Um incêndio complicava neste sábado (26) as até agora infrutíferas buscas pelos 159 desaparecidos no desabamento parcial de um prédio na Flórida, que tinha "danos estruturais importantes", segundo um relatório de 2018.
"Enfrentamos enormes dificuldades com este incêndio", admitiu neste sábado a prefeita do condado de Miami-Dade, Daniella Levine Cava, durante uma coletiva de imprensa.
O incêndio, cujo foco os bombeiros não conseguiram localizar, foi desencadeado no local onde o Champlai Towers, de doze andares, desabou na madrugada de quinta-feira. A fumaça se espalha pelos escombros, tornando inacessíveis algumas áreas de buscas, segundo a prefeita.
Ao menos quatro pessoas morreram no desabamento do edifício de 12 andares, de frente para o mar em Surfside, perto de Miami Beach. O prédio ruiu enquanto os moradores dormiam.
"Mantemos a esperança. Continuamos procurando sobreviventes entre os escombros, é nossa prioridade e nossas equipes não pararam" os trabalhos, assegurou neste sábado Levine Cava aos jornalistas.
Quase um terço dos desaparecidos é de estrangeiros: nove são argentinos, seis paraguaios - entre eles a irmã da primeira-dama daquele país - e pelo menos quatro são canadenses, segundo as autoridades.
As famílias, cada vez mais frustradas, demonstram impaciência e temem que o alto número de desaparecidos faça subir o de mortos.
- 72 horas -
Alguns familiares das vítimas criticam as operações de resgate e começam a perder as esperanças.
"Nenhum socorrista tentou retirar os escombros, pouco a pouco, mesmo com as mãos, sem uma máquina, para retirar as pessoas", declarou na sexta-feira Maurice Wachsmann à AFP.
Seu melhor amigo e outro conhecido estão entre os desaparecidos.
"O amigo da minha mãe está lá (sob os escombros). Queremos ter esperança, mas temos que ser realistas. O passo seguinte é estar ao lado das famílias e averiguar porque isto aconteceu", disse Mark, de 55 anos, sem revelar seu sobrenome.
"Nossa experiência é que durante as primeiras 72 horas há muitas chances de que as pessoas continuem vivas lá dentro", disse à emissora CBS o bombeiro do condado de Miami-Dade Danny Cardeso.
Os socorristas, que ouvem barulhos vindos dos escombros mas não têm certeza de que sejam produzidos por pessoas, fizeram um túnel sob o estacionamento alagado do edifício para tentar chegar a possíveis sobreviventes.
Perto do local da catástrofe foi erguido um monumento com velas, flores e cerca de 40 fotos dos desaparecidos.
"Temos uma amiga que conseguiu escapar do prédio com seu marido", disse neste sábado à AFP Gina Berlin, de 54 anos, que mora na região desde 1992. "Ainda estou em choque e vim rezar pelos desaparecidos".
- Danos estruturais -
As dúvidas sobre as causas do colapso se multiplicaram nos últimos dias e a investigação provavelmente vai durar meses.
No entanto, um relatório de 2018 sobre as condições do prédio revelou "danos estruturais significativos" e "rachaduras" no subsolo, de acordo com documentos divulgados na noite de sexta-feira pelo governo da Surfside.
“A impermeabilização sob a borda da piscina e da via de acesso para veículos (...) ultrapassou sua vida útil e por isso deve ser totalmente removida e substituída”, destacou o especialista Frank Morabito, diretor da Morabito Consultores, em um relatório.
“A impermeabilização defeituosa causa danos estruturais significativos à laje de concreto estrutural abaixo dessas áreas”, acrescentou o documento.
"Se a impermeabilização não for substituída no futuro próximo, o grau de deterioração do concreto vai se expandir exponencialmente", destaca o estudo, que não mencionou o risco de desabamento embora recomende a realização de reparos para manter a "integridade estrutural".
Até agora, as atenções tinham se voltado especialmente para um relatório de 2020, que revelou que o edifício havia sofrido um afundamento a um nível de quase dois milímetros por ano entre 1993 e 1999.
No entanto, Shimon Wdowinski, um dos autores do estudo e professor da Universidade Internacional da Flórida (FIU), disse à emissora CNN que não sabia "se o colapso era previsível".