Com o lema “Pela vida das mulheres, nenhum direito a menos”, centenas de mulheres protestaram pelas ruas do Centro do Recife nesta quinta-feira (8), Dia Internacional da Mulher. Aos gritos de “eu tô na luta, eu quero ver as mulheres no poder”, as manifestantes saíram do Parque 13 de maio em direção à Praça do Derby. Durante o percurso, pararam algumas vezes para que alguns grupos fizessem performances. Entre as principais reivindicações da 8M, a Paralisação Internacional de Mulheres, está o fim da violência e a garantia de direitos.
Dados da Secretaria de Defesa Social (SDS) apontam que no ano de 2017 2.134 mulheres foram vítimas de estupro em Pernambuco e mais de 300 foram assassinadas. Os casos de violência doméstica e familiar chegaram a 33.188. Segurando cartazes pedindo a legalização do aborto e a participação das feministas na política, a médica Sandra Valongueiro, 73 anos, fez questão de participar do ato. “As mulheres estão morrendo, adoecendo, temos obrigação de ir às ruas para cobrar que isso mude, não podemos ficar caladas. Temos que fazer barulho, discutir tudo isso, dar visibilidade a essas questões, que são claramente políticas”, refletiu.
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Mãe de dois meninos e uma menina, a produtora Fábia Tarraf, 40 anos, levou a pequena Maitê, de apenas 6 meses, para acompanhar o ato. “Convivo com muitos homens e percebo como o mundo é machista. O machismo está em casa, no trabalho, em todo canto. Então é importante demais que desde novinha Maitê já se empondere, se posicione nisso. Por mais que ela não entenda agora, quero que ela já cresça sabendo encarar esse problema”, contou. “É importante demais que as mulheres venham, lutem, independente da idade”, completou Fábia.
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Moradora de Igarassu, na Região Metropolitana do Recife, a cientista social Hanna Barbosa, 27 anos, aproveitou a manifestação para chamar atenção para um problema que atinge as mulheres do seu município: a falta de uma delegacia da mulher na cidade. Hanna faz parte da ONG Minha Igarassu e, junto com a ONG Meu Recife, preparou um abaixo-assinado para pedir a implantação da delegacia no município. Ela e várias outras mulheres que fazem parte da organização arrecadaram assinaturas durante a manifestação.
Mais de 200 pessoas já assinaram o manifesto, que foi lançado na quarta-feira à noite (7). “Aproveitamos esse momento para denunciar a falta de um local específico para atender as mulheres que precisam de ajuda. É um trabalho extremamente necessário para que os direitos das mulheres sejam defendidos. Elas não podem esperar dias para que a denúncia chegue até uma das duas delegacias do município, que só prioriza crimes como assalto, roubo e homicídio, e nunca se importam com os problemas enfrentados pelas mulheres”, reclamou Hanna. “Em 2013 o Governador Paulo Câmara prometeu a construção da delegacia e até agora, cinco anos depois, isso ainda não foi cumprido”, completou.
Nascida no Brasil, o país onde o números de mulheres negras assassinadas chegam a quase o dobro da taxa das mulheres brancas, a dona de casa Evandra Dantas, 51 anos, aprendeu desde cedo que a vida da mulher, e especialmente a negra, não é fácil. “Muitas vezes tenho medo de sair de casa, não me sinto segura. Nós, mulheres negras, sofremos ainda mais preconceito, violência, e tantas outras coisas. É muito difícil. E mais difícil aqui no Recife”, desabafou. Para ela, o dia 8 de março significa luta. “Nessas manifestações encontro apoio, força pra lutar. As mulheres negras estão morrendo, os filhos dela também. O Governo não faz nada por nós, então temos que ir às ruas reclamar, fazer barulho. Quem sabe, assim, o Governo faz alguma coisa, olha pra gente e algo muda. Quanto mais reivindicarmos, melhor”, pontuou Evandra.
Na programação da Paralisação Internacional de Mulheres, houve também rodas de diálogos sobre 10 eixos temáticos que representam as diversas lutas que travam no seu dia a dia. No fim do protesto, na praça do Derby, houve apresentação cultural com alguns artistas locais. A organização do protesto não divulgou dados sobre quantas pessoas participaram da manifestação.