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Há 115 anos Albert Einstein trazia ao mundo a Teoria da Relatividade, apresentada na Academia de Ciências, em Berlim, que mudaria completamente os paradigmas da ciência no século que se seguiu. Contudo, há mais de um século uma pergunta se impõe: Mas para que a teoria serve? O Leia Já relembra quatro aplicações cortidianas que nem todo mundo conhece, mas que de alguma forma está relaciona à Teoria da Relatividade, confira:

GPS

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Nos dias de hoje, qualquer smartphone possui um GPS integrado, porém, é a Teoria da Relatividade que pode explicar o funcionamento dos aparelhos. A localização de um GPS é calculada a partir do tempo de resposta entre satélites que orbitam a Terra e os nossos dispositivos, em uma espécie de triangulação. Se o GPS não levasse em conta a relatividade do tempo, devido à alta velocidade dos satélites e à distância do campo gravitacional, todos os GPS deixariam de estar calibrados, acumulando erros que impediriam que chegássemos ao nosso destino.

O magnetismo

Os especialistas explicam: qualquer coisa que tenha a ver com os campos magnéticos é explicada por um efeito relativista. Estes campos foram já descritos antes, mas depois percebeu-se que é a Relatividade que explica o magnetismo na realidade. Não é preciso ir longe, basta olhar para sua geladeira carregada de imãs.

Ouro à prova do tempo

José Luis Fernández Barbón esclareceu ainda que o ouro é praticamente “à prova do tempo”, do desgaste e da oxidação, por causa das propriedades dos seus átomos pesados, presentes também no mercúrio, cujos elétrons estão muito próximos do núcleo e se movem muito rápido. Por isso já sabe, a Teoria da Relatividade também explica o porquê do seu ouro permanecer intacto.

Energia nuclear

“Qualquer coisa que tenha a ver com a energia nuclear, bombas atômicas, reatores nucleares ou questões relacionadas com radioatividade, está ligada à famosa equação de Einstein (E=mc2) “, revela o cientista espanhol Barbón, que explica que todos esses processos envolvem mudanças maciças nos núcleos, que por sua vez resultam de grandes mudanças de energia.

Por Matheus de Maio 

 Um novo cálculo do calendário maia vem provocando uma onda de memes na internet. Desta vez, o suposto cientista Paolo Tagaloguin publicou em seu twitter que a verdadeira data apocalíptica é 21/06/2020 e não 21/12/2012, como foi alardeado no passado. Segundo Tagaloguin, a previsão anterior não levou em consideração os dias perdidos pela conversão para o calendário gregoriano. Após a repercussão da publicação, compartilhada por jornais ingleses como o The Sun e o Mirror, o perfil de Tagaloguin desapareceu.

Segundo Tagaloguin, pautando-se pelo calendário Juliano, o ano de 2020, na verdade, corresponderia a 2012. "O número de dias perdidos por ano por causa da mudança para o calendário Gregoriano (o que usamos hoje) é de 11 dias. Usando o calendário Gregoriano por 268 anos (1752-2020) vezes 11 dias = 2.948 dias; 2948 dias/365 dias (por ano) = 8 anos", publicou.

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Não há, contudo, embasamento para a afirmação. De fato, a mudança para o calendário gregoriano resultou na perda de 11 dias, mas apenas uma vez e não anualmente, como foi sugerido. Além disso, o novo calendário foi instituído em 1582 ao invés de 1752, como argumenta Tagaloguin.

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Os fãs de Michael Jackson reacenderam a polêmica de que o rei do pop pode ter forjado sua morte. Uma teoria da conspiração acompanha a história do cantor desde seu falecimento, em junho de 2009, e, agora, a atuação de um sósia do artista tem feito o público duvidar da sua partida mais uma vez. Sergio Cortés, que se apresenta fazendo performances como Jackson, é quem vem alimentando as suspeitas e a ele foi perdido até um exame de DNA para provar se é ou não Michael. 

De fato, a imagem e performance de Sergio Cortés impressionam pela semelhança com o Rei do Pop. Até mesmo o jeito de falar é parecido e isso tem perturbado os fãs. O jovem começou a trabalhar como sósia do cantor depois de uma jornalista apontar essas semelhanças e convidá-lo para um editorial. 

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Porém, Cortés tem sofrido com as especulações de que ele seria o Michael Jackson real. Os fãs já pediram até que o sósia se submetesse a um teste de DNA para provar se é ou não o cantor. No Instagram, o público tem pressionado. "Se você não é o Michael, então faça o DNA sem medo"; "Queremos a data do teste de DNA"; "Você é o Michael Jackson real"; "Parece irmão gêmeo"; "Michael, pare de brincar, nós sabemos que é você". 

Utilizando o telescópio Hubble, uma equipe de pesquisadores descobriu um fino disco de material que rodeia um buraco negro supermassivo no coração da galáxia NGC 3147.

Os buracos negros, quando estão em determinados tipos de galáxias, como a NGC 3147, encontrada a aproximadamente 130 milhões de anos-luz, são considerados "famintos", pois não há material suficiente capturado gravitacionalmente para alimentá-los.

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Por isso, é surpreendente que um disco fino rodeie este buraco negro "faminto" que, no entanto, se comporta como se fosse um buraco negro supermassivo como os encontrados em galáxias muito mais ativas, informa o Daily Mail.

O disco que cerca o buraco negro oferece uma oportunidade única de provar as teorias da relatividade de Albert Einstein, pois o disco está tão incorporado no campo gravitacional do buraco negro que sua luz é alterada, conforme as teorias de Einstein.

"Nunca vimos os efeitos da relatividade geral e especialmente na luz visível com tanta claridade", assegura Marco Chiaberge, membro da equipe.

O telescópio Hubble também observou que o material do disco girava em torno do buraco negro a mais de 10% da velocidade da luz, dando a impressão de estar brilhando mais quando se aproxima da Terra, enquanto esse brilho diminui conforme se afasta da Terra.

Para estudar a matéria do disco, os pesquisadores utilizaram o Telescópio Espacial Hubble, dividindo a luz do objeto em seus muitos comprimentos de onda individuais para determinar a velocidade, a temperatura e outras características do objeto.

"O tipo de disco que observamos é um quasar reduzido que não esperávamos que existisse", explicou o líder do estudo, Stefano Bianchi, da Universidade de Roma III.

Da Sputnik Brasil

Mesmo com o último livro de Harry Potter tendo sido lançado anos atrás, a escritora J.K. Rowling adora atiçar os fãs com novas informações do mundo bruxo, com coisas que não podem ser encontradas nos livros, além de declarações sobre os personagens.

Junto com o site Pottermore, criado para expandir o universo, a autora também é bastante presente nas redes sociais, onde interage com os fãs da saga.

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Foi em uma de suas redes sociais que a autora revelou que a teoria dos fãs da saga sobre o nome de Hermione Granger é verdadeira. A teoria era de que a cena em que a bruxinha corrige Victor Krum quando ele pronuncia seu nome de forma errada, em Harry Potter e o Cálice de Fogo, foi incluída no filme somente para ensinar os fãs a falarem o nome dela, pois eles também estavam pronunciando errado. Na cena, Victor fala Hermy-own e ela corrige dizendo que é Her-my-oh-nee.

A escritora retuitou a postagem de um fã que explicava sua suposição, e confirmou: Teoria correta. Nos comentários, os potterheads confessaram que realmente falavam o nome da bruxinha, interpretada por Emma Watson, de maneira incorreta.

Isso aconteceu porque os filmes ainda não haviam sido lançados e o nome Hermione não era algo comum, então ninguém sabia ao certo como era a verdadeira pronúncia.

O Brasil amarga um momento político ruim e repleto de conflitos. Discussões que, em determinados momentos, ultrapassam o diálogo e chegam à violência. Professor de filosofia e sociologia, Luiz Neto aborda esse cenário com base em teorias políticas.

O docente é o convidado desta semana do programa Vai Cair No Enem, produzido pelo LeiaJa.com. Semanalmente trazemos aulas exclusivas para os feras que enfrentarão a prova do Exame Nacional do Ensino Médio. Estamos também no Instagram - @vaicairnoenem -, onde o público conta com dicas diárias. Veja, a seguir, o programa desta semana:

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Uma teoria fez com que os fãs de Chaves surtassem bastante nas redes sociais na última quinta-feira, dia 26! Um site peruano divulgou que, na verdade, Seu Madruga é o verdadeiro pai de Chaves - e que isso estava em um roteiro escrito pelo próprio Roberto Bolaños, intérprete do personagem. Chocante, não é?

Mas calma que tudo isso não passou mesmo de uma teoria. A página Fórum Chaves esclareceu que essa notícia é falsa e tranquilizou os fãs, que já estavam pensando que suas infâncias estavam arruinadas.

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Atenção, pessoal! Começou a circular em alguns sites latinos e, agora, se espalha em meios brasileiros uma notícia de que o Seu Madruga seria pai do Chaves. Só que isso é uma NOTÍCIA FALSA.

A história circula desde 2015 e foi criada por um site peruano chamado Deslengua2. Ela dá conta de uma suposta entrevista do diretor do seriado, Enrique Segoviano, a um portal da República Dominicana, o Diario Libre. Nessa entrevista, ele teria contado que Chespirito escreveu um roteiro em que o Seu Madruga revela ser pai do Chaves. Só que essa entrevista NUNCA existiu. Pesquisando por ela na internet, só aparecem os sites que citam essa história, como o Deslengua2.

O texto continua:

Procurando no Diario Libre, também não aparece essa suposta entrevista. Outros sites também dizem que Chespirito teria feito essa revelação no livro O Diário do Chaves, ou em sua autobiografia, Sin Querer Queriendo. Isso também é falso. A VERDADE é uma só: Seu Madruga é pai da Chiqunha, e só. E o Chaves tem pais, sim, mas eles não lhe foram apresentados. Então, pessoal, não se enganem! Se virem alguém compartilhando essa história, esclareçam! O Seu Madruga NÃO É pai do Chaves!

Mais de 100 anos após o trágico incidente que matou mais de 1,5 mil pessoas em 1912, uma nova teoria diz que o Titanic não afundou apenas por ter colidido em um iceberg, mas sim porque um incêndio controlado enfraqueceu a estrutura da embarcação.

Segundo o jornalista Senan Molony, que dedica sua vida ao estudo do naufrágio, um incêndio no interior do navio começou três semanas antes de sua viagem inaugural, mais precisamente, enquanto estava no estaleiro de Belfast, na Irlanda.

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Como o fogo era passível de controle e os donos da embarcação não queriam assustar os passageiros - ou atrasar a viagem do navio que "não afunda" -, eles ocultaram a informação e determinaram que nenhum funcionário falasse sobre o problema.

Para evitar que as pessoas vissem o que estava acontecendo, no dia do embarque em Southampton, na Inglaterra, o Titanic foi colocado do lado "intacto" no porto, deixando a marca das chamas para o lado do mar. Molony e os demais investigadores de sua equipe se baseiam em imagens inéditas da embarcação para comprovar sua teoria.

Em entrevista ao jornal "The Independent", o jornalista afirma que "o fogo era conhecido, mas foi minimizado. Por isso, ele nunca deveria ter ido para o mar". "Temos especialistas em metalurgia que afirmam que quando se atinge uma determinada temperatura contra o aço, ele se torna mais frágil, reduzindo sua resistência em até 75%", destaca.

Por isso, quando o Titanic colidiu com um iceberg, seu casco estava fraco e não aguentou o impacto. "A investigação oficial sobre o Titanic definiu o naufrágio como um ato de Deus. Mas, isso não é uma simples história de um iceberg e um afundamento, mas uma tempestade perfeita de fatores extraordinários ocorridos ao mesmo tempo: o fogo, o gelo e uma negligência criminosa", acrescentou.

Molony diz ainda que, mesmo se não houvesse a colisão no dia 14 de abril, o navio teria dificuldades para chegar a Nova York em decorrência de "fortes explosões" que ocorreriam em seu interior. 

Os fãs de Game of Thrones ganharam uma season finale incrível indicando que as próximas temporadas, que trarão o desfecho da trama, revelará o verdadeiro rei do trono de ferro. E quem ainda não assistiu ao episódio tome cuidado com os spoilers.

Quem assistiu ao final da sexta temporada ficou sabendo de uma teoria bem incrível que foi finalmente confirmada: a de que Jon Snow, na verdade, é filho de Lyanna Stark, irmã de Ned Stark. Em seu leito de morte ela fez o irmão prometer que guardaria o segredo e o criaria como se fosse seu.

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Outro detalhe que fazia parte da teoria era em relação à identidade do verdadeiro pai de Jon. Para isso, os fãs tem que se lembrar da primeira temporada em que o destino de Lyanna foi revelado. Ela estava prometida para Robert Baratheon, mas foi supostamente sequestrada por Rhaeghar Targaryen.

Agora, o que era apenas uma suposição, tornou-se verdade, principalmente após a divulgação de um infográfico da HBO que mostra todas as relações entre os personagens, em uma espécie de árvore genealógica de Westeros. Na imagem, Jon Snow está ligado tanto a Lyanna Stark quanto a Raeghar Targaryen, mostrando que em seu corpo corre o sangue Stark e Targaryen.

E não só isso. Jon Snow é, portanto, sobrinho de Daenerys Targaryen, já que Rhaeghar é o irmão mais velho da mãe dos dragões. Agora, o outro mistério que os fãs estão tentando desvendar é o que Lyanna diz para Ned, pouco antes de morrer. O único que sabe a informação é Bran Stark que descobriu tudo por meio de suas visões. 

Quem necessita cumprir funções que envolvem o setor da economia, como declaração do Imposto de Renda (IR), por exemplo, sabe das dificuldades e especificidades do processo. Segundo uma pesquisa realizada pela empresa DeclareCerto IOB, em 2011, uma em cada cinco pessoas não sabia fazer corretamente a declaração para o “Leão”, o que aumenta o risco da prestação incorreta de contas, podendo acarretar prejuízos futuros.

Pensando nesta dificuldade, a Faculdade Estádio do Recife, localizada no bairro do Bongi, na Zona Oeste da cidade, oferece o Núcleo de Práticas Contábeis, com o intuito de auxiliar a população em relação às questões financeiras com consultorias contábeis gratuitas. Em contrapartida, os alunos das graduações da instituição de ensino têm a oportunidade de ver, na prática, o mercado de trabalho a partir desta oferta de estágio.

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O trabalho do núcleo do projeto de extensão fica mais agitado entre os meses de março e abril. Isso porque esse é o período utilizado pelo Governo Federal para receber os acertos de contas da população brasileira, por meio do IR. Por isso, a praticidade de ter auxílio na hora de realizar a declaração faz com que o momento seja o de maior fluxo de atendimentos.

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De segunda a quinta-feira, das 16h às 22h, o Núcleo abre as portas para receber a sociedade, dentro das instalações na sede da instituição de ensino superior. “A ideia da iniciativa é tanto dar suporte aos alunos quanto oferecer à população um serviço de contabilidade”, explica o coordenador do Núcleo de Práticas Contábeis e professor da Estácio, Marcos Lima. 

Ainda segundo o docente, o projeto é uma forma que o estudante tem de realizar as práticas aprendidas em sala de aula. Além disso, Marcos afirma que o aluno pode ingressar no Núcleo como voluntário ou como estagiário. “Para conclusão do curso, é necessário que o discente passe por um período de estágio curricular obrigatório. Se ele estiver finalizando a graduação, ou seja, no sétimo ou oitavo período, e não conseguir esse estágio, ele é incorporado ao projeto”, explica. 

Porém, o benefício de se apresentar como estagiário ou voluntário não rende apenas a prática aprendida dentro do projeto. O estudante precisa, necessariamente, realizar um estudo de caso e redirecioná-lo para a sala de aula. “Quando o aluno vem para o Núcleo, o que se capta aqui não fica somente para ele. Existe, também, um debate em sala de aula, exponto para os demais colegas as situações que são passadas aqui”, garante Marcos.

Além do auxílio trazido junto à população, o Núcleo também faz a consultoria contábil e financeira de Organizações Não Governamentais (ONGs). “Não cobramos nada pelo trabalho e oferecemos o serviço no que ONG precisa na questão fiscal e contábil”, conta Marcos. 

Satisfeito com as atividades oferecidas aos universitários através do projeto, Marcos também se sente realizado em contribuir com a sociedade. “Eu acho maravilhoso você saber que está ajudando as pessoas, contribuindo. Muitas vezes elas chegam aqui preocupadas porque o CPF foi bloqueado ou o dinheiro na conta não pode ser retirado por algum motivo. Então, elas estão tendo que recorrer a empréstimos para conseguir um auxílio financeiro e, só em saber que a partir daquela ajuda ela vai poder sair dessa situação e ter uma vida mais tranquila, a gente se sente muito feliz”, relata o docente. Em um ano de funcionamento, o Núcleo de Práticas Contábeis atendeu 107 pessoas, graças ao trabalho de 80 alunos já integrados e três estagiários. 

Lado discente

Fabíola Cadente da Silva, 28, está no quarto período de ciências contábeis da Faculdade Estácio do Recife. A estudante ingressou no Núcleo de Práticas Contábeis para ter um espelho do que é o mercado de trabalho. “Eu estou à procura de um estágio e o Núcleo está me dando uma oportunidade de conhecer como é lá fora”, diz. A estudante comenta como é fazer parte do projeto e como o trabalhado desempenhado contribuirá para sua formação acadêmica:

Além da oportunidade de ter uma visão de como é o trabalho do contador na prática, Fabíola ainda afirma que é um prazer poder ajudar quem necessita. “É um privilégio, porque além de ensinar, de passar um pouco do conhecimento que eu tenho, eu também aprendo com elas, já que trazem dúvidas e eu vou ter que pesquisar para poder solucionar as questões”, comenta.

Confiança conquistada desde o primeiro contato

Com 65 anos de idade, o bancário Arnaldo Francisco da Silva utilizou o serviço oferecido no Núcleo pela primeira vez e aprovou o projeto. “Eu achei muito bom. O atendimento é excelente e consegui fazer a declaração do meu Imposto de Renda em pouco tempo”, garante.

Custo dos serviços no mercado

O projeto da Estácio, além de oferecer o benefício de auxiliar quem não sabe fazer uma declaração de Imposto de Renda, também ajuda a população a economizar dinheiro. Quem não pode pagar um contador garante que o serviço universitário passa a ser ainda mais importante para os beneficiados. De acordo com a empresa “Marcar Gestão e Contabilidade”, o preço estabelecido em Pernambuco para elaborar e declarar o acerto de contas com o “Leão” é de, no mínimo, R$ 100. “O valor ainda pode aumentar de acordo com o grau de dificuldade de declaração”, complementa o contador Ricardo Gaston.

Gaston também explica que os procedimentos para “Pessoa Jurídica” não devem custar menos de um salário mínimo, atualmente no valor R$ 880, o que se torna, em muitos casos, um investimento inviável para alguns empresários, principalmente neste período de crise que afeta o Brasil. “Isso não acontece na prática porque as pequenas empresas não conseguem arcar com esses custos”, admite. O Núcleo de Práticas Contábeis está aberto para qualquer cidadão que necessite do atendimento, sem nenhuma cobrança financeira.

Serviço

Núcleo de Práticas Contábeis

Local: Faculdade Estácio do Recife

Endereço: Avenida Engenheiro Abdias de Carvalho, 1678 – Madalena

Telefone: (81) 3226-8880

Horário de atendimento: Segundas e terça-feiras (20h30 às 22h); quarta-feira (17h30 às 22h) e quinta-feira (17h às 18h30).

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Ingressar no ensino superior pode ser o momento de contribuir com a sociedade. Entre as diversas atividades acadêmicas que podem ser exploradas para auxiliar a população, os projetos de extensão universitária são algumas das ações que trazem resultados significativos. Tais iniciativas são caracterizadas por serem um “conjunto de ações processuais contínuas, de caráter educativo, social, cultural ou tecnológico, com objetivo específico e prazo determinado”. A definição consta no edital de abertura de captação de novos projetos divulgado pelo Ministério da Educação (MEC), em 2015.

Segundo a pró-reitora em Extensão e Cultura da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Maria Christina de Medeiros Nunes, a produção de conhecimento, principalmente em uma universidade pública, deve ser disponibilizada para a sociedade. Porém, também é papel do ensino superior privado promover ações que, de diversas maneiras, contribuam com serviços em prol da população. “A extensão tem esse papel em que o aluno tem uma prática daqueles conhecimentos que estão sendo aprendidos enquanto ele está fazendo a formação e isso deve ser passado para a sociedade”, ressalta.

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Maria Christina ainda comenta que os alunos participantes de projetos de extensão saem da universidade com uma visão diferente daqueles que não se predispõem às ações. “O fato de eles terem contato com a realidade e não só com conteúdos teóricos, em que devem vivenciar e experimentar o conhecimento na prática, é o maior ganho que os estudantes podem ter, pois eles se formam com olhares diferenciados”, opina a docente.

Apesar da atividade de extensão ser considerada um complemento da carga horária das graduações, a pró-reitora Maria Christina garante que existe um trabalho junto à Pró-Reitoria Acadêmica da UFPE e com outras instituições de ensino, para que todos os projetos sejam inclusos como atividades obrigatórias dentro da grade curricular estudantil. Nesse caso, de toda a carga horária de um determinado curso, 10% seriam destinados à extensão, como está previsto no Plano Nacional de Educação (PNE), sancionado em 2014. “Não é um caminho fácil. Os planos pedagógicos de muitos cursos já estão prontos e isso requer uma rediscussão conceitual sobre a estrutura dorsal [do curso] para incluir a extensão dentro dela”, comenta.

Maria Christina ainda detalha que características básicas são essenciais aos projetos de extensão. “Em primeiro lugar, deve ser aplicado fora de sala de aula, prioritariamente. Tem que ter uma relação com a sociedade, necessariamente, porque extensão não se entende endogâmica (sic). A extensão tem que ter relação social e a missão de um curso ou de uma universidade é formar o aluno para a sociedade”, salienta.

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O pró-reitor de extensão da Universidade de Pernambuco (UPE), Renato Medeiros, ressalta que a função da entidade de ensino superior privada ou pública, enquanto agente de transformação social, não é fazer algo de caráter estatal. “Os projetos de extensão dentro da universidade, a nível nacional, tem o objetivo de desenvolvimento da instituição junto à sociedade para melhorar a qualidade de vida dela. A função dessas ações não é substituir o Estado, mas fazer parte desta melhoria ao lado dele”, afirma.

Renato Medeiros ainda ratifica que a principal função das atividades é mostrar a realidade social e aplicar a prática do conteúdo programático aos discentes extensionistas. “O objetivo não é mostrar a desgraça ou uma situação ruim que aquela sociedade ou comunidade esteja passando. O ideal é que ele sinta, enquanto profissional, o que vai encontrar na sociedade e como ele pode ajudar aquele grupo de trabalhadores que ali se encontra”, explica.

A curricularização do projeto de extensão não é exclusividade das universidades, faculdades e centro universitários de Pernambuco. O Plano Nacional de Extensão Universitária, inclusive, propõe a inclusão das ações que envolvem a universidade e a sociedade na grade curricular dos cursos.  Na prática, devem ocorrer contato e troca de conhecimento entre as esferas.

Submissão de projetos

Quem deseja ingressar em um projeto de extensão universitária deve submeter as ações aos editais anualmente divulgados pelas universidades, com suporte do MEC. Segundo o Ministério, as instituições de ensino superior públicas e privadas têm autonomia de realização das práticas extensionistas, portanto, não existe uma contabilidade oficial de quantos projetos existem no Brasil. “Os professores submetem projetos e podem também ganhar bolsistas, que passam por uma seleção feita pelo próprio docente”, explica Maria Christina. No caso da UFPE, os estudantes que são bolsistas em extensão não recebem a carga horária complementar. No áudio a seguir, a docente traz mais detalhes sobre os registros de projetos de extensão:

Após a submissão dos projetos, o MEC realiza o repasse das verbas para cada instituição. De acordo com a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), levando em consideração o último edital de atividades de extensão supervisionadas pelo Ministério da Educação, cada entidade de ensino superior pode concorrer com até 81 propostas, divididas entre 41 projetos e 40 programas de extensão (conjunto de projetos extensionistas). As escolhidas receberão um financiamento de até R$ 100 mil por projeto e até R$ 300 mil por programa.

Ainda segundo o pró-reitor de extensão da UPE, Renato Medeiros, os recursos disponibilizados pelo MEC não são direcionados à universidade. “A verba vai diretamente para o pesquisador e para o extensionista. O dinheiro não vem para a universidade, pois segue direto para o projeto deles”, ressalta. Além disso, a aprovação dos recursos pode, até mesmo, não ser completa, ou seja, do valor total requisitado, podem ser liberadas apenas porcentagens para a manutenção da ação.

Em 2015, no que diz respeito ao investimento em projetos de extensão, por meio do programa de Educação Superior – Graduação, Pós-Graduação, Ensino, Pesquisa e Extensão, o corte orçamentário foi de R$ 35,5 milhões (dos R$ 301,1 milhões, de 2014, o valor caiu para R$ 265,6 milhões no ano passado). Em um dos exemplos de investimentos, de acordo com Renato Medeiros, neste ano, a UPE aplicou quantia própria de R$ 280 mil, conseguindo financiar 86 projetos, enquanto 120 propostas não foram patrocinadas. “Os projetos não financiados foram aprovados, mas não tínhamos recursos”, admite. 

O que o estudante ganha academicamente

Como os projetos de extensão universitária são propostas para os universitários em forma de atividades fora da grade curricular do curso de graduação, os discentes podem contar com as horas extraclasses oriundas do tempo de prática extensionista. Nas instituições de ensino superior, para que o discente conclua a graduação, são necessárias horas de atividades extracurriculares, que variam entre os cursos.

Edital do MEC

Segundo o MEC, entende-se como extensão o “processo interdisciplinar educativo, cultural, científico e político que promove a interação transformadora entre a universidade e outros setores da sociedade, mediado por alunos de graduação orientados por um ou mais professores, dentro do princípio constitucional da indissociabilidade com o ensino e a pesquisa". O conjunto das atividades extensionistas é caracterizado como “programas” e têm caráter orgânico-institucional, de integração em grupos populacionais e/ou em territórios. Isso significa que as pesquisas feitas pelos estudantes devem ser realizadas em contato com a sociedade.

De acordo com o edital disponibilizado pelo MEC, podem participar da seleção os projetos fomentados em universidades públicas federais, estaduais e municipais; institutos federais de educação, ciência e tecnologia (IFs), além de Centros de Educação Tecnológica (Cefets). Além disso, as instituições de ensino superior reconhecidas pelo MEC também podem concorrer, desde que apresentem o Certificado de Qualificação.

Entre as condições de participação, está definido que as propostas devem apresentar, necessariamente, “programas ou projetos afins com atuais políticas públicas, em especial com as políticas sociais”. O edital ainda salienta que as atividades estudantis de extensão devem, obrigatoriamente, ser vinculadas a um curso específico, acompanhadas por, pelo menos, um professor. Além disso, as extensões devem contar créditos para os alunos e constar em seus currículos acadêmicos.

Estudantes de instituições diferentes daquelas em que o projeto seja oriundo também podem participar das atividades extensionistas. Porém, apenas os alunos da instituição proponente poderão estar na condição de bolsistas. Além disso, “as equipes responsáveis pelo desenvolvimento dos programas e projetos deverão ter na sua composição, necessariamente, professores e estudantes da graduação da própria instituição”.

Por fim, o edital também reitera ser necessário que o projeto cumpra a ideia de indissociabilidade entre ensino, extensão e pesquisa, bem como haja impacto na formação do estudante. É especificado na publicação que a iniciativa deve apresentar impacto social, pela ação de superação de problemas sociais; relação multilateral com os outros setores da sociedade; contribuição na formulação, implementação e acompanhamento de políticas públicas, como também atendimento à comunidade. Na edição 2016 do edital, o MEC informa que os projetos e os programas poderão ter vigência estabelecida até 31 de dezembro de 2017, sendo que este último com duração mínima de 18 meses. 

Saiba mais

Os projetos de extensão universitária devem ser submetidos a algumas grandes áreas. São elas: Educação; Cultura e Arte; Pesca e Aquicultura; Promoção da saúde; Desenvolvimento urbano; Desenvolvimento rural; Estágios interdisciplinares de vivência; Redução das desigualdades sociais e combate à extrema pobreza; Geração de trabalho e renda por meio do apoio e fortalecimento de empreendimentos econômicos solidários; Preservação do patrimônio cultural Brasileiro; Direitos humanos; Promoção de igualdade racial; Mulheres de relações de gêneros; Esporte e lazer; Comunicação; Desenvolvimento regional: inclusão produtiva, defesa civil e acesso à água; Justiça e direito do indivíduo privado de liberdade; Ciência, tecnologia e inovação para a inclusão social; Ciência, tecnologia e inovação para a inclusão social; Meio ambiente e recursos naturais; Relação entre Estado e Sociedade, Promoção da participação social e políticas para a Juventude; além de Modernização da gestão pública.

Balanço - Em 2015, o edital do MEC buscou disponibilizar verba para, no máximo, 39 projetos de extensão e 38 programas por instituição. Já para as propostas deste ano, a expectativa é que 41 recebam aporte financeiro, bem como 40 programas poderão ganhar recursos.

Para descrever a essência dos projetos universitários de extensão, o LeiaJá foi atrás de histórias nascidas dentro das instituições de ensino, que revelam o quanto a sociedade é beneficiada a partir do momento que a academia ultrapassa os muros e chega ao povo. Com atuações nas mais diversas áreas do conhecimento, os estudantes e professores que vivenciam a função social da universidade são os personagens do especial “Universidade na rua”. As próximas reportagens revelam como as extensões ocorrem na prática e de que forma elas levam bem estar para a populão, além de enriquecer a formação superior dos universitários.

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Longo, difícil e concorrido, o caminho até à universidade exige dedicação. O contato com os livros, muito mais do que um simples prazer pela leitura, se torna obrigatório para quem sonha em chegar ao ensino superior, assim como as aulas e resolução de questionários. Em todo o Brasil, jovens enfrentam a rotina dos estudos e focam na preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), considerado hoje o principal meio de ingresso na academia e nos principais programas públicos voltados para a educação. Todo esse é contexto é o combustível de um projeto de extensão formado por estudantes de licenciaturas que, relembrando seus passados, compartilham conhecimento com alunos do ensino médio que também sonham estampar em suas vidas o status de universitários.

Criado em 2005 pelo professor Valteir Silva, o Projeto Interação é realizado por alunos de licenciatura da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e também conta com voluntários e professores formados de outras instituições de ensino. No Campus Recife da UFPE, a iniciativa prepara jovens carentes que sonham em chegar à universidade através do Enem. A grande maioria dos beneficiados não reúne condições financeiras para arcar com um cursinho privado, mas encontraram no Interação a chance de ouvir histórias de professores que, assim como eles, um dia sonharam em alcançar o ensino superior. Todas as aulas são promovidas de forma gratuita e os docentes participantes não recebem nenhum salário.

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Com aulas de segunda a sábado, sempre no período da tarde ou em alguns casos no turno da manhã, o projeto de extensão oferece, anualmente, cerca de 80 vagas. Neste ano, o processo seleção recebeu mais de 300 inscrições. O que justifica o sucesso do número de inscritos, segundo a coordenadora do projeto, Natacha Freire, é o trabalho bem feito dos professores e alunos envolvidos, assim como a “propaganda” promovida pelos centenas de feras que chegaram ao ensino superior graças ao apoio do interação. Por mais que as aprovações sejam importantes, entretanto, a formação do cidadão enquanto futuro universitário é um dos principais objetivos da extensão. De acordo com Natacha, além de estudarem para o Enem, os alunos são preparados para a vida acadêmica que vão enfrentar entre os muros da universidade. O combate ao preconceito é um dos grandes desafios dos jovens.

“O aluno de universidade tem um papel diferente do estudante do ensino médio. Existe também o fato que a maioria dos nossos estudantes é carente e, quanto a gente fala do ensino não só para a prova, é que também buscamos preparar o aluno para a vivência universitária. Há o risco de alguns encontrarem preconceito por serem carentes ou cotistas. Não consideramos cotas um privilégio, porque elas têm uma função de inclusão, e por isso tentamos fazer com que eles reflitam e saibam se posicionar se de repente forem vítimas de olhares preconceituosos”, explica Natacha Freire.

Antes de ser coordenadora do Interação, Natacha, que é formada em geografia, também atuou como professora. E mesmo antes de ser docente da extensão, ela sentou nas mesmas cadeiras onde os feras se acomodam para assistir às aulas. Com 27 anos, Natacha é um dos exemplos de luta pelo ingresso na universidade e faz questão de mostrar aos alunos que eles também são capazes. 

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Aluno professor

Em uma das salas do Campus Recife da UFPE, alunos e professores mergulham no universo da educação e trocam conhecimentos. Não existe ensino unilateral, pois no Interação, o estudante aprende com o professor e o docente conhece novas histórias contadas pelos seus alunos. Os benefícios também são inúmeros, tanto para quem conduz a aula, como para quem assiste.

Ao todo, o Interação conta com 32 professores, boa parte ainda cursando licenciatura. Para a maioria deles, o projeto de extensão é a primeira experiência no contato com a sala de aula, como no caso de Renato Ribeiro. Ele foi aluno do projeto em 2005, depois conseguiu chegar à graduação, se formou em história e voltou ao preparatório, agora como professor. As justificativas para o retorno são inúmeras. Confira no vídeo a seguir:

O amor pela educação, na ótica dos integrantes do Interação, sempre tem lugar cativo. É esse sentimento que inspira muitos professores a deixarem de lado alguns compromissos, até mesmo profissionais, para se dedicar de forma voluntária ao projeto. André Luiz Barbosa da Silva, formado em química, viu um anúncio do Interação convocando candidatos para a seleção de ingresso. O professor procurou o projeto, mas não para se inscrever: “Em 2014, mandei um e-mail para o coordenador da época, demonstrei interesse e encontrei as portas abertas para ter minha primeira experiência como professor”, conta o docente. No áudio a seguir, André Luiz descreve como é o seu dia a dia no projeto:

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Personagens fundamentais no Interação, os alunos, mesmo jovens, começam a construir uma responsabilidade de dedicação e ao mesmo tempo cobrança pelo ingresso na universidade – muitas vezes vinda dos próprios pais -. Horas de lazer e brincadeiras são trocadas pelos rostos colados nos livros e abdicações de finais de semana e feriados, por causa do compromisso de compreender os conteúdos trabalhados em sala de aula. Ainda há peso da concorrência.

Com 18 anos de idade, Ramon Rodrigues, morador do bairro de Cavaleiro, município de Jaboatão dos Guararapes, não troca suas tardes no Interação por qualquer outro programa. Esforço, segundo ele, alimentado pela vontade de chegar à universidade. O sonho é compartilhado com sua companheira de classe, Debora da Silva, 17 anos, moradora de São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana do Recife. Os feras almejam aprovação nos cursos fisioterapia e gastronomia, respectivamente. Pensando em uma graduação bem mais concorrida, Jecislayne Hellen Freitas, de 17 anos, dedica horas do seu dia ao estudo com o objetivo de passar em medicina. Mas o que os três estudantes têm em comum é a coragem para disputar de igual para igual com outros candidatos, além do sentimento de agradecimento ao Interação. 

O Projeto Interação conta com o apoio físico da sala da UFPE, mas não recebe incentivo financeiro oriundo da Universidade. No período de abertura das inscrições para novos alunos, geralmente no começo do ano, são recolhidas taxas de participação no valor de R$ 10, que segundo a coordenação da extensão servem para manter os custos da iniciativa durante todo o ano. Mais informações sobre o projeto podem ser obtidas no site do Interação

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Sobre os tons predominantemente cinzas do setor de oncologia do Hospital Oswaldo Cruz, no bairro de Santo Amaro, na área central do Recife, as roupas coloridas, extravagantes e fora dos padrões de vestimenta de três jovens se destoam. As estudantes de medicina da Universidade de Pernambuco (UPE), Maria Eduarda Bizarro, 19, Thatyana Maranhão, 24, e Lia Schmitt, 21, são três dos 25 discentes do curso que participam do projeto “Entrelaçados”, que promove a chamada “palhaçoterapia” em setores hospitalares.

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Pelos corredores das recepções do setor de oncologia, o Portal LeiaJá acompanhou o que, na prática, é o projeto de extensão em palhaçoterapia da UPE. Com brincadeiras entre si e com os pacientes que esperam atendimento, as palhaças “colorem” o ambiente onde circulam. Os olhares curiosos observam as três jovens que caminham, em tom de brincadeira, pela unidade hospitalar.

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Os ‘Palhaçopacientes’

A contribuição da palhaçoterapia para a vida de quem aguarda nos leitos e nas filas de espera de hospitais vai além do que os olhos podem enxergar. Diagnosticada com um câncer de mama em 2013, a dona de casa Maria José da Silva, de 62 anos, lembrava-se dos tempos de juventude e da persistência em continuar a seguir uma vida feliz. “Vendo as meninas aqui, eu me lembrei do que eu faço. Eu sou cirandeira, brinco, faço festa e gosto dessa animação”, conta a paciente.

Maria José ainda diz que a participação das “palhaças” na recepção é uma forma de tirar o peso da doença. “Os palhaços chegam aqui e veem os ‘doentinhos’ todos tristes, então eles vêm conversar e fazer uma graça. Imagine... A pessoa doente, triste, se anima e fica pensando, refletindo: ‘tem muita gente pior do que eu’”, diz a senhora.

Acompanhando a mãe, dona Conceição, em uma consulta, Judite da Silva, 59, veio de São Paulo para o Recife em busca de tratamento médico e aprova o projeto. “Elas trazem alegria para as pessoas que estão doente! Quando eu vejo a cena dos pacientes sorrindo, por conta delas, fico muito feliz por elas estarem transmitindo felicidade para os doentes”, relata.

Benefícios

Coordenadora do projeto Entrelaçados, a médica Patrícia Moura explica que os benefícios trazidos pela Palhaçoterapia vão além do alívio do momento de tensão nos hospitais. “Pesquisas mostram que esse tipo de projeto proporciona vários benefícios, como para a condição respiratória, ou até mesmo para o estresse que existe entre os enfermeiros e médicos do local que recebe o serviço”, afirma.

Uma pesquisa realizada por universidades federais brasileiras para a revista digital argentina EFDeportes, com crianças internadas em hospitais, identificou que atividades lúdicas com caracterização de palhaços contribuem para amenizar o sofrimento dos pequenos. De acordo com os dados, 57,5% das crianças que fizeram parte do estudo identificaram melhoras na dor. A pesquisa utilizou a escala de Wong-Baker Faces Pain Scale.

Em 2005, o estudo “Clown Doctors as a Treatment for Preoperative Anxiety in Children: A Randomized, Prospective Study” observou os níveis de ansiedade em crianças que iriam fazer cirurgia. O resultado da pesquisa concluiu que a presença de palhaços durante a aplicação da anestesia reduzia os níveis de estresse tanto da criança quanto da família.

Como funciona

Originária dos Estados Unidos e com fortalecimento após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, a palhaçoterapia (ou clowntherapy) tem a função de auxiliar no tratamento de pessoas que frequentam hospitais. “A Clown Therapy foi desenvolvida como uma ação para melhorar o ambiente hospitalar, que é muito pesado e difícil muitas vezes”, comenta a coordenadora do projeto Entrelaçados, Patrícia Moura.

O projeto de extensão Entrelaçados existe desde 2008 e funciona como uma formação artística para os alunos de medicina da UPE atuarem como palhaços em hospitais. “A gente trabalha tanto vendo que isso é um benefício para quem está recebendo a ação como também para os alunos”, explica Patrícia.

Os 25 estudantes que fazem parte da equipe de palhaços da UPE atuam, diariamente, nos leitos e recepções do Hospital Oswaldo Cruz, dentro do campus Santo Amaro na Universidade. Os discentes trabalham fora do horário de aulas teóricas, por se tratar de um projeto de extensão, e percorrem os corredores hospitalares com o objetivo de levar alegria aos pacientes e acompanhantes.  Diariamente, segundo informações dadas pela coordenação do Entrelaçados, em média, 30 leitos são atendidos. 

Os alunos praticam a extensão em grupos e todos os dias, um trio diferente é formado para incorporar a atuação de palhaço. Os estudantes se juntam levando em consideração o período acadêmico: o aluno de um período inicial visita os pacientes ao lado de universitários mais próximos da formação.

Para Patrícia Moura, o projeto de extensão é uma forma de substituir, em suas medidas, a ausência de disciplinas específicas no curso de medicina da UPE. “A Faculdade de Ciências Médicas não tem no currículo uma disciplina que fale sobre comunicação com o paciente, e o projeto traz essa parte da troca de informações, como também procura trabalhar a humanização”, declara.

Formação 

Além do claro benefício do projeto para os pacientes, a palhaçoterapia também pode trazer benefícios para a formação do graduando. Aline Gomes, aluna do oitavo período do curso de medicina da UPE, concorda que o projeto traz algo essencial para o futuro médico: a humanização. “Eu acredito que participar de qualquer trabalho de humanização dentro da universidade vai ser melhor para o profissional médico, porque a gente vivencia diversos momentos de toque, de sentir, de querer estar presente ao lado do paciente”, conta a estudante.

Porém, para ingressar na palhaçoterapia é necessário um processo de admissão. O universitário é submetido a uma seleção artística, bem como investe em um curso de clown coordenado por um instrutor artístico. Só depois desses procedimentos ele está apto para iniciar a extensão. Os grupos do projeto recebem novos integrantes todos os anos.

A estudante Aline Gomes ainda explica que o processo de ingresso é composto por três etapas. Primeiro, o estudante realiza uma entrevista, em que envia material de intenção na participação, seja através de carta, áudio, vídeo ou até mesmo mensagem de texto, explicando o porquê do interesse em atuar no projeto. “Na segunda parte, que é a entrevista, cerca de 30 pessoas são selecionadas para a ‘vivência’, que é onde a gente passa um dia inteiro fazendo atividades, jogos, se conhecendo melhor. A partir daí, são selecionadas aproximadamente 25 pessoas para a oficina [curso de clown], que é a terceira etapa”, explica.

Aline também explica que os estudantes, assim como ela, podem ocupar outras atividades do projeto, como no setor administrativo. Também é possível alternar o tempo de realização do projeto. “No primeiro ano, atuamos em duplas ou trios dentro dos hospitais. No segundo ano, como o tempo de atuação da palhaçoterapia é equivalente ao número de atividades acadêmicas que a gente vai recebendo na faculdade, as atuações da extensão são diminuídas pela metade”, diz a universitária. 

Verba

As verbas recebidas pelo projeto são oriundas de editais exclusivos para extensão, promovidos pelo Ministério da Educação (MEC). Segundo a coordenação do Entrelaçados, há dois anos o projeto não recebe verbas para novas bolsas. “Ficamos vivendo de doações dos próprios alunos e de outros estudantes que já participaram do projeto e que hoje já são médicos, porque precisamos comprar maquiagem e alugar local para realização das nossas atividades, bem como necessitamos auxiliar alguns alunos que não têm condições financeiras de pagar pela oficina de orientação artística”, finaliza a estudante. 

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A produção e a troca do conhecimento são alguns dos pilares do ensino superior. Mas a universidade também deve seguir o rumo da função social, em que a partir dos ensinamentos em sala de aula e da prática da graduação, a sociedade recebe contribuições graças ao trabalho conjunto de alunos e professores. É nesse contexto que os projetos de extensão mostram seu valor e nos fazem refletir sobre o verdadeiro papel das instituições de ensino.

O novo especial produzido pelo Portal LeiaJá, “Universidade para o povo”, destrincha os benefícios para a sociedade dos projetos de extensão realizados em universidades públicas e privadas. Neles, além do desejo dos universitários de alcançar espaço no mercado de trabalho, a busca pelo bem estar social também está na pauta universitária. Estudantes e docentes saem dos muros das salas de aula e se lançam entre o povo para minimizar problemas sociais, bem como a população retribui enriquecendo de maneira prática a formação acadêmica dos discentes. Clique nos links a seguir e confira as reportagens:

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“Projetos de extensão: ensino superior aliado ao benefício social” faz um ‘raio-x’ da essência e das características das atividades extensionistas desenvolvidas nas universidades, tanto públicas, quanto privadas. Existem regras e objetivos para que os trabalhos ocorram com a participação de estudantes e professores.

Na reportagem “Palhaçoterapia em busca da humanização de futuros médicos”, estudantes de medicina saem das salas de aula e ganham os corredores e alas dos hospitais, compartilhando alegria e humanizando o tratamento dos pacientes. Pesquisas apontam que o método é eficaz nas busca pela cura das doenças.

Quebrando barreiras e preconceitos, universitários de direito usam o conhecimento adquirido para lutar pelos direitos das pessoas privadas de liberdade. Na matéria "A universidade chegou ao sistema carcerário", conheça o projeto “Além das grades”.

O ensino básico brasileiro ainda sofre com baixo desempenho. Despertar o desejo pelos estudos entre as crianças é um passo importante para mudar essa situação. Veja como isso é possível na reportagem “Educação para crianças carentes dentro da universidade”.

Por muito tempo, pessoas diagnosticadas com hanseníase viveram isoladas compulsoriamente do restante da sociedade. Um projeto de extensão desenvolvido em Pernambuco luta pelos direitos dos ex-pacientes segregados nos leprosários. Saiba mais na matéria “União pelas vítimas de hanseníase”

Nem sempre o sistema público de saúde disponibiliza tratamento adequado para o povo. Por isso, a própria universidade pode ser um refúgio em prol de quem precisa de cuidados. No Recife, uma atividade de extensão exemplifica a função social da graduação: “Quando a prática vai além da formação”.

Ter o controle da própria situação financeira é fundamental para cada cidadão, principalmente em um período de crise econômica. Por meio da universidade, muita gente ganha consultorias contábeis sem precisar botar a mão no bolso. Confira: “Gratuita e útil: prática contábil para auxiliar a população”.

O próprio ensino superior pode traçar o caminho de quem sonha chegar à graduação. Todos os anos, milhões de candidatos dedicam suas vidas aos livros em busca de um lugar na formação dos seus sonhos. Na reportagem “O caminho até a universidade”, veja como um projeto gratuito alimenta os objetivos de estudantes carentes.

As reportagens são de Nathan Santos e Camilla de Assis, com edição de Thiago Graf. Os registros fotográficos e vídeos são de Líbia Florentino, Paulo Uchôa e Chico Peixoto. As edições de vídeo são de Bruno Araújo, Jr Oliveira, Paulo Guimarães e Caio César; enquanto as artes informativas ficam por conta de Raphael Sagatio.

        

Tímida e com um estreito sorriso no rosto, Késsia dos Santos Silva, de 20 anos, chega a uma pequena sala situada nas dependências da Colônia Penal Feminina do Recife, conhecida como “Bom Pastor”. Há quatro meses, a jovem cumpre pena por tráfico de drogas e sonha em sair do presídio, descrito por ela como um local “muito ruim”. No espaço reservado para atender detentas que precisam de auxílio jurídico, Késsia é recebida por estudantes e profissionais de direito e, prontamente, é inserida em um bate papo bem humorado. De repente, toda a timidez inicial vai dando lugar a um sorriso mais largo, deixando a jovem cada vez mais descontraída e com esperança de que, enfim, a liberdade vire novamente realidade em sua vida.

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A conversa com os universitários e profissionais durou o suficiente para, minutos depois do início, as lágrimas ganharem o rosto de Késsia. Um choro de felicidade começou logo após a notícia de que a jovem poderia cumprir pena domiciliar, conforme decisão judicial. Grávida de nove meses, Késsia estampou no semblante a felicidade e, ao mesmo tempo, o alívio em saber que deixará de viver atrás das grades para voltar aos braços da família. Moradora de Jardim São Paulo, bairro da Zona Oeste do Recife, ela viverá novamente ao lado do pai e de um filho de cinco anos, bem como poderá esperar com mais tranquilidade o nascimento do seu novo bebê.

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A história de Késsia é mais uma entre dezenas que são vivenciadas pelo projeto de extensão “Além das grades”, composto por alunos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e profissionais formados em direito. Ao todo, cerca de 40 pessoas deixam seus compromissos profissionais e mergulham semanalmente no universo carcerário do Estado. Oficializada em abril de 2015, a iniciativa tem como objetivo levar assistência jurídica para a população que vive nos presídios estaduais, tendo as mulheres como público alvo inicial. No caso de Késsia, o grupo identificou a possibilidade de a Justiça conceder prisão domiciliar para detentas mães de filhos com até 12 anos de idade. Porém, o Além das grades atua também em outros diversos casos e se preocupa em acompanhar o dia a dia das pessoas beneficiadas, mesmo após o alvará de soltura.

Para a professora-coordenadora do projeto de extensão, Cristiniana Cavalcanti, é gratificante lembrar que, antes de qualquer oficialização acadêmica por parte da UFPE, o Além das grades nasceu de uma ideia dos próprios alunos. A docente ainda entende que o trabalho realizado possibilita aos estudantes a chance de compreender o presidiário não apenas como um criminoso, mas também como uma pessoa que tem direitos a serem respeitados ou que estão na cadeia sem o mínimo de culpa. “É um projeto importante porque se trata de uma resposta da própria academia no sentido de mostrar uma contrapartida que a universidade pode dar de maneira mais efetiva para a sociedade, tanto academicamente, como fora da academia, e para as pessoas que estão no sistema carcerário. Os detentos começam a incorporar a noção que também são sujeitos que merecem ter direitos integralmente respeitados”, detalha.

Enfrentar os dilemas carcerários e ainda buscar o respeito aos direitos dos detentos perante a Justiça, no entanto, também é uma tarefa cercada de embates, geralmente oriundos do preconceito. De acordo com os estudantes, muitos deles são alvos de críticas tanto de colegas da faculdade, como também de familiares. São taxados de defensores de bandidos ou aconselhados para largar as problemáticas dos presídios brasileiros e apenas se dedicar a outros casos. Porém, a professora Cristiniana, diante das críticas, tem uma ideia que vai justamente de encontro às reclamações de quem não conhece o projeto de perto.

“O Além das grades é uma quebra de paradigma, porque a gente volta os olhares a essa população encarcerada e não apenas como uma análise do Direito Penal em si. Quando a gente chega à realidade do sistema prisional, identificamos que há uma necessidade de observância de situações que não são atendidas da forma como a gente imagina quando estamos no plano teórico. É um olhar voltado para a justiça social”, explana a docente.

Mas não existem críticas ou preconceito que impedem a atuação dos estudantes. Para os universitários do projeto, o motivo da prisão de um detento é, de fato, um crime passível de punição, mas, a partir do momento que ele começa a pagar pelo que fez dentro das unidades prisionais, existe a possibilidade, mesmo que mínima, dele voltar para sociedade e começar uma nova vida. Os participantes do Além das grades também têm uma preocupação com o estudante que sairá da instituição de ensino. É o que explicam no vídeo a seguir Alana Barros da Silva, de 24 anos, do oitavo período do curso de direito, e Murilo Correia, que completa o último período aos 23 anos de idade:

Além das grades e dos muros da faculdade

É no contato com os presidiários que os estudantes e profissionais do projeto de extensão vivenciam de perto a realidade do sistema carcerário. Celas lotadas, violência, injustiças e outras inúmeras violações fazem parte de um contexto que pouco contribui para o processo de ressocialização dos detentos. O fato é que o Além das grades não surgiu para resolver todos os problemas dos presídios, mas entrou em atuação para, no mínimo, alertar a sociedade e a Justiça que o sistema é falho. Academicamente falando, todos os participantes concordam que a experiência é enriquecedora e contribui em larga escala para a formação dos universitários.

“A universidade, além do ensino e da pesquisa, também tem a extensão como uma função social. Saímos dos muros das universidades e chegamos ao seio da sociedade através do projeto. Nós constatamos o grande problema que existe dentro do sistema carcerário do Brasil. É dentro dos presídios onde existem graves violações dos Direitos Humanos, que são assegurados pela Constituição Federal. A atuação do nosso grupo identifica diversas irregularidades, desde a superlotação até problemas com a alimentação. Quando a gente faz um atendimento e presenciamos a alegria de uma detenta pela causa alcançada, nos sentimos felizes e com a sensação de dever cumprido”, declara um dos integrantes do Além das grades, Tiago Pereira, de 30 anos, aluno do 10º período da graduação. 

Importante para quem ainda está em sala de aula, a iniciativa também é valorizada por quem já entrou no mercado de trabalho. É o caso de Daniel Cezar de Lima, formado em direito em 2011, e que teve a oportunidade vivenciar o Além das grades desde o início do trabalho. Mesmo tendo concluído a graduação, o profissional reserva espaços na sua agenda de compromissos para atuar no projeto, tanto no atendimento dentro dos presídios, como nos órgãos judiciários responsáveis pelos casos das presidiárias. E além de participar intensamente, ele ainda fez um convite para uma colega de trabalho, que prontamente aceitou. Manuela Muller é outra integrante do projeto que não deixa de contribuir com o que aprendeu na universidade. No vídeo a seguir, o estudante Tiago e os profissionais Daniel e Manuela descrevem com mais detalhes a prática do Além das grades: 

Entre as reeducandas beneficiadas, o sentimento é de agradecimento. Elas enxergam nos “meninos do projeto” os responsáveis pelos poucos momentos em que são tratadas com respeito e que podem vislumbrar um futuro bem longe da cadeia. Muitas delas não reúnem condições financeiras para contratar advogados particulares e, às vezes, encontram barreiras para chegar aos defensores públicos. Por toda a ajuda do Além das grades, o projeto também é visto como um “socorro” para aquelas não têm dinheiro em prol do custeamento de advogados particulares.

No ano passado, o “Além das grades” realizou cerca de 130 atendimentos. As visitas à Colônia Penal Feminina do Recife ocorrem todas as terças e quintas-feiras, geralmente no horário da manhã. O grupo também almeja iniciar atividades nos presídios masculinos, mas tudo dependerá de autorização do Governo do Estado. Interessados no projeto podem entrar em contato pelo telefone (81) 9-8752-7401. Confira uma galeria de imagens do Além das grades:

 

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O cultivo de uma saudável vida escolar é fruto do plantio de uma boa base educacional. Entretanto, segundo a Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA), promovida pelo Ministério da Educação (MEC), 15% da população que ingressa em instituições de ensino tem problemas de aprendizado e necessita de um reforço na educação. A psicóloga Maria Helena de Souza Patto, especialista em psicologia escolar, por exemplo, explica que existe uma grande dificuldade de aprendizagem para crianças em situação de vulnerabilidade social e econômica. Tais crianças que estão ingressas nessas condições não têm respaldos materiais que as auxiliem no crescimento educacional. 

No artigo “A família pode e a escola pública: anotações sobre um desencontro”, Maria Helena explica que “no mundo da ‘carreira aberta ao talento’, venceriam os ‘mais aptos’, afirma o darwinismo: nessa linha de raciocínio, diferenças individuais ou grupais de capacidade estariam por trás das diferenças sociais”.

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De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Paulo Montenegro (IPM), apenas 8% das pessoas com idade propícia ao trabalho têm plenas condições de compreender e se expressar. Outro levantamento, feito em 2015, revela que 56,2% das crianças de oito anos, que estão no ensino fundamental público, não entendem o que leem. Já 26,2% não aprenderam a escrever de forma satisfatória, bem como 55% comentem erros de ortografia e concordância.

Pensando neste panorama, desde 2012, a Faculdade Boa Viagem (FBV), na Zona Sul do Recife, desenvolve um projeto de extensão que auxilia jovens carentes com reforço escolar. Os pequenos são oriundos das comunidades “Dancing Days” e “Sítio Grande”, localizadas no próximo da instituição de ensino. A coordenadora do projeto, Janaína Calazans, explica que o ComuniArt surgiu de uma ideia de integração da faculdade com a sociedade. “O principal objetivo é acelerar o desenvolvimento pedagógico de crianças e adolescentes. Então, o projeto surgiu da necessidade de firmar uma aproximação efetiva com as duas comunidades”, conta.

Para materializar a ideia, Janaína afirma que foi necessário fazer uma seleção dos alunos. “Pedimos para que as líderes comunitárias das duas comunidades circunvizinhas fossem às escolas municipais que existem nos locais e levantassem, junto à coordenação e às professoras, aquelas crianças que mais tinham deficiência de aprendizagem”, explica. No primeiro ano de realização do projeto, dez foram selecionadas. “Elas foram encaminhadas para a gente e começamos um trabalho de tentar ajudá-las a aprender de uma forma mais lúdica e tranquila”, diz.

Atualmente, o projeto de extensão ComuniArt funciona com base nas diretrizes curriculares de educação exigidas pelo MEC. Nesse contexto, apesar de as crianças receberem um reforço escolar, nem sempre o conteúdo visto pelos pequenos é, necessariamente, aquilo que se deu em sala de aula. “Às vezes, a defasagem de conteúdo na escola é grande e os professores ficam muito tempo em um determinado conteúdo, deixando de dar outros. Então, aqui a gente também trabalha com novas aprendizagens e não só com aquilo que a criança já viu em sala”, detalha a coordenadora do projeto.

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Como funciona a iniciativa

Todos os anos, novos jovens são selecionados para participar do projeto ComuniArt. Atualmente, 13 estudantes de oito a 14 anos são contemplados. Os discentes de comunicação social da FBV que participam da extensão atuam como monitores dos pequenos. No mínimo, cada criança possui um universitário que a auxilie.

Todas as quintas-feiras, por volta das 14 horas, é realizado o reforço escolar. “Resolvemos intensificar a aprendizagem de conteúdo. Isso com outras formas de aprender, com atividades lúdicas, indo para os laboratórios da faculdade. Usamos muito o laboratório de química, para fazer experiências, bem como o espaço de gastronomia, para vermos como os alimentos se comportavam”, explica Janaína.

Apesar de a extensão ter nascido por meio dos cursos de comunicação social, universitários de outras áreas também são aceitos. “A gente já teve aqui alunos de administração, de design, mas o projeto está aberto e não há nenhum critério de diferença de voluntário. Basta ter compromisso, interesse e gostar daquilo que vai fazer”, pontua.

Os alunos voluntários atuam de forma compromissada com o projeto. De acordo com as regras, são permitidas até três faltas e que precisam ser justificadas. Embora todo o processo de ausência do tutor ocorra de maneira consensual com a coordenação da extensão, é necessário que o aluno faltante envie as atividades que iria trabalhar com a criança. “Mesmo que ele falte, deve enviar os modelos das fichas que ele iria aplicar com o estudante. O material da aula é necessário para que a gente remaneje outro tutor para cuidar daquela criança”, explica a coordenadora do projeto.

Transformação pessoal - Segundo Janaína Calazans, a mudança acontece não só na vida das crianças - que recebem uma nova oportunidade de vida por meio da educação -, como também no dia a dia dos estudantes voluntários. “Nós temos alunos que têm uma realidade muito distante da realidade das crianças que são atendidas pelo projeto. Então, o que a gente vê são alunos do ensino superior tendo contato com um contexto que era quase marginal para eles, no sentido de estar à margem da sociedade”, explica.

O prazer em contribuir

Mesmo com todos os afazeres diários pessoais e acadêmicos, o estudante Igor Luiz Almeida se dispõe a ser um dos voluntários do projeto ComuniArt. Aos 19 anos, ele está no primeiro período do curso de publicidade da FBV e vê a extensão como algo muito além do que só uma forma de ganhar horas extracurriculares. “É muito bom poder contribuir para o aprendizado dessas crianças. Eu decidi ingressar no ComuniArt porque eu acho que a educação é uma das principais coisas que devem ser apoiadas na vida e esse projeto investe muito na formação dessas crianças carentes”, comenta o estudante.

Mesmo sendo o tutor de uma das crianças atendidas, Igor não vê seu trabalho como um aprendizado unilateral. “O benefício que eu vejo desse projeto é que existe uma troca muito grande de conhecimento. Não só a gente dando para eles, como também as crianças oferecendo suas experiências de vida”, destaca o universitário.

Fila de espera

Apesar da renovação anual do projeto, nem todas as crianças deixam o ComuniArt. “Isso varia muito. Quando a gente sente que a criança está pronta para seguir com as próprias pernas, a gente dá ‘alta’ a ela”, brinca Janaína. Ainda segundo a coordenadora, o aluno que não tiver um bom rendimento continuará no projeto para aprimorar seu aprendizado. “Nós não podemos atender mais crianças porque, primeiro, temos uma infraestrutura limitada. E segundo porque não temos voluntários suficientes”, completa a coordenadora. 

Pelos bons resultados da extensão, a disputa por vagas é tão grande que uma lista de espera precisou ser criada para acomodar uma maior quantidade de crianças possíveis. A organização do projeto estima que cerca de 100 alunos tiveram evolução na leitura e escrita após participarem do ComuniArt. 

Perspectiva 

Olhos curiosos e atentos são os das crianças que fazem parte do projeto ComuniArt. Interessadas em aprender mais e afinar o que já foi dado em sala de aula, os pequenos sentam nas cadeiras da FBV, juntamente com seus tutores, e discutem os conteúdos.

Maycon Alexandre Luiz da Silva tem 13 anos e está no oitavo ano do ensino fundamental. O menino, de aspecto tranquilo, estuda na Escola Gercino de Pontes, no bairro de Afogados, na Zona Sul do Recife. Desde o início do ano, Maycon é uma das crianças beneficiadas pelo projeto de extensão. A timidez do garoto, no entanto, não esconde a satisfação em estar no “reforço”.

Serviço

Projeto ComuniArt

Local: Faculdade Boa Viagem

Endereço: Rua Jean Emile Favre, 422 - Ipsep,

Telefone: (81) 4020-4900

Funcionamento: Todas as quintas-feiras, das 14h às 17h

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Por quase 40 anos, brasileiros portadores de hanseníase viveram isolados do restante da sociedade. Uma política oriunda do Governo Federal que criou, em 1923, o isolamento obrigatório das pessoas diagnosticadas com a doença, com o intuito de evitar a propagação de contágios em uma época que não existiam conhecimentos médicos suficientes sobre a enfermidade. Nos chamados hospitais colônias, pacientes viveram por anos e anos, construíram famílias entre eles próprios, criaram pequenas cidades, mas não conseguiram superar os traumas da doença e principalmente o cruel preconceito oriundo de uma sociedade ainda presa na falta de informações acerca do diagnóstico.

Chamados de leprosos, os pacientes eram tratados com desprezo e, ao se depararem com pessoas sadias, temiam ser desrespeitados. Viviam envergonhados e até se sentiam culpados, uma vez que a hanseníase era tida entre muita gente como uma maldição herdada desde a época bíblica. Uma vez diagnosticado, o indivíduo não tinha escolha e era retirado de qualquer maneira do convívio social, deixando para trás seus familiares. Até as mulheres, minutos após o nascimento dos seus filhos, não podiam amamentar as crianças, pois os bebês eram retirados das mães e levados para um local chamado preventório, cuja intenção era evitar que os filhos sadios não se contaminassem com as mães portadoras de hanseníase.

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Um dos poucos registros de leprosários no Brasil – Santo Angelo, São Paulo, 1962. Fiocruz/Arquivo

Nas linhas gerais da medicina, a doença é classificada como infecciosa, de evolução crônica, causada pelo Mycobacterium leprae. Segundo definição da Sociedade Brasileira de Dermatologia, “a hanseníase acomete primeiro a pele e os nervos periféricos, e pode atingir também os olhos e os tecidos do interior do nariz. O primeiro e principal sintoma é o aparecimento de manchas de cor parda, ou eritematosas, que são pouco visíveis e com limites imprecisos. Nas áreas afetadas pela hanseníase, o paciente apresenta perda de sensibilidade térmica, perda de pelos e ausência de transpiração. Quando lesiona o nervo da região em que se manifestou a doença, causa dormência e perda de tônus muscular na área”. Quando não há o devido tratamento, os doentes podem perder partes do corpo.

Diante do fim do isolamento compulsório em 1962, das atuais campanhas na mídia e graças ao trabalho médico no tratamento da doença, boa parte da sociedade brasileira entende atualmente que a hanseníase tem cura e deve ser tratada de forma ambulatorial assim que descoberta. Mesmo assim, uma parcela da sociedade insiste em discriminar os portadores da doença e os ex-enfermos. É nesse contexto que um programa de extensão da Universidade de Pernambuco (UPE), iniciado em 2011, atua incansavelmente para preservar o lugar dessas pessoas entre a população. O cuidado com a saúde é apenas um dos pilares do trabalho. O bem estar social, o respeito, a quebra de paradigmas, o incentivo à qualificação e o combate ao preconceito são outros objetivos de professores e alunos que saem dos muros do ensino superior e ingressam nas realidades de pessoas marcadas por um passado cruel, necessitadas de ajuda e de um acompanhamento humano. É quando a prática deixa de ser apenas uma etapa da graduação e ganha o status de “função social”, colocando os universitários na “escola da vida”, onde aprendem que a formação, por si só, não foca apenas no mercado profissional, mas busca também contribuir para as minorias.

“O Programa de Extensão Hanseníase Cuidado e Direito e Saúde surgiu em 2011 para legitimar uma prática que já acontecia na Universidade, que é a inserção de estudantes de enfermagem no Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan). O Morhan luta pelas causas das pessoas com a doença, tem unidades em todo o Brasil e em Pernambuco foi inaugurado na Década de 80. O objetivo maior da relação da extensão com o Movimento é levantar as demandas necessárias que têm haver com a garantia dos direitos das pessoas com a hanseníase”, explica a coordenadora do projeto, a professora Raphaela Delmondes.

Segundo a professora, os estudantes participam de todas as atividades do Morhan, tais como audiências públicas que discutem os direitos dos doentes, integração em frentes de lutas, propagação de educação em saúde em diversos setores e visitas a serviços de saúde. Essas últimas acontecem, principalmente, a partir de denúncias de descaso nos serviços prestados à população, colocando estudantes e integrantes do Movimento em ação para apurar os casos e, havendo a necessidade, denunciar formalmente aos órgãos competentes. Sobretudo, o cotidiano das pessoas que viveram nos hospitais colônias e ainda hoje permanecem nesses locais - porque na época do fim do isolamento não tiveram para onde ir - é um dos casos acompanhados pelo trabalho de extensão que nos alerta para um passado sombrio, mas que ainda está presenta na mente de muita gente.

Saúde no sentido mais amplo

De acordo com Rhaphaela Delmondes, durante as ações, os universitários compreendem que a busca pela saúde está em um patamar que vai muito além do estado físico das pessoas. “Nós compreendemos que quando a gente fala que o programa é de hanseníase, cuidado e direito à saúde, trabalhamos na perspectiva ampliada de cuidado. Entendemos que o direito à saúde é fundamental para o ser humano, abrangendo todas as necessidades sociais possíveis de ser atendidas. Por exemplo, estudar é saúde, bem como ter moradia, bem estar, lazer e o próprio cuidado com a saúde. A gente compreende a saúde de uma forma mais ampla”. explana a docente.

A coordenadora do projeto ainda destaca o papel do ensino superior no sentido da formação acadêmica e da proposta de moldar profissionais com compromissos éticos. “A Universidade procura formar o estudante com pensamentos ético e político. Não buscamos apenas a formação técnica. É assim que encontramos o papel social do ensino superior. Quando o estudante participa de um projeto como o nosso, ele se transforma e transforma o meio em que vive, ao se tornar um profissional mais comprometido em ajudar a sociedade, garantindo os direitos das pessoas que mais precisam”, complementa a professora.

Estudante do sétimo período do curso de enfermagem da UPE, Ana Maria de Araújo (foto à esquerda), de 22 anos, teve no programa a oportunidade de conhecer mais de perto a realidade dos portadores de hanseníase. Durante os dois anos em que participa das atividades do projeto, a jovem assimilou os objetivos das ações e começou a enxergar que compreender a saúde além do estado físico do indivíduo é muito mais importante tanto para o paciente, quanto para o estudante universitário. A jovem revela que, apesar de existirem professores responsáveis por guiar as atividades, não há “hierarquia”, fator que, segundo Ana Maria, facilita a troca de conhecimentos entre todos os envolvidos. “É uma relação de troca. Todo mundo tem algo para ensinar e aprender. Vejo como uma relação horizontal em busca do saber. Tudo isso nos ajuda bastante na formação e principalmente no dia a dia do programa, quando precisamos colocar em prática as coisas que aprendemos”, diz a estudante.

A experiência adquirida no trabalho é exaltada por Geoclebson da Silva Pereira, de 19 anos. No sétimo período do curso de enfermagem, há quase oito meses o universitário começou a vivenciar um projeto de extensão universitária, que pela primeira vez o aproximou do universo prático da graduação. “A partir do grupo comecei a me inteirar da hanseníase. Tudo que aprendo me ajuda a pensar nos debates sociais e me faz ajudar pessoas que, por diversos fatores, desconhecem os direitos que têm. Posso dizer que está sendo uma experiência riquíssima e que vem contribuindo muito para minha formação”, relata Geoclebson.

Coordenadora do programa de extensão da UPE ao lado de Raphaela Delmomdes, a professora Danielle Christine Moura dos Santos reforça a importância da prática, principalmente quando acontece através da troca de conhecimentos. “Na formação dos profissionais, a existência da experiência propicia uma abordagem técnica do que foi aprendido na sala de aula. O estudante consegue articular conhecimentos e a vivência traz para o aluno um olhar que vai além da doença em si. Não posso dizer que um universitário que participa de um projeto de extensão tem uma formação melhor do que aqueles que não participam, mas posso afirmar que a experiência contribui para uma graduação diferente, porque o estudante conhece histórias que ele vai levar para sua prática profissional. Quando esse universitário for atender uma pessoa com hanseníase, por exemplo, ele vai discutir com o paciente, além da doença, como estão algumas situações ligadas à garantia dos direitos das pessoas portadoras”. No vídeo a seguir, a professora Danielle e os estudantes Geoclebson e Ana Maria compartilham depoimentos sobre a vivência do projeto:

 

Parceiro do programa da UPE, Gildo Bernardo da Silva, de 64 anos, é coordenador do Morhan em Pernambuco. Diagnosticado com hanseníase anos atrás e curado graças ao tratamento adequado, seu Gildo conhece de perto a força do cruel preconceito contra as pessoas portadoras da doença. Por isso dedica grande parte do seu tempo em prol das causas e direitos dos indivíduos enfermos egressos dos hospitais colônia, em um trabalho paralelo com a Universidade que vem gerando bons frutos. Pelo menos 300 pessoas já foram beneficiadas pelas atividades do projeto, porém, de acordo com Gildo, a luta ainda está longe de cessar.

“O Morhan, em parceria com este belo projeto da UPE, que envolver tanto as professoras quanto os alunos, ainda luta para minimizar o impacto do preconceito contra as pessoas com hanseníase. Buscamos, ainda, garantir assistência social e o tratamento adequado aos portadores, e não esquecemos de batalhar pelos ex-moradores dos hospitais colônias, para que eles não sofram discriminação e que tenham todos os direitos garantidos”, destaca Gildo. “Além disso, trabalhamos em busca de serviços assistenciais psicológicos e terapêuticos, porque eles são muito importantes para minimizar os traumas mentais deixados nas pessoas que viveram o isolamento ou que ainda temem preconceito. Nosso movimento também é apoiador do serviço de saúde público para o tratamento dos doentes”, complementa o coordenador do Morhan.

E os traumas ainda se fazem presentes na vida de Juliano Vieira de Farias, de 71 anos. Ex-paciente do hospital colônia de Pernambuco, mesmo local onde funciona hoje o Hospital da Mirueira, na cidade de Paulista, Região Metropolitana do Recife, o senhor convive com as sequelas físicas da hanseníase e as marcas mentais causadas pela sociedade que separava e condenava os doentes. Passou 31 anos da sua vida no que ele chama de “depósito de lixo humano”, perdeu convívio familiar e, afirmando ter se acostumado a “viver sozinho”, nunca conseguiu casar e ter filhos. Um alento para tanto sofrimento, segundo ele, é o trabalho desenvolvido pelos estudantes da UPE e integrantes do Morhan.

“Fui arrastado de dentro de casa aos 14 anos de idade e me jogaram no hospital da Mirueira. Morava no bairro da Várzea, no Recife, com meus pais e mais sete irmãos. Me deixaram longe deles e passei a viver em um lugar que classifico como depósito de lixo humano. Quando saí e passei a morar fora do hospital aqui na Mirueira, cheguei até a ser apedrejado por pessoas que não tinham preconceito. Se esse projeto dos estudantes tivesse começado esse trabalho em 1950, eu não teria passado por tanta coisa que passei na minha vida até hoje. É um trabalho que me alegra muito, apesar de tanto sofrimento, porque ajuda a tirar da cabeça da sociedade um preconceito que nunca deveria existir”, conta Juliano Vieira.

 

Além de seu Juliano, outras pacientes que viveram o cruel isolamento no antigo leprosário revelam lembranças que até hoje alimentam o choro de tristeza. Alguns permanecem morando no Hospital da Mirueira por não ter para onde ir. Confira no vídeo a seguir:

De acordo com o Morhan, no ano passado, o Brasil registrou mais de 30 mil casos de hanseníase. Dessa quantidade, cerca de 2 mil diagnósticos aconteceram em Pernambuco. Sobre os moradores do Hospital da Mirueira que viveram o isolamento compulsório, a Secretaria de Saúde do Estado, responsável pela unidade hospitalar, esclarece que vilas existentes dentro da área da unidade são voltadas para os antigos pacientes de hanseníase que foram internados na instituição e, devido à exclusão existente na época, terminaram se isolando da sociedade. Interessados nos atendimentos do projeto em parceria com o Movimento podem acessar a página do Morhan ou ligar para o telefone 0800.026.2001.  

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A dona de casa Josélia Aurora da Silva tem uma rotina repleta de compromissos. Da cidade de Toritama, no Agreste de Pernambuco, ela segue com destino ao Recife todas as semanas. Um trajeto de 180 km que ocorre, religiosamente, com início ainda de madrugada e desfecho apenas no final da tarde, quando ela volta para casa. Sua missão é acompanhar a filha Maria Eduarda Silva, de 20 anos - diagnosticada com paralisia cerebral - nos atendimentos médicos realizados na capital pernambucana. Além disso, a jovem recebe atendimento fisioterapêutico há quatro anos, sem contar os treinamentos de bocha, pois Maria Eduarda ainda é atleta e sonha em se tornar uma das esportistas mais conhecidas do Brasil em sua modalidade.

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Em meio a uma agenda tão cheia de compromissos, mãe e filha concordam em um fato: as sessões de fisioterapia e hidroginástica são as atividades preferidas da dupla. Mas, no passado, a felicidade delas dava lugar a apreensão e limitação vivida por Maria, que sentia os efeitos da deficiência física e tinha sérias dificuldades motoras.

Paciente de uma renomada instituição médica localizada no Recife, Maria Eduarda foi indicada para receber os serviços fisioterapêuticos da Clínica Escola de Fisioterapia da UNINASSAU – Centro Universitário Maurício de Nassau, também situada na capital pernambucana. A partir dos atendimentos conduzidos por estudantes da instituição e orientados por especialistas e profissionais, a jovem foi desenvolvendo seu físico e alcançou diversas melhorias motoras, ganhando mais independência física e se mostrando mais corajosa para enfrentar a vida. Na medida em que era beneficiada pelo serviço, Maria Eduarda também encontrou na bocha outros benefícios e, atualmente, uma atividade complementa a outra, fazendo da paciente um exemplo de superação.

“Hoje, com toda a certeza do mundo, estou bem melhor. Consigo fazer algumas tarefas que antes eram impossíveis para mim, como ficar na cadeira sem cair. Agradeço muito a todos os alunos e fisioterapeutas que passaram pela clínica e que me ajudaram de diferentes maneiras. Fico muito feliz com todo esse atendimento maravilhoso que recebo”, conta Maria Eduarda. “A gente sabe que tratamento médico não é barato e não é em todo canto que encontramos fisioterapia a preços acessíveis. Por isso, não tenho do que reclamar da clínica. São pessoas extremamente dedicadas e que trabalham com seriedade para ver a evolução do paciente”, valoriza dona Josélia.

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A satisfação de Josélia e Maria Eduarda é também responsável pelo sentimento de trabalho bem feito da coordenadora da clínica, Fátima Di Lêu. O projeto, além do objetivo acadêmico de proporcionar experiência prática para os estudantes do curso de fisioterapia a partir do sexto período, também busca o bem estar das pessoas atendidas, que se torna também um meio de avaliação de todos os trabalhos desempenhados no espaço, como os de pediatria, traumato, vascular, respiratório, neuro funcional, entre outros. No vídeo a seguir, Fátima detalha os benefícios oferecidos para alunos e pacientes:

 

Atualmente, cerca de 120 alunos da UNINASSAU fazem parte do projeto de extensão e ajudam no atendimento médio de 600 pacientes por mês. O serviço é oferecido a preços populares, que variam de R$ 8 a R$ 17, de segunda a sexta-feira, no horário das 7h às 19h. Mais do que uma oportunidade de perceber na prática os temas trabalhados no ensino superior, a clínica propicia momentos de vivência com o ser humano, que necessita do auxílio prestado por quem aprendeu na universidade que a academia também tem uma função social. “Os discentes aprendem na sala de aula tudo sobre a doença e a Clínica Escola é a extensão, porque na sala você tem noção da doença, mas a partir do momento em que o estudante vai para a prática, passa a vivenciar a enfermidade e vai decidir qual será o atendimento mais adequado. Cada atendimento dura entre 50 minutos e uma hora”, explica Fátima Di Lêu.

Praticando o bem

Indo além da teoria aplicada em sala de aula e das leituras dos livros que incrementam a grade curricular dos cursos de saúde, o contato com os pacientes é um dos momentos mais ricos da formação acadêmica dos estudantes. A relação do estudante com a pessoa atendida, em muitas ocasiões, vai muito além da obrigatoriedade de oferecer um serviço de saúde e chega a um convívio mais humano, em que o paciente também passa a ser amigo do universitário. Estudante da clínica, Anderson Dias, de 26 anos, que está prestes a finalizar a graduação, acredita que quando existe amor pelo curso escolhido, há também um envolvimento com o paciente que busca, além da recuperação física, seu bem estar. “Tem que ter muito coração no tratamento de uma pessoa. Se você não possui amor pelo que faz, o atendido não vai se desenvolver. É preciso criar uma relação de amizade entre o aluno e o paciente, principalmente quando o tratamento leva um pouco mais de tempo. Acho que é bastante satisfatório você ver que o aprendizado da universidade serve para auxiliar quem necessita de ajuda”, valoriza.

Corroborando com Anderson, a também estudante Bruna Leite, 23, nono ano do curso de fisioterapia, acredita que “entrar na história” do paciente é “inevitável”. “A gente aplica aqui tudo que aprendemos nas aulas teóricas. Neste espaço, passamos a conviver com uma realidade bem diferente, com pessoas que precisam do nosso serviço e têm boas histórias de vida, me envolvo com todos os pacientes. De certa forma, você entra na vida deles de alguma maneira, seja com uma conversa antes da sessão de fisioterapia ou dialogando até durante o tratamento”, relata a estudante. Bruna ainda complementa: “Todo esse contato com a prática e com as pessoas nos ajuda muito, principalmente para quem está perto de finalizar o curso como eu”.

Um dos fisioterapeutas responsáveis pelo acompanhamento dos universitários durante os atendimentos, Alisson Ribeiro acredita que, além da promoção da prática, instigar os conhecimentos éticos entre os alunos é fator que contribui para a formação completa dos estudantes, o que pode vir a fazer diferença no mercado de trabalho. “Nós abordamos os valores éticos e noções de comportamento. E só depois mostramos algumas formas de tratamento, sempre conforme as especificidades de cada doença. Em algumas situações, os pacientes chegam muito debilitados e é muito comum a gente ver os alunos se envolvendo emocionalmente com eles. Queremos sempre ver o nosso atendido bem e alcançar, através do nosso trabalho, a melhora dele”, destaca o fisioterapeuta.

Quem recebe o tratamento, além de aprovar o serviço, também protesta contra o descaso na saúde brasileira. Muitos hospitais públicos não reúnem condições e nem estrutura para oferecer tratamentos fisioterapêuticos, levando os pacientes a procurarem socorro em clínicas privadas, que geralmente não têm preços acessíveis. Na ótica dos projetos de extensão como recursos em prol da sociedade, a Clínica Escola vira uma das poucas alternativas para quem necessita de um tratamento físico sem ter que pagar custos altíssimos.

Uma prova desta situação é o casal Jéssica Ferreira da Silva e Marcelo de Souza, que não conseguiu atendimento público. Vítimas de acidente de trânsito, a dona de casa sofreu fraturas e policial militar acabou perdendo uma perna. Há cerca de três meses, conseguiram alento na Clínica Escola e tentam se recuperar fisicamente. Já o pensionista João Alexandre Carneiro dos Santos frequenta a Clínica há mais tempo. Durante quatro anos, ele busca melhoras para um trauma sofrido na coluna, ao mesmo tempo em que faz grandes amizades com quem trabalho no espaço. Po fim, o vídeo a seguir ainda mostra o relato da estudante Socorro Lima, do oitavo período da graduação. Ela ressalta a satisfação de enriquecer sua formação acadêmica e, principalmente, poder contribuir para a saúde dos pacientes.

 

Serviço:

Clínica Escola de Fisioterapia da UNINASSAU

Preços: de R$ 8 a R$ 17, de

Segunda a sexta-feira, no horário das 7h às 19h

Endereço: Rua Jornalista Paulo Bitencourt, 168, bairro do Derby, área central do Recife

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Voltando o pensamento aos meus primeiros anos de escola, recordo-me de algumas situações que devem ter corroborado com a minha luta contra o bullying escolar na atualidade.

Uma das primeiras imagens que surge dessa época era no Colégio dos bancários, no bairro da Madalena, em Recife, no qual recebi um convite para lá estudar. Minha permanência só seria efetivada naquela escola caso eu alcançasse aprovação em todas as disciplinas com destaque.

De lá só tenho boas recordações. Uma boa escola, bons professores e um pequeno parque de jogos, aquela época parecia-me enorme. Ao lado tínhamos uma escola pública e a recordação me traz a lembrança de um momento em que houve uma “guerra” de pedras entre os alunos maiores dessas duas escolas. Poderia ser o início de minha vivência sobre a propriedade “pública” e a “privada”, mesmo a minha escola já nos anos de 1978, incluindo-se no conceito de ser “uma escola com fins públicos, porém não estatal”.

Lembro-me feliz de haver conseguido a bolsa de estudos para continuar naquele belo educandário. Porém, meus pais estavam de mudança da Madalena para Olinda, e consequentemente eu teria que mudar de escola também.

Em Olinda, fui estudar em um Instituto de nome americano, pois não havia sido selecionado no Colégio Imaculado Coração de Maria, - e não existia mais tempo de prestar exames em outro Colégio. Dessa escola as lembranças não são boas. Era o reverso da dos bancários. E lá ainda tinham dois irmãos Sérgio e Fábio (poderia ser qualquer outro nome fictício) que de forma intencional e constante “enchiam” minha paciência todo santo dia. Daí os requisitos do bullying que anos à frente eu iria projetar em uma lei.

Eu queria ir para qualquer lugar, menos para aquela escola. Não falava nada para ninguém. Guardava tudo e estava prestes a “explodir”. Acordar cedo e pensar em encontrar aqueles dois irmãos era algo aterrorizante para uma criança com lancheira e sem ninguém no ambiente escolar para conversar.

Finalmente terminou o ano de 1979. Acho que meus pais sabiam que aquela escola não me fazia bem. Fui para o São Bento cursar a terceira série do fundamental e lá estudei minha vida escolar toda. Convivi com várias pessoas, vários credos, mesmo sendo uma escola beneditina.

Tinha uma turma de “parafinados” - alunos surfistas dos anos 1980 que passavam parafina nos cabelos para ficarem loiros - eles pertubavam na sala um descendente de Japoneses, os CDFs (tradução proibida) e um aluno negro de peixinhos, carinhosamente chamado de “Axé”. Porém, nada que o SOE – Serviço de Orientação Educacional – de uma escola religiosa não resolvesse juntamente com a família dos agressores.

O passado é peça fundamental em nosso futuro. Tanto que só o notamos quando ele passa a estar presente em nossas vidas. Minhas vivências foram capazes de me inspirar a escrever o anteprojeto de lei pernambucana de prevenção, diagnose e combate ao bullying, a primeira lei estadual do Brasil. Na teoria nada melhor que uma boa prática!

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