O policial militar Leandro Henrique Pereira, de 25 anos, autor dos disparos que mataram dois jovens e feriu outros dois durante uma festa sertaneja, domingo, 20, em Piracicaba, no estado de São Paulo, disse à polícia que atirou para se defender. Conforme sua versão, houve um empurra-empurra durante o show sertanejo e sua arma caiu. Quando a recuperou, as pessoas tentavam agredi-lo e ele fez os disparos na tentativa de afastar os agressores.
Os tiros mataram a estudante de Odontologia Heloise Magalhães Capatto, de 23 anos, e o jovem Leonardo Victor Cardozo, de 26. Outros dois jovens foram atingidos pelos disparos - um deles, ferido na cabeça, chegou a ser internado, mas já recebeu alta.
##RECOMENDA##O PM, lotado no 46º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano, na zona leste de São Paulo, se apresentou à Polícia Civil na tarde de terça-feira, 22, e está preso preventivamente no Presídio Romão Gomes, na capital. A defesa dele informou que entrará com pedido de habeas corpus para que responda ao inquérito em liberdade.
A versão apresentada pelo soldado conflita com depoimentos de testemunhas. A irmã de Leonardo afirmou à polícia que havia uma briga de casal e seu irmão interveio em defesa da mulher, quando o atirador teria sacado uma arma e efetuado os disparos.
A delegada Juliana Ricci, da Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) de Piracicaba, que ouviu o depoimento do atirador, disse que a versão será confrontada com outras provas, como os vídeos e fotos que registraram os disparos, a perícia no local e nos corpos das vítimas, além do exame das cápsulas de projéteis recolhidas no cenário dos crimes.
Segundo ela, o policial disse que não sabe quantos tiros foram disparados e não entregou sua arma, que será requisitada para perícia. O objetivo é esclarecer se os disparos foram feitos de uma única arma, já que Leandro estava na companhia de outros policiais.
Além de sua esposa, que também é PM, dois casais de policiais estavam com ele. Conforme a delegada, os policiais têm autorização para portar armas em qualquer parte do território nacional e não são barrados pela revista em eventos quando informam essa condição.
O Ministério Público estadual também acompanha a investigação. "Temos a versão apresentada pelo suspeito, dentro do seu direito de defesa, mas as fotos, os vídeos, os depoimentos de testemunhas e das vítimas sobreviventes estão no inquérito e tudo será analisado antes da conclusão", disse o promotor de Justiça Aloísio Maciel Neto.
Além da Corregedoria da Polícia Militar, o ouvidor das polícias do Estado de São Paulo, Elizeu Soares Lopes, vai acompanhar as investigações.
Conforme o coronel Willians de Cerqueira Leite Martins, comandante do Policiamento de Área do Interior, que acompanhou o depoimento do PM, o Conselho de Disciplina vai apurar a conduta do atirador. "Tem uma sequência de atividades que serão realizadas no caso. O processo apuratório vai individualizar as condutas e analisar todo o contexto, que pode gerar inclusive demissão ou afastamento (do policial) Certamente todo o rigor será aplicado na apuração", disse.
Evento reunia 4 mil pessoas
O inquérito aberto pela Polícia Civil de Piracicaba aponta o PM como indiciado por dois homicídios qualificados e dois homicídios tentados. Os crimes aconteceram durante a festa Fervo, no momento do show da dupla sertaneja Hugo & Guilherme, no recinto de eventos do distrito Unileste, em Piracicaba. Os disparos causaram tumulto e correria entre as 4 mil pessoas que lotavam o recinto.
Vídeos do evento mostram os jovens feridos caídos ao chão, enquanto os socorristas tentavam reanimá-los. Além de Heloise e Leonardo, atingidos mortalmente, os disparos acertaram um rapaz de 27 anos na têmpora. Ele ficou internado no Hospital dos Fornecedores de Cana da Piracicaba e recebeu alta na tarde de segunda-feira, 21. Outro jovem recebeu um tiro de raspão e procurou atendimento por conta própria.
A Burn19 Produções, que organizou o evento, informou que a festa contava com alvará e outros documentos legais, e que no local havia seguranças particulares, com a revista pessoal do público, e atendimento ambulatorial. Segundo a empresa, foram prestados todos os esclarecimentos à autoridade policial.
A dupla sertaneja emitiu nota lamentando o acontecido e se solidarizando com os familiares das vítimas. "Hugo e Guilherme repudiam qualquer tipo de violência e lamentam profundamente acontecimentos como estes", diz a nota.
Defesa vai pedir liberdade
Os advogados Adilson Borges e Lilian Medeiros, que assumiram a defesa do PM Leandro e acompanharam seu depoimento preliminar à polícia, informaram que ainda nesta quarta-feira, 23, entrariam com pedido de habeas corpus para que o militar possa responder às acusações em liberdade.
De acordo com Borges, ele preenche os requisitos previstos em lei para isso, já que não registra antecedentes criminais, tem residência e ocupação fixa - é policial militar - e se apresentou espontaneamente à polícia para prestar esclarecimentos.