O ano de 2018 será decisivo para a política brasileira, isto porque no dia 7 de outubro está marcada a primeira eleição presidencial depois da crise que atingiu o setor nos últimos anos, com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e os escândalos de corrupção investigados pela Lava Jato. Apesar de pré-candidaturas já postas, o cenário para a disputa ainda é de incertezas e isso deve acalorar ainda mais o debate até meados de julho, quando acontecem as convenções partidárias.
Dos mais populares aos menos conhecidos, já existem oficialmente nove nomes postos para concorrer ao pleito. São eles: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), o governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB), o senador Álvaro Dias (Podemos), o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT), a ex-senadora Marina Silva (Rede Sustentabilidade), a deputada Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), o empresário João Almoêdo (Novo) e o presidente do BNDES Paulo Rabello de Castro (PSC). Além deles, o PSOL também deve se incluir na disputa.
##RECOMENDA##
Apesar de despontar em primeiro lugar nas pesquisas de intenções de votos, Lula pode ser impedido de postular o comando do Palácio do Planalto por questões judiciais. O líder-mor petista foi condenado a cumprir 9 anos e seis meses de prisão por lavagem de dinheiro e corrupção em um dos processos em que é réu na Lava Jato, mas aguarda a decisão da segunda instância, que já tem o julgamento marcado para o dia 24 de janeiro. Caso a sentença seja corroborada ele não poderá concorrer ao pleito e corre o risco, inclusive, de ser preso.
Quem aparece também se destacando nos levantamentos é Jair Bolsonaro. No âmbito mais conservador e com teses que causam polêmicas, ele vem se consolidando como o preferido pelos eleitores depois de Lula, variando entre 18% e 30% das intenções. Bolsonaro já anunciou que deixará o PSC e seguirá para o Patriota visando a disputa, mas ainda não tem uma base de políticos detentores de mandatos para endossar o seu palanque.
Do outro lado, o PSDB tenta se restabelecer de uma crise interna também provocada por denúncias de corrupção que desencadeou no desgaste do nome do senador Aécio Neves (MG) do cenário, até então considerado candidato natural, e no fortalecimento de Geraldo Alckmin, que assumiu recentemente a direção nacional tucana e deve ser o escolhido pelo partido.
Avaliação do cenário
Com tantos presidenciáveis, sob a ótica do cientista político Elton Gomes, a probabilidade é de que esta seja a disputa mais fragmentada dos últimos anos. “Corremos o risco de ter uma eleição mais fragmentada desde a que elegeu Fernando Collor. Serão vários candidatos dividindo a atenção do público e isso exigirá mais dos postulantes”, observou.
Fazendo um panorama dos principais pré-candidatos, o estudioso disse que “a tendência é que Lula seja condenado, fique fora das eleições e fora da prisão”. “Pelo Estatuto do Idoso e outras normas em vigor, nas eleições ele estaria em liberdade e rodando o país. Agora, claro, se ele puder concorrer é um candidato fortíssimo, porém é importante dizer que o Lula de hoje não é o mesmo de 2002”, ressaltou.
Já Bolsonaro, o cientista classificou como um “candidato performático no ponto de vista da popularidade” e que “vem surfando e tomando um volume nesta onda neoconservadora que atinge o país”. “Ele cresce a partir da crise de representatividade que atingiu PT, PMDB e PSDB. Reaviva o sentimento nacionalista e defende soluções de forças no âmbito da segurança pública. Entretanto, Bolsonaro não tem aquilo que elege um presidente que são alianças, o apoio de governadores e prefeitos importantes, chamados de puxadores de votos”, cravou.
O candidato de Temer
Além dos nove pré-candidatos já mencionados, também existe a expectativa de que o governo, ou seja, o presidente Michel Temer (PMDB) lance um nome para o pleito. Quer seja do próprio PMDB ou não, o político que tiver o apoio do peemedebista terá o peso das reformas trabalhista e da Previdência como um ponto negativo, mas a depender da melhora da economia pode ganhar fôlego.
Nos bastidores, comenta-se que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), estuda a possibilidade de participar da disputa com o apoio do PMDB. Ele, inclusive, protagonizou a última inserção partidária do PSD, apresentando as chamadas “soluções econômicas” adotadas pela pasta que comanda visando amenizar os efeitos da crise.
“Esta quase certo que o governo lançará um candidato próprio, provavelmente deverá ser o ministro da Fazenda Henrique Meirelles. Vai ter a máquina e se a economia melhorar pode crescer nas pesquisas e até, quem sabe, surpreender”, observou Elton Gomes.
Caso o nome venha do seio peemedebista, será a primeira vez que o partido participará efetivamente da eleição desde 1994. “Se isso acontecer traria um componente interessante ao pleito, pois o PMDB teve um papel decisivo nas últimas eleições. Fora do jogo de alianças, concorrendo com um candidato próprio, deixa as máquinas eleitorais do PT e PSDB por sua própria conta pela primeira vez em mais de 20 anos”, declarou o cientista.
O PSD, entretanto, não é o único que pleiteia o apoio da legenda que comanda o país atualmente. O DEM vem apresentando a possibilidade de concorrer ao cargo com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (RJ). Para consolidar o nome, os democratas também anseiam o apoio do PMDB de Temer.
O foco do eleitor na escolha do candidato
O combate à corrupção, o aumento de investimentos na segurança pública e a melhora da economia devem pautar a disputa eleitoral de 2018 e pesar durante a escolha dos eleitores. Na projeção do cientista Elton Gomes, no tocante da corrupção, por exemplo, esta será a “primeira vez que haverá medições como ‘seu candidato roubou mais que o meu, foi arrolado na Lava Jato ou não, é réu de algum processo’”. Ele também acredita que por vivermos em “um ambiente de guerra, sem estar em guerra” a segurança pública será bastante reforçada pelos eleitores.