, de preferência, produzidas, realizadas por pessoas que são daqui”, enfatizou.
A sensibilidade em relação à Amazônia, a capacidade de articulação e organização para que barreiras possam ser rompidas são desafios enfrentados pelo audiovisual. A jornalista lembra a Lei Paulo Gustavo – Lei Complementar (PLP) 73/2021, que prevê a liberação de recursos para estados e municípios a fim de reparar os danos causados pela pandemia da covid-19 no setor de cultura – e Lei Aldir Blanc 2 – Lei 14.399, de 2022, que incentiva as atividades culturais – como grandes vetores de desenvolvimento da cadeia produtiva. “A gente vive uma situação realmente de abandono, mesmo com a boa vontade dos gestores públicos, mas que ainda não é suficiente”, complementou.
O coordenador da programação e curadoria do festival, Felipe Pamplona, afirmou que no atual governo houve uma destruição na área cultural e que é necessária, antes de tudo, uma reconstrução política cultural brasileira. “Mesmo na tentativa desse atual governo em bloquear e negar [recursos], um exemplo mais visível disso é a Lei Paulo Gustavo – que ele (presidente) fez de tudo para não acontecer; mas que, provavelmente, vai ser destravada e no começo do ano já começa a ter suas mobilizações”, enfatiza.
O coordenador da programação declarou que nesta edição, a 8ª, houve uma quantidade significativa de produções não só do Estado do Pará, mas também dos vários estados da Amazônia e que, somente agora, o evento conseguiu ter a abrangência de se tornar um festival internacional.
“É um momento fundamental na história do Brasil e a Amazônia é colocada como o grande território a ser preservado, a ser conhecido no mundo; o audiovisual, a potência da imagem e do som, é a linguagem mais importante que a gente pode expor para o mundo e para o Brasil, os modos de viver e as multiplicidade cultural desse território”, disse.
Felipe explicou que o festival não trabalha com resultados a curto prazo ou resultados palpáveis; porém, já existe uma geração que se formou, e o coordenador se inclui nisso, como realizador, produtor que desenvolveu outras funções da cadeia do audiovisual nos eventos do Amazônia DOC. Felipe citou a Lei Aldir Blanc como grande incentivadora. “É uma lei que provou que com muito pouco dá para fazer muitos filmes. Vários filmes que são exibidos no Amazônia DOC são fruto da Lei Aldir Blanc”, acrescentou.
“A missão é muito grande, é uma missão de reconstrução de um verdadeiro vendaval de destruição que esse país passou e a política cultural foi a que sofreu mais”, finalizou.
Por Even Oliveira, com apoio de Isabella Cordeiro, Ana Luísa Cintra e Karoline Lima (sob a supervisão do editor prof. Antonio Carlos Pimentel).