Israel segue, neste domingo (15), os preparativos para uma ofensiva no norte de Gaza, cuja população continua fugindo para o sul do enclave palestiniano, em meio aos maciços bombardeios na esteira do sangrento ataque do grupo islâmico Hamas.
Israel respondeu à incursão de 7 de outubro do Hamas, no poder na Faixa de Gaza, com bombardeios ao território, do qual o movimento islâmico continua disparando foguetes.
Na sexta-feira, o Exército israelense pediu aos civis no norte do enclave - 1,1 milhão de pessoas em uma população total de 2,4 milhões - que se deslocassem para sul e, no sábado, disse-lhes para "não demorarem".
Na noite de ontem, um porta-voz do Exército assegurou que a ofensiva terrestre não começaria no domingo por razões humanitárias.
As dezenas de milhares de soldados israelenses estacionados ao redor do enclave aguardam uma "decisão política" que lhes indicará quando iniciar a ofensiva terrestre, disseram os porta-vozes militares Richard Hecht e Daniel Hagari.
O ataque do Hamas, o pior da história de Israel, deixou 1.300 mortos, em sua maioria civis, e pelo menos 120 pessoas foram feitas reféns, segundo os militares israelenses.
Os bombardeios de Israel mataram mais de 2.300 pessoas, incluindo mais de 700 crianças, na densamente povoada e empobrecida Faixa de Gaza. Mais de 9.000 pessoas ficaram feridas, segundo as autoridades locais.
Segundo o Exército israelense, o centro de operações do movimento islâmico palestino, classificado como organização terrorista por Estados Unidos, União Europeia e Israel, fica na cidade de Gaza, no norte do enclave.
- "Sentença de morte" -
O deslocamento em massa da população e a perspectiva de uma ofensiva terrestre neste território - sitiado, sem água, alimentos e eletricidade - gera grande preocupação na comunidade internacional.
No sábado, o ministro iraniano das Relações Exteriores, Hussein Amir Abdollahian, alertou este sábado que "ninguém será capaz de garantir” o controle da situação se Israel invadir Gaza.
Também ontem, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que os Estados Unidos trabalham com a ONU e os países do Oriente Médio "para garantir que civis inocentes tenham acesso a água, alimentos e atenção médica". Ao presidente palestino, Mahmud Abbas, garantiu seu "total apoio" aos seus esforços para levar ajuda humanitária, "especialmente em Gaza".
A ajuda, procedente de vários países, acumula-se na fronteira do Egito com a Faixa e não chega a ser introduzida no território palestino, disseram testemunhas à AFP. O Egito controla a única entrada de Gaza que não está sob controle de Israel, a passagem fronteiriça de Rafah, que está atualmente fechada.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu acesso "imediato" da ajuda a essa pequena faixa de terra, sujeita a um bloqueio israelense desde 2006. Também se multiplicam as vezes pela abertura de corredores humanitários.
"É urgente e necessário garantir corredores humanitários e socorrer a população", declarou o papa Francisco em sua tradicional oração do Ângelus neste domingo.
Desde sexta-feira, milhares de moradores fogem com seus pertences empilhados às pressas em reboques, carroças, motocicletas e carros, em meio aos escombros, movimento que a agência humanitária da ONU já classifica como "deslocamento em massa".
A Organização Mundial da Saúde (OMS) advertiu, no sábado, que a retirada forçada de mais de 2.000 pacientes de hospitais para instalações lotadas no sul de Gaza equivaleria a "uma sentença de morte".
- "Continuará" -
O Exército israelense anunciou no sábado que, durante suas incursões na Faixa, encontrou "cadáveres" de reféns sequestrados pelo Hamas. O grupo islâmico já havia anunciado que 22 "prisioneiros" morreram nos bombardeios israelenses.
Netanyahu visitou tropas israelenses perto do enclave no sábado. "Estão preparados para o que está por vir? Isso vai continuar", disse ele a vários soldados.
O líder do Hamas, Ismail Haniyeh, acusou Israel de "crimes de guerra" em Gaza e afirmou que se recusa a permitir que os palestinos sejam "deslocados".
O movimento palestino é, regularmente, acusado por Israel de usar civis como escudos humanos.
Neste domingo, o Exército israelense anunciou ter matado em Gaza Billal al Kedra, um comandante do Hamas responsável pelo ataque ao kibutz de Nirim, perto do enclave palestino, onde morreram pelo menos cinco pessoas, segundo a imprensa local.
Na véspera, anunciou a morte de dois comandantes militares do grupo islâmico, que, segundo o Exército, estavam entre os responsáveis pelo ataque de 7 de outubro.
Ante o risco de um conflito em nível regional, os Estados Unidos anunciaram no sábado o envio de um segundo porta-aviões ao Mediterrâneo Oriental "para dissuadir ações hostis contra Israel", segundo o secretário americano da Defesa, Lloyd Austin.
Washington também organizou uma retirada de seus cidadãos em Israel por navio do porto de Haifa para o Chipre na segunda-feira, informou a embaixada americana.
- Uma frente no norte? -
A tensão também cresce na fronteira norte de Israel com o Líbano, onde o Exército israelense anunciou, no sábado, que havia matado "vários terroristas" que tentavam se infiltrar.
O Hamas assumiu no domingo a responsabilidade por duas infiltrações em território israelense pelo Líbano e confirmou a morte de três de seus combatentes.
A troca de disparos também deixou um morto e vários feridos em solo israelense, onde a zona limítrofe foi fechada para civis. Israel também tem soldados e tanques posicionados nessa área.
Um jornalista da agência Reuters foi morto e seis outros repórteres - da AFP, da Reuters e da Al-Jazeera - ficaram feridos na sexta-feira em bombardeios na zona.
Em outra frente, Israel anunciou ter atacado a Síria com artilharia na noite de sábado, após alertas aéreos nas Colinas de Golã, anexadas por Israel em 1967.
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos também anunciou que um "ataque israelense" atingiu o aeroporto de Aleppo (norte), ferindo cinco pessoas.