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Sob 'fogo amigo' disparado por auxiliares do presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, tem o seu destino no governo atrelado à resposta que a equipe econômica dará ao Renda Brasil, o programa social do governo que substituirá o auxílio emergencial de R$ 600 e que tem garantido a popularidade do presidente Jair Bolsonaro - mesmo com o aumento das mortes no Brasil pelo coronavírus.

A percepção de fontes que acompanham as negociações, ouvidas sob condição de anonimato, é de que, se for bem e conseguir abrir espaço no teto de gastos (regra que limita o avanço das despesas à inflação) para garantir recursos ao programa, Guedes pode ganhar fôlego e ultrapassar esse momento mais difícil para a equipe econômica desde o início do governo - marcado por pressão para furar o teto de gastos.

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Em declaração dada à CNN, Bolsonaro disse que a saída de Guedes "nunca foi cogitada". Já Guedes, em entrevista a jornalistas na frente do ministério, disse que não teve nenhum ato que sugerisse que ele não devesse confiar em Bolsonaro.

"Existe muita confiança do presidente em mim e minha no presidente", afirmou o ministro. Mas admitiu: "É difícil alguém se sentir à vontade neste cargo".

A estratégia do ministro discutida ontem com o presidente é vincular a discussão do Renda Brasil à proposta para antecipar medidas de ajuste das contas públicas, como forma de cumprir o teto de gasto.

Por isso, o mais provável é que os recursos para o Renda Brasil não estejam definidos no projeto de lei orçamentária que será enviado no fim de agosto. Serão definidos na negociação no Congresso pacote de propostas para desvincular (retirar os "carimbos"), desindexar (remover a necessidade de conceder automaticamente reajustes) e desobrigar o pagamento de parte de despesas no Orçamento - proposta apelidada de "DDD".

Para acelerar a aprovação dessas medidas, que poderiam abrir espaço no teto e aumentar recursos para o Renda Brasil, Guedes se reuniu também com o senador Marcio Bittar (MDB-AC) para discutir a unificação em um único texto das medidas de controle de despesas e acionamento de "gatilhos" do teto de gastos. Bittar é o relator designado da proposta de Orçamento de 2021 e deverá ser indicado pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AC), para a relatoria dessa nova PEC, o que facilitaria a negociação.

Crédito extra

Depois do bombardeio do fim de semana, com rumores até de saída de Guedes, auxiliares do ministro atribuíram a pressão recente à ansiedade provocada pela definição do final da execução orçamentária deste ano, que estaria colocando todos os assuntos no mesmo "balaio de gatos". Os assessores minimizam os atritos e dizem que está tudo bem entre Guedes e Bolsonaro.

Para reforçar o discurso, destacam mensagem do presidente no Twitter afirmando que o governo vai trabalhar com o Congresso para controlar as despesas. Nos bastidores, o presidente cobra, no entanto, mais espaço para as obras e tem estimulado seus ministros "obreiros" a defender mais gastos.

Para diminuir a tensão, o governo desistiu de editar uma medida provisória liberando R$ 5 bilhões para obras. Em vez da MP, será enviado um projeto ao Congresso no mesmo valor: R$ 1,7 bilhão para atender o ministro do Desenvolvimento Social, Rogério Marinho; R$ 2 bilhões para atender a emendas dos parlamentares e R$ 1,3 bilhão para o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas.

O governo queria fazer uma consulta ao STF sobre a inconstitucionalidade da MP, mas viu que não iria conseguir bom resultado. A solução foi se virar para tentar encontrar os valores com remanejamentos de despesas de outros ministérios. 

Após embates entre ministros por mais recursos para bancar obras públicas, o governo prepara uma medida provisória que abre crédito extraordinário de pelo menos R$ 5 bilhões para custear investimentos em infraestrutura e ações indicadas por parlamentares. Os ministérios estão preparando uma lista de obras que podem ser contempladas, mas ainda não há definição.

O acordo foi selado anteontem em conversa do presidente Jair Bolsonaro com ministros e parlamentares, e pouco antes de o presidente aparecer em público, ao lado dos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para defender a manutenção do teto de gastos - mecanismo que limita o avanço das despesas à inflação e que ficou na linha de tiro após a pressão por mais gastos.

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Nas conversas internas, porém, Bolsonaro deu aval ao uso do crédito extraordinário, uma das poucas exceções possíveis para que despesas fiquem livres de qualquer limitação imposta pelo teto. A promessa de liberação dos R$ 5 bilhões foi antecipada pela Coluna do Estadão.

O uso de créditos extraordinários, sob o argumento de estimular a economia no pós-Covid-19, é defendido pelo ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. Em ano eleitoral, ele tem inaugurado uma série de obras em diferentes regiões ao lado de Bolsonaro.

Divisão

Entre R$ 1,5 bilhão e R$ 2 bilhões devem ir para ações do Ministério do Desenvolvimento Regional. A Infraestrutura, do ministro Tarcísio de Freitas, também será contemplada - a pasta pode receber R$ 2,5 bilhões a mais. Tanto Marinho quanto Freitas participaram da reunião de anteontem.

Haverá ainda uma reserva de recursos a ser destinada a obras indicadas diretamente pelos parlamentares, uma forma de contemplar o Centrão e ganhar apoio no Congresso à manobra. Esse espaço para os congressistas deve ser de cerca de R$ 1,3 bilhão. A medida provisória precisará ser validada pelos parlamentares.

Maia, porém, disse ao Estadão que é inconstitucional a estratégia de usar uma medida provisória. Segundo ele, há entendimento do Supremo Tribunal Federal para barrar o uso do instrumento para despesas que não se encaixam no quesito de imprevisibilidade. Se a ampliação dos gastos for uma decisão de governo, de acordo com Maia, seria preciso mandar um projeto de lei para refazer a distribuição dos recursos dentro do Orçamento já em execução.

Técnicos da área econômica e de órgãos de controle também temem ser responsabilizados pela ação. Eles têm dúvidas se bancar obras que já estão em andamento ou ainda serão iniciadas pode ser enquadrado como enfrentamento a efeito econômico da pandemia.

O presidente Jair Bolsonaro defendeu nessa quinta-feira (13) a realização de investimentos públicos em áreas sociais e obras de infraestrutura, mas disse que não existe tentativa de "golpe" para "furar o teto".  A declaração foi dada durante sua live semanal nas redes sociais. 

"O pessoal vem como se tivesse tudo articulado para dar um grande golpe, furar o teto como se alguém estivesse desviando dinheiro. A intenção é de arranjar a mais, em média, R$ 20 bilhões. É água no Nordeste, é saneamento, é revitalização de rios, é Minha Casa Minha Vida", ressaltou.

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Também durante a live, Bolsonaro disse que integrantes do governo debatem mudanças na regra do teto de gastos para que seja possível ampliar recursos para conclusão de obras. 

"A ideia de furar o teto existe, o pessoal debate, qual é o problema? Na pandemia, temos a PEC de Guerra, nós já furamos o teto em mais ou menos R$ 700 bilhões. Dá para furar mais R$ 20 bilhões? Se a justificativa for para o vírus, sem problema nenhum. 'Ah, nós entendemos que água é para essa mesma finalidade'. E a gente pergunta: 'E daí? Já gastamos R$ 700 bilhões, vamos gastar mais R$ 20 bi ou não?'", disse o presidente.

Nessa quarta (12), Bolsonaro fez uma declaração em defesa da emenda do teto de gastos públicos e de uma agenda de responsabilidade fiscal. Ele estava acompanhado pelos presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado Federal, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que também endossaram os temas.   

Aprovada em 2016, a Emenda Constitucional nº 95, que ficou conhecida como PEC do Teto de Gastos, estabeleceu uma limitação para o crescimento dos gastos públicos, que só devem ser reajustados pela inflação ao longo de 20 anos. 

O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira, 12, em pronunciamento no Palácio da Alvorada, que lideranças tanto do Executivo quanto do Legislativo respeitam o teto de gastos e querem a preservação de responsabilidade fiscal. Apesar de presente, o ministro da Economia, Paulo Guedes, não se pronunciou.

Ao lado dos presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP), além de outros ministros do governo com quem esteve reunido antes de discursar, o presidente sustentou que o Brasil está "indo bem" no enfrentamento do novo coronavírus e será um dos países que "melhor reagirá à crise", inclusive econômica.

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"Assuntos variados foram tratados, como privatizações, outras reformas como a administrativa", disse Bolsonaro. "Resolvemos, então, com essa reunião, direcionar as nossas forças para o bem comum daquilo que todos nós defendemos. Queremos progresso e desenvolvimento."

Segundo o presidente, as lideranças do governo federal e do Congresso se empenharão para destravar a economia e "colocar Brasil no local que ele sempre mereceu estar".

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que não vai pautar nenhuma proposta que prorrogue o estado de calamidade pública aprovado em março pelo Congresso em razão da pandemia do novo coronavírus. Ele também defendeu a retomada dos debates sobre despesas públicas, incluindo as propostas de emenda à Constituição que tramitam no Senado sobre gatilhos fiscais e pacto federativo. Maia se reuniu nessa terça-feira (11) com o ministro da economia, Paulo Guedes, e o líder dos partidos de centro, Arthur Lira (PP-AL).

Maia afirmou que não há espaço para flexibilizar o teto de gastos e que todas as despesas precisam estar dentro do teto e do orçamento público brasileiro.
“Se queremos espaço para investimento, espaço para ampliar recursos para a sociedade, não podemos olhar o endividamento público como solução, furar o teto de gastos como solução. Precisamos discutir o teto e seus gatilhos, se avançarmos rapidamente nesse tema, vamos abrir espaço no momento que o Brasil precisa de investimentos privados e públicos”, afirmou Rodrigo Maia.

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O presidente da Câmara considera mais urgente a rediscussão do pacto federativo. "Vamos conversar com o senador Davi Alcolumbre para fazer um grande acordo entre nós. A proposta da CBS (de reforma tributária encaminhada pelo governo, PL 3887/20) é uma ótima proposta, a CBS (que tramita na Câmara e no Senado) vai destravar o crescimento, mas precisamos melhorar a qualidade do gasto público, não tem jeitinho. Não tem esperteza, tem uma realidade”, ponderou Maia.

Maia quer avançar na tramitação do conjunto de propostas de emenda à Constituição do Plano Mais Brasil – PEC Emergencial (186/19), PEC dos Fundos Públicos (187/19) e PEC do Pacto Federativo (188/19), que tramitam no Senado, bem como a PEC 438/18, que cria gatilhos para conter as despesas públicas e preservar a regra de ouro. A proposta inclui 20 medidas para conter despesas e 11 para gerar receitas, que devem ser acionadas quando houver um nível crítico de desequilíbrio entre gastos públicos e arrecadação tributária.

Na avaliação do presidente da Câmara, todas as soluções precisam ser dadas dentro dos gastos que o País já tem, sem que a sociedade pague pelo aumento da dívida brasileira. "Não é possível que um país como o Brasil, cuja arrecadação vai cair 20% a 30%, você não pode cortar despesas, isso não existe e vai inviabilizar cada vez mais as condições do gestor público”, destacou Maia.

Guedes

O ministro Paulo Guedes confirmou que o governo não pretende encaminhar pedido de prorrogação do estado de calamidade pública e defendeu a manutenção da política que limita gastos públicos. Segundo ele, o governo deve estar comprometido com o orçamento.

“Tinha um ministro que dizia que o governo aumenta a chance de reeleição se furar o teto, mas nós temos que nos comprometer dentro do orçamento, enfrentando os desafios das reformas. Essa é a forma pela qual um governo pode dar certo e merece ser reeleito”, afirmou Guedes. “Acreditamos que a reforma do estado é o caminho mais importante”, completou.

Controle de gastos

Líder do chamado "blocão", que reúne sete partidos e o maior número de deputados na Câmara, o deputado Arthur Lira afirmou que os partidos de centro defendem o retorno da política de controle de gastos. “Sempre fomos pela volta à normalidade do teto de gastos e da responsabilidade fiscal ao final do prazo do estado de calamidade. As medidas da Câmara e do Senado precisam andar. A pandemia atrapalhou o calendário das reformas”, disse Lira.

*Da Agência Câmara de Notícias

Às vésperas do envio de proposta de Orçamento da União para 2021 ao Congresso, ministros pressionam para ampliar o limite de gastos desenhado pela equipe econômica. Nos pleitos registrados em documentos obtidos pelo Estadão, eles apontam desde o risco de paralisar atividades de rotina até de inviabilizar o lançamento do Renda Brasil, aposta do presidente Jair Bolsonaro para substituir o Bolsa Família e emplacar uma marca social na sua gestão.

Sob pressão interna para ampliar os gastos como forma de combater os efeitos econômicos da Covid-19, o ministro da Economia, Paulo Guedes, precisa entregar o Orçamento do ano que vem até o dia 31 deste mês. "Em 2021, voltamos à trajetória fiscal e reduziremos drasticamente o gasto", prometeu Guedes, na quinta-feira.

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Os cortes sinalizados pela Economia, no entanto, colocam em risco bandeiras caras ao governo Bolsonaro. Para viabilizar o Renda Brasil, por exemplo, o Ministério da Cidadania pediu, no começo de julho, mais R$ 6 bilhões no Orçamento do próximo ano, de cerca de R$ 36 bilhões.

A pasta comandada por Onyx Lorenzoni aponta que o programa que promete substituir o Bolsa Família exigiria R$ 42 bilhões no primeiro ano. Além do aporte, a Cidadania sugere remanejar R$ 6 bilhões do Benefício de Prestação Continuada (BPC), pago a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda, à nova iniciativa, que deve absorver os cerca de R$ 30 bilhões anuais reservados ao Bolsa Família.

Além da barganha com a Economia, ministros ainda fazem périplo atrás de recursos de emendas parlamentares, que ganharam mais importância após o Congresso passar a controlar uma fatia maior do Orçamento.

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina (DEM), apontou à equipe do Ministério da Economia risco de inviabilizar investimentos no campo, pois a verba reservada ao Seguro Rural cairia para menos da metade, de R$ 1 bilhão, neste ano, para R$ 450 milhões em 2021, segundo a pré-proposta de gastos. A situação se torna dramática, escreveu a ministra a Guedes.

Educação

Como o Estadão revelou no começo de junho, o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub afirmou que a proposta de orçamento para a sua pasta poderia inviabilizar a execução do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), entre outros programas. Pela sugestão mais recente da Economia, os gastos discricionários (não obrigatórios) caem de R$ 22,96 bilhões, em 2020, para R$ 19,05 bilhões, no próximo ano. Weintraub alertou que o ideal seriam R$ 25,68 bilhões.

Somando pagamentos obrigatórios, como da folha de funcionários, o Ministério da Defesa pode ter mais dinheiro em caixa do que a Educação em 2021. Pela proposta da Economia, o orçamento subiria de R$ 73 bilhões, neste ano, para R$ 108 bilhões.

Popular entre apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, também reclama de corte no orçamento previsto para 2021, de R$ 637 milhões para cerca de R$ 250 milhões. Em ofício a Guedes, a ministra pede aumento de R$ 189 milhões nessa verba para evitar o fim de ações de sua pasta.

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações pede R$ 1,85 bilhão a mais aos cerca de R$ 6,5 bilhões propostos para 2021. A pasta perdeu parte de suas funções após a criação do Ministério das Comunicações, mas aponta que o orçamento sugerido coloca em risco o desenvolvimento de serviços digitais para educação, entre outros que seriam importantes para adaptação à nova realidade após a pandemia.

Tido como exemplo de eficiência por Bolsonaro por finalizar obras que estavam travadas, o Ministério da Infraestrutura afirma que os R$ 6,34 bilhões reservados para despesas não obrigatórias são insuficientes para 2021. A pasta quer mais R$ 4,55 bilhões para dar continuidade a várias obras espalhadas nas cinco regiões do País.

O Ministério da Infraestrutura afirmou, em nota, que procurará no Congresso conseguir recursos via emendas parlamentares para que obras e projetos não sejam paralisados.

Os outros ministérios citados afirmaram que a proposta de Orçamento ainda está em discussão.

Questionada sobre as negociações que antecipam o envio da proposta de Orçamento, a Economia disse que os pedidos por mais recursos são normais e acontecem todos os anos. 

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que não vai pautar nenhuma proposta que flexibilize o teto de gastos – mecanismo fiscal aprovado em 2016 que estabelece um limite para os gastos federais para os próximos 20 anos, corrigindo-os pela inflação.

De acordo com o presidente, há uma brutal pressão para desfazer o teto, sobretudo no período da crise econômica provocada pela pandemia de Covid-19. Maia disse que as soluções emergenciais para o pós-pandemia pressionam por aumento do investimento público, pela busca por uma renda básica e pela discussão sobre desonerações, mas ressaltou que todas essas saídas para crise vão na linha contrária da defesa da organização da despesa pública e da melhoria da qualidade do gasto.

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Ele participou do debate “O impacto do custo Brasil na competitividade da indústria e do País” sobre reforma tributária, promovido pela Confederação Nacional da Indústria e pela Folha de S.Paulo.

Segundo Rodrigo Maia, a situação fiscal do País é complexa demais para aumentar receitas, por meio de novos impostos, para poder aumentar as despesas. Na avaliação de Maia, seria cometer o mesmo erro de governos anteriores.

“Nossa situação é muito complexa para aumentar receita e aumentar despesas. A Câmara não votará nenhuma flexibilização do teto de gastos até 1º de fevereiro”, disse o presidente (nesta data se encerra seu mandato na presidência da Câmara).

“Abandonamos a discussão sobre controle de gastos, sobre vinculação do Orçamento (por exemplo), mas temos muita coisa para fazer, e é onde deveríamos estar mais preocupados. Não vamos resolver o problema do pós-pandemia pelo aumento da arrecadação a partir do aumento da carga tributária”, reforçou.

Unificação de impostos

Segundo Maia, é preciso organizar o setor de bens e serviços para retomar o crescimento do País. Ele explicou que o setor está distorcido o que prejudica tanto o setor produtivo e quanto a sociedade. Na avaliação do presidente, é importante a unificação dos impostos estaduais, municipais e federais. Segundo ele, a proposta do governo de unificar os impostos federais vai na mesma linha das propostas que tramitam no Congresso.

“Precisamos garantir um sistema tributário mais simples, com segurança jurídica e eficiência na tributação, agora vamos dar mais um jeitinho criando mais imposto e vamos taxar mais sociedade?”, questionou o presidente.

Maia defendeu que a ampliação da receita ocorra por meio do crescimento econômico e afirmou que não vê espaço entre os deputados para aprovar uma proposta de aumento de impostos. Para ele, a solução é pelas reformas econômicas como as propostas de emenda à Constituição que tramitam no Senado, as reformas administrativa e tributária.

“A sociedade não quer mais impostos. Se você pegar o documento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) sobre gasto público na América Latina, verá que todos os países cometeram o mesmo erro. Temos que cuidar da modernização, não é só cortar despesas, melhorando a eficiência do setor público e aumentando a arrecadação pelo crescimento econômico”, disse o presidente.

Prazo de votação

Em relação ao prazo de votação, Maia afirmou que está otimista com o calendário, mas ressaltou que é preciso organizar as narrativas para convencer empresários, prefeitos, governadores e a própria sociedade da importância da reforma. Segundo ele, muitos setores acreditam que serão prejudicados com a reforma.

Para o presidente, o prazo máximo para aprovar as mudanças no sistema tributário é de 12 meses, pois após esse período o debate vai estar contaminado pelas eleições de 2022.

“Esses debates precisam ser construídos para levar a sociedade o verdadeiro debate, não é simples, porque tem distorções. Se não resolver o ICMS, não vai resolver o principal problema que gera distorções, acho que dá para avançar na Câmara no prazo de 60, 90 dias, mas não dá para definir um prazo. Essa construção da maioria não é tão simples assim”, disse Rodrigo Maia.

*Da Agência Câmara de Notícias

A disputa por mudanças no teto de gastos se transformou numa verdadeira guerra dentro do governo. Tentativas de flexibilizar a regra que amarra o crescimento das despesas à variação da inflação têm partido de integrantes do próprio Executivo e servido para encorajar parlamentares e entidades na defesa por mais gastos. Lideranças do Congresso já se articulam para buscar uma alternativa para elevar investimentos em infraestrutura neste e nos próximos anos. Em outra frente, uma coalizão de 230 organizações da sociedade civil se movimenta para derrubar o teto como resposta à pandemia da Covid-19.

A investida mais recente para burlar o teto teve o apoio da própria equipe econômica. Com aval do Ministério da Economia, o governo tentou emplacar no Congresso, sem sucesso, um drible na regra fiscal ao propor que parte dos recursos do Fundeb, o fundo para educação básica (que é livre do alcance do teto), fosse redirecionado para o Renda Brasil - novo programa social que o presidente Jair Bolsonaro pretende lançar em agosto em substituição ao Bolsa Família.

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Até então, a equipe econômica mostrava coesão em defesa do que é chamado de teto "puro", a permanência da regra sem alterações como âncora da política econômica para o crescimento e manutenção dos juros baixos pelo Banco Central por um período mais prolongado. O movimento foi observado com atenção pelo mercado financeiro, que vê crescer o risco de mudança de rumos na política fiscal.

Depois da proposta do Fundeb, uma nova tentativa de drible partiu da Junta de Execução Orçamentária (JEO), colegiado responsável por decisões orçamentárias e composto pelos ministros da Casa Civil, Walter Braga Netto, e da Economia, Paulo Guedes. Como revelou o Estadão/Broadcast, a JEO aprovou proposta para que a Casa Civil formulasse uma consulta ao Tribunal de Contas da União (TCU) para deixar de fora do teto R$ 35 bilhões em investimentos em infraestrutura, sob o argumento de que a medida ajudaria a impulsionar o crescimento no pós-covid. A manobra não enfrentou oposição aberta da área econômica.

Arquitetada pelo ministro do Desenvolvimento Social, Rogério Marinho, a consulta acabou sendo engavetada diante da repercussão negativa. Mas Marinho não desistiu de seu plano de investimentos e tem buscado convencer o mercado financeiro de que a medida é positiva para a economia.

Segundo apurou o Estadão/Broadcast, o assunto também tem sido discutido por lideranças que compõem a base aliada do governo Bolsonaro, que defendem viabilizar um "investimento público mais expressivo" para permitir, ao menos, a conclusão de obras em andamento.

Estratégia

Segundo uma liderança envolvida nas articulações, a ideia é aproveitar todos os saldos dos créditos extraordinários (livres do teto) abertos para os gastos da pandemia e direcioná-los para ações ou obras programadas para os próximos dois ou três anos. Os recursos extraordinários precisariam ser empenhados (o empenho é a primeira fase do gasto, quando há o compromisso com a despesa) até 31 de dezembro, e os desembolsos efetivos se dariam posteriormente.

O governo já abriu até agora R$ 509,6 bilhões em créditos extraordinários para bancar despesas relacionadas à pandemia. Desses, R$ 284,7 bilhões foram efetivamente pagos. Segundo essa liderança, se 10% a 20% dos recursos da pandemia não forem gastos, "certamente" o Congresso vai propor a utilização desses recursos em investimento público para combater os efeitos sociais e econômicos da crise provocada pelo novo coronavírus.

Já há uma articulação para que a comissão mista especial de acompanhamento da Covid-19 cobre do governo informações sobre a utilização dos créditos extraordinários para ter uma ideia de quanto poderia ser realocado.

A interlocutores, o ministro Paulo Guedes tem dito que o teto é uma ferramenta temporária e uma âncora que funciona como uma última defesa psicológica contra o aumento dos gastos. Na sua avaliação, retirá-lo agora, antes das reformas, seria uma "burrice". Nesse sentido, o ministro e sua equipe consideram que ele é uma espécie de indutor das reformas, antes do seu estouro previsto.

A Casa Civil desistiu de consultar o Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a possibilidade de bancar investimentos em infraestrutura por meio de créditos extraordinários, que ficam livres de qualquer limitação do teto de gastos, mecanismo que restringe o avanço das despesas à inflação. O recuo vem na esteira da repercussão negativa após o Estadão/Broadcast revelar a intenção do governo de obter o aval da Corte de Contas para a manobra.

A decisão de fazer a consulta atendia a uma pressão do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, que quer impulsionar R$ 35 bilhões em obras públicas sob a justificativa de estimular a retomada da economia após o impacto da Covid-19, mas esbarra nas regras fiscais.

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O TCU chegou a ser ouvido informalmente sobre o tema. Caso tivesse o aval da Corte de Contas, o governo poderia na prática usar a calamidade para bancar investimentos do chamado Plano Pró-Brasil, driblando o teto de gastos, hoje colocado pela própria equipe econômica como âncora da sustentabilidade fiscal do País. A divulgação da reportagem fez as taxas de juros no mercado futuro subirem, sinalizando maior percepção de risco do investidor.

"A Casa Civil da Presidência da República esclarece que não fará consulta ao Tribunal de Contas da União sobre a possibilidade de utilização de créditos extraordinários para investimentos em infraestrutura", diz a nota enviada ao Estadão/Broadcast.

Após a reportagem, ministros do TCU querem ouvir formalmente o ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre a consulta. Houve uma troca frenética de mensagens entre os integrantes da Corte. Há receio entre eles de que o governo esteja querendo "terceirizar" uma arbitragem de conflito interno no governo entre a ala que defende a medida e a equipe fiscalista de Guedes, contrária à mudanças no teto. Os ministros avisaram o governo que não vão aceitar essa "arbitragem".

A realização da consulta havia sido debatida ontem em reunião da Junta de Execução Orçamentária (JEO), formada pelos ministros da Casa Civil, Walter Braga Netto, e da Economia, Paulo Guedes. Como mostrou o Estadão/Broadcast, a JEO aprovou a realização da consulta, que seria formalizada pela Casa Civil. No decreto que criou a Junta, o texto diz que o quórum de votações do colegiado precisa ser consensual. Guedes não travou a consulta, mas deixou claro que não tomaria a iniciativa.

Mesmo com a aprovação, o desconforto permanecia na área econômica, que é contrária à manobra para gastar mais. Marinho, por sua vez, adotou como mantra o discurso de que a ordem do presidente Jair Bolsonaro é não deixar obras paradas. O ministro do Desenvolvimento Regional tem conseguido apoio de parlamentares à estratégia "fura-teto".

Segundo um integrante do TCU ouvido sob condição de anonimato, a área técnica do tribunal também é contra e "não quer nem ouvir falar". O plenário da Corte de Contas, porém, pode em tese votar de forma descolada do corpo técnico.

Outros integrantes do TCU vinham demonstrado sensibilidade em relação ao desejo de parte do governo de alavancar a retomada da economia, "desde que isso não comprometa o esforço de equilíbrio fiscal".

O governo precisa enviar até 31 de agosto o Projeto de Lei Orçamentária Anual (Ploa) de 2021, já com as despesas desses investimentos, por isso a pressa. A Casa Civil também havia prometido para este mês uma primeira versão do chamado Pró-Brasil.

A maior dificuldade em atender ao pedido do governo, segundo fontes do TCU, seria comprovar que o investimento público se encaixa nas exigências de imprevisibilidade para a abertura de um crédito extraordinário, ainda mais considerando a natureza e a duração das obras.

A pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, é motivo de preocupação para senadores. Desde a última quarta-feira (11), quando foi decretada a pandemia, parlamentares têm anunciado a apresentação de proposições relacionadas ao tema.

Um dos projetos, do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), obriga as seguradoras a honrar apólices em caso de epidemias e de pandemias, como a do coronavirus. Hoje, segundo o senador, as seguradoras não são obrigadas a pagar o seguro nesses casos.

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"É uma inversão do sistema protetivo da vida humana", argumentou o senador.

Randolfe também pretende apresentar proposta de emenda à Constituição para suspender por dois anos a Emenda Constitucional 95/2016, conhecida como Emenda do Teto de Gastos Públicos. Ele informou ter começado a coleta das 27 assinaturas necessárias (um terço da composição do Senado) para apresentar a PEC.

"Nós estamos sob ameaça de uma gravíssima recessão em decorrência da pandemia do coronavirus, já decretada pela Organização Mundial de Saúde. Todas as economias estão buscando medida de reaquecimento e o Brasil não pode ir na contramão", afirmou.

Já o senador José Serra (PSDB-SP) informou ter protocolado projeto que permite ao Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat) prolongar o seguro-desemprego em casos epidemiológicos emergenciais. De acordo com o senador, a medida segue recomendação do Fundo Monetário Internacional (FMI) para reduzir os danos sociais e econômicos de surtos como o atual.

“No caso do coronavírus, não faz sentido interromper o benefício se a pessoa infectada estiver em isolamento e sem poder buscar uma realocação no mercado de trabalho”, explicou o senador na justificativa do projeto.

Os projetos, recém-apresentados, ainda não foram numerados e devem estar disponíveis na página do Senado em breve.

Medida provisória

Além de analisar projetos sobre o tema apresentados por parlamentares, o Congresso também terá que trabalhar para analisar uma medida provisória que deve liberar emergencialmente cerca de R$ 5 bilhões. O dinheiro será usado pelo Ministério da Saúde para reforçar a estrutura de combate ao coronavírus.

A informação foi confirmada na quarta-feria (11) pelo presidente do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, após reunião com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, líderes partidários do Congresso, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

"O Parlamento sabe o tamanho da sua responsabilidade neste momento. Esses recursos serão votados e autorizados, se for realmente por uma MP ", afirmou Davi.

Em fevereiro, o governo já havia editado outra medida que abriu crédito extraordinário para o Ministério da Defesa, no valor de R$ 11 milhões para o enfrentamento da “emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus”.

Além disso, o Ministério da Economia enviou ofícios ao Senado pedindo celeridade na tramitação de alguns projetos da área econômica. A justificativa é de “necessidade de blindagem da economia brasileira” em função da disseminação do coronavírus.

Para Randolfe Rodrigues, não é o momento de tentar aprovar reformas.

"Estamos diante de uma crise econômica grave! O dólar pela primeira vez alcançou R$ 5. Coronavírus agora é uma pandemia, mas o governo, através de Paulo Guedes, quer empurrar suas reformas para agravar o caos", disse o senador pelo Twitter.

*Da Agência Senado

Ex-candidato a presidente e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes (PDT) usou o Twitter, nesta quinta-feira (27), para questionar o teto de gastos em vigência no país, aprovado em 2016 durante o governo de Michel Temer (MDB). Os questionamentos foram expostos pelo pedetista ao compartilhar uma reportagem mostrando que a área da saúde deixou de receber R$ 9,05 bilhões em 2019 devido à regra válida desde 2017.

Na avaliação de Ciro, o teto fiscal é uma “maluquice consolidada”. “Sob aplauso da elite brasileira, este teto de gastos impacta diretamente na vida do povo mais pobre. Assim será também com educação, segurança, etc. De fora apenas o setor financeiro, para poucas pessoas ficarem ainda mais ricas”, observou Ciro Gomes.

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Segundo reportagem do G1, dados do Relatório Resumido da Execução Orçamentária da Secretaria do Tesouro Nacional, do ano passado, comprovam a redução dos empenhos com os gastos na área da saúde. 

De acordo com os números do Tesouro, foram destinados para a saúde R$ 122,269 bilhões. Caso o regime do teto fiscal não tivesse sido aprovado em 2016, o valor aplicado deveria ser de 14,5% da receita corrente líquida de 2019. O percentual é equivalente a R$ 131,32 bilhões. O que contabiliza uma diferença de R$ 9,05 bilhões.

A partir desta quarta-feira (1º), os empregadores deixarão de pagar a multa adicional de 10% do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) em demissões sem justa causa. A taxa foi extinta pela lei que instituiu o saque-aniversário e aumentou o saque imediato do FGTS, sancionada no último dia 12 pelo presidente Jair Bolsonaro.

A multa extra aumentava, de 40% para 50% sobre o valor depositado no FGTS do trabalhador, a indenização paga pelas empresas nas dispensas sem justa causa. O complemento, no entanto, não ia para o empregado. Os 10% adicionais iam para a conta única do Tesouro Nacional, de onde era repassado ao FGTS, gerido por representantes dos trabalhadores, dos empregadores e do governo.

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Criada em junho de 2001 para cobrir os rombos no FGTS deixados pelos Planos Verão (1989) e Collor 1 (1990), a multa adicional de 10% deveria ter sido extinta em junho de 2012, quando a última parcela dos débitos gerados pelos planos econômicos foi quitada. No entanto, a extinção dependia da edição de uma medida provisória e da aprovação do Congresso Nacional.

Em novembro, o governo incluiu o fim da multa na Medida Provisória 905, que criou o Programa Verde e Amarelo de emprego para estimular a contratação de jovens. O Congresso, no entanto, inseriu a extinção da multa complementar na Medida Provisória 889, que instituiu as novas modalidades de saque do FGTS.

Teto de gastos

O fim da multa adicional abrirá uma folga no teto federal de gastos. Isso porque, ao sair da conta única do Tesouro para o FGTS, o dinheiro era computado como despesa primária, entrando no limite de gastos.

Inicialmente, o Ministério da Economia havia informado que a extinção da multa de 10% liberaria R$ 6,1 bilhões para o teto em 2020. No entanto, o impacto final da medida ficou em R$ 5,6 bilhões.

O Orçamento Geral da União deste ano terá uma folga de R$ 6,969 bilhões no teto de gastos. Além do fim da multa extra do FGTS, a revisão para baixo na projeções de gastos com o funcionalismo federal contribuiu para liberar espaço fiscal.

Diante do fim da regra que permite à União compensar eventuais desrespeitos ao teto de gastos por outros Poderes, a Justiça do Trabalho é uma das áreas que estão em maior aperto. O limite de despesas do órgão terá uma redução de mais de R$ 1 bilhão (-5,4%) em relação a 2019. Para se adequar, a Justiça do Trabalho cortou o programa e o valor da bolsa de estágio e dispensou funcionários terceirizados que trabalhavam na limpeza e vigilância. O Orçamento para o ano que vem prevê 88,38% dos gastos para folha de pagamento.

Outras medidas foram a adequação do horário de funcionamento dos prédios para poupar luz e água, restrição à compra de passagens aéreas, redução de horas extras, proibição de trabalho aos sábados, domingos e feriados e preferência na contratação de palestrantes que não demandem gastos com deslocamento. Mesmo assim, o órgão diz que enfrentará dificuldades. "A redução orçamentária prevista para 2020 compromete o funcionamento da Justiça do Trabalho, especialmente as atividades essenciais à jurisdição", afirmou em nota.

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Defensoria

Já a Defensoria Pública da União terá uma queda de 4,9% no seu limite de despesas. Embora tenha mudado de endereço, cortando o valor do aluguel mensal de R$ 1,18 milhão para R$ 695 mil, o órgão informou que o encolhimento do teto vai inviabilizar a continuidade do plano de interiorização da Defensoria.

A Justiça Federal perdeu um espaço para gastos de R$ 300 milhões em 2020 e também antevê situação de aperto. "Todos os esforços estão sendo ensejados, com revisão de prioridades e redução de custos, para que essas dificuldades sejam minimizadas", afirma.

Flexibilidade

Caso alguns órgãos fiquem sob risco de descumprir o teto, outros do mesmo Poder teriam a opção de ceder uma parte do seu limite para evitar as sanções. Se as justiças do Trabalho ou Federal estourarem o teto, por exemplo, o Supremo Tribunal Federal (STF) pode compensar o excesso.

Essa opção pode ser de interesse dos órgãos, porque há hoje uma dúvida jurídica sobre se todas as áreas de um mesmo poder devem sofrer sanções quando apenas uma delas descumpre o limite de despesas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Um dia depois de indicar uma revisão na emenda constitucional que estabelece o teto de gastos, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) recuou e defendeu, nesta quinta-feira (5), a preservação das regras. 

“Temos que preservar a Emenda do Teto. Devemos sim, reduzir despesas, combater fraudes e desperdícios. Ceder ao teto é abrir uma rachadura no casco do transatlântico. O Brasil vai dar certo”, escreveu o presidente no Twitter. 

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Bolsonaro também aproveitou a publicação para parabenizar os ministros que estão dando apoio às medidas econômicas do ministro Paulo Guedes. 

Nessa quarta (4), entretanto, o presidente sinalizou que estudaria mudanças na regra que estabelece que as despesas totais da União não podem ir além da inflação. 

“Eu vou ter que cortar a luz de todos os quartéis do Brasil, por exemplo, se nada for feito”, chegou a dizer Bolsonaro.

A tendência foi reforçada pelo porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros. Ele disse que o presidente deliberaria sobre o assunto a partir de um estudo que está sendo feito pelo ministro da Economia.  "Se mudança no teto não for feita, tendência é governo ficar sem verba para manter máquina", disse o porta-voz.

O presidente Jair Bolsonaro defende mudanças na regra do teto de gastos, que proíbe que as despesas cresçam em ritmo superior à inflação. A informação foi dada nesta quarta-feira pelo porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros.

"Se mudança no teto não for feita, tendência é governo ficar sem verba para manter máquina", disse o porta-voz. Segundo ele, o governo não irá exigir mais impostos da sociedade. A mudança ainda não foi definida. O presidente vai deliberar sobre qual ajuste fará na regra criada no governo do ex-presidente Michel Temer, em 2016, a partir de um estudo que está sendo feito pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

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Como o Estadão/Broadcast antecipou, a mudança na regra é defendida pela Casa Civil e pelo comando das Forças Armadas.

Bolsonaro votou como deputado a favor da instituição do teto de gastos. Segundo o porta-voz, "as pessoas evoluem na medida em que percebem modificações de conjuntura".

"Acho que daqui a dois ou três anos vai zerar as despesas discricionárias (gastos de custeio e investimentos). É isso? Isso é uma questão de matemática, nem preciso responder para você, isso é matemática", disse Bolsonaro pela manhã.

Como mostrou o Broadcast/Estadão, a preocupação com o aperto fiscal no grupo político e militar ao redor do presidente cresceu porque, mesmo que o governo consiga ampliar a arrecadação e reduzir o rombo das contas públicas nos próximos anos, o teto de gastos apertado e o avanço das despesas obrigatórias (como o pagamento de salários e aposentadorias) reduzirão o espaço para investimentos em obras e programas do governo, dificultando a estratégia do presidente de deixar a sua marca. O próprio Bolsonaro já admitiu que o Orçamento enxuto atrapalha uma possível reeleição em 2022.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou nesta quarta-feira, 4, que é "impossível" flexibilizar a regra do teto dos gastos - instrumento que limita o crescimento das despesas do Orçamento à inflação. Sem o apoio de Maia, a pressão da Casa Civil e de militares para mudar o controle dos gastos públicos tem poucas chances de prosperar no Congresso.

"É impossível mexer na PEC do teto. É um erro. Nosso problema não está em discutir o teto dos gastos, nosso problema está em discutir despesas", afirmou Maia ao 'Estado'.

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Desde o início do governo, Maia é um avalizador das reformas econômicas junto ao Parlamento. O presidente conduziu a votação das mudanças nas regras de aposentadoria e deu início à discussão da reforma tributária. Sem o seu apoio, avaliam líderes, nenhuma mudança no teto terá força para avançar no Congresso.

Como o Estadão/Broadcast revelou, a possibilidade de alterar a norma divide as alas política e econômica da gestão do presidente Jair Bolsonaro. O assunto chegou a ser discutido em reunião da Junta de Execução Orçamentária (JEO), quando o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou sua posição contrária às mudanças. A JEO é formada por Guedes e o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

O ministro-chefe da Casa Civil chegou a afirmar em uma das reuniões da JEO, segundo apurou o Estadão/Broadcast, que a mudança na regra do teto teria apoio do Congresso. O ministro negou à reportagem que tenha defendido essa tese.

"Você abrir o teto é você não tratar o problema. É você esconder o problema, aumentar a despesa, aumentar o endividamento e gerar uma nova crise no futuro. É por isso que tem que manter o teto", defendeu o presidente da Câmara.

Na manhã desta quarta, Bolsonaro indicou que pode apoiar proposta de mudança na regra do teto, mas não deixou claro o que pretende fazer efetivamente.

A avaliação de membros da Casa Civil e de militares é que mesmo que o governo consiga reduzir os gastos e aumentar a arrecadação, o teto de gastos vai limitar investimentos em obras e programas do governo, dificultando a estratégia do presidente de deixar a sua marca.

Na terça-feira, 3, o 'Estado' antecipou que o governo também estuda incluir outras medidas, além das previstas no teto, para acelerar o ajuste. Maia afirmou que a saída é o Planalto encaminhar uma reforma administrativa. "Vamos estressar esse problema e vamos resolver esse problema. O governo encaminha a reforma administrativa para que a gente possa ter um Estado que custe menos ao cidadão", disse Maia.

O presidente da República, Jair Bolsonaro, indicou que pode apoiar a proposta de flexibilizar o 'Teto de Gastos' como defendem militares e integrantes da Casa Civil. Bolsonaro afirmou que a questão é "matemática", mas não deixou claro o que pretende fazer efetivamente. "Eu vou ter que cortar a luz de todos os quartéis do Brasil, por exemplo, se nada for feito", disse o presidente ao ser questionado se o governo vai tomar alguma iniciativa para mudar o Teto de Gastos. Ele falou com a imprensa na saída do Palácio da Alvorada na manhã desta quarta-feira, 4.

Bolsonaro relembrou, ainda, que dentro do Orçamento há despesas obrigatórias, e que elas "estão subindo". "Acho que daqui a dois ou três anos vão zerar as despesas discricionárias (gastos de custeio e investimentos). É isso? Isso é uma questão de matemática, nem preciso responder para você, isso é matemática", reagiu ao ser indagado por um jornalista se vai apoiar algum tipo de flexibilização do Teto.

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Aprovado durante o governo do ex-presidente Michel Temer, o Teto de Gastos é um instrumento que limita o crescimento das despesas do Orçamento à inflação. A possibilidade de alterar a norma divide as alas política e econômica do governo.

Como mostrou o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), a preocupação com o aperto fiscal no grupo político e militar ao redor do presidente cresceu porque, mesmo que o governo consiga ampliar a arrecadação e reduzir o rombo das contas públicas nos próximos anos, o Teto de Gastos apertado e o avanço das despesas obrigatórias (como o pagamento de salários e aposentadorias) reduzirão o espaço para investimentos em obras e programas do governo, dificultando a estratégia do presidente de deixar a sua marca.

O Projeto de Lei Orçamentária (PLOA) de 2020 calcula em R$ 1,454 trilhão o limite do teto de gastos para 2020. O valor, que define quanto o governo poderá gastar, é calculado com base no teto de 2019 e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) nos 12 meses encerrados em junho de 2019.

Para o Poder Executivo, o limite será de R$ 1,391 trilhão e, para os demais poderes, de R$ 62,514 bilhões.

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Investimentos

A proposta de Orçamento de 2020 prevê apenas R$ 19,36 bilhões em investimentos para o ano que vem, equivalente a 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) e uma queda de 15% em relação ao valor estimado para 2019 na última avaliação bimestral de receitas e despesas. Neste ano, com os bloqueios necessários após frustrações de receitas, os investimentos devem totalizar R$ 22,8 bilhões.

O estrangulamento nos investimentos é resultado do rápido avanço das despesas obrigatórias, que também tem achatado o espaço disponível para os gastos de custeio da máquina pública, que somarão R$ 69,8 bilhões no ano que vem, de acordo com a proposta orçamentária.

No total, as chamadas despesas discricionárias devem totalizar R$ 89,161 bilhões em 2020. O valor foi antecipado pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

O baixo nível das despesas discricionárias tem levado o governo a elaborar medidas para conter gastos obrigatórios e abrir espaço no Orçamento para o custeio e o investimento. No nível atual, a avaliação é de que será muito difícil garantir a prestação dos serviços em 2020.

Neste ano, com sucessivos bloqueios no Orçamento, as despesas discricionárias estão previstas em R$ 84,6 bilhões. Nesse patamar, muitos órgãos já correm o risco de um apagão.

FGTS, Minha Casa e Sistema S

Como antecipou o Broadcast, o governo estuda o fim da multa adicional de 10% sobre o FGTS do trabalhador em demissão sem justa causa (dinheiro que passa pelo Orçamento e consome R$ 5,4 bilhões no teto de gastos), o congelamento das progressões de servidores civis do Executivo nas carreiras (que poderia economizar R$ 2 bilhões), a suspensão de novas contratações do Minha Casa, Minha Vida (que pouparia outros R$ 2 bilhões) e o redirecionamento de recursos do Sistema S.

Os poderes federais cumpriram, com folga de R$ 60 bilhões, o teto de gastos em 2018, divulgou hoje (29) o Tesouro Nacional. No ano passado, Executivo, Legislativo, Judiciário, Ministério Público da União e Defensoria Pública da União gastaram R$ 1,288 trilhão, contra limite de R$ 1,348 trilhão.

A diferença de R$ 60 bilhões, em tese dá mais margem de manobra para a União cumprir o teto de gastos para 2019, fixado em R$ 1,407 trilhão. No entanto, o Tesouro Nacional esclareceu que a maior parte da folga será usada para o pagamento de despesas obrigatórias.

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Embora o Orçamento Geral da União de 2019 tenha elevado em R$ 119 bilhões o limite de despesas sujeitas ao teto de gastos, o Tesouro informou que a maior parte desse valor cobrirá gastos obrigatórios, que crescerão R$ 124 bilhões. Enquanto isso, as despesas discricionárias (não obrigatórias) cairão R$ 5 bilhões este ano em relação ao executado no ano passado.

Segundo o secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, somente reformas que reduzam gastos obrigatórios tornarão possível o ajuste fiscal, principalmente a reforma da Previdência. “A reforma da Previdência é essencial para reduzir os gastos públicos e aumentar os recursos para serviços públicos que podem ser prestados à população”, declarou.

No ano passado, todos os poderes federais gastaram abaixo do teto. O Poder Executivo gastou 95,5% do limite. O Poder Legislativo (Câmara dos Deputados, Senado e Tribunal de Contas da União) executaram 93,7% do teto. No Poder Judiciário federal, a execução chegou a 98,2%. A Defensoria Pública da União gastou 93,4% do limite. O Ministério Público da União foi o poder que mais gastou, com execução de 99,8%.

O futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, prepara o terreno para aperfeiçoar o teto de gastos, regra que proíbe que as despesas cresçam em ritmo superior à inflação. Em conversa com jornalistas - a primeira desde a sua indicação para o cargo -, Guedes informou que a estratégia em estudo prevê que, quando o teto "bater no seu limite", seria acionada uma cláusula para desindexar o Orçamento.

Na prática, o "gatilho" da desindexação desobriga o governo a corrigir gastos, como salários e benefícios da Previdência, à inflação e desvincula despesas de saúde e educação. A mudança exigirá alteração constitucional com apoio de 308 deputados e 49 senadores.

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Guedes explicou que o acionamento dessa cláusula seria um "ato extremo" para colocar as despesas do governo em queda. Segundo ele, o excesso de gastos é o maior problema da economia e coloca o País na "armadilha do baixo crescimento".

"Está tudo desindexado até que o teto seja novamente respeitado. Aí o PIB volta a crescer", explicou. No período de "dois anos" citado por ele, seriam adotadas as medidas de desindexação, inclusive dos salários, até que os desvios do teto sejam corrigidos. "Aí, pode indexar de novo. Depois de dois anos fica indexado de novo."

Aprovada em 2016 e em funcionamento desde 2017, a emenda do teto é uma regra fiscal que fixa um limite de gastos por ano com base na correção da inflação oficial, medida pelo IPCA. Apesar do pouco tempo de sua criação, o teto está fadado a estourar já em 2021 de acordo com as projeções mais recentes da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado, devido ao excesso de despesas obrigatórias "carimbadas".

Reforma

Com a sinalização dada nesta quinta-feira (29) o novo ministro tenta mostrar que, ao contrário das propostas de flexibilização do teto sugeridas pelos candidatos à Presidência durante a campanha eleitoral, sua equipe vai buscar o caminho oposto: na hora em que as despesas estiverem em colisão com o limite do teto, se aciona a desindexação e desvinculação. "Vocês viram desde o começo que eu disse que o responsável pela inflação, pela vulnerabilidade cambial, pelos juros altos, pelos impostos elevados, pela corrupção na política é o excesso de gastos públicos. É evidente que eu só posso ser um ardoroso defensor do teto de gastos", afirmou.

O ministro reconheceu que a manutenção do teto de gastos sem a reforma da Previdência é insustentável e vai levar ao seu estouro em breve, exigindo acionar as cláusulas de correção. A emenda já prevê gatilhos de ajuste, como a suspensão do reajuste dos salários dos servidores e impedimento para concessão de novos subsídios.

Depois da reforma da Previdência, que deve ser apresentada no primeiro trimestre de 2019, as mudanças no teto de gastos apontam para a prioridade de Guedes de abater o excesso de despesas e dar maior eficiência ao gasto público.

"Se alterarem regras de indexação dos benefícios sociais, isso ajudaria a dar sobrevida ao teto. Mas é preciso lembrar que, sem reforma da

Previdência, não se resolve o problema de forma estrutural", avalia o diretor-executivo da IFI, Felipe Salto. "Hoje no Brasil está tudo ligado ao salário mínimo. Discutir isso (desindexação) nesse momento é relevante."

Salto lembra que 75% do Orçamento Federal são destinados a apenas cinco despesas (a maior parte indexada): benefícios do INSS, salários e aposentadorias de servidores, Benefício de Prestação Continuada (BPC), abono salarial e seguro-desemprego. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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