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A 10.ª Vara da Justiça Federal do Distrito Federal negou pedidos de liberdade dos investigados na Operação Spoofing. Os pedidos foram feitos pelos advogados de defesa após audiência de custódia com os suspeitos de hackear o ministro da Justiça e Segurança, Sergio Moro, e procuradores da Lava Jato, e outras autoridades.

Walter Delgatti Neto, Gustavo Henrique Santos, Suelen Priscila Oliveira e Danilo Marques permanecerão no cárcere até pelo menos a quinta-feira, 1, quando termina o prazo da prisão temporária.

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O juiz Vallisney Oliveira autorizou um banho de sol ao dia para eles.

Suelen chorou no depoimento apontando maus-tratos, agressão psicológica e uso de algema no avião ao ser transportada para Brasília. A defesa dela pediu transferência da prisão feminina conhecida como "Colmeia" para a Superintendência da Polícia Federal no DF. O juiz autorizou.

O Partido Democrático Trabalhista (PDT) entrou com uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, no Supremo Tribunal Federal (STF), com pedido de medida liminar, para que o ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) "se abstenha de destruir provas colhidas com os hackers" presos pela Operação Spoofing - investigação sobre invasão de celulares de autoridades. O processo foi distribuído para o ministro Luiz Fux.

Na ADPF 605, a legenda indica que o eventual descarte de provas violaria preceitos constitucionais relativos ao devido processo legal, à legalidade e à moralidade, à segurança pública, e configuraria abuso de poder e ofensa ao princípio da separação dos Poderes.

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Na petição inicial, a legenda indica que o caso posto sob análise é o "acinte ao princípio do devido processo legal configurado pela atuação arbitrária de Sergio Moro em destruir as provas objeto de investigação pela Polícia Federal".

O partido transcreve nota em que o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro João Otávio de Noronha, afirma que Moro o havia informado que o material obtido seria descartado "para não devassar a intimidade de ninguém".

Segundo o PDT, "a medida de aniquilamento de provas colhidas no contexto de uma investigação não pode ser tomada pelo ministro da Justiça, autoridade do Poder Executivo".

O texto indica que cabe ao Poder Judiciário "velar pelo bom andamento da persecução penal" e cita o artigo 9º da Lei 9.296/1996 - "a gravação que não interessar à prova será inutilizada por decisão judicial, durante o inquérito, a instrução processual ou após esta, em virtude do requerimento do Ministério Público ou da parte interessada".

Reações

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) já havia pedido à Justiça Federal do Distrito Federal que impedisse a destruição do conteúdo obtido pelo suposto grupo hacker. Segundo a entidade, houve "inaceitável intromissão" do ministro da Justiça "por ter tido acesso a informações do inquérito sigiloso e comunicado que as mensagens seriam descartadas".

Para o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo, uma eventual destruição deve ser analisada pelo Judiciário, e não por um órgão administrativo.

A afirmação de Marco Aurélio foi dada ao Broadcast Político, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, após Moro informar a pelo menos um dos alvos do suposto grupo hacker que o material particular obtido seria descartado.

Na quinta feira passada, dia 25, a Polícia Federal informou, em nota, que o conteúdo de mensagens que venham a ser localizadas no material apreendido será preservado, "pois faz parte de diálogos privados, obtidos por meio ilegal". A PF indicou que caberá à Justiça decidir sobre o destino do material, "sendo a destruição uma das opções".

O vice-procurador-geral da República, Luciano Mariz Maia, disse à Coluna do Estadão que "quem decide o futuro das provas é o Judiciário".

O presidente Jair Bolsonaro voltou a dizer nesta terça-feira (30) que o jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept Brasil, é militante e cometeu crime ao divulgar informações que teriam sido obtidas por hackers.

"O primeiro crime é invasão. Foi por terceiros. Quando você pega uma informação dessa e se tivesse informação... Nem sei se tem e nem sei se é verdade o que tiram lá de dentro, e começa a passar para frente. Você está dando repercussão a um crime, pô, você tem que ter a obrigação de desvendar aquele crime", disse ao deixar o Palácio da Alvorada pela manhã.

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Interpelado por repórteres sobre o fato de que não cabe a um jornalista desvendar crimes, Bolsonaro afirmou que Greenwald não é jornalista, mas militante.

"Aqui, o Greenwald é jornalista? Ah tá, o Greenwald é jornalista? Ele é jornalista? Ele é militante. Eles já acharam 100 mil reais com gente deles lá, tá", disse.

O presidente não esclareceu como sabe sobre a suposta existência do valor citado e não respondeu aos questionamentos se está tendo acesso às investigações. "Isso é reservado, tá ok?".

Na segunda-feira, o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, afirmou que as acusações de Bolsonaro a Greenwald estão sendo feitas com base no "entendimento pessoal" do presidente. Ele também não respondeu se Bolsonaro teve acesso ao inquérito sobre hackers presos na Operação Spoofing, que prendeu os acusados de terem acessado os telefones de autoridades, inclusive o do presidente e do ministro da Justiça, Sérgio Moro. Eles teriam repassado as informações obtidas de forma anônima e gratuita ao site The Intercept Brasil.

O presidente Jair Bolsonaro voltou a criticar o jornalista Glenn Greenwald e disse que ele "cometeu um crime" no caso da divulgação de mensagens atribuídas ao ministro da Justiça, Sergio Moro, e outras autoridades. "No meu entender, ele Glenn cometeu um crime. Em qualquer outro país, ele estaria já em uma outra situação. Espere que a Polícia Federal chegue realmente, ligue os pontos todos", disse Bolsonaro nesta segunda-feira, 29.

Em depoimento, Walter Delgatti Neto afirmou que repassou conversas da Lava Jato ao editor do The Intercept de forma não remunerada. O presidente Jair Bolsonaro, no entanto, colocou dúvidas nessa versão.

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"No meu entender, isso teve transações pecuniárias. A intenção aí é sempre atingir a Lava Jato, atingir o Sergio Moro, a minha pessoa, tentar desqualificar e desgastar. invasão de telefone é crime, ponto final", afirmou. "Não pode se escudar 'sou jornalista'. Jornalista tem que fazer seu trabalho. Preservar o sigilo da fonte, tudo bem. Agora, uma origem criminosa o cara vai preservar, o crime invadindo a República, desgastando o nome do Brasil lá fora", disse Bolsonaro.

O artigo 5º da Constituição Federal estabelece que "é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional".

Liberdade de expressão

No final de semana, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) criticou em seus canais nas redes sociais a declaração do presidente que levantou a possibilidade de uma prisão de Greenwald.

"Ao ameaçar de prisão um jornalista que publica informações que o desagradam, o presidente Bolsonaro promove e instiga graves agressões à liberdade de expressão. Sem jornalismo livre, as outras liberdades também morrerão. Chega de perseguição", escreveu a Abraji na postagem.

Os quatro presos na Operação Spoofing sob suspeita de terem invadido celulares de centenas de autoridades, entre elas o ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) e o procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol, serão ouvidos na próxima quarta-feira, 30, em uma audiência de custódia em sigilo com o juiz Vallisney de Oliveira, da 10ª Vara Federal. O encontro está marcado para às 10h.

Na sexta feira, 26, o magistrado determinou a prorrogação da prisão temporária de Walter Delgatti Neto, o "Vermelho", Danilo Cristiano Marques, Gustavo Henrique Elias Santos e Suelen Priscila de Oliveiras. Os quatro estão detidos desde a última terça-feira, 23.

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Em sua decisão, o magistrado indicou que a continuidade das investigações seria necessária por conta das informações dadas pelos investigados nos interrogatórios. Em depoimento à PF revelado pela GloboNews, Walter confessou o crime.

O magistrado apontou ainda que se soltos, os investigados poderiam "apagar provas", "fazer contato com outros envolvidos" e "prejudicar o inquérito policial de algum modo".

Vallisney também destacou que a investigação ainda dependia de trabalho técnico pericial que demandaria mais alguns dias para ser concluído. A previsão é que nesta Segunda-feira, 29, a PF, por meio do Instituto Nacional de Criminalística, finalize as análises dos equipamentos de informática apreendidos na casa de Delgatti.

Após retornar ao Brasil, a ex-deputada federal Manuela D'Ávila (PCdoB-RS) deve prestar depoimento sobre a Operação Spoofing, informou sua defesa neste domingo, 28. A candidata à vice na chapa de Fernando Haddad (PT) na disputa presidencial do ano passado deve voltar de viagem em até 15 dias.

Segundo o advogado Alberto Toron, ela saiu do País no dia 23 de junho para fazer um curso na Universidade de Edimburgo, no Reino Unido. Toron afirmou que colocará Manuela à disposição das autoridades para "prestar todos os esclarecimentos que dela forem solicitados". "Assim que ela chegar no Brasil, ela prestará depoimento na data em que a autoridade determinar", disse.

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Na semana passada, Walter Delgatti Neto, conhecido como "Vermelho", disse em depoimento à Polícia Federal que fez contato com o jornalista Glenn Greenwald, do The Intercept Brasil, por meio de Manuela. Delgatti Neto foi um dos presos na Operação Spoofing, suspeito de ter hackeado telefones de autoridades.

Em nota, Manuela disse que, em maio, seu aplicativo Telegram foi invadido e confirmou que repassou ao "invasor" do seu celular o contato de Greenwald. Desde o início de junho, o site The Intercept Brasil, cofundado pelo jornalista americano, tem divulgado trocas de mensagens entre o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e procuradores da força tarefa da Operação Lava Jato.

A defesa de Manuela afirma que a ex-deputada não tomou parte na ação do suposto hacker. "Ela não teve envolvimento nenhum com apoio financeiro (a Delgatti Neto) ou coisa parecida. Manuela não tem preocupação alguma, apenas preocupação em dizer a verdade", afirmou Toron. "Ela simplesmente indicou o jornalista Glenn e se retirou do cenário".

O líder do PCdoB na Câmara, o deputado federal Orlando Silva (SP), disse que o partido está "absolutamente solidário a Manuela". O parlamentar ressaltou que, desde a sexta-feira, todos os líderes da legenda manifestaram seu apoio por meio das redes sociais. "Manu fez o que qualquer pessoa séria faria. Infelizmente, a razão perdeu espaço no Brasil", disse.

Silva afirmou ainda que espera que a invasão ao celular de Manuela seja explicada. O líder do PCdoB também cobrou que Sérgio Moro e o procurador da República Deltan Dallagnol ofereçam seus celulares para perícia.

Silva afirmou também que já há um requerimento pronto para convocar Moro a prestar esclarecimentos aos parlamentares sobre a Operação Spoofing. Na quinta-feira, 25, o ministro da Justiça avisou a autoridades que tiveram celulares hackeados que o material obtido de maneira ilegal seria destruído.

Para o parlamentar, a atitude do ministro seria uma "ilegalidade flagrante" e configuraria desrespeito ao artigo 325 do Código Penal, que versa sobre quebra de sigilo funcional. "Como (Moro) teve acesso a inquérito sigiloso? Esse é o domínio do Judiciário e da Polícia Federal", disse Silva. "Pior, se teve acesso enquanto autoridade e servidor público, não poderia quebrar o sigilo. Queremos ouvi-lo".

Segundo o líder do PCdoB, o partido vai conversar com lideranças partidárias para decidir se a convocação de Moro será para uma audiência no Plenário ou na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). "Vamos trabalhar para ser uma convocação com apoio de todos os partidos", afirmou. "Não é assunto da esquerda, nem da oposição. Queremos o respeito à Constituição e as leis".

A reportagem apurou na última quinta-feira que o presidente do Superior Tribunal de Justiça, João Otávio Noronha, e o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, receberam contatos de Moro sobre a operação da PF.

Neste sábado, 27, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que a decisão sobre uma possível destruição de mensagens não cabe a Moro. "O Moro não fará nada que a lei não o permita fazer. Agora, foi uma invasão criminosa", disse.

O hacker Walter Delgatti Neto, que confessou ter invadido celulares de centenas autoridades do País, incluindo o presidente Jair Bolsonaro, afirmou que o conjunto das mensagens extraídas nos celulares de autoridades encontra-se guardado por terceiros no exterior. A informação está em um documento, assinado pela defesa de Delgatti, obtido pela reportagem.

"Para todos os fins, registra, por pertinente, que o conjunto das informações está devidamente resguardada por fiéis depositários, nacionais e internacionais", diz o documento entregue pelos advogados Fabrício Martins Chaves Lucas e Gustavo Delgado Barros.

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Em outro trecho da nota, Delgatti Neto diz espantar-se com "a fragilidade do sigilo no Brasil", sugere melhoria nos sistemas de comunicação nacional e "convida a uma regulamentação e à transparência quanto ao acesso e o uso de ditas redes de informação pelo poder público, em plena defesa do melhor interesse público, respeitados os princípios fundamentais da Constituição Federal, incluídos defesa da Cidadania, da dignidade da pessoa humana os valores do trabalho e da livre iniciativa".

Por meio do documento entregue pela defesa, Delgatti Neto afirma "que falhas no aplicativo Telegram e de outros aplicativos online, a bem de direitos individuais e do interesse público, devem ser recorrentemente testadas pelos serviços online, pelos agentes da fiscalização pública, bem como, por seus usuários."

A defesa do hacker ressaltou, em outro trecho, que seu cliente atualmente não está filiado a agremiações político partidárias. "É desinteressado em política institucional, detém plena consciência que o Estado Democrático de Direito é conquista irreversível da sociedade brasileira e o devido processo legal plenamente assegurado a cada indivíduo".

Na semana passada, no entanto, constava no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que Delgatti Neto era filiado ao DEM. Diante disso, o partido informou que o expulsaria. Até a tarde deste domingo, 28, o nome dele permanecia na lista de filiados ao DEM de Araraquara, ainda segundo o site do TSE. Delgatti Neto também diz que não reconhece o apelido de "Vermelho", e que tal denominação "jamais" foi aplicada a ele.

Preso desde terça-feira, 23, junto com outras três pessoas, Walter teve a prisão temporária prorrogada na sexta-feira, 26, por decisão da 10.ª Vara Federal de Brasília. A previsão é que nesta segunda a PF, por meio do Instituto Nacional de Criminalística, finalize as análises dos equipamentos de informática apreendidos na casa de Delgatti.

O Ministério Público Federal, assim como a PF, entendeu que a prorrogação da prisão era necessária para que o grupo não alterasse "elementos de provas em análise e outras que dependem de cumprimento de ordem judicial já deferidas pela décima vara". Além disso, a PF, alegou precisar colher "novos elementos de provas" e disse não saber ainda "a real dimensão das invasões praticadas".

O uso do conteúdo de mensagens obtidas pelos presos na Operação Spoofing, da Polícia Federal, em outros processos, ainda dependerá de uma longa discussão na Justiça, segundo o entendimento de pessoas envolvidas no caso. Mesmo que tenham sido obtidas de forma ilícita, por meio de ataques virtuais, juristas consultados pelo Estado afirmaram que a lei permite aproveitar provas quando o objetivo é a busca pela absolvição ou para permitir que algum preso ganhe liberdade. A utilização de material obtido por meio de "hackeamento", no entanto, seria inédita.

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) solicitou nesta sexta-feira, 26, à 10.ª Vara Criminal Federal que o material capturado em contas no Telegram de autoridades não seja destruído, contrariando a sugestão do ministro da Justiça, Sérgio Moro. A entidade afirma que a integridade do material é importante como garantia do exercício de defesa.

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Um ministro do Supremo Tribunal Federal, ouvido reservadamente pela reportagem, afirmou que mesmo réus em outros processos podem solicitar - e até utilizar em sua defesa - as mensagens trocadas por pessoas que foram vítimas de ataque virtual. Ele reconheceu, porém, que a questão é controversa na Corte.

Em recurso apresentado à Segunda Turma do STF, a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cita as supostas mensagens trocadas entre Moro e integrantes da Lava Jato no pedido de suspeição do ex-juiz. A análise do habeas corpus foi interrompida no mês passado e os ministros não chegaram a discutir se vão considerar o material obtido pelos hackers. A Procuradoria-Geral da República já se manifestou contra.

O pedido da OAB para que as mensagens não sejam destruídas será analisado pelo juiz Vallisney de Oliveira, que autorizou a prisão dos quatro suspeitos pelos ataques virtuais. Segundo interlocutores, o entendimento do magistrado, em termos gerais, é de que provas ilícitas devem ser descartadas, mas ele ainda deve analisar o caso concreto relacionado às mensagens apreendidas pela PF.

Para o ex-ministro da Justiça Torquato Jardim, o juiz deve permitir que a defesa de um réu tenha acesso caso um fato de conhecimento público possa favorecê-la. "Tornada pública a notícia de algo que seja relevante à defesa, o juiz é obrigado a abrir vista aos réus para que se complete o rito do devido processo legal e da ampla defesa com todos os recursos pertinentes", afirmou Jardim.

A opinião é compartilhada pelo criminalista Alberto Toron, que entende ser possível utilizar a prova emprestada no caso dos hackers. "A defesa no processo penal não sofre as mesmas limitações que a acusação", disse ele, que tem entre seus clientes políticos como o deputado Aécio Neves (PSDB-MG) e a presidente cassada Dilma Rousseff (PT).

Critério

Mesmo quem defende essa possibilidade aponta ser preciso limitar o acesso a pontos determinados das mensagens capturadas pelos hackers, sem o chamado "fishing", que, no jargão de advogados, significa analisar todo o conteúdo para só então "pescar" o que poderia ser útil.

Moro argumentou, no entanto, que materiais obtidos por crimes de hackeamento não teriam utilidade jurídica e, além disso, o mero exame dos conteúdos significaria uma nova violação da privacidade das vítimas. Nesta quinta-feira, ao comunicar autoridades de que haviam sido alvo dos ataques, ele disse que o material seria descartado.

A Polícia Federal afirmou, em nota, que cabe à Justiça, "em momento oportuno, definir o destino do material, sendo a destruição uma das opções". O Estado apurou que a nota foi divulgada a pedido de Moro, a quem a PF é subordinada, como forma de esclarecer o assunto.

A ex-deputada Manuela D'Ávila afirmou, por meio de nota, nesta sexta-feira, 26, ter repassado o contato do hacker Walter Delgatti Neto, o "Vermelho", ao jornalista Glenn Greenwald. Em depoimento revelado pela GloboNews, "Vermelho" relatou que entrou em contato com a ex-parlamentar e chegou a enviar um áudio de conversas entre procuradores para convencê-la de que tinha o material. Em seguida, o editor do The Intercept teria entrado em contato.

Manuela afirma que no dia 12 de maio, foi "comunicada pelo aplicativo Telegram de que, naquele mesmo dia", seu "dispositivo havia sido invadido no Estado da Virginia, Estados Unidos". "Minutos depois, pelo mesmo aplicativo, recebi mensagem de pessoa que, inicialmente, se identificou como alguém inserido na minha lista de contatos para, a seguir, afirmar que não era quem eu supunha que fosse, mas que era alguém que tinha obtido provas de graves atos ilícitos praticados por autoridades brasileiras".

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"Sem se identificar, mas dizendo morar no exterior, afirmou que queria divulgar o material por ele coletado para o bem do país, sem falar ou insinuar que pretendia receber pagamento ou vantagem de qualquer natureza", relata.

A ex-deputada diz que, pela invasão do celular, imaginou "que se tratasse de alguma armadilha montada por adversários políticos". "Por isso, apesar de ser jornalista e por estar apta a produzir matérias com sigilo de fonte, repassei ao invasor do meu celular o contato do reconhecido e renomado jornalista investigativo Glenn Greenwald".

"Desconheço, portanto, a identidade de quem invadiu meu celular, e desde já, me coloco a inteira disposição para auxiliar no esclarecimento dos fatos em apuração. Estou, por isso, orientando os meus advogados a procederem a imediata entrega das cópias das mensagens que recebi pelo aplicativo Telegram à Polícia Federal, bem como a formalmente informarem, a quem de direito, que estou à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos sobre o ocorrido e para apresentar meu aparelho celular à exame pericial", afirma.

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) solicitou à Justiça Federal do Distrito Federal que impeça a destruição do conteúdo obtido de maneira ilícita por um suposto grupo hacker preso na terça-feira, 23. A OAB afirma que houve "inaceitável intromissão" do ministro da Justiça, Sergio Moro, por ter tido acesso a informações do inquérito sigiloso e comunicado que as mensagens seriam descartadas.

"É certo que, se o inquérito é mantido sob sigilo, não cabe ao Ministro da Justiça ter acesso aos dados, quanto menos interferir na sua utilização e destino", afirma a OAB no requerimento, apresentado à 10ª Vara da Justiça Federal em Brasília, em que pede para ingressar no inquérito da Operação Spoofing como assistente.

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A ordem diz que o objetivo é pedir "medidas necessárias para a proteção da cadeia de custódia das informações e para garantia de amplo acesso dos advogados aos elementos e prova".

A ordem fundamenta o pedido com base em notícias de que Moro teria informado a autoridades também atingidas pela invasão que o material capturado pelo suposto grupo de hackers seria destruído, sob argumento de preservação da identidade das vítimas. A reportagem confirmou nesta quinta-feira a informação.

"Qualquer intromissão do Ministro da Justiça é manifestamente imprópria diante da exclusiva competência do Poder Judiciário para decidir sobre o destino dos materiais coletados", diz a OAB.

A entidade diz, também, que há um risco de atentar contra a competência do Supremo Tribunal Federal. A corte, segundo a OAB, "pode eventualmente ser chamado a apreciar os fatos, uma vez que há possíveis autoridades atingidas pela invasão sujeitas a prerrogativa de foro, como no caso de ministro do Superior Tribunal de Justiça".

"Trata-se, portanto, de inaceitável intromissão de órgão do Poder Executivo na esfera de competência do Poder Judiciário, em direta afronta à administração da justiça e ao pleno exercício do direito de defesa", conclui a OAB.

Moro já negou ter tido acesso a uma lista com nome de autoridades vítimas da invasão de celulares.

Advogados dos quatro suspeitos de terem invadido celulares de pelo menos 1.000 pessoas, entre as quais o presidente Jair Bolsonaro, já teriam sido comunicados pela Polícia Federal que, entre hoje e amanhã, será expedido a prorrogação da prisão temporária de todos os presos.

A avaliação da PF, após ouvir os quatro presos, é de que se trata de um grupo "extremamente preparado e perigoso e que ainda não se esgotaram todas as suspeitas que ainda precisam ser sanadas pela PF", segundo avaliação dos investigadores.

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O inquérito é mantido em sigilo e está sendo conduzido pelo delegado Luiz Flávio Zampronha, que, em 2005 e 2006, presidiu o inquérito do mensalão.

Na tarde desta sexta-feira, 26, o advogado Ariovaldo Moreira, que defende dois dos presos, admitiu que não conseguirá soltar seus clientes e que vai entrar com pedido de revogação da prisão.

Ariovaldo é advogado do DJ Gustavo Henrique Elias Santos e da sua mulher, Suelen Priscila Oliveira. Além deles, foram presos Walter Delgatti Neto e Danilo Marques.

"Estou convicto da inocência dos meus clientes e que eles não se envolveram nessa empreitada criminosa", disse o advogado.

O celular do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), sofreu uma tentativa de invasão entre o fim de abril e o início de maio. O período coincide com o qual o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, foram alvo de ataques virtuais do grupo preso pela Polícia Federal na Operação Spoofing.

Alexandre de Moraes foi informado pelo próprio Telegram que havia sido vítima de uma "tentativa frustrada" de invasão do aplicativo. O ataque não teve sucesso por ausência da senha de verificação dupla, que possibilitasse acesso ao login.

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Após a tentativa de invasão, o ministro apagou o aplicativo, que pouco usava.

O grupo de hackers atingiu ainda o presidente da República, Jair Bolsonaro, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM), e milhares de pessoas.

No caso de Bolsonaro, os investigadores já sabem que a tentativa de acessar os dados no aplicativo Telegram foi bem-sucedida e ocorreu neste ano. O conteúdo das mensagens, contudo, não será analisado pela PF, mas encaminhado à Justiça Federal. No Palácio do Planalto, o fato é considerado crime de segurança nacional.

A partir de uma espécie de central de grampos montada em Araraquara, no interior de São Paulo, presos na Operação Spoofing tentavam acessar conversas privadas dos alvos. Nem todas as autoridades tiveram mensagens capturadas ou mesmo os celulares efetivamente invadidos, segundo as investigações preliminares da PF. Rodrigo Maia, por exemplo, afirmou que não utiliza o aplicativo Telegram, meio usado para invadir as contas das vítimas.

Bolsonaro disse não estar preocupado e que os hackers "perderam tempo" ao o escolherem como alvo. "Sempre tomei cuidado nas informações estratégicas. Essas não são passadas por telefone. Não estou nem um pouco preocupado se, porventura, algo vazar do meu telefone, não vão encontrar nada que comprometa. Perderam tempo comigo", afirmou o presidente durante visita a um colégio militar em Manaus. A informação de que o celular de Bolsonaro estaria entre os hackeados foi antecipada nesta quinta-feira, 25, pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Penas

Inicialmente, os quatro presos são investigados pelos crimes de invasão de dispositivos informáticos e interceptações telefônicas, que prevê pena máxima de 3 anos e 4 meses. Caso também sejam enquadrados na Lei de Segurança Nacional, como defendem integrantes do Planalto, a punição pode chegar a 15 anos de prisão.

A lista de autoridades alvo do grupo também inclui o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), José Otávio Noronha, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, além de pelo menos 25 membros do Ministério Público Federal. Ainda há dois ministros de Bolsonaro, Sergio Moro, da Justiça e Segurança Pública, e Paulo Guedes, da Economia. Nem todas as vítimas foram identificadas.

Modus operandi

Cada um dos quatro presos pela PF teve um envolvimento no crime. Os investigadores já sabem que o cabeça é Walter Delgatti Neto, o "Vermelho". Ele admitiu em depoimento ser responsável pelas invasões e ter repassado ao jornalista Glenn Greenwald, fundador do site The Intercept Brasil, o conteúdo das interceptações de autoridades, conforme revelou nesta quinta o Estado.

De acordo com a PF, Delgatti Neto utilizava celulares e computadores de alta tecnologia para acessar as contas de aplicativos de conversas. A tática consistia em aproveitar uma falha no sistema de operadoras de telefonia que permite o acesso à caixa postal sem a necessidade de senha. A PF informou ter enviado nesta quinta um ofício à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) sobre as vulnerabilidades encontradas no sistema de telefonia no País.

Mesmo após a informação de que Bolsonaro foi alvo do ataque virtual, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmou que por ora não há previsão de mudar procedimentos de comunicação na Esplanada.

A exemplo de Bolsonaro, Onyx mantém o número que usava antes de assumir o cargo. Eles se recusam a utilizar o aparelho criptografado oferecido pelo Gabinete de Segurança Institucional porque preferem falar pelo WhatsApp, que, para integrantes da área de segurança do governo, apresenta mais riscos.

O Terminal de Comunicação Seguro (TCS), desenvolvido pela Agência Brasileira de Inteligência para proteger informações trocadas entre autoridades, só permite comunicação com aparelhos similares. O próprio ministro do GSI, Augusto Heleno, usa o WhatsApp.

Onyx afirmou ainda que o assunto deve ser discutido em uma reunião ministerial prevista para a próxima terça-feira, caso haja alguma nova recomendação da Abin ou do Ministério da Justiça. "O WhatsApp a gente usa regularmente, quase todos (os ministros). Até porque é o (aplicativo) mais usado por toda a sociedade", disse, ressaltando ter "zero preocupação" com eventuais vazamentos.

Em nota, o GSI disse que cabe às autoridades "optar pelo equipamento e operá-lo conforme suas necessidades funcionais". "O TCS é móvel, possui funções de chamada de voz e troca de mensagens e arquivos criptografados com algoritmos de Estado", afirmou.

A Polícia Civil apresentou, na manhã desta sexta-feira (26), a prisão de Marcos Antonio dos Santos Maia, vulgo Panqueca, de 61 anos, que tem a fama de ser o 'maior arrombador de residências da Região Metropolitana do Recife'. Marcos Antonio foi localizado e na quinta-feira (25) e acabou também sendo autuado em flagrante por resistência à prisão e lesão corporal.

O delegado Eronides Meneses, da Delegacia de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DPCRICI), começou a investigar o caso após uma vítima registrar o furto de uma televisão e um notebook. "Tentamos rastrear o notebook e a televisão, que estava conectada na Netflix, mas sem sucesso. Então pegamos as imagens e fomos atrás do criminoso", destaca Eronides.

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O suspeito já estava identificado por ter sido preso em outubro de 2018 pela Delegacia de Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, pelo mesmo tipo de crime. Panqueca estava em liberdade condicional.

No momento da prisão, o idoso estava muito agressivo, praticando lesão corporal contra policial. Ele também se recusou a delatar os receptadores dos itens furtados.

A Polícia Civil tem ao menos 20 boletins de ocorrências de práticas de arrombamento do idoso. "São de vários bairros do Recife. Era aleatório. Apartamentos, casas... qualquer residência ele conseguia arrombar, entrar facilmente e sair com aquela mochila tradicional preta que caberia uma tv de até 50 polegadas", diz o delegado.

Marcos Antônio já foi encaminhado ao Centro de Observação e Triagem (Cotel), em Abreu e Lima, no Grande Recife. A polícia solicita que outras vítimas compareçam à delegacia para formalizar outros inquéritos.

Em entrevista à rádio Jovem Pan , o procurador da República e líder da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, afirmou que as palestras que realiza pelo Brasil a convite de empresas privadas são "legais e admitidas pela Constituição".

O procurador também falou sobre a possibilidade de as primeiras mensagens vazadas pelo site The Intercept gerarem suspeição sobre a atuação do então juiz federal Sergio Moro no julgamento dos processos da Lava Jato.

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De acordo com ele, um juiz só pode ser considerado suspeito se for amigo íntimo de uma das partes ou quando tiver interesse pessoal nos processos. "Nunca fomos amigos, eu e o ministro Moro. Nunca frequentei sua casa nem ele a minha, nunca fomos a aniversários um do outro, não somos íntimos", falou sobre a primeira hipótese, limitando-se a dizer que Moro julgou muitos processos sem conexão entre si para que fique provado interesse pessoal em algum deles.

Palestras

De acordo com o procurador, a maior parte de suas palestras é gratuita. Ele também disse que as palestras têm o propósito de serem "educativas, falar de combate à corrupção e de cidadania".

A manchete da Folha de S. Paulo desta quinta-feira, 25, traz a informação de que Dallagnol fez uma palestra remunerada no valor de R$ 33 mil e gravou um vídeo institucional para a empresa de tecnologia Neoway, citada em acordo de delação em caso de corrupção na força-tarefa da Lava Jato, mostram mensagens obtidas pelo site The Intercept Brasil analisadas em conjunto com o jornal. Na ocasião, Dallagnol não sabia que a Neoway havia sido citada no âmbito da Lava Jato e manifestou preocupação sobre a palestra concedida à empresa.

A jornalista Vera Magalhães, colunista do jornal O Estado de S. Paulo, perguntou a Dallagnol, na entrevista da rádio, se, independentemente da questão legal envolvendo os pagamentos pela Neoway, é papel de um agente público se envolver financeiramente com empresas privadas.

Dallagnol respondeu que sua "missão" ao fazer as palestras é "educar a sociedade sobre a corrupção e promover a Operação Lava Jato na sociedade".

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, avisou a autoridades que tiveram celulares hackeados que o material obtido de maneira ilegal será destruído. Moro entende que as mensagens não devem sequer ser examinadas. Apesar da posição externada pelo ministro, o descarte de materiais só pode ser feito por decisão judicial.

O presidente do Superior Tribunal de Justiça, João Otávio Noronha, foi um dos avisados por Moro. O ministro da Justiça ligou também para o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, informando que pelo menos um integrante da Corte foi alvo, mas ele não. O jornal O Estado de S. Paulo apurou que nove dos 11 ministros não foram avisados por Moro - Edson Fachin e Alexandre de Moraes não responderam a mensagens da reportagem.

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Na avaliação de Moro, materiais obtidos por crimes de hackeamento não teriam utilidade jurídica e, além disso, o mero exame dos conteúdos significaria uma nova violação da privacidade das vítimas.

A Polícia Federal afirmou, em nota, que as investigações "não têm como objeto a análise das mensagens supostamente subtraídas de celulares invadidos" e, por isso, o "conteúdo será preservado". O órgão reconhece que cabe à Justiça, "em momento oportuno, definir o destino do material, sendo a destruição uma das opções". O Estado apurou que a nota foi divulgada a pedido de Moro, a quem a PF é subordinada, como forma de esclarecer o assunto.

O Código de Processo Penal prevê que provas declaradas ilícitas devem ser separadas dos autos e inutilizadas. No entanto, nem Moro nem a PF podem, de maneira unilateral, destruir qualquer tipo de prova. Para haver a destruição, são necessárias solicitação e autorização judicial. No caso, o responsável é o juiz Vallisney Oliveira, da 10.ª Vara da Justiça Federal.

'Cautela'

O ministro do Supremo Marco Aurélio Mello disse que órgão administrativo não pode ordenar destruição de material. "Isso aí é prova de qualquer forma. Tem de marchar com muita cautela. O ideal seria ter o crivo realmente de um órgão do Judiciário. E não simplesmente decidir no campo administrativo que poderá haver destruição de provas", afirmou o ministro ao Estadão/Broadcast.

Outro ministro do Supremo questionou o fato de Moro ter acesso ao inquérito, quando apenas o juiz e o delegado deveriam ter conhecimento do conteúdo. Esse ministro acrescenta ainda que, como há pessoas com prerrogativa de foro privilegiado citadas, o caso deve ser transferido para o Supremo, a quem cabe avaliar onde o processo deve tramitar.

Para o especialista em Direito Penal e Processo Penal pela PUC-SP Gustavo Polido, a destruição de provas sem o devido processo legal pode levar à infração de três artigos do Código Penal. "As mensagens representam a materialidade delitiva. Mesmo que elas não possam ser usadas para condenar alguém, já que são frutos de ato ilícito, o direito penal brasileiro admite que elas possam ser usadas para inocentar réus. Sua destruição impede o trabalho da Justiça."

A possibilidade de destruição de materiais obtidos de maneira ilegal vem sendo defendida por Moro desde que o site The Intercept Brasil começou a publicar reportagens com base em mensagens supostamente trocadas por ele e o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato em Curitiba. As mensagens são utilizadas pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para apontar suspeição do ex-juiz para conduzir processos contra o petista. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Preso sob suspeita de hackear os celulares do ministro da Justiça, Sérgio Moro, do coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, o procurador da República Deltan Dallagnol, e de autoridades da cúpula dos três Poderes, Walter Delgatti Neto, o Vermelho, mantém um perfil no Twitter com publicações de diversas críticas aos alvos dos ataques virtuais.

A conta de Vermelho na rede social ficou inativa de 2011 até maio deste ano, dias antes da primeira divulgação de conversas atribuídas a Moro e a procuradores da Lava Jato pelo site The Intercept Brasil, em 9 de junho.

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"Sérgio Moro, assume tudo logo, colabora com a Justiça, conta tudo o que sabe", postou o perfil atribuído a Vermelho, logo após as mensagens vazadas começarem a ser divulgadas. "Cada dia que passa está ficando mais ridículo sua defesa apresentada. A casa caiu, tampar o sol com a peneira não vai adiantar", escreveu.

Além de reproduzir notícias sobre as supostas conversas do então juiz, a conta vinculada a Vermelho publicou piadas sobre o caso e pedidos para que o ministro renunciasse ao cargo. "Será que o Moro vai ficar aí?", escreveu em resposta ao próprio titular da Justiça, que havia compartilhado uma notícia sobre uma penitenciária federal.

Em algumas publicações, a conta usou a hashtag #JuizLadrão, em referência à declaração do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ). Durante audiência de Moro na Câmara para dar explicações sobre as mensagens, o parlamentar chamou o ministro de "juiz ladrão".

"Deve ser difícil ter que fazer coisas que você não queria fazer, né?", tuitou o perfil de Vermelho em resposta à publicação de Moro em que o ministro da Justiça aparece em fotografia ao lado do presidente Jair Bolsonaro na final da Copa América. "Tentar maquiar tudo que está acontecendo? Fingir que tudo está bem? Dá para ver no seu rosto que nada está bem, deprimente isso!"

Na conta associada ao hacker ainda há críticas e ataques a Bolsonaro. Há retuítes de publicações de perfis que chamam o presidente de "cretino" e fazem ironias. "Jair Bolsonaro sendo vaiado por uma torcida que pagou 600 talkeys no ingresso? Por essa eu não esperava", diz uma das mensagens replicadas.

Em 20 de julho, foi publicada na conta, sem legenda, uma montagem em que o rosto do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), aparece com uma coroa, no corpo do rei Luiz I da Hungria. Vermelho se filiou ao DEM em 2007. O presidente do partido e prefeito de Salvador, ACM Neto, disse que pediu nesta quinta-feira, 25, a expulsão de Walter Vermelho da legenda.

'Muito grave'

Em Araraquara, no interior paulista, Otília Gomes Delgatti, avó de Vermelho, ainda não se recuperou do susto. Na terça-feira passada, quatro viaturas da Polícia Federal cercaram sua casa. Os agentes procuravam seu neto. "Acho que ele fez uma coisa muito grave, se for verdade", afirmou dona Otília, de 82 anos.

Vermelho foi localizado e preso na cidade de Ribeirão Preto - em depoimento, ele confessou ter hackeado o telefone de Moro e de outras autoridades.

O aparato policial na casa de dona Otília chamou a atenção dos vizinhos, pouco acostumados ao movimento no pacato bairro residencial. Ela descansava quando os agentes chegaram. "Reviraram a casa inteira, procuraram até no quintal e na casa do cachorro", relatou.

"Eles foram educados, até gentis comigo. Foram ao quarto, ao banheiro, procuraram em tudo, mas meu neto, que eles procuravam, não estava. Ele saiu daqui em abril e eu esperava que ele voltasse. Neto dava notícias, dizia que estava em São Paulo. Só soube da prisão depois que a polícia foi embora. Ele estava em Ribeirão Preto, em um hotel. Eu não sabia", afirmou a avó de Vermelho.

Dona Otília, que mora com outro neto, Wisley, irmão de Walter Vermelho, disse ainda que os dois ficaram abalados após a morte do pai, Walter Filho, em novembro do ano passado. "O Waltinho morreu engasgado com comida. Teve um enfarte enquanto comia. Eles ficaram arrasados."

De acordo com dona Otília, seus netos são pouco ligados à mãe, Silvana Aparecida Francisco Delgatti, que mora em um outro bairro de Araraquara. "Era tudo aqui comigo, eu os criei como filhos, a referência deles é esta casa que meu marido me deixou", afirmou. Silvana não foi localizada pela reportagem para comentar a prisão do filho.

A avó contou também que Vermelho sempre foi um rapaz curioso e inteligente. "Ele tinha 12 anos quando veio morar comigo. Eu e meu marido cuidávamos dele. Neto sabia conversar e, que eu saiba, não fazia nada errado. Estão falando muitas coisas. O celular do Moro e do Bolsonaro... Quanta elegância", disse ela.

Otília afirmou ainda não conhecer os outros suspeitos presos. "Vieram aqui, me entrevistaram, mas eu não sabia de nada. Não conheço os outros meninos, o tal de Guto (Gustavo Santos, também preso) nunca veio aqui."

Vermelho levava uma vida que, para ela, era normal. "Ele é muito bom, tinha muitos amigos. Não era casado, então tinha as namoradas por aí." Ela disse que o outro neto, Wisley, procurou um advogado. "Ele disse que em cinco dias o Neto vai estar aqui. Acho que ele volta logo. Vou ficar esperando." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro João Otávio de Noronha, confirmou nesta quinta-feira, 25, que foi informado, por telefone, pelo ministro da Justiça, Sergio Moro, sobre o fato de seu nome aparecer na lista das autoridades hackeadas.

"O ministro do STJ disse que está tranquilo porque não tem nada a esconder e que pouco utilizava o Telegram", afirma, por meio de nota.

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Segundo a Corte, por meio de nota, "o ministro Moro informou durante a ligação que o material obtido vai ser descartado para não devassar a intimidade de ninguém".

"As investigações sobre o caso são de responsabilidade da Polícia Federal, a quem cabe responder sobre o caso", diz.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também foi alvo de ataques virtuais do grupo preso sob suspeita de hackear de autoridades. O nome do deputado está em entre os citados pelos investigados durante depoimentos à Polícia Federal. A informação foi divulgada pela GloboNews e confirmada pelo Estadão/Broadcast. Questionado sobre a invasão, Maia afirmou que não utiliza o aplicativo Telegram, meio usado para invadir as contas das vítimas.

Na lista das vítimas, também consta o presidente do Superior Tribunal de Justiça, ministro João Otávio de Noronha.

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O celular da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, sofreu uma tentativa de invasão do grupo preso sob suspeita de hackear autoridades. A informação foi confirmada pela Procuradoria Geral da República (PGR). Diferentemente de outras autoridades, no caso da Dodge, os invasores não conseguiram ter acesso aos dados. O fato já era sabido na PGR desde maio, e foi identificado pela área de tecnologia de informação do órgão, que vistoriou vários aparelhos depois que integrantes do MPF do Paraná denunciaram as invasões.

Entre os alvos do suposto hacker está até mesmo o presidente Jair Bolsonaro. Ele foi informado pelo Ministério da Justiça, que confirmou a informação em nota oficial na manhã de hoje. Um dos suspeitos, Walter Delgatti Neto, o "Vermelho", também afirmou à PF que um ministro do Supremo está entre as vítimas, de acordo com pessoas que tiveram acesso ao seu depoimento. A reportagem não conseguiu confirmar o nome do ministro.

Além de Walter, outras três pessoas estão presas em Brasília suspeitas de participarem da invasão a celulares de autoridades dos Três Poderes, entre elas o ministro da Justiça, Sergio Moro; procuradores da Lava Jato; o ministro da Economia, Paulo Guedes; e a líder do governo Bolsonaro no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP). As provas foram encontradas em perícias, buscas e apreensões e baseadas em depoimentos dos presos realizados na terça-feira, 23. De acordo com a PF, o número de vítimas pode passar de mil.

"Vermelho", afirmou, segundo pessoas que tiveram acesso ao seu depoimento, que não pediu nenhuma contrapartida financeira ao dar acesso ao material hackeado ao jornalista Glenn Greenwald - conforme antecipou o jornal O Estado de S. Paulo.

No Twitter, Greenwald voltou a reafirmar que não comenta sobre a fonte, mas publicou reportagem em que "Vermelho" afirma ter entregue o material de forma anônima e não remunerada. "Como sempre falamos: 'Em depoimento, Delgatti, um dos quatro presos pela PF, disse que encaminhou as mensagens ao jornalista Glenn Greenwald, fundador do site, de forma anônima, voluntária e sem cobrança financeira'".

A defesa de Glenn, fundador do site The Intercept Brasil, disse, em nota, que "não comenta assuntos relacionados à identidade de suas fontes anônimas".

Dona Otília Gomes Delgatti, de 82 anos, ainda não se recuperou do susto quando, na terça-feira passada, 23, quatro viaturas da Polícia Federal cercaram sua casa, numa esquina da Avenida Santa Inês, na Vila Santa Maria, em Araraquara, interior de São Paulo. Os agentes procuravam seu neto, Walter Delgatti Neto, de 30 anos, acusado de invadir os celulares de autoridades como o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e o próprio presidente Jair Bolsonaro (PSL). "Acho que ele fez uma coisa muito grave, se for verdade", afirmou.

Delgatti foi um dos quatro presos na operação de terça-feira. Ele foi localizado em Ribeirão Preto. Em depoimento, assumiu ter hackeado o telefone de Moro e outras autoridades.

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O aparato policial na casa de Dona Otília chamou a atenção dos vizinhos, pouco acostumados ao movimento no pacato bairro residencial, embora próximo do centro. A senhora descansava quando os agentes chegaram. "Reviraram a casa inteira, procuraram até no quintal e na casa do cachorro", disse.

"Eles foram educados, até gentis comigo. Foram ao quarto, ao banheiro, procuraram em tudo, mas meu neto, que eles procuravam, não estava. Ele saiu daqui em abril e eu esperava que ele voltasse. O Neto dava notícias, dizia que estava em São Paulo. Só soube da prisão depois que a polícia foi embora. Ele estava em Ribeirão Preto, em um hotel. Eu não sabia", afirmou.

Dona Otília, que mora com outro neto, Wisley, irmão de Walter, disse que os dois ficaram abalados após a morte do pai, Walter Filho, no dia 20 de novembro de 2018. "O Waltinho morreu engasgado com comida. Teve um enfarte enquanto comia. Eles ficaram arrasados." Ela tem outro filho, tio de Walter, que trabalha na prefeitura.

Conforme a senhora, seus netos eram pouco ligados à mãe deles, Silvana Aparecida Francisco Delgatti, que mora em outro bairro, o Selmi Dei. "Era tudo aqui comigo, eu os criei como filhos, a referência deles é esta casa que meu marido me deixou", afirmou. Silvana não tinha sido localizada pela reportagem até o início da tarde.

A avó contou que Walter sempre foi um rapaz curioso e inteligente. "Ele tinha 12 anos quando veio morar comigo. Eu e meu marido cuidávamos dele. O Neto sabia conversar e, que eu saiba, não fazia nada errado. Estão falando muitas coisas. O celular do Moro e também do Bolsonaro... quanta elegância!", disse.

A idosa acompanha o noticiário por uma televisão antiga, de tubo. "Já saí na televisão, vieram aqui, me entrevistaram, mas eu não sabia de nada. Eu não esperava nada disso. Não conheço os outros meninos, o tal de Guto (o DJ Gustavo Santos, também preso) nunca veio aqui." Conforme a avó, o neto levava uma vida que, para ela, era normal. "Ele é muito bom, tinha muitos amigos. Não era casado, então tinha as namoradas por aí, corria o trecho passeando." Ela disse que o outro neto, Wisley, chegou a falar com um advogado. "Ele disse que em cinco dias o Neto vai estar aqui. Acho que ele volta logo. Vou ficar esperando."

Vizinhos da família dizem que o rapaz é simpático, mas ninguém sabia da vida privada dele. Muitos não quiseram se identificar. O pintor Sebastião Luiz Filho, de 62 anos, que conhece os Delgatti há 30 anos, disse que o Walter não aparentava nada de errado. "Era um menino bom com as pessoas, tratava todo mundo bem. A avó dele, essa senhora, é uma pessoa boníssima. A molecada, hoje em dia, a gente não sabe quando vai aprontar." Sebastião disse que Neto não aparentava ter dinheiro. "Às vezes ele estava de carro, outras chegava a pé. Ultimamente ele não era visto aqui pelo bairro."

Na delegacia seccional da Polícia Civil de Araraquara nenhum policial quis falar do caso. O delegado seccional substituto Vinícius Moreira disse que o caso está sendo conduzido pela Polícia Federal e que também não falaria sobre a vida pregressa do hacker. O advogado Toni Rogério Silvano Onofre, com escritório próximo da delegacia, disse que foi procurado por um parente de Walter Delgatti. "Foi uma conversa no sentido de acompanharmos o Walter em Brasília e aqui, mas ainda não fechamos. Preciso ver o caso em mais detalhes. Já fizemos casos de hacker e tivemos sucesso", disse.

O ministro da Justiça, Sergio Moro, afirmou, em sua conta no Twitter, nesta quinta-feira, 25, que as "centenas de vítimas" de ataques hacker serão comunicadas pela Polícia Federal ou pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública.

"A vulnerabilidade foi explorada por hackers criminosos e pessoas inescrupulosas. As centenas de vítimas, autoridades ou não, que tiveram a sua privacidade violada por meio de crime, serão identificadas e comunicadas pela Polícia Federal ou pelo MJSP", afirmou.

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Segundo Moro, "ninguém foi hackeado por falta de cautela". "Não se exigia nenhuma ação da vítima. Não havia sistema de proteção hábil. Há uma vulnerabilidade detectada e que será corrigida graças à investigação da Polícia Federal".

As declarações do ex-juiz vêm após a operação Spoofing, que prendeu quatro suspeitos de hackear celulares de autoridades dos três poderes, além de quase mil pessoas. Walter Delgatti Neto, conhecido como ‘Vermelho’, admitiu à Polícia Federal que invadiu os aparelhos.

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