Depois da crise política que atingiu o Brasil com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e a tese fracassada de adiantar as eleições gerais para 2017, com a manutenção do governo do presidente Michel Temer (PMDB), os eleitores brasileiros voltam às urnas daqui a exatamente um ano para escolher quem presidirá o país a partir de 2019. O cenário para a disputa, entretanto, é de incertezas mesmo com candidaturas já postas, como as do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do senador Álvaro Dias (Podemos) e do ex-governador do Ceará, Ciro Gomes (PDT).
Lula, por exemplo, pode ser impedido de disputar por questões judiciais. Ele foi condenado a cumprir 9 anos e seis meses de prisão por lavagem de dinheiro e corrupção em um dos processos em que é réu na Lava Jato, mas aguarda a decisão da segunda instância. Caso a sentença seja corroborada ele não poderá concorrer ao pleito e deve ser preso. O petista, apesar das acusações que pesam contra ele, lidera as pesquisas de intenções de votos.
##RECOMENDA##Do outro lado, o PSDB vive uma crise interna também com denúncias contra o senador Aécio Neves (MG) na Lava Jato e a indefinição de quem disputará a vaga de presidente pelo partido. Além de Aécio, que era visto como candidato natural, o governador de São Paulo Geraldo Alckmin e o prefeito da capital paulista, João Doria, são nomes tucanos que despontam como presidenciáveis. Eles têm se articulado pelo país para endossar uma possível participação na corrida.
Quem aparece se destacando entre os presidenciáveis é o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ). No âmbito mais conservador e com teses que causam polêmicas, ele vem se consolidando como o preferido pelos eleitores depois de Lula. Ainda na lista e apesar das poucas movimentações políticas, a ex-senadora Marina Silva (Rede) também deve participar da disputa.
Sob a ótica da doutora em ciência política Priscila Lapa a eleição de 2018 será “uma das mais difíceis de apostar quem ganharia”. “Temos um cenário muito tumultuado de quem efetivamente vai poder ser candidato. O PT apostando em Lula, mesmo sem saber se ele vai poder ser ou não candidato, mas também com condições de que o indicado por ele herde seus votos com a ideia de ele é vítima [na Lava Jato]; sem falar na dificuldade dos outros partidos de construir consenso”, salientou.
“O PSDB mesmo aparece dividido. Não sabe se é governo ou não, fica esperando o que vai acontecer com o governo, se Michel Temer conseguirá restabelecer o cenário econômico vão dizer que estavam lá, fizeram parte disso, caso não, eles vão criticar. É um partido que está tendo dificuldade interna se aposta no tradicional ou no novo”, completou Lapa.
Para a estudiosa, até o momento apenas Bolsonaro construiu uma proposta mais sólida para disputa. “Apenas quem construiu solidamente seu projeto foi o próprio Bolsonaro, mas para chegar ao segundo turno ele precisa de alianças, o que é difícil com o discurso conservador que ele tem, mas a tendência é que ele amenize de o discurso extrema direita e faça alianças. Bolsonaro pega carona, obviamente, nesses eleitores do PSDB que não sabe o que vai fazer ainda”, disse.
Confiança na economia deve ser o foco do eleitor
Mesmo com a ascensão de Bolsonaro e a tese conservadora atrelada ao discurso antipolítico predominando em outras partes do mundo para a corrida presidencial, Priscila Lapa acredita que o deputado federal não terá sucesso nas urnas. “Por mais tenha algumas tendências de um certo conservadorismo no Brasil e um discurso moralizador, para 2018 o que define é o estado da economia. Se o eleitor vai estar mais ou menos entusiasmado com a situação do país”, argumentou.
A estudiosa apontou ainda que a “apatia pela corrupção que acaba se diluindo” com o quadro econômico brasileiro e o candidato terá que “que passar a ideia de vamos retomar as conquistas [para classe C] e você não vai perder [para a elite]”.
“A eleição será definida basicamente pelo que chamamos na ciência política de cálculo do voto econômico. Até 2014 vimos a ascensão da classe C, das pessoas saindo da pobreza e de 2014 para cá estamos assistindo uma perda de conquistas. Esta classe é a mais ressentida. O outro conjunto de eleitores que não assistiram um discurso voltado para ele, mas agora se sente contemplado com as reformas, por exemplo. É uma divisão de classes, que começou em 2014, e vai ser mais marcante em 2018. Será o voto do pobre e do rico”, ressaltou.
Com as indefinições, a expectativa no meio político é de que as definições das composições de chapas que disputarão em Pernambuco sejam efetuadas entre fevereiro e maio, quando também já terá ocorrido a janela partidária. Seguindo o calendário eleitoral de 2016, os candidatos serão anunciados oficialmente a partir de 20 de julho de 2018, quando acontecem as convenções partidárias.