No período em que se comemora a XI Semana Estadual da Pessoa com Deficiência em Pernambuco, muitos desafios e algumas promessas para essa população. Os relatos aqui descritos das pessoas com deficiência são de falta de iniciativas públicas e descaso. Entretanto a força de vontade, determinação e alegria de viver fazem com eles superem as barreiras físicas e a falta de estrutura das cidades que lhes negam o pleno direito de ir e vir.
O Estatuto das Pessoas com Deficiência, em seu artigo 2º do capítulo I, publicado no Diário Oficial da União em 21 de dezembro de 1999, institui que “cabe aos órgãos e às entidades do Poder Público assegurar à pessoa portadora de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à Educação, à Saúde, ao Trabalho, ao Desporto, ao Turismo, ao Lazer, à Previdência Social, à Assistência Social, ao Transporte, à Edificação Pública, à Habitação, à Cultura, ao amparo à Infância e à Maternidade, e outros que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico”.
Em Pernambuco, quarto estado com maior número (1 milhão e 400 mil)de pessoas com deficiência do Brasil, a realidade não se adequa nem ao que prevê a lei, nem tampouco atende às demandas no que se refere às garantias à acessibilidade para esses indivíduos. A reclamação dos deficientes pode ser facilmente constatada nas ruas cheias de buracos da capital, Região Metropolitana ou no Interior. “Aqui na capital, vejo que a dificuldade é grande para a locomoção de nós deficientes, mas no Interior é ainda pior, pois não temos ônibus acessíveis”, observou o cadeirante, Alexandre Rogério do Nascimento, 45 anos, morador de Vitória do Santo Antão, na Zona da Mata de Pernambuco. Ele ainda contou que a rampa da Câmara de Vitória, local onde trabalha, só foi instalada há cerca de quatro anos. “Sou servidor público desde os anos 1980 e vinha insistindo muito para colocarem uma rampa que facilitasse meu acesso ao trabalho, mas só há uns quatro atrás é que me atenderam. Também tenho brigado para que instalem uma rampa no Tribunal de Pequenas causas, já divulguei várias vezes esse caso à Imprensa. Este ano saiu uma foto no jornal, só que nada foi resolvido. Continuo lutando”, revelou Alexandre.
Na última terça-feira (23), o governo de Pernambuco lançou o Programa Pernambuco Conduz, serviço de transporte em Unidades Móveis Adaptadas – UMA, que atenderá 600 pessoas com grau de deficiência elevado, sem condições de locomoção nos demais meios de transportes, candidatos inscritos no Cadastro Único (CADÚNICO) e pessoas com renda familiar per capita mensal inferior a um salário mínimo. Além disso, o serviço será prestado de acordo com a disponibilidade das rotas existentes e circulará apenas na Região Metropolitana do Recife (RMR). Presente no lançamento, o cadeirante José de Irimar de Moraes Júnior, 35 anos, morador do bairro de Água Fria, disse que os problemas enfrentados pelos deficientes não estão perto de ser resolvidos em Pernambuco. “Há um avanço nas políticas públicas para nós (deficientes), como esse que estamos presenciando (Pernambuco Conduz), mas ainda há muito a ser feito”, advertiu José Irimar. Já Alexandre Rogério, afirmou que ficará esperando o programa chegar a Vitória. “Isso vai acontecer na velocidade dos passos de uma tartaruga, mas eu tenho fé que um dia o programa vai chegar”, gargalhou o cadeirante. De acordo com o governador Eduardo Campos, o programa será implantado nas 12 microrregiões do Estado, porém não há previsão de quando isso acontecerá.
O superintendente da Superintendência Estadual de Apoio à Pessoa com Deficiência (SEAD), João Rocha, que é cadeirante, garantiu que está sendo estruturado um projeto de empregabilidade voltado para os deficientes, que deverá ser lançado ainda em 2011, mas não há previsão da data. Ele também observou que Pernambuco precisa avançar nas questões relacionadas a esta parcela da população, porém disse que seria irresponsável afirmar que esses problemas serão resolvidos de um ano para outro.
INSTITUTO
Contudo nem só de dificuldades vivem as pessoas com deficiência, no Instituto dos Cegos, localizado na Rua Guilherme Pinto, no bairro das Graças, é possível notar de perto o quanto essas pessoas têm alegria de viver. De acordo com a irmã Maria das Graças Silva, Diretora Administrativa, a instituição atende diariamente cerca de 150 pessoas, que passam o dia por lá. Os deficientes visuais podem participar de cursos de artes manuais, Braille, música, dança e teatro, hidroginástica, telemarketing, orientação e mobilidade, além de receberem atendimento psicológico, jurídico e suporte alimentar.
É caso de seu Manoel Venceslau, 76 anos, morador do bairro de Caetés. “Frequento há quase cinco anos o instituto, faço aulas de Braille, artes manuais e teclado. Entrei para fazer aula de música, pois sou maestro do coral de uma igreja evangélica”, contou o animado Manoel. Mas para ele, o que precisa ser melhorado é a conscientização das pessoas em cederam os lugares para as pessoas com deficiência nos transportes coletivos, além da necessidade de aumentar a quantidade de semáforos que emitem sinais sonoros para facilitar a travessia dos deficientes visuais e a revitalização dos calçamentos para que acidentes não aconteçam.
Já Edivânia Maria Marcolino, 26 anos, moradora de São Lourenço da Mata - que faz questão de lembrar que Recife é uma das cidades da Copa de 2014 -, participa há mais de um ano das aulas de artes manuais, Braille, hidroginástica e teclado. “Para mim não há nenhuma dificuldade em ser cega, só mesmo o fato de não enxergar o mundo”, brinca Edivânia. “Faço minhas bijuterias, bonecas de pano, pesos de porta para ganhar um dinheirinho e adoro tomar uma cervejinha”, conclui. Ela que nunca enxergou também tem uma filha de cinco anos, Yasmim Vitória, portadora de glaucoma congênito.
Outro exemplo de superação é Priscila Auxiliadora, de 29 anos de idade. Ela tem a visão dos dois olhos comprometida em decorrência da retirada de um tumor na cabeça. “Eu ia fazer prova de vestibular de biblioteconomia na semana em que descobri que tinha um tumor de oito centímetros na cabeça, segundo o médico eu só tinha uma semana de vida, isso foi em 2006. Fiz a cirurgia e em 2008 o problema voltou e dessa vez ao invés de um eram oito tumores e mais uma vez perdi uma prova, do Cefet”, contou Priscila. Há quatro meses Priscila descobriu na música uma nova forma de sonhar. “Fico muito feliz em estar aprendendo a tocar teclado, o professor Carlos tem ajudado bastante”, assegurou.
Acompanhada do professor de música do Instituto dos Cegos, Carlos Lucena, formado pelo Conservatório Pernambucano de Música, Priscila tocou para a equipe de reportagem a música que mais gosta: “Namoradinha de Um Amigo Meu”, de Roberto Carlos.
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