A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) prevê entregar entre os dias 12 e 15 de março as primeiras doses da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e pela farmacêutica AstraZeneca. Com os insumos que devem chegar da China neste sábado, 6, será possível fabricar mais 2,8 milhões de doses.
A previsão de entrega foi feita pela presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, em evento nesta sexta-feira, 5, na sede da Fiocruz, no Rio. "Seguindo todo o protocolo, fazendo todos os testes, trabalhamos com os dias 12 a 15 de março. Mas, se pudermos antecipar, anteciparemos", afirmou Nísia na cerimônia, que teve a participação do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.
##RECOMENDA##
Para que as doses possam ser distribuídas, será necessária a aprovação, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do pedido de registro definitivo dessa vacina. O pedido foi apresentado em 29 de janeiro e ainda está em análise.
Por enquanto, o órgão regulador concedeu autorização provisória para que os 2 milhões de doses recebidos da Índia em 22 de janeiro fossem aplicados na população. Falta, porém, a autorização para a distribuição da vacina em larga escala. "Na próxima segunda-feira, 8, vamos ter mais uma reunião com a Anvisa para avançar nesse pedido de registro", anunciou a presidente da Fiocruz.
O IFA é fabricado na China e, segundo a previsão inicial do ministério, os primeiros lotes chegariam ao Brasil em janeiro, mas problemas burocráticos adiaram o envio. Às 7h35 desta sexta-feira (20h35 de quinta-feira, dia 4, na China), um avião partiu de Xangai, na China, transportando 88 litros de IFA que devem chegar ao aeroporto do Galeão, na Ilha do Governador (zona norte do Rio), às 17h50 de sábado. Com essa quantidade, será possível produzir as novas 2,8 milhões de doses da vacina de Oxford.
O acordo com a China é que seja enviado, por mês, IFA suficiente para produzir 15 milhões de doses. Os demais litros do princípio ativo (cerca de 383, portanto) necessários para produzir essa quantidade de vacinas devem chegar em outros dois lotes, ao longo de fevereiro, em datas ainda indefinidas. A previsão inicial era que esse material chegasse em dois lotes de quantidades idênticas (cada um deles com líquido suficiente para produzir 7,5 milhões de doses), mas a burocracia alterou esse plano.
Até junho, a previsão é que a Fiocruz receba IFA suficiente para produzir de 15 a 20 milhões de doses por mês. Assim, ao fim do primeiro semestre, deverão ser produzidos 100 milhões de doses da vacina, suficientes para imunizar 50 milhões de pessoas - cada pessoa precisa receber duas doses, com intervalo de três meses.
O acordo da Fiocruz com a Universidade de Oxford e o laboratório AstraZeneca prevê uma transferência de tecnologia, o que permitirá à Fiocruz produzir seu próprio IFA a partir de abril. Esse insumo deve ser usado em doses que serão distribuídas a partir de agosto, segundo Maurício Zuma, diretor do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos) da Fiocruz. Mas o contrato com os termos da transferência de tecnologia ainda não foi assinado, disse Zuma.
O diretor de Bio-Manguinhos afirmou ainda que, mesmo tendo o IFA pronto, a partir deste sábado, a fabricação das vacinas leva tempo. "O processo começa imediatamente, mas é demorado. Só o IFA (que chegará congelado à temperatura de - 55°C) demora três dias para descongelar", conta. Segundo ele, será preciso um processo técnico de validação para esse primeiro lote.
Licitação para fábrica de vacinas. O evento na Fiocruz foi realizado para lançar o edital por meio do qual o governo vai escolher a empresa responsável por construir o Complexo Industrial de Biotecnologia em Saúde (CIBS), subordinado ao Bio-Manguinhos. Trata-se de uma fábrica capaz de produzir 600 milhões de doses de vacinas por ano, que deve tornar o Brasil autossuficiente nesse tipo de produto. Atualmente 45% das vacinas usadas no País são importadas. A fábrica, sediada em Santa Cruz (bairro da zona oeste do Rio), deve começar a funcionar parcialmente em 2023, e ficar totalmente pronta em 2025.
Pazuello não respondeu às perguntas da imprensa - apenas fez discurso, em que citou negociações para que outras vacinas contra a covid-19 (além da Coronavac, desenvolvida pela China e produzida no Instituto Butantan, em São Paulo, e da vacina de Oxford/AstraZeneca) cheguem ao Brasil. "Continuamos avançando com negociações em outros laboratórios, como a Janssen (Johnson & Johnson), a Pfizer, a Precisa, da Bharat Biotech, indiana, e a Sputnik, da Rússia. Todas elas estão na prateleira de negociações", afirmou Pazuello.
Segundo ele, nesta sexta-feira o ministério tinha reuniões com representantes do laboratório que fabrica a vacina Sputnik, da Rússia, e Covaxin, do laboratório indiano Bharat Biotech. "Nosso país precisa continuar a ser um exemplo da procura pela vacinação. A vacina não resolve o problema por si só. Precisamos continuar com medidas preventivas, de afastamento social, todas as medidas já conhecidas no nosso país. Precisamos manter os cuidados para evitar a propagação do vírus entre as pessoas", disse. O presidente Jair Bolsonaro, por outro lado, tem sido um crítico do isolamento social e das medidas de quarentena desde o começo da pandemia.