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Entre corredores claros, com cerâmicas brancas na parede, uma porta semiaberta apresentava um cenário de ambiente de trabalho não muito comum. O local era amplo, bem cuidado e limpo, e sem fortes odores, mesmo se tratando de uma sala de necropsia. De fato, o que havia no local não faz parte do dia a dia de muitos trabalhadores. Cadáveres, mesas para necropsia, ferramentas cortantes, e trabalhadores com roupas específicas para quem trabalha em contato com mortos. O espaço fica no Instituto de Medicina Legal (IML), no bairro de Santo Amaro, no Recife. Todo aquele cenário é comum para aqueles que há um bom tempo atuam na área, como médicos, legistas, entre outros.
Mais de 20 anos trabalhando com mortos, vendo sangue, partes de corpos e sem nenhum arrependimento da profissão que escolheu. Gutemberg Gomes, 49 anos, atua no IML como auxiliar legista, trajando um uniforme que se assemelha aos de quem trabalha em frigoríficos e açougues. Algumas de suas ferramentas de trabalho são uma faca peixeira e um amolador, inserindo Gomes em um contexto de trabalho que não o causa trauma.
“Entrei no IML através de concurso e fiz um curso de formação para trabalhar de forma segura e adequada. No começo eu fiquei um pouco receoso, porque o ser humano não está acostumado com a morte”, conta o auxiliar legista. Por causa desse longo período de atuação, quase nenhum corpo que chega ao instituto para ser analisado deixa Gomes chocado. “Nada mais me choca. Só fico um pouco triste quando chegam corpos de recém nascidos, mas o tempo me deixou acostumado”, relata
“Eu tinha o sonho de entrar na Polícia Civil, até que tive a oportunidade de participar de três processos seletivos e um deles era para a área legista. Passei nos três e optei pelo IML”. Quem conta é o também auxiliar legista Edeildo Matos, de 28 anos, que é formado em direito. Há três anos ele trabalha no IML, mas, já na universidade teve conhecimento da área de medicina legal. “Tudo no começo é uma interrogação. Eu ficava na expectativa de saber na prática como era o trabalho. Hoje, eu olho um corpo aberto tecnicamente, e não tenho nenhum problema”, fala Barros.
De acordo com ele, no curso de formação para ingresso no instituto, muitos alunos desistiram quando começaram a se deparar com os corpos. Porém, a cada dia de trabalho o auxiliar legista foi descobrindo a importância da sua profissão para a sociedade. “É um trabalho importantíssimo. Tem dia que entram 28 corpos aqui para serem analisados, e são 28 pais que estão sofrendo. A gente faz de tudo para não piorar a situação da família”, diz o profissional.
Transporte
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Giovani Bezerra, 49, também trabalha no IML, mas no setor de transportes que recolhem os cadáveres. Há cinco anos na função, ele sabe a importância que ela tem. “Quando eu entrei no IML, um vizinho me chamou de papa defunto. Eu respondi que independente da quantidade de corpos que eu recolhesse no mês, o meu salário seria o mesmo. E fiz ele entender a importância da minha função”, declara.
Segundo Bezerra, depois de “conviver” tanto com cadáveres, ele “vê” a vida de uma nova maneira. “Passei a dar mais valor a minha vida e as das outras pessoas. A morte não é o fim, é o começo de um grande problema, de uma dor que as famílias sofrem”, declara.
O trabalho das funerárias
Josélia Dias de Souza trabalhava em um salão de beleza como recepcionista, até que acabou indo para um ramo bem diferente. Após sair do salão, ela foi procurada por uma cliente antiga do local, que a perguntou se ela tinha medo de trabalhar em uma funerária. “O que eu disse foi: quando eu começo a trabalhar?”, conta.
Há quase dez anos Josélia trabalha na Mortuária Descanso Eterno, na Avenida Caxangá, Zona Oeste do Recife. “Minha mãe reagiu normal, mas alguns amigos não queriam nem tocar em mim, pois eu maquiava e preparava os cadáveres para os funerais. Nunca tive medo, independentemente da situação do corpo”, conta Josélia, que atualmente é gerente da funerária.
Entretanto, apesar da adaptação ao trabalho, houve situações que a chocaram. “Uma delas foi um corpo de um homem que morreu carbonizado em um acidente de avião”, conta a gerente.
Gerluce Cavalcanti é a dona da mortuária há quase 20 anos. Ela é formada em hotelaria, mas percebeu no ramo funerário um bom negócio, até porque sua família já atuava há bastante tempo no segmento. Mesmo assim, o começo não foi fácil. “Não sabia nada da área. Eu nunca tinha ido numa funerária e muito menos em um cemitério. Além disso, tinha medo de assombrações”, conta a empresária.
O tempo de trabalho foi dando experiência a Gerluce, bem como o negócio foi sendo expandido. Além do Recife, há outras cinco empresas no interior de Pernambuco. A empresária destaca que o trabalho funerário toma bastante tempo, e a qualquer hora e data há clientes. “Penso até em sair da área porque é muito desgastante. Já perdi muitas madrugadas”, explica Gerluce.
Todas as funerárias de Gerluce possuem atualmente em torno de 60 funcionários. Mensalmente, no Recife, a empresa vende em média 50 caixões, o que gera um lucro de 20% a 25%. A empresa também possui um Plano de Assistência Familiar, que serve para as famílias prepararem serviços fúnebres, como numa espécie de seguro. Mais informações sobre os serviços da mortuária podem ser conseguidas pelo telefone (81) 3445-6268.