Discurso carregado de metáforas, duplos significados e referências à cultura popular – do cinema, a literatura e arte – o rap é um gênero musical que mistura estéticas diversificadas, tornando-o um estilo musical extremamente visual. Muito antes de "Picasso Baby", de Jay Z, separamos cinco pintores aos quais os rappers amam se comparar.
Jean-Michel Basquiat
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"Contraia minha mente, meus pensamentos continuam escapando. Poder da caneta, uma obra de arte como Basquiat", define Ja Rule na música "Believe". Jean-Michel Basquiat (1960-1988) é, sem dúvidas, o artista mais referenciado na cultura hip-hop por conta de sua jornada dramática. Cantores franceses, alemães e brasileiros já citaram o artista em suas faixas, como o rapper Froid no som "A Pior Música do Ano". Nascido e criado em Nova York, Basquiat foi expulso de casa aos 17 anos e logo se tornou famoso na cena underground americana. Viveu um breve romance com Madonna do final da década de 1980 e teve sua carreira na arte contemporânea impulsionada por Andy Warhol. Basquiat faleceu aos 27 anos por conta de uma overdose de heroína.
Pablo Picasso
"Um pintor lírico, príncipe fresco e todos vocês admirados com minha essência de Picasso", dispara o Dj Jazzy Jeff e The Fresh Prince na música "Just Kickin it". Se existe um artista "universalmente conhecido em todo o mundo, um artista cuja energia criativa e sucesso foram inspiradores, é Pablo Picasso", como comenta a Daily Art Magazine. Precursor e líder de sua época, o artista espanhol aparece em músicas de diversos rappers como Mac Miller (1992-2018), Kool Moe Dee e Jay-z. Picasso aprendeu o ofício das artes quando criança. Seu pai era professor de desenho e incentivou o jovem Picasso a seguir pelo mesmo caminho. Estudiosos da história da arte afirmam que o espanhol começou a criar aos 4 anos e parou apenas em sua morte, aos 89 anos.
Rembrandt
Rembrandt van Rijn (1606-1669) foi o artista holandês mais famoso do século 17. Ficou conhecido por suas técnicas de claro-escuro (ou luz e sombra), com um contraste perceptível e habilidades de representação. Na faixa "On & On" o rapper MIMS se define dizendo "eu toco como Rembrandt. Toco nas estrelas porque o céu não tem limite’" Rembrandt é considerado por muitos o maior pintor do mundo. Também é conhecido por ser o percursor da "selfie", de acordo com a exposição "All The Rembrandt" de 2019, onde havia inúmeros auto retratos do pintor.
Andy Warhol
Obcecado pela cultura pop, Andy Warhol (1928-1987) se tornou referencial comparativo de fama para rappers como A$AP Twelvyy na faixa "Fraternal Twins". Warhol também é citado em músicas de Doughboy e Jay-z. Andy Warhol nasceu na Pensilvânia, EUA. Considerado um dos artistas mais influentes da segunda metade do século 20, Warhol foi uma figura de destaque no movimento artístico conhecido como pop art, produzindo obras consideradas de fácil entendimento à maioria das pessoas (cultura de massa). Se tornou artista plástico, ilustrador, pintor e cineasta e ficou conhecido por explorar conceitos de publicidade em suas obras.
Salvador Dali
Dali (1904-1989) foi o pintor surrealista mais relevante do movimento. Sua personalidade forte e original fez toda a diferença e isso jamais passaria despercebido pelos rappers. Club Dongo, 21 Savage e Directors são apenas alguns dos nomes que já citaram Dali em suas músicas. Nascido na Catalunha, Espanha, Dali se tronou o surrealista mais famoso de todos os tempos. Começou a pintar aos 13 anos de idade. Estudou na "Academia de Artes de San Fernando" em Madrid, de onde foi expulso em 1926, pois se recusou a fazer as provas finais da disciplina de Teoria das Belas Artes. Também foi expulso do movimento surrealista pelo fundador André Breton, por ter ideologia política distinta. Na época, chegou afirmar que "a diferença entre os surrealistas e eu é que, na verdade, eu sou surrealista".
Com o passar dos anos o comportamento vai se moldando através das "tribos" (grupos sociais com identidade própria) que ganham espaço culturalmente, no mundo das artes e principalmente na moda é onde essas mudanças são primeiramente enxergadas e consequentemente atingidas. Por isso, o LeiaJá fez a lista de cinco tribos que mudaram a moda e o comportamento.
Os Clubbers
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Foto: Reprodução/Instagram
A comunidade surgiu em meados dos anos 1990 no Reino Unido com a popularização da música eletrônica. No Brasil, especificamente em São Paulo, a tribo ganhou força graças a casas como Madame Satã, Nation e Massivo, que foram palco para muitas personalidades que foram responsáveis por introduzir o neon na moda e humanizar a figura da Drag Queen, o que perpetua até os dias de hoje.
Os riquinhos Preppies
Foto: Wikimedia
O termo surgiu entre 1970 e 1980 e as grifes como Tommy Hilfiger e TOD’S especificam muito bem esse estilo dos garotos ricos de colégios estadunidenses. O estilo ficou muito famoso entre os adolescentes privilegiados de Nova York e é sensivelmente retratado na série de televisão "Gossip Girl". Tricôs, meias ¾ e saias plissadas são alguns dos elementos básicos desse estilo.
A vanguarda hippie
Foto: Pixabay
Nos anos 1970, a comunidade hippie surgiu como contracultura e espalhou sua ideologia de "paz e amor". O festival de música Woodstock foi o marco dessa comunidade, que logo infiltrou seu estilo nos desfiles de moda através do estilo boho chic, com materiais como penas, redes, pedraria e artesanato. O estilista francês Jean Paul Gaultier foi um dos pioneiros a enxergar a revolução hippie.
A galera Hip-Hop
Foto: Pixabay
Dentes de ouro ou diamantes, correntes e ostentação. Essa era a marca principal da tribo que nasceu nas comunidades periféricas do Bronx, em Nova York, e logo atingiram a ilha de Manhattan. Através de sua grife Yeezy, o cantor Kanye West levou o estilo ao que conhecemos hoje como street style (moda de rua) e nas coleções masculinas da Louis Vuitton, Virgil Abloh tem a assinatura do estilo despojado.
A dramaticidade e melancolia Punk
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Os moicanos chamativos e coloridos, muito couro, correntes, unhas pintadas independente do gênero e um estilo de vida questionável. Os punks surgiram em meados dos anos 1980 como reação ao otimismo exacerbado dos hippies e carregam uma ideologia niilista e agressiva.
Desde seu último álbum, ANTI, em 2016, a cantora Rihanna custa a aparecer com novidades. Mas para alegria dos fãs, a Bad Girls, lança nesta sexta-feira (27) uma música em parceria com o compositor, produtor musical e rapper PartyNextDoor.
No Twitter, com 379 mil menções à cantora, os fãs ao mesmo tempo que comemoram a volta de Rihanna, lamentam que seja apenas uma participação dela em uma das faixas do álbum PARTYMOBILE, lançado pelo rapper PartyNextDoor.
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Mesmo com essas reações, no Youtube a faixa ‘Believe It’ do álbum PARTYMOBILE, com participação da Rihanna, já rendeu 445.730 visualizações, além de 44 mil likes. No Spotify está entre as primeiras mais reproduzidas. Esse não é o primeiro encontro entre o rapper e a bad girls, o PartyNextDoor, compôs em 2016 a faixa ‘Work’ do álbum ANTI.
Surgido na década de 1970, na cidade de Nova Iorque, nos EUA, o Hip Hop transformou-se em um dos movimentos culturais mais sólido e popular do mundo. Baseado em quatro pilares - Mcing, DJing, B-Boying e Graffitti -, o estilo vai muito além da música e da rima podendo se expressar, também, nas artes plásticas e na dança.
Tamanha importância tem o Hip Hop que o movimento tem um dia para chamar de seu. Nesta terça-feira (12), é celebrado o Dia Mundial do Hip Hop, data escolhida por ter sido nela que, em 1973, Afrika Bambaataa fundou a Zulu Nation, uma organização co objetivos de auto-afirmação que promovia um 'quinto elemento' para a cena, a 'paz, união e diversão'. Bambaataa é nome extremamente importante no segmento sendo considerado um de seus criadores, sendo assim, o pai do Hip Hop.
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De tão grandiosa, a cena Hip Hop logo ultrapassou os limites do bairro do Bronx, em Nova Iorque, e ganhou espaço em todos os lugares do mundo. No Brasil, não foi diferente e o país ostenta grandes nomes para representar os quatro elementos do movimento. Rappers como o grupo Racionais Mc's e Sabotage; grafiteiros como Os Gêmeos, Kobra e Nina Pandolfo; os DJs Ice Blue e Caíque e os Bboys, Pelezinho, Leoni Pinheiro, sem falar na Bgirl Miwa; são apenas alguns dos que fazem do movimento Hip Hop nacional algo tão grandioso e consistente.
A expressão musical do Hip Hop talvez seja a mais popular entre os quatro elementos do movimento. Com ritmo acelerado e discursos geralmente ferinos, o rap é conhecido por ser a música que denuncia as necessidades dos moradores das periferias e do povo negro. O rap nacional tem um rico celeiro de artistas que fazem da cena no Brasil uma das mais respeitadas no mundo. O LeiaJá preparou uma lista com sete dos mais importantes discos que consagraram os brasileiros entre os melhores rappers do planeta.
1 - Hip Hop Cultura de Rua
Lançada em 1988, essa foi a primeira coletânea de rap do Brasil. O disco reunia Thaíde e DJ Hum, MC Jack, Código 13 e o Credo. O trabalho teve produção assinada por Nasi e André Jung, então integrantes da banda de rock Ira!, e contou com participações de músicos como André Abujamra e Raul de Souza. As oito faixas da coletânea ajudaram a construir a estética do rap paulistano, tanto em relação às temáticas das letras como nas bases instrumentais.
2 - Gabriel O Pensador
Com um álbum anônimo, o rapper Gabriel O Pensador foi um dos responsáveis pela entrada do rap nacional no mainstream. Branco, carioca e de classe média, o músico conseguiu abrir as portas para o estilo com seu disco de estreia. Uma das faixas desse álbum, Hoje eu tô feliz (matei o presidente), fez bastante barulho na época e chegou a ser censurada em algumas emissoras de rádio e TV.
3 - Sobrevivendo no Inferno
O disco de 1997 do grupo Racionais MC's é considerado um divisor de águas no rap brasileiro. O álbum chegou com tamanha força que colocou os Racionais no programa de clipes mais popular da televisão brasileira, na extinta MTV, e ganhou o prêmio de Escolha da Audiência (1998), na premiação do canal, o MTV Music Brasil. O álbum consagrou o Racionais como o grupo de rap mais importante do país e, anos mais tarde, virou até 'leitura' obrigatória em um dos vestibulares mais concorridos do Brasil.
4 - Cadeia Nacional
O Pavilhão entrou para a história do rap nacional ao misturar o estilo com o rock, em Cadeia Nacional, de 1997, algo pouco feito no país naquela época. As rimas do grupo ganharam ainda mais peso com a mistura dos beats com os riffs de guitarra. Esse disco traz ainda uma parceria da banda com os irmãos Cavalera, na época vocalista e baterista do Sepultura, respectivamente.
5 - Rap é compromisso
Único disco gravado em vida de um dos maiores nomes do rap nacional, Sabotage, Rap é compromisso vendeu mais de um milhão e meio de cópias após seu lançamento em 2000. O álbum traz a parceria do rap com outros diversos estilos musicais com a participação de nomes como Negra Li, Black Alien, Rappin’ Hood, RZO e Chorão, ex-vocalista do Charlie Brown Jr.
6 - À procura da batida perfeita
O rapper carioca Marcelo D2 trouxe ao estilo a tão conhecida malemolência brasileira com À procura da batida perfeita, de 2003. Ao misturar o rap com samba, desde seu disco solo de estreia, Eu tiro é Onda, de 1998, Marcelo D2 provou que estilos tão distintos podem ir muito bem juntos. Abriu precedentes para que a música popular pudesse transitar livremente no meio do Hip Hop e vice e versa.
7 - Pra Quem Já Mordeu Um Cachorro Por Comida, Até Que Eu Cheguei Longe
Com um disco longo - de 25 faixas - e intenso em suas rimas, Emicida estreou dando uma refrescada no rap brasileiro. O álbum traz bases instrumentais versáteis sem deixar de lado a crítica social característica do estilo. Esse trabalho garantiu a Emicida sua entrada no mainstream da música nacional, conquistando o respeito dos críticos e do público. Hoje, certamente, figura como um dos rappers mais importantes do país.
Conhecido como uma música de crítica social e mensagem acerca da dura realidade das periferias, o rap tem grandes representantes brasileiros. Racionais MC's; G.O.G.; Dexter; Sabotage; Emicida; todos homens. Da mesma forma, o trap e o brega funk são estilos que priorizam a diversão e incitam a sensualidade e já têm um leque de representantes de peso. Os trappers Chris MC, Matuê e Sidoka, e os bregueiros Dadá Boladão, MC Troia e Shevchenko e Elloco, são alguns exemplos de sucesso. E também homens. Mas esse cenário está mudando. A presença feminina, de discurso empoderado, é cada vez maior nessas cenas que, antigamente, eram majoritariamente dominadas por artistas masculinos.
As 'manas' também querem cantar sua realidade, além de fazerem questão de reivindicar o direito de ocupar os espaços, se divertir e, por que não, rebolar sem a necessidade de prestar contas ou pedir permissão a ninguém. Sendo assim, elas estão levantando suas vozes e fazendo música de qualidade que está atraindo um público igualmente crescente, ao passo que se multiplica o número de artistas mulheres no rap, trap e brega funk.
Foi a partir de uma situação de assédio que Rayssa Dias, de 24 anos, moradora de Salgadinho, em Olinda, decidiu criar o brega funk empoderado. Ao testemunhar uma amiga sendo apalpada durante uma festa, ela resolveu que usaria sua voz para exigir respeito no 'rolê' e fora dele também. "A gente estava numa casa de show e lá no evento um cara meteu a mão na bunda da minha amiga. A justificativa dele foi que tinha sido por conta da música. Aquilo mexeu comigo, eu disse: 'caramba, eu como cantora e poeta que faz parte da militância, isso acontece na minha frente e eu não vou poder fazer nada?'. Fiquei tão revoltada que no dia seguinte fiz uma música sobre isso".
Rayssa Dias é a criadora do brega funk empoderado. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens
Nos versos da música em questão, batizada de 'Fica na Tua' e gravada em parceria com a rapper Lady Laay, Rayssa é direta: "Quando eu chegar no baile, sentando e quicando, tu fica na tua! Se tu não respeitar, a idéia é uma só, tarado aqui no baile, nós passa o cerol". A cantora, na correria para fazer sua carreira acontecer desde os 12 anos, tendo passado pelo coral de uma igreja evangélica, bandas de brega romântico e batalhas de poesia, explica sua composição: "Quando a gente é mulher, a gente tem essa dificuldade de ser respeitada nos ambientes que a gente frequenta. O brega é um meio muito machista, até porque é dominado por homens, tem esse lado pejorativo que explora a sexualidade. As meninas querem rebolar a bunda, mas elas querem ser respeitadas".
A parceira de Rayssa em 'Fica na Tua', Lady Laay, sabe bem o que é abrir espaço para fazer seu ‘trampo’. MC, Bgirl e grafiteira, ela vem desde 2012 lutando para ser ouvida e respeitada no meio do hip hop. A estrada, de lá até cá, ensinou a Laay que o lugar que hoje ocupa é dela e não é necessário pedir licença para mostrar a que veio. "(Já passei por) tentativas de boicote, silenciamento, falta de valorização. Mas coloquei em mente que nós mulheres somos capazes de coisas grandiosas, e se a cena rap não enxerga isso, pra mim ela não é digna do nosso trabalho. Cansei, não precisamos tentar nos encaixar, nos diminuir pra caber num mundinho tão limitado e imaturo, cheio de homens que tentam nos diminuir porque sua masculinidade e ego podem ser frágeis demais diante da nossa capacidade", dispara a artista.
Agora, ela se aventura no meio do trap, indo na contramão da pegada comercial do estilo - que prioriza letras que falam sobre diversão, mulheres (em um sentido quase sempre pejorativo) e ostentação -; e criou o Afrontrap, o "trap de afronta". "Essa minha proposta se refere em mesclar a característica dançante e ousada do TRAP com o viés social na afronta de tocar em feridas da sociedade, tabus e temas polêmicos, que seriam trazidos nas letras de forma afrontosa e descontraída utilizando como principais artifícios o deboche e o sarcasmo", explica Laay.
Consciente de seu papel social enquanto cantora e compositora, ela quer, através de sua música, politizar o estilo e "ser a mudança" que ela mesma quer ver. "Eu acredito que o artista, independente do gênero musical, tem uma responsabilidade sobre o impacto e consequências que sua música causará... Sobretudo quando o público alvo de sua música é uma parcela da população estigmatizada, vulnerável e que está à margem dos privilégios e até dos direitos básicos".
Consciência do poder que suas vozes podem ter também é algo que não falta para as minas do Femigang. O grupo de rap formado pelas MCs Adelaide, Adelita, Maria Helena e a DJ Larissa é ‘cria’ do Recital Boca no Trombone, realizado no Alto do Pereirinha, no bairro de Água Fria, há cinco anos e que vem revelando talentos na cena hip hop pernambucana, sobretudo os femininos. O Femigang foi formado pela necessidade de ocupar esse espaço e veio com tamanha força e disposição de se firmar em uma cena tão masculina que já é tido como referência por outras MCs e rappers que vêm aparecendo no Recife, como comenta Adelaide. "É difícil porque a gente ainda é invisibilizada dentro do movimento, mas a gente conseguiu esse espaço batalhando pra caramba, e os frutos estão chegando".
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Dentre os frutos estão participações em eventos importantes, como o show do rapper Baco Exu do Blues, em maio deste ano, no Baile Perfumado, e o Baile de Favela, que contou com apresentações de lendas do rap nacional como o DJ KL Jay, do grupo Racionais MCs. Mas para as meninas do Femigang, realização mesmo é ver a satisfação do seu público feminino durante os shows sem contar na rede de apoio e acolhimento que elas compartilham com outras artistas. "A gente vem de movimentos sociais, que nós organizamos, e vamos abrindo espaço para outras mulheres que veem que não é só meninas em cima do palco botando som e que não fazem nada além disso A gente tá construindo de verdade com mulheres da periferia, então muitas meninas se sentem acolhidas de chegar", diz Adelaide.
A poeta e rapper faz questão de frisar que além do acolhimento ao público feminino e às artistas mulheres, o esforço do grupo é ensinar aos homens a importância deles nesse movimento de empoderamento feminino. Elas não se incomodam em ensinar sobre questões importantes para que a igualdade de gênero seja alcançada. "Temos outra ideia de feminismo, estamos lidando com os homens da favela, então não temos aquele feminismo de excluir. A gente quer trabalhar com eles e desconstruir aquilo pra poder ensinar a eles e construir juntos. A gente recebe muitas críticas por causa disso, porque a gente escuta eles e quer dialogar. Mas vale à pena, porque a gente vê a semente crescendo, o que a gente tá fazendo tá andando".
Rede de apoio
As dificuldades enfrentadas por essas e outras artistas mulheres que escolhem segmentos considerados machistas para se expressar não são meras histórias de panfleto. As barreiras são reais e vão desde dificuldade em conseguir produzir trabalhos até perseguição e ameaças. Adelaide, do Femigang, lista algumas: "Primeiro que as vezes nem tem 'line' (programação) só de mulher ou com uma mulher, sempre é só homem. Na line que botava a gente, atrasava o som, cortava o som, o tempo era sempre menor, o tratamento não era o mesmo. Às vezes não chamavam a gente porque eles estavam comentando por aí afora que a gente tava querendo mudar o hip hop só para mulheres".
Outra artista, essa da cena trap, Margot - uma joem de apenas 19 anos, moradora de Caetés I, em Abreu e Lima, lista outros empecilhos como a falta de estrutura e dinheiro para botar o trabalho na rua. "Eles lançam som uma vez por semana, a gente passa seis meses para lançar um som. Temos poucas produtoras e beatmakers. Mas hoje em dia ter mulher na line gera um hype, é bom mostrar que tem mulher preta, periférica, mas ainda assim é pouco, a gente precisa mais que uma apresentação".
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Para burlar as limitações e barreiras, as meninas acabam criando uma rede de apoio. A própria Margot só aconteceu após as meninas do Femigang impulsionarem o seu 'corre'. Ela começou a se apresentar em shows do grupo, há cerca de um ano, e acabou engrenando na carreira. "Até hoje eu digo que minhas influências não vieram de fora, vieram daqui mesmo, elas (Femigang) foram as primeiras mulheres do rap que eu comecei a ouvir", diz Margot.
Público feminino
Não é fazer 'música de mulher' mas sim, fazer música sobre e para mulheres. As artistas ouvidas por essa reportagem foram unânimes ao falar sobre a importância de serem reconhecidas pelo público feminino durante os shows. Falar diretamente para quem entende daqueles temas, por viverem o mesmo, é o que faz diferença no trabalho dessas minas. "Quando eu vou fazer show, algumas meninas nem conseguem curtir porque acho que elas ficam com aquele olhar assim impresisonado, elas me procuram e falam surpreendidas, me elogiam. As mulheres têm essa necessidade no meio do brega de dizer: 'poxa, era isso que eu queria ouvir e dizer quando eu escuto brega", diz Rayssa Dias.
Margot também tem essa resposta do seu público, a identificação com o que se diz no palco é imediata e as meninas acabam fazendo do show um momento só seu. "Só a gente fala aquilo que elas se identificam, se não for a gente, ninguém mais vai dizer, por isso nossa voz ecoa muito. Quando eu tô tocando e vejo aquele bate cabeça das meninas, muitas vezes os meninos vêm e elas não conseguem curtir, aí a gente pede pra eles saírem e deixarem elas à vontade também. Aquele é o momento delas".
Já Lady Laay, se surpreendeu com o poder de alcance de suas rimas. Ela revela que o feedback de seu trabalho vem de inúmeras formas, mas, sobretudo, de pessoas que não são da cena rap. “Descobri isso quando me dei conta que a maioria dos convites de shows partiam de eventos/públicos que mal curtiam rap, e que curtiam meu trabalho simplesmente por se identificar com a mensagem e pela representatividade. Foi aí que decidi que se essa cena ignora as mulheres, eu ignorarei esta cena”. A cantora sintetiza bem o que ela e as outras artistas presentes nesta matéria - entre tantas outras que não puderam estar nesse espaço -, representam em suas cenas musicais e até mesmo fora delas: “O simples fato de fazermos o que fazemos já é um ato de resistência”.
Já cantou o rapper Coruja BC 1: "dizem que ouro não é pra gente, Oxum é a minha mãe, eu vou por ouro até nos dentes". A letra da música Apócrifo poderia ser apenas uma licença poética, mas ter dentes 'de ouro' é um estilo popular e que tem o significado de empoderamento na cultura de rua. Para dourar a boca, os adeptos usam um acessório chamado grill que faz sucesso desde a década de 1980 no meio e já adornou até a dentadura de astros de outras vertentes como Madonna, Katy Perry, Justin Bieber e Rihanna.
O grill pode ser encontrado em dois tipos, fixo e móvel. Eles são feitos geralmente com metais prateados e dourados mas também é possível encontrá-los em ouro branco, ouro amarelo, prata e até mesmo pedras preciosas. O rapper brasileiro Don Charles é adepto do acessório e faz acompanhamento com uma odontologista para evitar qualquer tipo de problema. "Minha dentista recomendou escovar os dentes de ouro diariamente para evitar o acúmulo de bactérias e tenho tomado todos os cuidados para não ocorrer problemas com a gengiva".
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Segundo os especialistas, os grills móveis são os mais indicados e é recomendado não se alimentar fazendo uso do acessório nem passar muito tempo com eles na boca pois pode haver movimentação dos dentes e até mesmo problemas nas gengivas. Os grills podem ser feitos sob medida, sem necessidade de prescrição médica e, a depender do material escolhido, seus valores podem chegar a R$ 4 mil.
A 'Batalha da Escadaria', um dos principais eventos da cena Rap em Pernambuco, promove neste sábado (3), a primeira pré-seletiva que dará ao vencedor uma vaga direta na eliminatória regional, o que possibilitará a classificação para representar o Estado no Duelo Nacional de MC's 2019, em Belo Horizonte, Minas Gerais.
O evento acontece a partir das 20h, na escadaria da rua do Hospício com a esquina da avenida Conde da Boa Vista, no bairro da Boa Vista, Centro do Recife. Para participar, rimadoras e rimadores precisam se cadastrar minutos antes do duelo, pagando a inscrição no valor de R$ 5. Dezesseis nomes serão escolhidos em sorteio para o confronto.
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De acordo com a assessoria do evento, cada rimador terá 45 segundos para o duelo que deverá ser feito no estilo 'Freestyle'. O vencedor desta pré-seletiva se classifica para a seletiva pernambucana que acontecerá no próximo dia 31. Na última eliminatória, com também 16 duelistas, quem vencer garante representará Pernambuco na capital mineira, no Duelo Nacional de MC's - que será realizado no final do ano.
A cantora americana de rap Cardi B foi condenada por um grande júri em um caso que a envolve em uma briga em um bar de "strippers", disse nesta sexta-feira uma porta-voz da promotoria do Queens, em Nova York.
De acordo com o processo, as acusações apresentadas contra a cantora, de 26 anos e nascida no Bronx, incluem duas tentativas de agressão com intenção de causar lesões graves.
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A pena não implicará prisão para Cardi B, segundo as leis do estado de Nova York, mas poderia resultar em uma liberdade condicional que complicaria sua intensa agenda de shows.
Seu advogado não respondeu imediatamente a um pedido de comentários da AFP. O comparecimento está agendado para 25 de junho.
Em 29 de agosto de 2018, Cardi B estava no Angels Strip Club no Queens, Nova York, quando supostamente seu grupo começou a lançar garrafas, cadeiras e também um narguilé, que segundo a polícia feriu as pernas de uma funcionária do local.
Foi a rapper quem supostamente ordenou o ataque contra duas irmãs que trabalham nesse bar, porque uma delas manteve relações sexuais com seu esposo, o também rapper Offset.
Nascida Belcalis Almánzar, a ascensão meteórica de Cardi B à fama começou quando ela própria trabalhava como stripper e criou sua personagem nas redes sociais, especialmente no Instagram.
Desde então, não esteve alheia a polêmicas. Em setembro do ano passo se envolveu em uma discussão com a rapper americana Nicki Minaj, durante a Semana de Moda de Nova York. A razão, explicou Cardi B no Instagram, foi que Minaj questionou suas aptidões maternais.
Quem transita pelas ruas do Recife, vez ou outra, se depara com muros coloridos repletos de desenhos. Mal imaginam que muitas dessas imagens falam sobre igualdade de gênero, empoderamento, feminismo e representatividade. Até recentemente dominado pelos homens, o grafite vem sendo tomado pelas mulheres, que através de suas obras exigem lugar de fala e buscam quebrar as barreiras impostas pela sociedade.
Uma dessas mulheres é Gabi Bruce, que está na cena há aproximadamente 18 anos e é uma das primeiras mulheres a ingressar no mundo do grafite no Recife. Quando começou, o mercado na capital pernambucana ainda era escasso e os poucos artistas que existiam eram, em sua maioria, homens.
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“Éramos cinco mulheres e participávamos ativamente da rede de resistência solidária e dos mutirões de grafite. Além do grafite, tínhamos uma zine, que era o ‘Rosas Urbanas Zine’, em que a gente começou a reunir o trabalho não só da gente, de ilustração e poesia visual, mas de outras mulheres que produziam poesia periférica na cidade”, conta Gabi. O grupo de mulheres pioneiras do grafite do Recife também fundaram o ‘Rosas Urbanas Crew’, o primeiro coletivo feminino de Hip Hop do Recife, que reunia mulheres e meninas que grafitavam e dançavam break.
Crédito: Divulgação e Arthur Souza/LeiaJáImagens
Alguns anos depois, em 2009, também com intuito de unir mulheres, foi criado o coletivo ‘Cores Femininas’ pela artista Jouse Barata. “Eu me sentia muito só, quando eu ia pra rua não tinha muitas mulheres pintando comigo. Eu pintava sempre com os ‘caras’ e por essa coisa de estar só, eu decidi fazer um trabalho voltado mais para as mulheres”, explica Jouse. O projeto é uma extensão do ‘Cores do Amanhã’, Organização Não Governamental (ONG) idealizada por Jouse e mais três artistas, desenvolvida no bairro do Totó, próximo ao complexo prisional Aníbal Bruno, na Zona Oeste do Recife. A iniciativa oferece oficinas gratuitas como aulas de capoeira, artesanato e grafitagem, para crianças e adolescentes.
A estudante de Artes Visuais pela Universidade Federal de Pernambuco, Nathália Ferreira é fruto do ‘Cores Femininas’. A moradora de Vila Rica, em Jaboatão dos Guararapes, conheceu o projeto em 2014 e descobriu sua vocação para o grafite. “Ia ter o ‘Colorindo Recife’, um festival promovido pela Prefeitura do Recife, em que os grafiteiros são chamados para pintar vários espaços públicos da cidade e quem tava organizando era o ‘Cores do Amanhã’, no túnel do Pina. Quando eu cheguei lá tava todo mundo pintando, todos os artistas da cena, os novos, os antigos e eu fiquei maravilhada”, relembra Nathália. Atualmente, a estudante ministra, todos os sábados, aulas de graffiti na ONG.
Para expor sua marca e a luta contra o racismo, Nathália optou por trazer representatividade para suas obras e retratar só mulheres negras. Elas também não possuem olhos em reverência a entidades ligadas às tradições religiosas de matriz africana e indígena. Já Gabi, que está em residência artística em São Paulo há algum tempo, além de retratar mulheres negras, trata da mitologia dos iorubás, religião afro-indígena brasileira. Jouse, por sua vez, fez da pressão estética em cima da mulher sua assinatura: uma boneca de olhos azuis e cabelos vermelhos acompanhada de mensagens de valorização da mulher.
Como reconhecimento do seu trabalho, Jouse foi homenageada, em maio de 2019, na publicação ‘Mulheres que mudaram a história de Pernambuco’, da premiação ‘Olegária Mariano’. Este ano, Gabi também foi eleita ‘Melhor Grafiteira’ pelo Prêmio Sabotage, único do país que reconhece as pessoas que contribuem para o movimento Hip Hop de forma política e social.
Apesar da crescente inclusão de figuras femininas no grafite, Gabi conta que a cena ainda é fechada para as mulheres, que o território da arte urbana vem sendo conquistado ‘com unhas e dentes’ e que o mercado é racista, machista e xenofóbico. Para ela, a situação se agrava quando se é mulher e negra. “A gente vai produzindo aos trancos e barrancos. Na resistência, na inspiração e na transpiração, para se inserir nesses espaços, mas não de bom agrado. As portas não são abertas, a gente tem que arrombar”, lamenta.
Depois de mergulhar no universo do anime Afro Samurai, o rapper paulista Yannick Hara buscou referências do cyberpubk para seu novo trabalho, o single Blade Runner. A música faz parte do disco O Caçador de Andróides, com lançamento marcado para o dia 19 de novembro.
Buscando uma quebra de paradigmas em seus trabalhos, Yannick, desta vez, se insere na cultura do cyberpunk e da ficção científica para a construção de seu novo personagem. Bade Runner apresenta a nova estética do rapper, com um videoclipe dirigido pelo ator Vertin Moura, de Big Jato e 3%, e participação especial do poeta Rafael Carnevalli.
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Já o disco que chega no final do ano, Caçador de Andróides, vai trazer uma narrativa sonora que entrelaça o trap, dubstep, big beat, vaporwave, synthpop e pós punk. O trabalho também contará com participações especiais como Clemente Nascimento, da Inocentes, Rodrigo Lima, do Dead Fish, e da cantora Sara Não Tem Nome. Antes do lançamento, serão divulgadas seis faixas entre os meses de maio e outubro.
O baiano Baco Exu do Blues, um dos nomes de maior destaque no atual cenário hip hop nacional, se apresenta no Recife, na próxima sexta (24). Lançando seu disco Bluesman, Baco sobe ao palco do Baile Perfumado, às 22h.
Em única apresentação na capital pernambucana, Baco Exu do Blues traz seu repertório integral, além de singles e faixas de Exu. Na ocasião, ele lança seu segundo disco, Bluesman, avaliado pela revista Rolling Stone como o melhor de 2018 e vencedor do Troféu APCA nas categorias artista revelação, música do ano e disco do ano.
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O show de Baco conta com DJ BBzão, Shan Luango, Ricardo Caian, Bibi Caetano, Aisha Valdoni e o trio curitibano Tuyo. A abertura da noite fica por conta do duo DKVPZ, dupla que mistura suas influências da música eletrônica global com o background dos beats tropicais e brasileiros.
O Brasil tem uma forte tradição de grandes cantoras. Elis Regina, Maria Bethânia, Gal Costa, Angela Ro Ro são mulheres que integram o rol de elite das vozes femininas brasileiras. Porém, as mulheres estão querendo mostrar mais que suas belas vozes ao chegar ao microfone. A necessidade de cantar o que se vive e sente tem feito o número de compositoras crescer de maneira exponencial. Em Pernambuco, o momento é de explosão nesse segmento e a música autoral feita por elas tem movimentado cenas que vão da música popular ao Hip Hop.
Conhecido como berço de grandes músicos, o estado também tem se revelado um celeiro de compositoras; mulheres que através de sua musicalidade, independente de estilo, estão expressando não só suas próprias verdades e anseios como, também, os de tantas outras. Um exemplo disso é Mayara Pera (@mayarapera); com passagem pela banda Lulu Champanhe, mãe de Dom e Martin, e que desde 2017 vem se dedicando intensamente ao seu trabalho autoral, tendo passado já por importantes palcos como o do Carnaval do Recife em 2019.
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Mayara vai lá atrás para falar sobre mulheres que, assim como ela, compõe: “Quando se fala nas mulheres compositoras e intérpretes de suas próprias obras como algo recém aquecido me vem à cabeça citar Chiquinha Gonzaga, com sua chama musical lá em 1877. Sempre teve mulher compondo e criando, só que esse era um espaço às vezes tido como se não fosse nosso, ele sempre foi, hoje não é uma novidade”. Para ela, essas mulheres, de ontem e de agora, estão fazendo “história” e que talvez estejam se multiplicando pelo momento atual que o mundo atravessa: “Acredito que esse aquecimento tem muito mais a ver com um aquecimento de militância feminista, de compor o que se luta e se acredita, do que de fato compor ao que lhe é conveniente”.
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Olhar para trás, ou ainda para os lados, e espelhar-se em quem já trilhou ou está trilhando o caminho das pedras é algo que faz diferença. Sobre isso, Dani Carmesim (@danicarmesim), roqueira pernambucana com um disco lançado em 2014 e outro na agulha, para este ano, entende bem. No início da carreira, em 2004, ela temia se jogar na cena por não encontrar outras mulheres. Só em 2011 é que ela se sentiu à vontade para assumir a carreira e colocar seu nome ‘na roda’: “Descobri que tinham muitas meninas que passavam pelo mesmo que eu, tinham medo de sofrer machismo. Agora com esse ‘boom’ feminino de não querer se calar, de querer mostrar que a mulher pode fazer tudo, a gente se sentiu mais encorajada”.
A onda feminista que vem tomando o mundo, nos mais diversos contextos, também é citada como ‘culpada’ pela proliferação de compositoras por Lady Laay e Sam Silva (@silvasam_). A primeira, MC, Bgirl, grafiteira, analista de sistemas e programadora, fazendo música desde 2012. A segunda, baterista, cantora e compositora da cidade de Goiana, no interior pernambucano, ‘correndo atrás’ desde 2009 e prestes a gravar seu primeiro EP solo. Sam também volta ao passado para justificar o presente, e relembra das muitas mulheres que se escondiam atrás de pseudônimos para compôr sem serem descobertas. Hoje, diante desse novo cenário, a liberdade de escrever se tornou algo real e está se multiplicando: “Eu atribuo isso a uma questão de empoderamento mesmo que vem acontecendo no contexto geral das coisas mas principalmente na música. A gente está se sentindo mais à vontade de botar a cara à tapa”
Já Lady Laay (@ladylaaine_elaine), que precisou garantir seu espaço em meio à cena Hip Hop, durante muito tempo dominada exclusivamente por homens, entende que este é um momento em que não é mais preciso para as mulheres ‘pedir permissão’: “A mulher no rap passa por algumas fases: na primeira, a gente tenta se inserir, mostrar que é capaz, mas sempre muito angustiadas com essa falta de espaço, tem meio que pedir licença pra entrar; na segunda fase é o enfrentamento, mas depois a gente já sabe que ali é nosso lugar e não vamos mais pedir licença. Ou fazemos nosso próprio espaço ou a gente arromba as portas, quer eles queiram quer não. Eu não tenho mais paciência de provar minha capacidade”.
Música 'de Mulher'
O momento favorável à composição feminina não exime as mulheres que escolhem esse caminho dos desafios de se inserir no mundo musical. A necessidade de provar sua capacidade, lidar com o descrédito, olhares tortos e, muitas vezes, boicote por parte dos outros, ainda é uma constante na labuta diária. A estereotipação do trabalho dessas mulheres também é algo que precisa ser combatido por elas.
Sam Silva relembra o início da carreira quando se deparou com esse tipo de barreira pela primeira vez: "Comecei como baterista, na banda Vênus em Fúria, e eu lembro dos olhares que eu recebia ou da cara de surpresa ou de desprezo por me verem na bateria. Quando eu fui pro violão as coisas mudaram um pouco, mas também tem o estereótipo de você ser lésbica e as pessoas acharem que a mulher lésbica tocando violão combina só com MPB".
A artista goianense diz que lutar pela quebra desses estereótipos é uma tarefa diária mas, apesar de parecer difícil, é possível: "Sempre há a especulação da imagem quando você vê, mas a gente vai tentando quebrar devagar, não só comigo mas com várias compositoras que eu observo, como Flaira Ferro (@falira_ferro), Mayra Clara (@cantoramayraclara), Sofia Freire (@sofia_freire). A gente tem os exemplos delas que fazem um som totalmente novo, isso é importante".
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Dani Carmesim vai além quanto ao assunto revelando que esta não é uma exclusividade do mundo musical: "É uma realidade, tudo que a mulher faz, não só na música, é sempre uma coisa 'da mulher'. Infelizmente é como se a mulher sempre tivesse que provar pra sociedade, pros homens, que ela é capaz de fazer as coisas; e o que ela faz é igual e até melhor do que um homem faz". A compositora dá a receita para driblar o que poderia ser um empecilho: "A gente consegue se desvencilhar disso trabalhando, fazendo mais música, nao baixando a cabeça, não calando a boca, não aceitando que sejam impostas regras ou limites. Ninguém tem que passar por isso. Dessa maneira a gente mostra que nada precisa ser dividido".
Já Mayara Pera tem uma visão um pouco mais diluída sobre o assunto."Essa expressão 'rock de menina' eu já ouvi vagamente, mas nunca dei muita importância. É uma expressão que só se dói quem se encaixa, por isso nunca dei importância; é uma expressão que não existe onde eu ando. Pra mim rock é rock. Não faço a menor ideia do que seja 'rock de menina'". Demonstrando já estar calejada, a compositora parece acreditar que alimentar certas 'pilhas' é algo dispensável: "Nunca liguei em fugir de estereótipos, aliás fugir de nada. Eu tô fazendo meu som, cantando minhas histórias. As interpretações são todas bem vindas. A mulher que se conhece e sabe o que tá fazendo não liga para rótulos, ela vai lá e faz. E ponto final”.
Cota no mercado
As mulheres estão mais disponíveis e dispostas a compor e fazer sua música acontecer e o mercado parece estar abrindo os olhos para o trabalho delas. Porém, ainda não o suficiente. Para Lady Laay, a repercussão que as lutas feministas vêm ganhando na mídia estão contribuindo para que haja uma abertura: "Esses discursos têm tido mais espaço porém, ainda é um desafio. Ainda mais quando a gente vê o quanto as mulheres ainda ficam de lado comparadas aos homens. A gente já avançou bastante, mas ainda tem que avançar mais. Ainda é um protagonismo meio autorizado".
Mayara também não acredita que o mercado tenha "abraçado a causa" de fato, e comenta que recebe mais propostas durante Março, quando é celebrado o mês da mulher. "No resto do ano, canso de ver festivais onde tem quatro bandas compostas exclusivamente por homens e uma por mulher, pra não dizer que não colocaram as minas. É como se a gente tivesse uma 'cota' feminina de adentrar em um espaço que é nosso, que sempre foi nosso como citei anteriormente, desde 1887".
Já Dani faz uma ressalva quanto ao cenário recifense: "Aqui não há muita oportunidade para o novo, ainda tem muitas cartas marcadas que meio que controlam o que vai dominar nos palcos. Além de haver poucos espaços para a música autoral. A gente tenta quebrar isso ao máximo, a gente tenta diminuir o preço das entradas, fazer sorteios, mas o pessoal ainda é meio travado nessa parte de colaborar".
Juntas
Para além do mercado, uma outra fonte de apoio primordial para essas mulheres vem do público. Este precisa estar presente, compartilhando, indo aos shows e repercutindo os trabalhos que por vezes, ou sempre, se confundem com luta. Lady Laay lamenta: "As mulheres ainda não estão consumindo o produto de outras mulheres, existe muito apoio verbal, mas às vezes, o apoio real, que move as coisas, ainda não vem tanto".
Para Dani, essa necessidade transformou-se em campanha. Ela tira um dia da semana para publicar lançamentos e trabalhos de outras artistas locais nos seus stories do Instagram, com a hashtag #euindico. A cantora acredita que dessa forma, além de estimular o público, ela também coopera para que o seu próprio som tenha um maior alcance. "Se eu quero que as pessoas me escutem, e outros artistas também, eu tenho que dar o exemplo. Tanto eu ajudo as outras meninas como eu também de certa forma me ajudo como artista, porque ao divulgar outras mulheres eu tô incluída nessa rede, essa rede também vai se expandir pra mim. A gente tem que se ajudar, a gente não pode ficar esperando. Acho que todo artista deveria pensar nisso e nao ter esse sentimento de competição e isso se quebra com luta".
‘Escute as mulheres’
O LeiaJá preparou uma lista de indicações de mulheres compositoras que estão movimentando a cena musical pernambucana. Confira o trabalho dessas minas.
Músicos e fãs da cena hip hop pernambucana usaram as redes sociais, nesta terça (12), para lamentar a morte de um nome importante no meio, Rafael Beiton, o MC Gênio. Rafael faleceu na última segunda (11), em São Paulo, por conta de um mal súbito.
Rafael Beiton tinha 31 anos e além de rapper, também era atleta e professor de kickboxing. Ele estava em Mogi das Cruzes, São Paulo, participando de um torneio, no último final de semana, e chegou a lutar quatro vezes. Após a última luta, o atleta passou mal e foi socorrido; ele chegou a passar por uma cirurgia mas não resistiu. Segundo laudo preliminar, o óbito foi provocado por um traumatismo cranioencefálico.
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Muito querido no mundo do rap, o MC Gênio foi homenageado nas redes sociais, nesta terça (12), após a confirmação de sua morte. "Ainda sem acreditar. Meu professor na arte de rua, o primeiro maluco que tomou coragem de fazer uns CDs e colocar na mochila para vender nos transportes públicos"; "O Hip Hop perde uma peça muito importante. Momento muito difícil e de reflexão, espero que tudo isso sirva para o movimento se unir cada vez mais. A rua chora por saber que não veremos mais Gênio batalhar ou fazendo free em algum ônibus".
A Praça Dantas Barreto, no bairro do Carmo, em, Olinda, vai se transformar em sala de aula para a capoeira e o Hip Hop. Na próxima quarta (5), a Casa Profissional de Arte e Cultura de Pernambuco (CAPAC), ocupa o espaço com o Quartas na Praça, que promoverá aulas gratuitas das duas modalidades. O projeto pretende se repetir de 15 em 15 dias.
O objetivo da CAPAC é proporcionar, aos moradores e visitantes da região, diferentes atividades culturais facilitando-lhes o acesso à arte. As aulas, ministradas pelos professores da instituição, serão realizadas quinzenalmente com custo zero para os alunos. Para participar, não é necessário realizar inscrição prévia, basta comparecer à praça no horário marcado.
O projeto feminista Dandaras do Norte é um grupo de slam (performance competitiva poético-musical) itinerante criado no final 2016 e é composto por 20 mulheres que atuam na poesia, hip hop e como Dj. O coletivo tinha como objetivo, num primeiro momento, garantir o protagonismo feminino no hip hop. Atualmente, possui um amplo público que acompanha e participa das disputas.
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As composições do coletivo são autorais, tanto no hip hop quanto na poesia, e falam sobre temas variados que abrangem as realidades vividas por cada uma das integrantes, como regionalismo, vivência lésbica, viver sem violência, liberdade. “Tudo que se canta, tudo que se recita é muito pessoal, parte das nossas vivências. E cada uma aborda na sua poesia um tema diferente. Eu, pelo menos, falo da não violência contra a mulher, relações étnico-raciais, de política e tantos outros temas. Depende muito do momento”, disse Shaira Mana Josy, uma das integrantes do coletivo. Em uma das suas apresentações, o grupo já teve uma interferência inconveniente de um homem que se levantou e começou a falar de seus genitais. “Foi algo muito chato, os próprios seguranças tentaram convencê-lo a sair do local e ele não queria sair”, relembrou a artista.
Muitas mulheres, ao terminar o slam, a disputa artística, procuram as integrantes para conversar e dizer que o movimento é muito importante para elas, que desejam fazer parte de alguma forma e que se sentiram representadas nas poesias, nas letras das músicas. “A importância do movimento está em poder fechar um trabalho que dê segurança para as mulheres e ao mesmo tempo que elas conseguem se fortalecer, aumentar sua autoestima. A partir daí poder produzir e enfrentar outros espaços, acreditando que seu trabalho é tão importante quanto o de qualquer outra pessoa”, explicou Shaira Mana.
O grupo Dandaras do Norte já viajou por algumas cidades do Brasil, entre elas Manaus, São Paulo e Rio de Janeiro. Também é procurado para participar de pesquisas sobre o trabalho que produz. “As pessoas querem nos ouvir e entender como é que nós produzimos esse tipo de trabalho, quais são nossas inquietações. E dentro da academia também tem muita gente procurando para desenvolver dissertações, TCC, artigos para saber quem somos nós e de onde que vem essa força do coletivo”, relatou a poetisa.
O Dandaras do Norte participa do evento Bike Anjo, nesta quinta-feira (15), ao lado da Casa das Artes. A apresentação será de 11 às 11h45.
O Recital 'Boca no Trombone' realiza edição especial, intitulada 'Nosso grito pela Democracia', na próxima sexta (26), em uma ação que integra a articulação nacional Hip Hop Resiste. Vários MCs pernambucanos se reunirão, na ocupação Marielle Franco, na Praça do Diário - centro do Recife - para uma batalha de rimas a partir de temas relacionados com as eleições 2018. O evento é aberto ao público.
Para batalhar, os MCs participantes deverão rimar com temas como racismo, lgbtfobia e transfobia, o respeito aos Direitos Humanos e a defesa à democracia. Além das batalhas, também acontecerão performances cypher de break, recital de poesia, freestyle e live painting de graffiti.
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O evento é uma parceria de vários coletivos da cena Hip Hop local e se propõe a promover uma unificação com a articulação nacional do Hip Hop Resiste, movimento que vem reunindo artistas do hip hop para se posicionarem a favor da periferia e da população negra diante do atual cenário eleitoral brasileiro.
Em 1929, músicos e dançarinos de cabarés dos EUA perderam seus empregos por conta de uma grave crise econômica. Para não ficarem parados, eles resolveram se apresentar na rua mesmo e a manifestação acabou se tornando um estilo de dança, ou melhor, vários.
Com o passar dos anos, a Dança de Rua foi tomando corpo e assimilando as mais diversas culturas e identidades. No final dos anos 1960, o Soul e o Funk de James Brown enriqueceram ainda mais esse cenário e, nas décadas de 1970 e 1980, a música disco e o rap também contribuíram para o engrandecimento e proliferação dos estilos que compõem o ‘Street Dance’.
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Sobretudo nos anos 1970, a cultura negra se estendeu e encontrou outras manifestações artísticas como a poesia e o grafite, formando o movimento Hip Hop. O break, um dos estilos de dança de rua mais conhecidos do mundo, tornou-se um dos pilares desse movimento e, hoje em dia, rompeu os limites do asfalto e é reconhecido como arte.
‘Dono’ do break nacional
Um dos responsáveis pelo crescimento dessa expressão artística no Brasil é o pernambucano Nelson Triunfo. Considerado o pai do Hip-Hop no país, o dançarino, coreógrafo e educador social é um dos precursores da dança de rua brasileira. Atuando desde 1972, 'Nelsão', como também é conhecido, saiu do sertão de Pernambuco para ganhar o Brasil e o mundo com seu estilo único de dançar e a cabeleira inconfundível que se tornou marca registrada. Triunfo ensinou várias gerações não só a executar os passos do break, mas, sobretudo, a viver a atitude Hip Hop.
Ainda garoto, no início da década de 1970, Nelson já se encantava com o mundo da dança no interior pernambucano, em sua cidade, Triunfo. Seu pai tocava forró e o frevo e os musicais que assistia no Cine Guarany, com bailarinos americanos, faziam os olhos do garoto brilhar.
Mas foi em Paulo Afonso, na Bahia, já adolescente, que Nelsão começou a fazer sucesso nos bailes. Suas performances chamaram atenção desde o princípio: “Ninguém entendia nada quando via, mas achava legal. Uns admiravam, outros achavam que eu era doidão”, relembra aos risos, em entrevista exclusiva ao LeiaJá. O dançarino também se lembra da “implicância” da polícia, quando o via dançar junto aos amigos.
Mas nada parou Triunfo. Pelo contrário, ele se mudou para São Paulo e deu início a um movimento muito maior que o garoto nascido no sertão de Pernambuco poderia imaginar. Nelson foi um dos responsáveis por disseminar a cultura Hip Hop no Brasil, sobretudo no campo da dança, e desde então, vem repassando seus ensinamentos: “Influenciei muitos, não só do Hip Hop como de outros segmentos. Sou essa referência, os velhos do meio e os novos gostam muito de mim”.
Porém, o dançarino, na ativa há cinco décadas, não se deixa envaidecer pelo posto de referência: “Pesa. Acho sempre melhor pensar que é uma missão e nunca estive sozinho nela. Penso no coletivo”. E foi pensando coletivamente que Triunfo ensinou incontáveis dançarinos, muitos deles, hoje profissionais da dança e campeões de batalhas. A “missão”, como diz o ‘mestre’, é levada adiante com muito amor, “sempre em busca de conhecimentos” e novos caminhos: “Sou o mais velho e talvez o mais novo pela maneira de pensar, não como uma determinação mas sempre com possibilidades de mudanças”.
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Batalhas
Uma das características do break é a competição entre os dançarinos, os B-Boys e B-girls. As batalhas são duelos entre os dançarinos que competem para ver quem tem os melhores passos, muitos deles improvisados, e quem dança com maior criatividade, desenvoltura e técnica.
Existem diversas competições do tipo ao redor do mundo, uma das maiores, a Red Bull BC One, foi criada em 2004 e já foi palco para importantes B-boys e B-girls do segmento, muitos deles brasileiros como Pelezinho e Neguin, o único latino americano a conquistar o cinturão de campeão. Os dois integram hoje o Red Bull BC One All Stars, um time de b-boys, surgido a partir das competições, que reúne os principais nomes da cena. Além dos dois brasileiros, o grupo conta com Cico (Itália), Hong 10 (Coreia do Sul), Lil G (Venezuela), Lilou (França), Ronnie (EUA), Roxrite (EUA), Taisuke (Japão) e Wing (Coreia do Sul).
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Neste domingo (21), o Festival de Dança do Recife encerra sua 23ª edição com um final de semana de Batalha de Hip Hop. Serão 32 equipes batalhando no Ginga B'Boys e B1Girls 2018; além das apresentações dos DJs Stanley e Nildo Rufino e dos MCs GabGirl e Dom Pablo. O grupo Brasil Style Bgirl, do Distrito Federal também é uma das atrações do evento que será realizado no Compaz Eduardo Campos, no Alto de Santa Terezinha; das 10h às 21h.
Nas próximas segunda (22) e terça-feira (23), será realizado o Encontro Municipal de Audiovisual na Educação (Emcine), que trará atrações do universo geek. Além disso, serão apresentados 290 filmes produzidos por alunos e professores de escolas municipais do Recife.
O evento é gratuito, será realizado no Centro Cultural dos Correios, no Bairro do Recife. Para participar, é necessário fazer a inscrição previamente através do site do encontro. Além das exibições de filmes, haverá também outras atividades como concursos de cosplay, K-Pop, Hip Hop, desafio HQ, karaokê, palestras e oficinas.
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Entre os convidados, está Clayton Sangregório, dublador de séries como Cavaleiros do Zodíaco e The Walking Dead, e Andressa Bodê, que dá voz a personagens de seriados como Girls e Doctor Who. Confira a programação completa.
Começa, na próxima sexta (12), a 23ª edição do Festival de Dança do Recife. Este ano, o evento levará mais de 17 espetáculos internacionais, nacionais e locais, além de oficinas e até uma competição de hip hop, para teatros e espaços públicos da cidade. A programação fica em cartaz até o dia 21 de outubro.
Dentre os destaques internacionais da programação, estão a Debris Company e o Grupo Folclórico Stavbar, da Eslováquia, assim como os bailarinos austríacos, Markus Jastraunig e Carla Weissman. Já entre as atrações nacionais, três virão pela primeira vez ao Recife: os bailarinos clássicos Isabella Rodrigues e Jackson Liee, de São Paulo; e o Núcleo Pedro Costa, também do estado paulista.
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Os espetáculos serão apresentados nos teatros de Santa Isabel, Barreto Júnior, Luiz Mendonça, Apolo e Hermilo Borba Filho, além de espaços como Compaz Eduardo Campos, no Alto de Santa Terezinha, e a Escola Ana Rita Lessa, no Jordão. As atividades formativas contemplarão discussões e oficinas para iniciantes e iniciados do jazz, dança de salão, dança contemporânea, dança clássica, dança do ventre, hip hop e dança folclórica. A programação completa pode ser vista no site da Prefeitura do Recife.
Na corrida contra todas as desvantagens que um artista periférico precisa enfrentar, como falta de patrocínio, visibilidade e espaço para tocar, estão, além dos próprios artistas, os produtores culturais. São pessoas que ‘compram’ a causa e se empenham na produção de eventos e festivais que fazem as cenas tomarem forma e, de fato, acontecer. Os bairros estão cheios de exemplos como o Festival de Inverno de Camaragibe, Festival de Inverno da Várzea, Rock Ribe e Ipsep tem Cultura, para citar alguns, que agregam os interessados e movimentam as engrenagens dos artistas independentes. O Especial 'Vozes da Periferia' conversou com alguns deles.
A Praça da Convenção, emblemático ponto do bairro de Beberibe, foi o local escolhido para a realização da primeira edição do Rock Ribe. O festival, produzido pelo jornalista Fernando Parker, reuniu bandas como a Conspiração Reptiliana, Liv e Amperes, entre outras. Para Fernando, a maior dificuldade em realizar o evento foi conseguir patrocínio, além da organização da documentação necessário para deixar tudo em ordem.
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Porém, a união de forças entre os músicos e até outros produtores de localidades diferentes fez valer o esforço. “Deu muita gente. Foi muito bom porque Beberibe estava precisando de um evento de rock”, disse Fernando, que já idealiza uma segunda edição do festival ainda para o ano de 2018.
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Na Várzea, Zona Oeste do Recife, os próprios artistas é que mantêm a cena em constante movimento. A área é tradicionalmente conhecida por sua profusão de cultura popular, como maracatu de baque virado, coco e o carnaval de Mestre Dida. “Dida foi um brincante cantador de cocos e também compunha marchinhas para sair em cortejo pelas ruas da Várzea com a sua Burra. Manter acesa essa chama da cultura popular nas periferias é uma missão para mim”, diz o músico Publius, morador do local e, também, um agitador cultural de sua cena.
Hoje o bairro conta com o Festival de Inverno da Várzea (FIV), evento já consagrado no calendário da cidade, além de estabelecimentos que abrem as portas para seus artistas. "Zé Freire e Iko Brasil vêm movimentando a música no bairro, além de Well, Lenilson Pop e outros artistas”, conta Publius. Ele também menciona o Maracatu Várzea do Capirabibe, Zé Lasca Vara e o Coco que Roda e Gustavo Paz, que estão “dinamizando” essas expressões populares. “Há espaço para todos. Na Várzea tem espaço para o coco, o maracatu, a MPB, a música nordestina, o choro, o jazz tupiniquim e para a Música Pop Periférica também”, sintetiza o músico.
Bem distante dali, em Camaragibe, uma iniciativa aos moldes do FIV realizou sua terceira edição em 2018, o Festival de Inverno de Camaragibe. Realizado de forma completamente independente por Vinícius Lima e Thiago Chalegre, músicos da banda Mangueboys, o evento, além de movimentar a cena da cidade, tem aberto espaço para bandas e artistas de diversas localidades. “A gente está nessa guerrilha, do movimento underground da cidade, de fazer esse levante mesmo, de resistir e insistir, porque acho que é isso que falta muito aqui em Pernambuco mesmo. A cultura é o símbolo da resistência”, diz Vinícius.