A representatividade feminina na área de Tecnologia da Informação, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), teve um aumento de 60% nos últimos cinco anos. No setor, as mulheres ainda enfrentam problemáticas como disparidade salárial em comparação a homens que ocupam o mesmo cargo, e a necessidade de afirmação diante de um cenário que, muitas vezes, substima a competência dessas profisionais.
Mostrando que lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive, na tecnologia, a CTO da Muda Meu Mundo, primeira presidenta da Federação das Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (ASSESPRO) e mãe de duas meninas, Laís Xavier, de 39 anos, guiada pelas habilidades em exatas, escolheu ingressar na área quando ainda era novidade. "Eu sempre gostei da área de exatas, sempre tive boa aptidão na área e sempre fui boa na escola. Na época que fui fazer o vestibular, não me identificava com engenharia civil. Eu gostava muito dessa questão da computação. Meu pai é da área de computação", conta ao LeiaJá.
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Nos anos 2000, Laís foi aprovada nos cursos de engenharia da computação, na Universidade de Pernambuco (UPE), e ciência da computação, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Por dois anos, ela se dedicou às duas formações, mas escolheu dar continuidade à graduação oferecida na UFPE. À reportagem, a CTO relata que já na graduação percebeu um maior quantitativo de homens. "Na minha turma tinha sete mulheres. O curso possuia 100 vagas no total".
Laís Xavier é CTO da Muda Meu Mundo e primeira presidenta da Assespro. Foto: Júlio Gomes/LeiaJáImagens
A mulher da TI
A entrada no mercado de tecnologia, segundo Laís, não foi fácil. Apesar das oportunidades e de um ecossistema em formação no estado de Pernambuco, incluindo o Porto Digital, a pouca idade e o gênero foram justificativas para substimar a sua competência.
"Eram boas oportunidades, tinham salários de entrada, por exemplo, muito melhores do que as outras áreas, isso foi uma coisa muito boa. Mas, na faculdade inteira, apesar de ter essa diferença de quantidade de homens e mulheres, eu não sentia preconceito entre os meus pares. No entanto, quando eu fui para o mercado de trabalho, eu senti que não me tratavam no mesmo patamar, eu ganhava menos do que os meninos", relata.
E complementa: "As pessoas esperam o cara da TI, não a mulher da TI. Muitas vezes, as pessoas perguntam coisas para me testar, coisas que não vejo com os meninos. No início, eu me vestia e falava de forma mais formal para que me enxergassem com mais maturidade".
Apesar das oportunidades na área, Laís sentiu o machismo no mercado de trabalho. Foto: Júlio Gomes/LeiaJáImagens
Mulheres e a tecnologia
Com o ambiente acadêmico e mercado, majoritariamente, ocupados por homens, cria-se um cenário pouco acolhedor para mulheres que desejam ingressar no eixo tecnológico. Questionada sobre o que poderia ser feito para que as jovens e profissionais se sentam mais acolhidas em empresas desse segmento, Laís Xavier foi categórica.
Para ela, nos últimos anos, as empresas vêm enxergando a diversidade de gênero como algo potente. "As empresas precisam, deliberadamente, fazer ações para acolher [as mulheres], porque você vai em um ambiente que é hostil, que só tem homem e as pessoas não acreditam no teu potencial, no teu conhecimento. Então, precisa partir da gestão deliberar sobre esse ambiente de recepção para que seja acolhedor e que não haja práticas de discriminação".
Laís trabalha há 14 anos no Porto Digital. Foto: Júlio Gomes/LeiaJáImagens
A presidenta da Assespro salienta que o público feminino necessita ocupar o setor, que conta com um quantitativo expressivo de vagas - só no Porto Digital, de acordo com Xavier, há três mil oportunidades. "É um ambiente hostil? Às vezes, é. Mas não importa. Quanto mais de nós estivermos aqui, mais espaço a gente vai abrir. É colocando o pé na porta, que a gente vai abrir. Eu digo para todas as mulheres: só cheguem, falem e não tenham medo de errar".