Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz afirmou que não considera quebra de decoro as falas do presidente Jair Bolsonaro (PSL) sobre seu pai, Fernando Santa Cruz. A quebra de decoro poderia enquadrar o presidente em crime de responsabilidade, de acordo com a legislação.
“Se houve quebra de decoro, sinceramente não acho. Acho que é parte desse processo de polarização e de ódio da sociedade, que leva as pessoas a fazerem afirmações impensáveis. Uma coisa era a fala dele como deputado segmentado do Rio de Janeiro. Ele tem que se convencer que hoje ele é presidente de todos os brasileiros. O que eu e minha família vivemos essa semana é fruto da força da palavra do presidente”, disse o líder da OAB em entrevista ao programa Roda Viva, na TV Cultura.
##RECOMENDA##Recentemente, ao reclamar da participação da OAB na investigação sobre o ataque a faca que sofreu durante a campanha eleitoral, Bolsonaro disse que contaria, se Felipe quisesse, a verdade sobre como o pai dele, Fernando, desapareceu na época da ditadura militar. E, depois, chegou a dizer que o militantes estudantil havia sido morto por colegas da Ação Popular (AP), grupo do qual fazia parte.
A versão de Bolsonaro não é igual ao que diz o relatório da Comissão Nacional da Verdade, que aponta o Estado como culpado pela morte de Fernando Santa Cruz. Ao declarar o episódio como encerrado, Bolsonaro também disse que não houve quebra de decoro nas próprias falas. A postura do presidente foi questionada por opositores e, inclusive, aliados, chegando a ser apontada de quebra de decoro.
“Não acredito que o presidente tenha dito uma só palavra verdadeira quando falou do meu pai. Ele usa um episódio de prerrogativas. Ataca a memória do meu pai, muda uma versão. Anos antes ele disse que meu pai tinha saído para beber, o que era mais agressivo ainda. E agora faz uma versão agressiva para atingir a minha vida e a dos meus parentes. É algo que taxei de cruel e reafirmo. Mas deve ser colocado à luz dos acontecimentos atuais. A reabertura de uma discussão já superada pelo país. Não acredito que o presidente vá dizer nada de novo. Ele não cumpre aquilo que disse, que me contaria o que aconteceu ao meu pai”, observou Felipe.
O presidente da OAB disse também que a declaração de Bolsonaro foi “o verdadeiro linchamento de um menino que morreu aos 26 anos de idade”. “Se o presidente não responder, vamos estudar, como família e cidadãos, que medidas vamos adotar”, contou.
Felipe Santa Cruz disse que não queria inflamar a discussão levando-a para a cena política e pontuou ter se arrependido de ter chamado o ministro da Justiça, Sérgio Moro, de “chefe de quadrilha”. Neste momento, o filho de Fernando também ponderou: “o presidente pode se retratar e, se sincero, para mim basta”.