No final da manhã desta quarta (20), técnicos de enfermagem de hospitais públicos de Pernambuco fizeram uma manifestação no Centro do Recife. A categoria reclama de defasagem salarial, falta de material de trabalho e erros primários na gestão das unidades de saúde, o que segundo os manifestantes, estaria causando desperdício de insumos essenciais para o atendimento aos pacientes.
Segundo Monte Zuma Pinto (foto à direita), funcionário do Hospital da Restauração, os profissionais da área estão recebendo salários inferiores à cargos de nível fundamental. "Nós temos um governo que não liga para a saúde. O salário de um técnico de enfermagem com 28 anos de serviço está R$ 1.054. É um absurdo", disse.
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Ele ainda falou sobre a falta de alguns materiais e desperdício de outros, causado por má administração. "Falta gaze, falta luva, falta fralda, todo dia falta alguma coisa. Eles dizem que compram, mas nunca chega e quando chega já está faltando outra coisa. Os técnicos estão tendo que jogar soro fora porque o governo se recusou a comprar os frascos de 10ml e 100ml. Dizem que é mais barato comprar o de 500ml, mas quando o médico receita 200ml, por exemplo, temos que jogar outros 300ml fora", relatou.
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Na visão de Monte Zuma, as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) não tem a mesma importância dos hospitais, mas estão recebendo mais verba. "As UPAS são lavagem de dinheiro. Eles fecham após atender 90 pacientes, enquanto a gente só fecha depois do último paciente. Mesmo assim, o Hospital da Restauração recebe R$ 9 milhões por mês enquanto a UPA de Olinda recebe R$ 32 milhões, por exemplo. Mesmo eles não tendo a alta complexidade que o HR tem", afirmou.
Apesar de barulhento, o protesto não reuniu uma grande quantidade de pessoas no Centro. Para os manifestantes, a baixa adesão não tem importância. "Tá pequeno. Mas em 1993 começou com 4 pessoas na porta do HR e terminou com 64 dias de paralisação de toda a categoria", lembrou Monte Zuma Pinto.
Contactada pelo LeiaJá, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) rebateu as afirmações do técnico de enfermagem ouvido pela reportagem durante a manifestação. Segundo a SES, a informação sobre o custeio das unidades é "totalmente infundada".
"Importante destacar que quando os dados das unidades de administração direta são divulgados não são incluídos a principal despesa hospitalar: os gastos com a folha de pagamento, que representam cerca de 50% a 60% dos custos totais de uma unidade de saúde. Além disso, também não constam os valores gastos com alguns tipos de insumos, como energia elétrica, telefone, material de informática, alimentação, limpeza e segurança, que ficam sob responsabilidade da Secretaria Estadual de Saúde (SES)", diz ainda a nota.
Por fim, a SES afirma que nesta gestão houve a "maior convocação da história da saúde de Pernambuco", com 5,4 mil profissionais concursados, sendo mais 3 mil de técnicos de enfermagem contratados.
Enquanto isso, no Recife - Os médicos da rede municipal realizam uma paralisação de advertência de 72 horas em todos os serviços eletivos, ambulatórios e postos vinculados ao Estratégia de Saúde da Família (ESF), nesta quarta (20), quinta (21) e sexta (22). O atendimento nas emergências, urgências e maternidade do município será mantido normalmente.
“A medida visa sensibilizar a gestão municipal para a necessidade de um olhar cuidadoso e urgente para a resolução e melhorias de dificuldades recorrentes como a falta de segurança em toda a rede, déficit de profissionais, precariedade das estruturas físicas, além da recomposição de perdas salariais da categoria”, destacou o diretor do Sindicato dos Médicos (Simepe), Valber Steffano.
Além do reajuste salarial de 6%, a classe pede mais segurança nas unidades de saúde, valorização da preceptoria (profissional que orienta e supervisiona um médico em formação) e melhores condições de trabalho. Uma nova assembleia está marcada para o dia 26 de setembro, às 14h, na Associação Médica (AMPE), bairro da Boa Vista, no Recife.