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Não parece exagero dizer que o maracatu rural, ou maracatu de baque solto, é o brinquedo mais misterioso e sedutor do Carnaval. Cheio de personagens, que dançam e 'manobram' ao ritmo bastante particular do 'terno' - como é chamada sua parte musical -, a manifestação mistura elementos das culturas negra e indígena fazendo transbordar sua brasilidade com tons de pernambucanidade. Neste especial de Carnaval, Seu Zé Rufino - ex-caboclo, com uma experiência de mais de seis décadas dentro da cultura popular e fundador do Maracatu Águia Misteriosa, de Nazaré da Mata -, fala sobre a brincadeira e explica o que não pode faltar para botar o maracatu na rua. 

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"A gente aqui trabalha para ensinar". 

José Rufino, fundador do Maracatu Águia Misteriosa, de Nazaré da Mata - 86 anos, 66 deles dedicados à cultura popular.

"Desde pequeno eu queria brincar de caboclo. Eu via meu pai brincando e queria brincar também". 

Alex dos Santos Oliveira - 18 anos, brinca desde os seis.

"O personagem da Catita, ela faz a abertura do maracatu. É a graça do pessoal".

Lucas Vinícius, a Catita Liandra - 15 anos de idade, há dois brincando no maracatu.

"Pretendo brincar até o resto da minha vida. Não troco o meu maracatu por bloco nenhum". 

Khetylley Romana - 23 anos, há dois no maracatu. Em 2019, ela apenas trabalhou na organização da agremiação, neste Carnaval, ela estreia como baiana.

"O caboclo é como se fosse o guarda que protege o nosso maracatu".

Edgleibson Lucas da Silva - 18 anos, há três é caboclo. Na foto, ele se veste como arreamar.

"Maracatu é a melhor coisa do mundo. Pra mim é maravilhoso, eu amo brincar".

Maria Alice Santos da Silva - 13 anos, há quatro brinca maracatu como indía.

 

O tradicional Encontro de Cavalo Marinho, realizado anualmente na Casa da Rabeca por iniciativa do saudoso Mestre Salustiano, vai ganhar uma novidade em 2019. O evento vai receber a estreia do Flor de Manjerona, o primeiro grupo da manifestação formado apenas por brincantes mulheres. A festa acontece na próxima quarta (25), às 18h. 

 

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Com 17 mulheres e seis crianças, o Flor de Manjerona foi idealizado pelas irmãs Moca, Mariana, Betânia e Bia Salu, as Salustianas. O objetivo do grupo é empoderar as brincantes que partilham o sonho de atuar de maneira igualitária aos homens dentro do cavalo marinho, algo que nem sempre lhes foi possível. 

Elas se dividem entre o banco, a galantaria e as diversas figuras do folguedo, com muita poesia, música e movimento. O cavalo marinho é considerado uma das manifestações mais complexas do Brasil e costuma encantar pelo seu colorido, humor e dança. 

Nesta quarta (25), ao lado das meninas do Flor de Manjerona, também se apresentam os grupos Boi Matuto e Boi da Luz, ambos de Olinda, além do Estrela de Ouro, Estrela Brilhante e Boi Pintado, de Condado. O Encontro de Cavalo Marinho é aberto ao público e marca o ciclo de comemorações natalinas da Casa da Rabeca. 

Serviço

25º encontro de Cavalo Marinho

Quarta (25) - 18h

Casa da Rabeca (Rua Curupira, 340 - Cidade Tabajara - Olinda)

Gratuito

 

O Centro Cultural Cambinda Estrela realiza, pelo terceiro ano, a sua Confra Cultural. A festa, que acontece no dia 15 de dezembro, encerra 2019 reunindo amigos e parceiros em celebração aos feitos do centro nos últimos 12 meses. O evento é aberto ao público.

A confra do centro cultural vai contar com a participação de diversos grupos da cultura popular. Se apresentam, além do batuque da Nação Cambinda Estrela, o Afoxé Omolu Pa Kérú Awo, os grupos de coco, Menestréis Cantador, Pisada do Mestre e Cocos do Preto, além da Banda Abê Adu Lofé. 

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Além dos shows, a festa contará com a Feira Quilombar de Arte Negra, com afroempreendedores que estarão expondo seus produtos. participam a Turbantes e Brincos Negra Dany, Aflorar Modas e Africool, entre outros produtores de moda afro, decoração e alimentação. 

Serviço

III Confra Cultural do Centro Cultural Cambinda Estrela

15 de dezembro - 15h

Centro Cultural Cambinda Estrela (Rua Doutor Elias Gomes, 420, Campina do Barreto - Próximo ao terminal de ônibus de Chão de Estrelas)

Gratuito

Dando continuidade ao projeto de promoção dos movimentos culturais de periferia no Recife, o Afoxé Ará Omim, também conhecido como O Povo das Águas, promove um dia inteiro de atrações na Casa da Cultura. A programação acontece no dia 9 de novembro, e tem entrada gratuita. 

Abrindo o dia de atrações, às 9h, o público poderá participar de oficinas de dança e percussão. As aulas acontecem até às 12h. Na parte da tarde, os visitantes serão convidados a acompanhar um debate sobre as dificuldades de se fazer cultura popular em Pernambuco. Em seguida, o grupo convidado Afoxé Omô Nilé Ogunjá, do Ibura, faz sua apresentação. O Ará Omim encerra o dia com o seu show. 

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Esses encontros continuarão acontecendo, uma vez por mês, sempre aos sábados, até o mês de maio de 2020. As oficinas emitirão certificados e é desejável realizar uma inscrição prévia através da internet para participar. Toda a programação é gratuita. 

Programação:

9h

 - oficina de dança

9h

 - oficina de percussão

14h

 - debate: as dificuldades de se fazer cultura popular com a antropóloga Lady Selma Albernaz e o presidente do Omô Nilé Ogunjá, Dário Pereira Júnior.

15h

 - show Afoxé Omô Nilé Ogunjá

15h30

 - show Afoxé Ará Omim

Serviço

O Povo das Águas na Casa da Cultura

9 de novembro - 9h às 16h

casa da Cultura

Gratuito

A cultura do Halloween, importada dos países de língua anglo-saxônica, como Estados Unidos, Canadá e Reino Unido, vem ganhando cada vez mais espaço no Brasil.  Porém, o dia 31 de outubro, em que é celebrado o Dia das Bruxas mundo afora, tem um outro motivo para ser comemorado em terras tupiniquins. Por essas bandas de cá, este é o Dia do Saci, um dos personagens mais famosos e, por que não dizer, queridos do folclore nacional. O negrinho de uma perna só e gorro vermelho, famoso por suas traquinagens, é tão unânime entre os brasileiros que existem até aqueles que criam ou apenas observam os sacis num esforço para manter vivo e preservado esse mito no imaginário dos brasileiros.

Conta a história que o saci surgiu no sul do Brasil, influenciada por elementos das culturas africana, indígena e européia. Ele é descrito como um moleque zombeteiro, que gosta de pregar peças nas pessoas, além de ser muito inteligente. Segundo a lenda, o saci é um ser pequeno, com cerca de um metro e meio de altura, negro e tem uma perna só, o que não lhe impede de ser muito rápido e ágil. Eles vivem nas florestas, usam gorro vermelho e gostam muito de fumar cachimbo. Diz-se sacis, no plural, pois acredita-se haver diversas espécies desse ser mítico, como o Saci-Taterê, Saci do Poá e Saci Sacerê.

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A lenda foi espalhada inicialmente, como toda boa história da cultura popular,  através da transmissão oral, contada por ex-escravos e moradores de sítios e fazendas nos interiores do país. Mas foi o escritor Monteiro Lobato quem ajudou a disseminar o personagem por todo o Brasil. Em 1918, Lobato publicava seu livro de estreia, O Saci-Pererê: resultado de um Inquérito, que reunia diversos relatos - primeiramente publicados no jornal O Estado de São Paulo -, de pessoas que haviam tido alguma proximidade ou experiência com sacis. 

Ferrenho defensor das tradições e cultura brasileiras, Monteiro Lobato abriu uma espécie de 'caixa mágica' ao solicitar aos leitores do Estado seus testemunhos sobre o lendário ser. Choveram cartas, a maioria vindas de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. E é em São Paulo que é possível encontrar outros tantos simpatizantes das lendas ‘sacizisticas’, como eles costumam falar, através da Associação de Criadores de Saci e da Sociedade dos Observadores de Saci. 

O escritor Monteiro Lobato é apontado como o responsável pela popularização do saci no Brasil. Foto: Reprodução

Essas são duas das diversas organizações de apaixonados pela lenda que existem no Brasil. A Sociedade dos Observadores do Saci, Sosaci, tem como objetivo manter acesa a chama da cultura brasileira. A missão dos observadores é entender os sinais da presença do ser de uma perna só reunindo os interessados em valorizar e difundir os mitos brasileiros. Para isso, os integrantes promovem festas, palestras, seminários, sobretudo em escolas para levar esse conhecimento às crianças.

O jornalista e geógrafo, hoje aposentado, Mouzart Benedito, é um dos fundadores da Sosaci. Ele conta que, no final dos anos 1990, ao perceber a cultura estrangeira do Halloween se impondo na sociedade brasileira, sentiu-se incomodado e decidiu fazer algo. "A gente começou a ficar invocado com isso, nessa época surgiu a Associação de Criadores de Saci em Botucatu (SP) e eu comecei a fazer coisas protestando contra o Halloween, falando sobre o folclore nacional". 

O observador então buscou no interior paulista os modelos para criar a Sosaci. Mas, com um diferencial: "Lá eles têm o negócio de criar o saci em gaiola e eu não gosto de prender nada, só observar". A partir daí ele reuniu um pequeno grupo e deu início aos trabalhos da associação em São Luiz do Paraitinga, outra cidade interiorana de São Paulo. A Sosaci já chegou a ter mais de mil integrantes com membros de todo o Brasil e até do Chile, Estados Unidos, Itália e Argentina. 

Para ver os sacis é preciso ir para o meio do mato, mas o negrinho não se deixa observar com facilidade assim. Traquina, ele gosta de brincar com quem o procura e tampouco se deixa fotografar ou filmar de maneira que ninguém consegue registrar as imagens do serzinho. Reza a lenda, que ao capturar a imagem de um saci ele acaba morrendo. Mouzart até relembra um caso de uma emissora de televisão que tentou fazer uma matéria sobre a lenda e acabou tendo os equipamentos danificados. "Quando vai escurecendo, ele aparece lá no meio do bambuzal, mas aconteceu que eles largaram toda a aparelhagem, queimou tudo".

Mouzart conta que as pessoas ainda se admiram de sua adoração pelo saci e já houve quem perguntasse se ele é "devoto" do personagem do folclore. Mas o interesse do aposentado mesmo é perpetuar essa tradição oral do nosso país, com esforços do próprio bolso - assim como os demais associados da Sosaci. Este ano, o grupo promoveu a 17ª edição da Festa do Saci, em São Luiz do Paraitinga (SP), com direito a três dias de programação de oficinas, brincadeiras, lançamento de livros, exposições e espetáculos. 

Mouzart, da Sosaci, observa sacis há mais de 30 anos. Foto: cortesia

Criadores de Saci

Já na Associação de Criadores do Saci, a ASCSACI, de Botucatu (SP), também criada no fim da década de 1990, o trabalho de manutenção e preservação da mítica do saci é um pouco diferente. A iniciativa de abrir a associação foi do engenheiro José Oswaldo Guimarães. Interessado no tema, há mais de 30 anos, ele tomou conhecimento de um senhor, morador de Minas Gerais, criador de sacis e foi até lá pedir alguns negrinhos para serem criados em sua cidade, no interior paulista, já que por lá eles andavam em falta. 

"Esse senhor falou pra mim que os sacis estavam diminuindo por causa do desmatamento, da luz elétrica - eles odeiam claridade -, então eu pedi pra ele me dar alguns sacis pra eu reintroduzir na mata, em Botucatu, e lá a gente iria cuidar deles", conta o presidente da ASCSACI. Para cuidar de um saci é preciso alimentá-lo, garantir-lhe o que beber e cuidar do seu habitat natural, de modo que os criadores acabam se tornando verdadeiros protetores da natureza. "Esse senhor criava eles em viveiros, mas não queríamos criar assim, quando a gente levou esses sacis pra lá (a mata) nosso trabalho foi levar frutas, bambu, frutas da região, pequenos frutinhos do cerrado e a gente foi alimentando, dando água e fomos abrindo esse viveiro para que eles começassem a sair, depois de um tempo eles foram saindo se ambientando, então hoje a gente não precisa ir na mata pra cuidar deles, mas eles estão lá".

Outra forma de preservar os sacis é cuidar do imaginário das pessoas, o segundo local, além das matas, onde esses seres ganham vida. Oswaldo explica, que o simples fato de pensar e falar sobre o saci, já garante a existência de um novo ser. "A partir do momento que a pessoa faz algo que um novo saci se desperta, ela é tão criadora quanto a gente. Tem a gente, os que cuidam dos sacis na mata, e também tem as pessoas que criam o saci no sentido de você ter ele nascendo na mente das pessoas, então esse saci é tão importante quanto o outro". 

José Oswaldo é o presidente da Associação dos Criadores de Saci. Foto: Divulgação/Isabela Sanatore

Saci Urbano

O crescimento desmedido das áreas urbanas acabou promovendo uma mudança nos hábitos de alguns sacis. Já é possível encontrá-los nas cidades grandes, em locais mais arborizados como jardins e praças. Como conta Mouzart, da Sosaci. Ele mora na capital de São Paulo e já encontrou diversos sacis em plena metrópole. "Aqui em casa, comecei a perder óculos, falei pra minha mulher: 'acho q tem um saci aqui', desci pra praça e encontrei vários orelha-de-pau". O orelha-de pau é um cogumelo que nasce nos troncos das árvores. Segundo a lenda, ao completar 7 anos o saci não morre, mas se transforma nesse tipo cogumelo. 

O observador diz que no Parque da Água Branca, espaço de mais de 13 hectares de vegetação localizado no bairro da Barra Funda, também na capital, a população de sacis é bastante numerosa. Segundo ele, há relatos de frequentadores e funcionários do parque que garantem terem vistos redemoinhos ‘estranhos’, os ovos das aves residentes do local são trocados, e os cavalos amanhecem com nós nas crinas. Tudo ‘trela’ dos sacis, garante Mouzart. “Ele se urbanizou”, diz. 

Dia do Saci

O Dia do Saci foi criado, no início dos anos 2000, como uma resposta à quase imposição da celebração do Halloween no Brasil. A data, no entanto, divide a opinião dos criadores e observadores que são contra a promoção de qualquer embate entre as culturas distintas. "A gente achava que não deveria se sobrepor a uma outra cultura, todas as culturas cabem no seu espaço, a cultura do Halloween é muito bonita. Na época, tivemos uma reunião com a Unesco, com a Comissão Nacional do Folclore e a ideia era que não fosse colocado esse dia como o Dia do Saci porque o único objetivo que se tinha era combater o Halloween, estamos bombardeando uma cultura com outra, vamos criar um outro dia, a gente sugeriu o dia 13 de agosto", conta o presidente da Associação de Criadores de Saci, José Oswaldo. 

Em 2003, dois projetos de lei de autoria de Ângela Guadagnin e Aldo Rebelo foram propostos para instituir o Dia do Saci no calendário oficial do país, mas ficaram arquivados. Em seguida, no ano de 2004, o estado de São Paulo oficializou a data 13 de janeiro como sendo o dia exclusivamente dedicado ao saci. Já em 2013, a Comissão de Educação e Cultura apresentou um novo projeto, que instituiu o dia 31 de outubro como o Dia do Saci, através da Lei 2.479.

A importância de celebrar e reverenciar esse ser lendário está em sua brasilidade e no poder de encantamento que ele possui, como bem sintetiza Mouzart. "A gente brinca muito com isso porque o saci junta os três povos que formaram o brasileiro, então ele é o mais brasileiro de todos os mitos além de ser o mais popular, as crianças gostam muito. Já rodei o Brasil inteiro dando palestras e nunca precisei explicar quem era o saci. Todo mundo sabe quem é o negrinho que tem o gorrinho mágico e uma perna só".

O Afoxé Alafin Oyó vai ganhar uma casa nova. Após uma luta de 30 anos em busca de uma sede própria, o grupo recebeu, por meio da Secretaria de Patrimônio, Cultura, Turismo e Desenvolvimento Econômico de Olinda, um espaço, localizado no bairro do Carmo, para desenvolver suas atividades. 

O local, que pertencia ao Governo de Pernambuco e foi cedido ao município de Olinda, já foi usado para abrigar o Núcleo de Segurança Comunitária e, depois, a Junta de Alistamento Militar. Agora, o imóvel será destinado para fins culturais, após autorização do prefeito da cidade, Professor Lupércio (SD). A casa, localizada na Rua do Sol, bairro do Carmo, tem cerca de 20 m² e será a nova sede do Afoxé Alafin Oyó. 

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Para dar ao lugar a cara do afoxé, diretores e integrantes do grupo estão colocando a mão na massa para deixar tudo novo. Eles estão trabalhando na ampliação dos banheiros, troca de parte do telhado e renovação da pintura. Com inauguração prevista para o dia 9 de novembro, a sede social e cultural do Alafin Oyó vai abrigar a área administrativa, escola de artes marciais, local para desenvolvimento de trabalhos científicos na área de estudos afro-racial, além de ponto para ensaios e shows de grupos culturais. 

Para a festa de inauguração, estão previstos cortejo de grupos afros, blocos e orquestras de frevo - que sairão do Largo do Guadalupe até a nova sede. Também haverá, durante a solenidade, o encontro com outros grupos do cenário cultural do Carnaval de Olinda. O evento começa às 18h.

 

O Alto José do Pinho, no Recife recebe o Festival Visões Contemporâneas das Raízes, neste sábado (31). Promovido pelo grupo Poiesis, o evento é um festival colaborativo, organizado pelos membros da comunidade e será realizado no Bonsucesso Futebol Clube.

O evento se inicia às 16h e terá uma programação dedicada às artese à cultura, com atrações musicias, sarau de poesia, rodas de diálogo, práticas de cura universais, feirinha, exposições, ritual ecumênico, homenagem aos Mestres e Mestras da cultura popular do bairro, além de um encontro com políticos e autoridades públicas. A entrada custa R$ 3.

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Serviço

Visões Contemporâneas das Raízes - Festival de Cultura Popular do Alto José do Pinho

Sábado (31) | 16h

Bonsucesso Futebol Clube (R. Maragogi, 433/133 - Alto José do Pinho)

R$ 3

Lia de Itamaracá, mestra cirandeira considerada uma das mais importantes vozes da cultura popular pernambucana, acaba de ganhar um novo reconhecimento. A mestra foi escolhida, por unanimidade, pelo Conselho Universitário da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), para receber o título de Doutor Honoris Causa. A data de entrega será marcada em breve.

A proposta está baseada no artigo 96 do Estatuto da UFPE, que prega que o "título de Doutor Honoris Causa será concedido à personalidade eminente que tenha contribuído para o progresso da Universidade, da região ou do país ou que se distinguiu pela sua atuação em favor das ciências, das letras, das artes ou da cultura em geral". 

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A cirandeira falou, com exclusividade ao LeiaJá, sobre a emoção em receber o título. "Pra mim é muito importante, me sinto muito grata, isso aí é tudo em reconhecimento do meu trabalho e minha luta, com a música, com a cultura. Me sinto muito feliz".

Lia também revelou que acredita que o título possa ajudá-la a expandir o seu trabalho com a cultura ainda mais e, até mesmo, conseguir as melhorias pelas quais luta há tanto tempo para seu Centro Cultural Estrela de Lia, localizado na Ilha de Itamaracá. "Acho que vai me ajudar, é um caminho aberto para eu seguir".

Aos 75 anos, Lia continua trabalhando na promoção da tradição da Ciranda. A mestra é Patrimônio Vivo de Pernambuco e em 2004 recebeu da Presidência da República o grau de comendadora da Ordem do Mérito Cultural, ao lado de artistas como Caetano Veloso e Maurício de Sousa. 

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Joana Belém era uma escrava fugida do cativeiro que sentou morada na Vila dos Pescadores, em Olinda, no fim do século 19. Naquele verdadeiro quilombo urbano, a diversão dos moradores eram as brincadeiras de roda acompanhadas por tamancos de madeira que batiam como se fossem instrumentos, o que hoje conhecemos como coco. Nesse meio nasceu e cresceu - livre - Maria Belém, filha de Joana. Ela tornou-se uma das grandes coquistas do lugar, que anos mais tarde tornou-se a comunidade de Amaro Branco.

Maria Belém não ia para as sambadas sozinha, levava a tiracolo a filha pequena Maria da Glória. Juntas, as duas tocavam e cantavam o ritmo que tornou-se referência daquele povo e lugar. Glória cresceu sambando e recebeu da mãe a missão de dar continuidade às suas tradições. E assim vem fazendo Dona Glorinha do Coco, agora aos 84 anos de idade, desde a partida da matriarca, na década de 1990. Hoje, a coquista de maior idade em atividade em Olinda, após criar 12 filhos, superar maridos ciumentos e a falta de visibilidade e apoio financeiro, se prepara para lançar o segundo disco de sua carreira, Noite Linda

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Dona Glorinha já é tatatravó mas a pisada do coco é o que dá ritmo à sua vida. Prestes a completar 85 anos, ela é capaz de passar madrugadas inteiras nas sambadas e ainda dá conta do serviço de casa. "Só não lavo roupa porque tem a máquina, a roupa já sai e é só botar no varal. Uma máquina dessa é uma mãe", conta. Viúva há mais de 20 anos, ela relembra como precisou lidar com o ciúme dos maridos - ela teve três - na hora de fazer o que mais gostava. "Minha mãe chegava e dizia: 'Glorinha, o coco começou, num vai não?'; ele (marido) dizia: 'já chegou a outra pra chamar ela pra ir sambar'; mãe dizia: 'Você não gosta de samba mas eu gosto e ela gosta e a gente vai". E eu ia, quando eu chegava ele tava com a cara feia".

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A mãe, grande influência da mestra, deixou para a filha todos os ensinamentos e a missão de dar continuidade ao legado da família. "Eu sempre gostei, ela (a mãe) dizia que eu com três anos já ficava pulando num pé só e batendo palma. Tá na raiz, né"? E seguindo o exemplo da matriarca, Dona Glorinha já garantiu a manutenção da tradição familiar através de uma das netas que já faz coco também. Mais uma mulher dessa linhagem de resistência e pertencimento.

A roda de coco é o que deixa a mestra feliz. Ela diz que não gosta nem de pagode, nem de brega, mas se a convidar para uma sambada ela irá de muito bom grado. "Eu vou pra cantar, tanto faz eu ganhar cachê, quanto ganhar nada". E é aí que a coquista fala sério, quando o assunto é dinheiro. Ela é mais uma griô pernambucana que carece de assistência nesse tocante.

Dona Glorinha reclama da demora no recebimento dos cachês que já são os menores praticados no mercado. "E quando se fala em aumentar o cachê vem os embarreiramentos de comprovações, documentos. E o mérito artístico e cultural dessa mulher que tem essa idade, que tá aqui empoderada fazendo coco dentro da comunidade dela e incentivando outras gerações? Eles não tem olhos pra enxergar esse tipo de inclusão dentro das comunidades", acrescenta Isa Melo, produtora da artista.  

A mestra complementa: "O pequeno artista como eu sou, vive lá embaixo". Mas, apesar das dificuldades, o samba não para e Dona Glorinha não esmorece, nem pensa em desistir. Octogenária, a coquista só lamenta um único detalhe a essa altura da vida: "O que tá me entristecendo agora é que a velhice tá chegando, tá me acompanhando e eu tô com ela, né". 

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Noite Linda

O segundo disco de Dona Glorinha do Coco, Noite Linda, é fruto do Prêmio das Culturas Populares, edição Leandro Gomes, de 2017. O álbum traz nove músicas, a maioria da própria mestra que se vale das pequenas situações do cotidiano para compor, ou como ela mesma diz “tirar o coco”.

A direção musical do álbum é assinada por Viola Luz ao lado de Isa Melo, que também cuidou da produção. A capa é a reprodução de um grafite, feito no muro da sua casa, pela artista Mari Lúcio. O produto final é resultado do esforço de diversas mulheres que estão trabalhando para a manutenção da arte e do legado dessa mestra. 

Para celebrar a chegada de Noite Linda, será realizada uma grande festa na rua dos Pescadores (Amaro Branco), endereço de Glorinha, que receberá alguns convidados para o lançamento como Cila do Coco, Coco do Amaro Branco, Coco do Pneu, Coco das Estrelas, A Cocada, Viola Luz e Forró do mestre Ulisses da Tabajara. A sambada começa às 20h e promete ganhar a madrugada.

Serviço

Lançamento do disco 'Noite Linda' - Dona Glorinha do Coco

Sexta (25) - 20h

Rua dos Pescadores - Amaro Branco (Olinda)

Gratuito (os discos estarão à venda no evento)

 

'Ninguém solta a mão de ninguém'. A frase que virou grito de guerra entre internautas de diferentes localidades, gêneros e classes sociais, ao redor do Brasil, recentemente, há muito já era conhecida em Pernambuco. O Estado é berço da ciranda, dança circular em que os participantes dançam de mãos dadas e que pode ser classificada como uma das mais democráticas manifestações culturais brasileiras.

Na roda de ciranda brincam crianças, adultos e velhos, independente de sua cor de pele, crenças e contas bancárias, lado a lado. Organizando a brincadeira, estão os mestres e mestras, detentores da ciência tradicional e de um senso de resistência que só pode ser explicado por eles mesmos.

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Mestre Santino Cirandeiro tem 78 anos de vida e 62 de ciranda. Ele lembra com saudade dos tempos de menino em que ia brincar a ciranda na "casa de um e de outro", depois do trabalho pesado nos engenhos de cana de Nazaré da Mata, cidade onde mora até hoje. O cirenadeiro conta que os trabalhadores rurais e moradores do entorno se juntavam - entre eles, muitas mulheres que ajudavam a cantar, uma vez que não havia músicos para tocar qualquer instrumento. A 'apresentação' se dava a troco de bolo e cachaça e prosseguia até o raiar do dia.

Foi nessas festas, nas casas dos vizinhos e conhecidos, que Santino teve vontade de cantar também. Na escola, ele escrevia cirandas quando a professora pedia trabalhos e esperou a reticência do pai - preocupado pela pouca idade do menino - acabar para entrar de vez na brincadeira. Isso aconteceu quando o jovem chegou aos 15 anos. "Eu chegava numa ciranda pedia pra cantar, o mestre deixava... Naquilo eu fui e cheguei a ser o dono da minha própria ciranda, até hoje", conta o mestre da Ciranda Popular, grupo criado em 1989.

Daquele tempo para cá, algumas coisas mudaram para o mestre cirandeiro. Mas nem todas. Ele hoje se orgulha de poder registrar sua música gravando discos. "Agora tem uma coisa melhor do que antes, era que quando a gente brincava ninguém falava em gravar nada. Ninguém sabia de nada, tudo matuto dos engenhos. Hoje, por outro lado, você vai cantar e o pessoal vai gostando e você vai achando bom e daí a pouco você grava um CD", conta Santino, que já tem três trabalhos gravados.

O que não mudou muito é a invisibilidade dos artistas populares. Mesmo sendo ele o mestre mais antigo em atividade no segmento da ciranda, com viagens internacionais no currículo e o trabalho de 30 anos da Ciranda Popular, Santino é mais um expoente da cultura pernambucana a lamentar a falta de apoio e reconhecimento. "Eu até agora não ganhei nada. A não ser, o dinheiro de quando a gente brinca, eu recebo. Mas, de bondade, de homenagem, nada. A cultura, não sei porque ela é tão sem ajuda. Os mestres, os artistas, merecem, a cultura merece ajuda, a pessoa vai ficando velha, não pode mais cantar, devia ter uma ajuda, mas até hoje, nada".

O mestre Santino  pensa às vezes em calar sua ciranda e parar. Diabético e próximo de completar 80 anos, ele se diz cansado e preso a um dilema. "É complicado mas o interessante é que a gente gosta dela. Às vezes, eu não vou brincar, dia de sábado, quando a gente vai dormir, que eu tô deitado e ouço o bombo, a bateria, aquilo me dá uma agonia uma vontade, eu digo: 'eu vou pra ciranda', a mulher diz: 'pra onde tu vai essa hora?'; é porque a gente se acostumou com aquilo, acha que vai morrer com aquilo".

Lia de Itamaracá, outra grande mestra cirandeira, apontada como a "diva da música negra", pelo jornal americano The New York Times, também se vê fazendo ciranda para sempre. "Eu não desisto, não; eu vou lutar até ‘Mané’ chegar. Enquanto ‘Mané’ não chegar eu não paro. Quero chegar aos 100 anos", diz a cirandeira de 75, Patrimônio Vivo de Pernambuco. Ela tem lugar de destaque na cultura popular pernambucana, sendo a responsável por levar o nome do Estado e as tradições que aprendeu nas areias da praia de Jaguaribe a todo o mundo.

Mesmo sendo muito festejada em outros lugares do país e de fora dele, a mestra se ressente da pouca ou quase nenhuma assistência que recebe em seu próprio lugar. "Eu me sinto acorrentada, sem poder fazer nada. Todo dinheiro que a gente pega, a gente joga aqui (em seu centro cultural). Se for esperar os mestres morrerem, é o que tá acontecendo. Assinou a lei da ciranda, tá certo, e os mestres que estão parados"?

Ela se refere à Lei nº 77/2019, de autoria do deputado estadual Waldemar Borges, que institui o dia 10 de maio como o Dia Estadual da Ciranda. A data faz referência ao nascimento do Mestre Baracho, considerado um dos maiores cirandeiros pernambucanos, mas não foi recebida com tanto entusiasmo nem por Lia, nem pelo Mestre Santino: ambos acreditam que pouco ou nada irá mudar após a instituição do dia comemorativo. Uma das filhas de Baracho, Dona Severina, a Biu, canta com Lia, além de manter seu próprio grupo com a irmã, As Filhas de Baracho.

Lia luta pela retomada do funcionamento de seu espaço cultural, o Estrela de Lia, localizado na praia de Jaguaribe, em Itamaracá. Desativado desde 2015, quando fortes chuvas derrubaram toda sua estrutura, o espaço aguarda a liberação de uma verba de aproximadamente R$ 250 mil, segundo a cirandeira, presa na prefeitura local, para a construção de banheiros, camarins, palco e salas de aula, para que o lugar possa retomar suas atividades educativas e artísticas.

Enquanto esperam que a iniciativa pública local, e até mesmo a privada, deem as mãos para fortalecer suas cirandas, os mestres continuam em seu movimento de resistência, motivados pelo amor que sentem por sua cultura. Eles vão se alimentando do prestígio que conquistaram fora de casa, motivo de orgulho e de manutenção do seu trabalho. "A gente praticamente é mais divulgado lá fora do que no próprio lugar que mora", diz Lia; “Somos muito bem recebidas (lá fora), nunca vi gente pra gostar tanto de ciranda como lá no Rio”, comenta Dona Severina; ao que o Mestre Santino completa: “Eu já andei um bocado, já conheci quatro países de fora, Portugal, França, Inglaterra e Itália. Me tratam como se eu fosse de lá mesmo”.

Independentemente da pouca assistência e reconhecimento, esses mestres continuam de mãos dadas com sua cultura. Segurando com força a ciranda à qual tanto se dedicam para que nunca se deixe de cirandar.

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Fotos: Júlio Gomes/Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

Em meados da década de 1980, o Carnaval da pequena cidade de São José Ferrer, na Mata Norte de Pernambuco, se viu ameaçado. O cantor da orquestra que animaria a folia do município passou mal depois de uma bebedeira e o maestro, desesperado, se viu com pouco tempo para arrumar um substituto. Logo alí ao lado, como quem não quisesse nada, um jovem rapaz de apenas 13 anos, Edilson Carlos. O garoto já era conhecido por tocar saxofone por aquelas bandas e foi chamado para salvar a festa. E salvou.

A partir dali, o menino que sonhava em ser artista começou a trilhar o seu caminho. Cantava forró ao lado de um padrinho sanfoneiro e frevo na orquestra da cidade. Os ritmos tradicionais de Pernambuco viraram o seu "feijão com arroz". O sonho de brilhar nos palcos foi trilhado a pé, em caminhões de banana que o levavam de carona à capital Recife, e nos ônibus 1002 que também faziam o caminho até a cidade grande. Edilson, hoje conhecido como Ed Carlos, se perdeu, literalmente, várias vezes nessas idas e vindas; mal sabia ele que estava se perdendo pelos caminhos certos e hoje, o cantor celebra seus 30 anos de carreira.

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Ed começou pra valer cantando forró no Cavalo Dourado, hoje o Baile Perfumado, localizado no bairro do Prado, no Recife. Ele conseguiu uma vaga por insistência da tia, que trabalhava no lugar mas, apesar de ter conquistado o público e o contratante, precisou suportar a desconfiança de outros artistas que diziam que o jovem não tinha o menor jeito de forrozeiro. Os longos cabelos negros do cantor lhe davam ares de roqueiro e até Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, lhe deu ordens para que os cortassem. Não o fez até hoje.

Em 1988, Ed conquistou o seu primeiro reconhecimento. Venceu o festival Frevança, como compositor, com a música Frevo Alegria. O que ele queria mesmo era cantar, mas foi impedido por não ser conhecido do público. Quem executou sua canção foi Bubuska Valença que o levou ao palco quando a canção chegou à final. Ed Carlos cantou observado por 'monstros' do frevo: Edson Rodrigues, Ademir Araújo, Jota Michiles e Getúlio Cavalcanti; e não fez feio. "Subi anônimo no palco, ao lado do meu intérprete, e fiquei em segundo lugar. Um menino com 18 anos de idade, entre os feras, aquela nata de compositores da época", relembra o artista.

No ano seguinte, ele voltou ao palco do Frevança e saiu de lá com o prêmio 'Sombrinha de Prata’, como cantor revelação. A partir daquela data - que ele estabeleceu como o começo oficial de sua carreira -, Ed cantou em vários outros palcos. Os compositores de frevo passaram a procurá-lo, um "indiozinho sem pedigree, sem costas quentes nem parentes importantes", como ele próprio diz, e  passou a cantar as composições de todos eles. Foi assim que ele acabou se tornando o intérprete que mais gravou frevos de um compositor só e ganhou uma posição no RankBrasil, livro dos recordes brasileiros. "Foi acontecendo, não fiz isso de propósito. Foi uma consequência mesmo", diz.

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Dos festivais, Ed Carlos partiu para as ruas. Cantou em inúmeros blocos de Carnaval pelas periferias da capital pernambucana e comandou a Frevioca do Galo da Madrugada por cinco anos. Uma conquista suada, o próprio cantor pediu o 'emprego' na Secretaria de Cultura, após vencer um festival, e , apesar da desconfiança inicial dos gestores, conseguiu. "Nunca tive moleza, não. Esse é o grande lance dessa conquista toda", diz. Ele virou o cantor oficial da Frevioca e se 'graduou' em Galo. “Em cinco anos a gente se forma, né? Eu me formei em Galo da Madrugada”, brinca.

Ed acredita ter corroborado para que o frevo, esse ritmo tão popular, se tornasse ainda mais "do povo". Ele passou a animar o Carnaval do Recife e, driblando vaidades e desconfianças, foi construindo seu nome. Até que cansou. Foi namorar com o maracatu de baque virado, tendo passado cinco anos ao lado do Nação Pernambuco, em Olinda; e cantou com Antúlio Madureira, quando surgiu o icônico Passo da Ema. Do namoro com o Nação vieram três temporadas na Europa. Na última delas, o  pernambucano resolveu ficar por lá, fazendo shows e cantando todos os ritmos de seu lugar de origem.

Na Europa, Ed passou pela França, Alemanha e Itália, entre outros países. Ele encantou os 'gringos' e, também, muitos brasileiros que conheceram lá no velho Continente as particularidade de sua própria cultura. "Vi um pernambucano pedindo desculpas porque saiu de Olinda sem conhecer sua cultura e conheceu comigo lá. Hoje eu sou reconhecido em casa, mas tudo isso aconteceu fora. Foi aí que eu vi que estava no caminho certo". O cantor é considerado um dos artistas que mais divulgou a cultura pernambucana mundo afora e ganhou até um prêmio, concedido pela Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo (Abrajet), por isso.

'A música nossa de cada dia'

A experiência de Ed Carlos foi adquirida, não só pela sua dedicação à música, mas, também, pelo seu convívio com grandes mestres da cultura pernambucana. Ele reconhece a importância de ter aprendido com os maiores e, de maneira respeitosa, cita seus professores: "Minha relação com os mestres foi muito forte. Com Mestre Salú, com Ademir Araújo, o pessoal de Badia, Dona Selma do Coco... Da minha geração, eu sou o único artista que tem amizade em todos os segmentos".

Mas, além da amizade, o cantor pode orgulhar-se de ser um dos poucos artistas gabaritados para trafegar entre as mais diversas manifestações tradicionais de Pernambuco. Para não deixar dúvidas, já gravou Luiz Gonzaga, excursionou com Dona Selma do Coco e com o maracatu, cantou para Ariano Suassuna e dividiu composições com Mestre Salú, por exemplo. "Virei um arquivo vivo da minha geração. Eu cantei o forró de véio, o frevo de desocupado e o maracatu de negro e macumbeiro", brinca.

Ed Carlos 'para baixinhos'

As três décadas de carreira de Ed Carlos parecem apenas um começo quando se observa sua relação com a criançada. O cantor tem o costume de chamar crianças ao palco em seus shows e tem sido o animador oficial do Calunguinha, prévia infantil do Homem da Meia-Noite. "Essa coisa com a criança tem muito a ver comigo, até pq eu sou criança 24 horas por dia, não tenho maldade com ninguém e criança também não tem, então elas percebem isso em mim".

Ele vê nessa relação uma verdadeira renovação de seu público. para os pequenos, uma oportunidade de conhecer mais sobre a cultura pernambucana e curtir com um artista consagrado da área. "Hoje eu tenho fãs dos sete aos 70 anos. Tanto as crianças lá do Calunguinha como as senhorinhas do Bloco da Saudade. Todo dia eu encontro uma criança de oito, 10 anos que vem me dar um abraço. Isso não tem preço, é realmente uma renovação".

'Eu sou o frevo'

Para celebrar as três décadas de carreira, Ed Carlos tem preparado algumas surpresas. Ainda este ano pretende lançar um álbum autoral e também pensa em fazer um DVD. Apesar da longa estrada, o cantor ainda trabalha com a energia e o fôlego de iniciante, pronto para todas as oportunidades que, assim como no começo, ele está disposto a agarrar: "São 30 anos de coisas bacanas que aconteceram e estão acontecendo. São 30 anos de verdade fazendo o que eu faço com amor. Pra mim, ainda faltam muitos anos, isso é só a continuidade de um sonho que se tornou realidade".

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Estão abertas as inscrições para o 14° Concurso do Registro do patrimônio Vivo do Estado de Pernambuco. A seleção vai escolher seis artistas ou grupos de reconhecida relevância para a cultura do Estado. Os selecionados ganham, além do título, um incentivo financeiro concedido pelo Governo do Estado.

O objetivo  da seleção é reconhecer, estimular e proteger iniciativas que contribuem para o desenvolvimento sociocultural e profissional dos mestres e mestras, além dos grupos de notório saber. Os contemplados vão receber uma bolsa de incentivo financeiro no valor de R$ 1.600, para pessoa física; e R$ 3.200, para pessoa jurídica, ou seja grupos tradicionais da cultura do estado.

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Os artistas e grupos devem fazer sua inscrição no edital através de uma entidade que os represente. A entidade proponente da candidatura por ser: a Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco; entidades sem fins lucrativos, ligadas à cultura e sediadas em Pernambuco há pelo menos dois anos; e as câmaras de vereadores dos municípios pernambucanos. As inscrições devem ser feitas, até o dia 10 de maio, na sede da Secult-PE/Fundarpe, ou por correspondência. O edital pode ser visto na internet.

No clima de férias escolares, o Teatro da Boa Vista, na área central do Recife, receberá no próximo domingo (27), às 10h, o espetáculo infantil "Cantigas e histórias na terra do sabiá ou o que é meu é meu e o boi não lambe".

Idealizado pela Companhia Artística Mamulengos e Catrevagens, a peça destaca componentes da cultura popular, como figuras emblemáticas do Carnaval e alguns personagens do universo da fantasia.

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A ideia da peça é que haja uma interação com o público em questões sobre ética, consciência ambiental e solidariedade. O texto e a direção recebem a assinatura de Maria Oliveira. Os ingressos estão disponíveis na bilheteria do teatro por R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia). 

Serviço

'Cantigas e histórias na terra do sabiá ou o que é meu é meu e o boi não lambe'

27 de janeiro (domingo) | 10h

Teatro Boa Vista (Rua Dom Bosco, 551, Boa Vista, ao lado do Colégio Salesiano)

Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia)

Entre os dias 7 e 13 de outubro, a capital pernambucana recebe o musical infantil Bichos de Cá, do grupo Nhambuzim. Promovido pela Caixa Cultural Recife, o espetáculo mistura folclore e questões ambientais, apresentados por meio de manifestações da cultura popular.

Além das apresentações, o grupo também oferecerá oficinas de musicalização, nos dias 06 de outubro (sábado) e 12 de outubro (sexta-feira), às 15h, para crianças de 05 a 08 anos.

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Serviço

Oficina de musicalização para crianças: 6 e 12 de outubro

Horário: 15h

Local: CAIXA Cultural Recife - Av. Alfredo Lisboa, 505, Praça do Marco Zero, Bairro do Recife

Inscrições: grátis através do e-mail gentearteirape@gmail.com

Informações: (81) 3425-1915

Espetáculo Bichos de Cá - Grupo Nhambuzim

Data: 07, 12 e 13 de outubro de 2018

Horário: Domingo (07/10), às 10h30 e às 14h30; Sexta (12/10), às 17h; Sábado (13/10), às 14h30 e às 17h.

Local: CAIXA Cultural Recife - Av. Alfredo Lisboa, 505, Praça do Marco Zero, Bairro do Recife

Informações: (81) 3425-1915

Ingressos: R$ 16,00 (inteira) e R$ 8,00 (meia entrada)

Classificação: Livre

Acesso para pessoas com deficiência

O sexto município mais populoso da Região Metropolitana do Recife, Camaragibe, distante 16 km da capital, abriga uma cultura diversa e pouco valorizada, mas muito resistente. É de lá que vêm nomes como Zé Negão e Zé Maria, importantes mestres de coco e ciranda, e Beto Hortis, expressivo sanfoneiro, por exemplo. 

Os artistas de Camaragibe não se intimidam com qualquer distância geográfica e nem a quase total invisibilidade midiática os faz esmorecer na missão de levar sua arte adiante. Disputar espaço com os artistas do tecnobrega, bregafunk e correlatos é tareda diária para camaragibenses que escolheram a música como instrumento de comunicação e meio de vida. É lá que o LeiaJá encontrou mais uma das 'Vozes da Periferia' em mais esta reportagem da série especial.

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Os músicos da banda Atroça são parte desse movimento. Desde 2009, o grupo vem trabalhando a fusão do frevo com rock, com forte identidade sonora e visual. O guitarrista do grupo, Filipe Lima, sintetiza a música da periferia: “O conceito de música periférica, ao meu ver, diz mais ao gênero que discute os problemas relativos às minorias e às demandas de necessidade das pessoas que circundam os centros urbanos”. Dentro dessa gama de possibilidades, Camaragibe conta com vários nomes como Albino Baru, Cabeça de Rádio, Café Plural e a banda Mangueboys, entre outros.

Os integrantes d’Atroça apontam outros exemplos de movimentos locais que realizam um trabalho significativo para a cena cultural de Camaragibe: “Em nossa cidade temos os grupos de coco como referências de uma voz que propõem e divulgam seus ideais. O Laia, grupo formado por defensores da cultura regional, tem uma atuação muito importante nas políticas culturais e nas ações junto à comunidade de João Paulo II, periferia de Camaragibe”, diz Ivson Borges, saxofonista do grupo.

Os músicos também acreditam que a propagação de uma música que não contemple toda a diversidade das periferias - a exemplo da 'música rebolativa', mais comercial -, como sendo sua voz única é uma problemática que dialoga com os interesses da grande mídia e seu consumo. Para Uel, vocalista do grupo, “Por ser uma música de fácil assimilação e não problematizar as dificuldades das pessoas menos assistidas, dando a entender que os grandes centros não querem saber das problemáticas da periferia, a música tida como ‘voz da periferia’ surge com outro recorte, não sendo uma reflexão da realidade mas uma perspectiva de apelo da sexualidade e da ostentação de bens”.

O baterista Sérgio Francisco complementa: “Os canais que transmitem as músicas feitas na periferia buscam satisfazer as grandes massas, não estão interessados em música conceitual, que problematize ou tenha a intenção ideológica. Além das barreiras geográficas, esbarramos no conceito de música alternativa ou independente”.

Camaracity


A banda Mangueboys começou inspirada no trabalho vindo de uma outra periferia bem distante de Camaragibe, Peixinhos. Tocando covers de Chico Science e Nação Zumbi, o grupo consolidou seu nome em sua localidade e, agora, prepara-se para assumir seu trabalho autoral. Até um novo nome está em processo de escolha.

O vocalista, Vinícius Lima, neto e filho de músicos - seu pai, Alexandre Garnizé passou pelas bandas Afrocamarás, Faces do Subúrbio e, hoje, Abayomy Afrobeat Orquestra -, e o percussionista Huan Marley, apontam na diversidade cultural da cidade um dos motivos que os levou a fazer música. “Tudo isso soma, a gente tenta juntar na nossa música e tudo contribui um pouquinho”, diz Huan.  

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Para os músicos, fazer-se ouvir e defender o seu trabalho é uma espécie de “guerrilha” e, para isso, eles se dedicam ao ponto de criar os meios para escoar sua produção. Vinícius é um dos realizadores do Festival de Inverno de Camaragibe (FIC), ao lado de outro integrante da banda, Thiago Chalegre. O evento movimenta a cidade e abre espaço para tantos outros artistas periféricos há três anos.

Nesta sexta-feira (10), sábado (11) e domingo (12), a partir das 17h, na Praça do Carmo, em Olinda, será realizada a 1ª edição do Festival da Cerveja Artesanal. Aliando paixão e qualidade, serão montados no local estandes para a comercialização dos produtos.

Os macaratus Nação Camaleão, Ogum Onilê, Acabra Alada e Baque Nômade irão fazer um cortejo pelas ladeiras olindenses, além de se apresentarem no palco montado no evento, mostrando o melhor da cultura popular de Pernambuco.

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As bandas Seu Lunga e Junior Chumbago completam a programação. Promovido pela Prefeitura de Olinda, o festival recebeu a parceria da Associação Pernambucana das Cervejas Artesanais (APECERVA).

Serviço

Festival da Cerveja Artesanal

Sexta (10) a domingo (12)

Praça do Carmo, Olinda

A vida e obra do mestre da cultura popular Assis Calixto é mote para o documentário Tamanco. O filme estreia na próxima sexta (29), dentro da programação do Cine Sesc no São João, no município de Arcoverde, lugar de origem do mestre e onde ele fundou o tradicional grupo Samba Coco Raízes de Arcoverde. 

O documentário mostra o mestre, hoje aos 73 anos, brincando e improvisando seus versos, que compõem as músicas do Raízes de ARcoverde. A narrativa do filme é estruturada a partir do depoimento do próprio personagem, um dos responsáveis por estabelecer o coco como traço definitivo da cultura da cidade. Além disso, o lado artesão do mestre também é mostrado no filme.

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Tamanco tem direção de Cauê Rocha e é uma produção da Orum Tupi Filmes em parceria com o coletivo Alastrado Produções Artísticas. A sessão de estreia começa às 19h, no Sesc de Arcoverde.  

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No Nordeste, o 'dono' da festa junina, São João, costuma receber homenagens durante os 30 dias do calendário. Porém, uma delas, o Acorda Povo, transcende a devoção dos fiéis e se transforma em uma grande celebração de fé e alegria. A 'procissão dançante' percorre algumas comunidades da Região Metropolitana do Recife e, em 2018, uma em especial, o Acorda Povo da Vila das Lavadeiras, o mais antigo da capital pernambucana, é um dos grandes homenageados deste São João. 

Tudo começou em 1941, quando Dona Dida e o marido, Seu Antônio Marques de Almeida, chegaram à comunidade, localizada no bairro de Areias, e acharam tudo muito quieto. O casal iniciou em sua casa o movimento que rapidamente, ganhou a simpatia dos vizinhos. Até hoje, com 77 anos de história, a manifestação fortemente ligada às tradições da religião Católica e, ao mesmo tempo, do Candomblé, não deixou de ir às ruas nem uma vez. 

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Naquela época, a pequena Aurelina Marques de Almeida, filha de Dona Dida, acompanhava a mãe em tudo que ela fazia, sobretudo no dia da festa: "Eu acompanhava o Acorda Povo e fui aprendendo com ela", relembra Aurelina, a Dona Nenzinha, que hoje, aos 85 anos, dá continuidade à tradição. Ela até tentou deixar a comunidade durante um tempo e, morando no bairro da Mustardinha, fez o cortejo lá, mas não vingou e o "homem", seu orixá de cabeça, Xangô, pediu para retornar ao lugar de origem: "O recado dele era pra eu voltar aqui pra Vila. Até agora não me arrependi não. O pessoal tem muita consideração com a gente", diz. 

Nenzinha fez como sua mãe e manteve toda a família na celebração em homenagem ao santo católico, sincretizado como o orixá Xangô no Candomblé. Além de seus quatro filhos, netos e bisnetos estão envolvidos no costume e a ajudam a colocar o cortejo na rua todos os anos. Clésiton José Genésio de Almeida, de 55 anos, o Késinho, filho de Nenzinha, tinha cerca de 10 anos quando a avó faleceu e partiu dele a vontade de que a tradição continuasse sob o comando de sua mãe.

Késinho ainda lembra do Acorda Povo comandado por Dona Dida: "O que eu achava mais bonito era o pessoal acordar de madrugada, abrir as portas, e o pessoal chegar na porta da minha avó pra participar, o rapaz que tocava chegava primeiro que todo mundo, pegava um bombo e já começava a bater, chamando o pessoal; e o meu avô soltando fogos". A relação afetiva da família falou mais forte e Dona Nenzinha decidiu tomar as rédeas do Acorda Povo. Ela garante que o cortejo continua fiel à suas tradições, tendo mudado quase nada desde o seu início. 

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O Acorda Povo da Vila das Lavadeiras sai da casa de Dona Nenzinha, após uma queima de fogos, pontualmente às 4h do dia 23 de junho, e vai percorrendo as ruas da comunidade. São feitas algumas paradas, nas casas de pessoas devotas do santo, para que sejam hasteadas as bandeiras. Nesse percurso, vão se juntando moradores, crianças e visitantes que, segundo Késinho, vêm de todos os lugares da cidade. Eles cantam ladainhas em homenagem a São João durante todo o trajeto. Na volta, cerca de duas horas depois, a chegada no mesmo ponto de partida se transforma em uma grande festa com muito samba de coco e mungunzá para todos.

E, apesar de ser dado como uma manifestação em extinção, a família Marques de Almeida garante que o Acorda Povo está mais vivo do que nunca: "A gente está mais próximo dele, todo ano a gente sabe que vai acontecer", diz Késinho. Dona Nenzinha concorda e com sua fala mansa e tranquila, explica o motivo da permanência do costume: "O compromisso é grande. E tem muito amor e fé, na verdade". 

 

Tradição viva

O pesquisador Mário Ribeiro concorda com Dona Nenzinha de Xangô. Ele coordena uma pesquisa sobre as Bandeiras de São João, como também são chamados os Acorda Povo, e garante que os grupos estão cada vez mais ativos em seus costumes: "Até o início da minha pesquisa eu também tinha essa ideia (de extinção do movimento), mas o que eu percebi agora é que o que existe mesmo é falta de visibilidade porque a manifestação acontece fortemente nas comunidades ainda hoje", diz. 

Ele conta que esta é uma "prática religiosa" trazida pelos colonizadores e que no "processo de contato com outras culturas, aconteceu uma hibridização". A manifestação foi se transformando à medida que ganhou a adesão de negros escravizados que seguiam o cortejo tocando instrumentos percussivos: "A procissão tomou um caráter dançante e isso a igreja passa a condenar com o processo de romanização. (Atualmente) Essas práticas são salvaguardadas com as pessoas do segmento do Candomblé e hoje, alguns grupos passam o cortejo pela frente da igreja mas a igreja está de porta fechada (para eles)". 

Mario lista alguns bairros no Recife que mantém a tradição: Ibura, Várzea, Amaro Branco, Santo Amaro e Areias; e revela que contabilizou, agora em 2018, cerca de 16 grupos atuantes. O pesquisador também explica alguns dos motivos que levam o senso comum a pensar que a manifestação está em vias de acabar: "A invisibilidade e o silenciamento dessa prática têm muito a ver com a sua ligação religiosa com as práticas culturais afro brasileiras, por todo aquele processo histórico de perseguição do Estado, discriminação, racismo. Você tem muitos vestígios dessa perseguição, desde a época da Colônia, passando pelo Estado Novo, pela ditadura militar, isso ecoa até hoje".

Fotos: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

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Na próxima quinta (21), oito grupos e mestres da cultura popular pernambucana recebem, no Palácio do Campo das Princesas, o Prêmio Ariano Suassuna de Cultura Popular e Dramaturgia. Na ocasião, também serão contemplados os seis dramaturgos premiados nesta terceira edição da premiação. A cerimônia começa às 10h. 

Nesta edição, o Prêmio recebeu um total de 164 inscrições, sendo 101 de dramaturgia e 63 de cultura popular, oriundas de todas as macrorregiões de Pernambuco. Entre os vencedores, na categoria cultura popular, estão o Caboclinho Carijós do Recife, Mestre Zé Negão, o grupo 'A difusão da literatura de cordel como bem material em âmbito nacional', a mestra Vera Lúcia de Medeiros, o Cavalo Marinho Estrela de Ouro, o Mestre Ciriaco do Coco, Mestra Maria Dulce de Lima Pessoa, Grupo de Coco Tebei de Cultura Popular de Tacaratu.

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Após a cerimônia de premiação, acontecerá a assinatura do decreto que estabelece o Prêmio Palhaço Cascudo de Incentivo às Artes Circenses. Este será voltado para artistas e iniciativas de circo como uma maneirsa de fomentar as artes cricenses. 

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São 74 anos de vida, 60 deles dedicados à cultura popular. José Galdino dos Santos, o Zeca do Rolete, é coquista de bisavô, avô e pai. A arte do coco de roda está em sua família há quatro gerações, e continua sendo repassada, através dos filhos e netos de Zeca. Hoje, ele tem o título de Mestre Griô, pelo Ministério da Cultura, disco gravado, uma turnê pela Europa no currículo e a admiração de seu público, porém, a dificuldade de manter o trabalho artístico, pela falta de apoio governamental e visibilidade, está fazendo o mestre pensar em parar.

Zeca do Rolete vive em uma casa simples, na comunidade do Tururu, em Paulista (Pernambuco), ao lado da esposa, SIlvânia Maria, e de alguns filhos e netos. Todos são  envolvidos no coco de roda e cada show é também, uma reunião familiar. Mas os palcos são apenas uma pequena parte da renda desta família, a subsistência vem mesmo da aposentadoria de Zeca e dos roletes de cana, que vira e mexe, ele ainda sai às ruas para vender e assim garantir mais uma renda, como quando era jovem: “Eu vivo pela misericórdia de Deus. Vou parar, não estou aguentando mais não”, desabafa.

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O mestre coquista lamentou a ausência de seu nome nas programações oficiais do Carnaval do Recife e Região Metropolitana, em 2018, e diz ter feito apenas duas apresentações mas por conta de alguns contatos seus: “Eu tentei, pelas amizades que eu tenho, e ganhei um show no interior (em João Alfredo). Mas eu tive que tirar dinheiro do meu suor para poder ir. Em Olinda eu tive um show por causa do conhecimento que eu tenho.”  E acrescentou: “Eu tenho visto muita publicidade por aí, com meu nome, mas é só na teoria, na prática, não tem nada. Eles fazem um paliativo tão bonito que a gente fica até sem ter o que dizer”.

Reconhecendo a importância da sua contribuição na cultura popular pernambucana, Zeca demonstra indignação pela falta de valorização de seu trabalho: “Eu sou um dos representantes do coco aqui. Acho que o pessoal deveria dar um pouco mais de atenção. Isso dá um desgosto. Como é que eu sendo Griô, conhecido em todo canto, passei um ano dentro da faculdade federal ensinando o saber popular e aprendendo o saber científico e eu tô numa situação dessa?! Isso é egoísmo, é discriminação”, argumenta o mestre.

Zeca enumera o que precisa pagar a cada apresentação, como produtor, transporte e impostos: “A gente está pagando para tocar”, é sua conclusão. As dificuldades acabam desanimando o mestre e a vontade de largar o ofício de vida tem sido uma constante: “Eu tô com vontade de vender isso aqui, pegar minha velha, e ir pro interior, plantar minha banana, meu inhame, e deixar isso tudo de mão. Dá revolta. Não tenho necessidade de estar passando por isso.” A insistência na sua arte tem se dado por apenas um motivo, o amor pelo coco de roda: “Só continuo porque tá no sangue.”

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