Há exatamente um ano, faleceu a professora Josefa Cecília dos Santos Lima, aos 49 anos, vítima de um acidente de carro na Estrada de Aldeia, em Camaragibe, no Grande Recife. À ocasião, um carro que vinha na direção oposta colidiu com o da família de Josefa, a tornando uma vítima fatal e deixando feridos o seu marido, Manoel Flávio de Lima, de 55 anos, e a amiga e irmã de criação, Joanita Barbosa, de 55 anos. O motorista do outro veículo, apontado como responsável pela colisão, é Francisco de Lima Filho, de 32 anos. O homem dirigia embriagado e chegou a negar socorro às vítimas, segundo a polícia, tendo fugido do local.
Desde então, ambas as partes enfrentam um dilema judicial. De acordo com o processo aberto pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE), foram imputados os crimes de homicídio doloso e tentativa de homicídio, já que houve mais de uma vítima no caso. A versão é apoiada pelos familiares, mas a defesa de Francisco negocia a desqualificação dos crimes.
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Através de representantes, o acusado nega a versão da família da vítima e diz não ter fugido do ponto do acidente, apesar de imagens de câmeras de segurança pública mostrarem o contrário. Francisco Filho foi preso, a princípio, mas solto após pagar uma fiança de 200 salários mínimos, o que, no período, equivalia a cerca de R$ 209 mil. O homem responde pelos crimes em liberdade. Agora, o processo passa por análise da juíza responsável, Marília Falcone Gomes Lócio, da 1ª Vara Criminal da Comarca de Camaragibe, que deve concluir se aceita a denúncia do MPPE, que enquadra crime doloso e leva o caso a Júri Popular, ou se há uma interpretação alternativa.
Para Joanellys Lima, de 28 anos, e uma das filhas de Cecília, o sentimento é de tristeza, mas também de revolta. Segundo a também professora, não houve tentativa de contato de Francisco com a sua família desde o caso, tampouco pedido de desculpas ou suporte de outras naturezas. Ela diz discordar da postura da defesa do acusado.
"A defesa de Francisco está focada em negar todas as provas; nega a embriaguez, nega que não pediu socorro; nega que tentou fugir do local. Eles também tentam impor uma parcela de culpa a painho, que o acidente não foi cem por cento culpa de Francisco, que o meu pai também causou o acidente. Tudo isso que ele está fazendo a gente acredita que seja na tentativa de desqualificar a denúncia, já que desde o início o Ministério Público fez a denúncia como homicídio doloso e tentativa de homicídio, uma vez que ele apresentava a embriaguez. Ele quer desqualificar, quer que seja um acidente de trânsito, algo nesse sentido. Tirar o doloso e colocar o culposo", compartilhou a filha da vítima ao LeiaJá.
Durante todo este ano de caso em aberto, foram realizadas duas audiências, nas quais foram ouvidos Francisco de Lima Filho, acusado; Manoel e Joanita, familiares de Josefa Cecília; além do delegado e dos policiais que realizaram o flagrante e a constatação de embriaguez no dia do acidente.
Ainda segundo Joanellys, após essas duas escutas, a defesa de Francisco solicitou um documento da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) onde ele foi atendido antes de seguir à delegacia. O material é aguardado pela Polícia Civil.
"O que a gente espera é que a denúncia do Ministério Público seja aceita pela juíza, que ela também interprete dessa forma, que seja um homicídio doloso e uma tentativa de assassinato. Meu pai não é o outro responsável, ele também é vítima, assim como tia Joanita, que é comadre da minha mãe. Já não basta ele ter feito o que fez com a minha mãe, ele quer levar o meu pai também. A gente está bem triste, mas com um sentimento de revolta muito grande pela forma como ele está agindo, sem empatia pela nossa dor", finalizou Lima.
Na noite desta quinta-feira (28), será realizada uma missa por um ano da morte de Josefa Cecília. A solenidade acontecerá na Paróquia São Francisco de Assis, no bairro da Várzea, no Recife, às 19h30.
Relembre o caso
Em 28 de outubro de 2020, a professora Josefa Cecilia dos Santos Lima, de 49 anos, foi vítima fatal em um acidente entre dois carros na Estrada de Aldeia, em Camaragibe, no Grande Recife. Além de Ceci, como era conhecida, estavam no veículo da professora o seu marido Manoel Flávio de Lima, de 55 anos, e a amiga e irmã de criação, Joanita Barbosa, de 55 anos, que ficaram feridos, mas sobreviveram. Eles tinham passado o dia no sítio da família, no km 16 da Estrada, local onde Josefa tinha o sonho de morar permanentemente, segundo familiares.
Joanita foi socorrida para um hospital particular no Recife, apenas com escoriações, e foi liberada, logo em seguida. Manoel, marido de Cecília, foi internado em UTI, mas liberado em 31 de outubro de 2020. O velório da matriarca aconteceu em um cemitério particular, em Jaboatão dos Guararapes, também no Grande Recife.
No outro veículo, uma Hilux, estava Francisco de Lima Filho, de 32 anos e que, de acordo com as imagens do circuito de segurança de um condomínio, teria provocado o acidente, tentou fugir do local e apresentava sinais de embriaguez. Essa versão foi da Guarda Municipal, que também averiguou o caso.
Após audiência de custódia, o acusado teve fiança arbitrada em 200 salários mínimos, cerca de R$ 209 mil, e a liberdade provisória concedida. O caso foi denunciado pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e aguarda desfecho com a análise judicial, na Comarca de Camaragibe.