O deputado Federal, Augusto Coutinho (DEM), parlamentar de Pernambuco, que não faltou a nenhuma das sessões no congresso nacional durante essa legislatura, deu uma entrevista exclusiva a reportagem do Portal LeiaJá e comentou a nova conjuntura política depois das eleições municipais de 2012. Segundo o parlamentar, o julgamento do mensalão demonstra que mesmo com a maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) indicados pelo PT, os magistrados têm autonomia na sua decisão. Ele também teceu fortes críticas ao aparelhamento do estado por parte do governo federal, além de denunciar a cooptação dos congressistas como forma de engessar as pautas do legislativo.
Outros temas levantamos pelo deputado dizem respeito a crise vivida pelo DEM e o surgimento do PSD como uma partido oportunista que foi criado por causa da interferência de alguns ministros e do ex presidente Lula (PT), na intenção de enfraquecer o DEM. De acordo com Coutinho, os petistas desrespeitam todas as instâncias de poder e tentam controlar a imprensa e até mesmo o Ministério Público.
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Sobre sua propostas que foram aprovadas por algumas comissões do congresso, Coutinho destacou o Projeto de Lei (PL) 2028/2011, que determinar que órgãos federais, autarquias, empresas públicas só poderão conceder patrocínio às modalidades olímpicas, paraolímpicas, e seleções brasileiras. Outro PL determina que no imóvel com mais de 20 anos, terá que passar por uma avaliação de um engenheiro do CREA a cada três anos, por um engenheiro credenciado pelo CREA, que irá informar sobre os riscos de desabamento.
Segue a entrevista com Augusto Coutinho.
O julgamento do mensalão:
“O julgamento do mensalão é um marco para o Brasil, pois pessoas poderosas, que fundaram o PT, que foram presidentes da Câmara e passaram por várias instâncias institucionais do governo estão sendo condenadas. Esse processo traz um bom exemplo para atual geração e as futuras, mostra que a impunidade não aconteceu nesse lamentável episódio da história brasileira.”
Autonomia do Supremo Tribunal Federal no julgamento do mensalão:
“Os ministros têm autonomia e uma condição de não ser manipulados pelo governo. Eles realmente exercem a justiça. Vemos isso no decorrer de todo julgamento, havia indícios de que o presidente Lula e algum ministros queriam interferir no julgamento, mas isso não ocorreu, houve uma tentativa por parte do PT, principalmente pelas pessoas que estão sendo julgadas, mas o Tribunal se mostrou altivo e autônomo dessas influências.”
“Nunca vi episódios como esse, o governo aparelhar a máquina pública em detrimento da governabilidade e para aumentar sua base no congresso nacional. Isso é um fato inusitado que o PT implementou. Eles juraram que não existia o mensalão, pediram desculpas e Lula até chorou, diziam que o mensalão nunca existiu, mas fica claro que o mensalão existiu sim e foi com dinheiro público, manipulado por lideranças petistas que cooptaram partidos políticos para a base aliada.”
Oposição no congresso nacional:
“A oposição no congresso tá menor, ela não chega a 100 deputados dos 513. O PT implementou isso em troca de que? O episódio do PSD, a criação desse partido arrepiou todos os procedimentos normais. Houve uma interferência direta do ex-presidente Lula e de alguns ministros para o PSD conseguir queimar barreiras e etapas. A legenda arregimentou deputados que foram eleitos pela oposição, mas arrumaram um jeito de por o pé no governo. Por isso que esse partido não é de direita nem de esquerda, não é de coisa nenhuma, é um partido oportunista.”
“A oposição no congresso é muito pequena, diferente de outros governos, isso porque o PT implementou um aparelhamento dos órgãos estatais, nunca existiu no país um governo com cerca de 40 Ministérios. Isso é para acomodar os partidos nessas estrutura política e a conta quem paga é o povo brasileiro. Isso é lamentável. Denunciamos que as agências reguladoras estão sendo aparelhadas politicamente. O PT implementou isso. Antes as empresas públicas como a Infraero, Petrobrás, a Eletrobrás, Furnas, não tinham esse envolvimento político. Os seus diretores são colocados em troca de apoio políticos.”
“O PT vem com essa bandeira de esquerda e socialista, mas não respeita os procedimentos naturais de todos os poderes, isso é lamentável. Em algumas ocasiões vimos que quando a imprensa fala sobre alguns casos, há setores do PT querendo controlá-la. Também tentam controlar o Ministério Público e intervir em setores independentes da sociedade. Isso é nocivo a democracia que vivemos no Brasil.”
O pragmatismo da Política brasileira:
“O pragmatismo político existe em qualquer país ou nação, mas a essência de um partido é estar no poder e fazer as mudanças que defende e propaga para a população. O fato de querer o poder é legitimo, natural e importante, mas vale lembrar que esse procedimento não pode extrapolar a boa conduta ética, respeitando as instituições.”
Nova conjuntura em Pernambuco e crise no DEM:
“O desempenho dos Democratas não foi bom, o partido sofre um viés por estar distante do poder. Alguns episódios do ponto de vista ético aceleraram essas dificuldades a nível nacional como o caso do ex governador do distrito federal, José Roberto Arruda, e do ex senador, Demóstenes Torres. Mas vale ressaltar que o DEM foi o único partido que tomou posições duras e imediatas junto aos seus filiados envolvidos em escândalos.”
“Quando a gente só tinha um governador, colocamos ele para fora do partido porque não explicou seus envolvimentos no mensalão do Distrito Federal. Demóstenes era um ícone, um possível candidato a presidente do país, um dos políticos mais respeitados no Brasil e mesmo assim o partido teve a coragem de pedir para ele se desfilar. Diferente do que a gente assisti no julgamento do mensalão. Nenhum desses partidos exigiu a desfiliação de qualquer membro. Pelo contrário, o PT fica desqualificando o julgamento do STF e divulgando que vai fazer cota junto aos seus filiados para pagar as multas que o tribunal aplicou. Isso é uma coisa séria e as pessoas precisam refletir sobre essas atitudes.”
“Esses episódios trouxeram para os democratas uma maior fragilidade. O episódio do PSD nos sangrou bastante. Inclusive com o patrocínio explícito do PT que afrontou a legislação no intuito de nos enfraquecer.”
“Defendo que é preciso fazer uma reflexão e pensar o partido para o futuro. Na minha avaliação, com todos esses entraves que temos é necessário uma refundação do partido com uma junção de outras legendas dando uma maior densidade eleitoral ou até mesmo uma fusão com um, dois ou três partidos, desde que sejam mantidas as coerências políticas. O fato do DEM ter ganho duas capitais importantes do Brasil, fez algumas pessoas acreditarem que o partido pode se reerguer com esse fato, eu penso diferente, porque acho que foram episódios eleitorais.”
Projetos destacados por Coutinho que tramitam nas comissões do congresso nacional:
“Não é fácil, tramitam na casa vários Projetos de Leis, mas o executivo engessa as pautas com as medidas provisórias. Não temos uma agenda legislativa, mas uma agenda do executivo. Procuramos focar em pontos importantes, estamos ativos na comissão do trabalho e em assuntos impactantes na legislação do trabalhado. Há uma onerarão muito grande e lutamos pela redução dos impostos.”
“A lei de manutenção predial é muito importante, pois não há uma legislação no Brasil que trate do tema e são muitos os casos de desastres por falta de manutenção ou má construção. Em relação aos serviços previdenciários apresentamos um projeto nesta semana para os aposentados deixarem de arcar com as despesas relacionadas aos conselhos como a OAB, entre outros que são obrigados pagar.”
“Não entendo como o governo federal e empresas do governo federal patrocinam clube milionário por meio de escolhas subjetivas. Agora o coríntias vai receber um patrocínio da Caixa Econômica Federal de 35 milhões por ano. Por que o coríntias? É por isso que temos um projeto para limitar o patrocínio de clubes. Essa verba deve ser direcionada aos esportes olímpicos, paraolímpicos, e seleções do Brasil. Outro projeto nessa área é acabar com a perpetuação de entidade que tem dono e passam a vida toda com essa pessoa ou a família dessa pessoa. Cito como exemplo, o caso da CBF que tinha um presidente há mais de vinte anos no cargo. Então queremos limitar o mandato com direito a uma reeleição no máximo. “
Reforma política:
“Sou integrante da comissão da reforma política e apresentamos projetos como o de unificação da eleição. Pois uma eleição, a cada dois anos onera os cofres público, assim buscamos uma junção para que as eleições possam acontecer de 4 em 4 anos. Outra coisa é o formato da propaganda eleitoral, fizemos um estudo e apresentamos propostas diminuindo o custo da propaganda, pois essas megaproduções passam para a população a imagem de um candidato construída pelos marqueteiros e não quem é a pessoa de verdade. Nossa ideia é que exista a propaganda e ela seja diluída na grade da programação com inserções de 30 segundos cada. Não teria mais essa junção de tempo para fazer um programa, pois a campanha política se tornou uma grande novela. Se diluiria isso na grade durante todo o dia, a população iria conhecer o candidato, como ele é e não o candidato produzido.”