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O presidente da República em exercício, Michel Temer, disse nesta terça-feira, 30, que a questão da maioridade penal de 18 para 16 anos é "suprapartidária". Ele defendeu uma reformulação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) para resolver o problema. Na avaliação de Temer, uma mudança no ECA "acaba dando o mesmo resultado" que a redução da maioridade penal.

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), quer colocar em votação nesta terça-feira a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que estabelece a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos. Cunha disse que a sessão "vai ser bem tumultuada" e que "se for tranquila, não tem graça".

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"É (uma questão) suprapartidária. Eu pessoalmente não escondo a posição pessoal pela reformulação do ECA, que acaba dando no mesmo resultado", disse Temer a jornalistas, ao chegar ao gabinete depois de almoço com deputados no Palácio do Jaburu.

"O que se quer é que aquele que cometeu crime aos 16 anos, se condenado a pena maior, não só cumpra até os 18, mas continue a cumprir a pena pelo crime cometido", destacou.

O Planalto vê com bons olhos a proposta do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, de aumentar o tempo de internação do jovem infrator que cometer crime hediondo, sem reduzir a maioridade penal.

Mobilização

Nas últimas semanas, ministros do governo intensificaram a mobilização para impedir o avanço da proposta de redução da maioridade penal no Congresso.

Na semana passada, o Ministério da Justiça divulgou o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen), mostrando que, na contramão do que vem ocorrendo entre os países com as maiores populações prisionais do mundo, o Brasil aumentou o seu ritmo de encarceramento em 33% entre 2008 e 2014.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, admitiu que antecipou a divulgação do relatório para alertar sobre as consequências da redução da maioridade penal.

Reunião

Temer convocou para a tarde desta terça-feira uma reunião com líderes. "Vamos tratar dos vetos que possivelmente venham a ser votados amanhã. Há preocupação de manutenção de todos os vetos", disse.

Os dois vetos que mais causam apreensão no Planalto é a possibilidade de partidos criados por fusão receberem, durante 30 dias, filiados a outros legendas, sem perda de mandato eletivo; e a garantia a um grupo de fiscalização tributária da mesma remuneração de auditores da Receita Federal.

As duas propostas foram vetadas pela presidente Dilma Rousseff, que cumpre agenda nos Estados Unidos até quarta-feira, 01.

Um grupo de manifestantes que está com uma liminar concedida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) permitindo o acesso à Câmara dos Deputados tenta entrar na Casa na tarde desta terça-feira, 30. Alguns já conseguiram ter acesso ao salão verde, mas boa parte do grupo continua contida antes da escadaria que dá acesso ao local.

Um dos "gritos de guerra" do grupo contra a redução da maioridade penal, que deve ser votada nesta terça, faz menção ao presidente da casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). "Ei, Cunha não esquece. Tem liminar do STF", afirmam. "Redução é farsa, não muda nada, não. Eu quero mais dinheiro pra saúde e educação", gritam os manifestantes.

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Há outro um grupo a favor da redução da maioridade penal que também tenta entrar no local. Até o momento, no entanto, a maior parte dos manifestantes é barrada pela polícia legislativa.

Alguns deputados afirmaram nesta tarde que Cunha deu senha aos líderes de bancada para permitir acesso de algumas pessoas no Plenário, mas que se houver confusão, ele mandará esvaziar a Casa.

Alheio à pressão dos partidos governistas, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), quer colocar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que estabelece a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos em votação nesta terça-feira, 30. O peemedebista, favorável à redução, disse esperar que a sessão seja tumultuada. "Vai ser tranquila nada. Vai ser bem tumultuada. Se for tranquila não tem graça", afirmou ao chegar na Câmara no início da tarde.

Manifestantes aguardam do lado de fora do Congresso com faixas e cartazes. O Batalhão de Choque da Polícia Militar também está no gramado diante do Parlamento. Alguns manifestantes conseguiram entrar na Casa por força de um salvo-conduto concedido pela ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF). Cunha disse que serão distribuídas algumas senhas, mas, em caso de tumulto, determinará a retirada da plateia.

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Cunha disse esperar um quórum mínimo de 450 dos 513 deputados. Para aprovar uma PEC é preciso um mínimo de 308 votos. "Quero votar. O resultado depende da maioria", afirmou.

O presidente da Câmara disse que ainda conversará com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para definir se a sessão do Congresso prevista para esta noite ocorrerá de fato. A realização da sessão pode postergar a votação da maioridade. Caso vislumbre a possibilidade de derrota, Cunha pode articular com Renan a manutenção da sessão. Se a possibilidade mais forte for de vitória, a tendência é que a sessão conjunta das duas Casas seja derrubada.

Quanto ao apelo do governo para que sejam feitas alterações no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em vez de mudanças na Constituição, Cunha disse que só votará mudanças no ECA depois de votar a PEC.

Partidos da base aliada do governo apresentarão nesta terça-feira, 30, em reunião de líderes partidários com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), uma proposta de acordo de procedimentos para retirar de pauta a votação da redução da maioridade penal para que o tema seja rediscutido e apreciado como projeto de lei em vez de Proposta de Emenda à Constituição (PEC).

No entanto, os próprios governistas sabem que é praticamente impossível que o acordo seja aceito. Sem garantia de que conseguirão impedir 308 votos a favor da PEC da redução, a base governista deve trabalhar para retardar o início da votação. A intenção dos deputados é que, com o recesso parlamentar de julho, a votação seja adiada para o segundo semestre.

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Os parlamentares governistas reuniram-se nesta manhã com os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Pepe Vargas (Direitos Humanos) para traçar a estratégia de tentar evitar a aprovação.

Deputados contrários e a favor tentam argumentar com seus colegas atrás de votos. Um dos defensores mais aguerridos da redução, o deputado Capitão Augusto (PR-SP), conhecido por circular fardado pela Câmara, distribuiu propaganda por mensagem de Whatsapp. "O Brasil não tolera mais impunidade! Hoje, dia 30 de junho de 2015, a Câmara Federal dará uma resposta à sociedade votando o projeto de redução da maioridade penal", diz o texto do deputado, cercado por manchetes de sites que abordam crimes cometidos por menores de idade.

Nesta terça-feira (30), será votada na Câmara dos Deputados, em primeira instância, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 171/93, que reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos. A PEC tem gerado muitas dúvidas sobre os desdobramentos que pode gerar.

Primeiramente, a própria validade da proposta está sendo questionada. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PE) aponta que se trata de algo inconstitucional. É que a Constituição Federal, em seu artigo 228, aponta que os menores de 18 anos são inimputáveis. “Isto é uma cláusula pétrea. Só através de outra constituinte, de uma nova assembleia geral, formada  para isso, é que poderia mudar”, aponta o promotor da Vara de Execuções Penais de Pernambuco, Marcellus Ugiette. 

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O documento também diz que os direitos e garantias estão elencados em tratados internacionais do qual o Brasil é signatário, como no caso do Pacto de São José da Costa Rica. Este tratado deixa claro que os adolescentes devem ser separados dos adultos, participando de um tribunal especializado. 

“Esta pode pode ser aprovada no Senado. É um risco real e concreto. Mas se isso ocorrer a OAB será a primeira a entrar com o pedido de inconstitucionalidade”, destaca o presidente da OAB em Pernambuco, Pedro Henrique Reynaldo Alves.

De acordo com os especialistas, a aprovação da PEC não vai atingir outros direitos civis de imediato, mas pode servir de argumento para que haja novas mudanças.

Ugiette não classifica como improvável que, após a sanção da proposta, ações judiciais apareçam pedindo que jovens a partir de 16 anos possam tirar carteira de motorista, comprar bebidas alcoólicas e cigarro ou se casar sem o consentimento dos pais.  O Código de Trânsito Brasileiro, por exemplo, prevê que para tirar a carteira é preciso apenas saber ler e escrever, ter carteira de identidade e ser penalmente imputável -  e um jovem maior de 16 anos poderia preencher tais requisitos. 

Outros cenários devem sofrer alterações críticas. O promotor lembra que pessoas que cometem abuso sexual de menores, com pessoas de idade de 16 ou 17 anos, podem vir a perder esta qualificadora. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) também prevê agravantes para quem for classificado como aliciador de menores. “Se esta PEC passar certamente isto vai mudar. É perigoso”, opina o promotor.  

Para Pedro Henrique, a mudança na imputabilidade penal não vai trazer, por consequência direta, nenhum direito já assegurado. “Não é extensão imediata de forma alguma. Mas pode criar uma presunção, pois, se esses menores vão poder responder pelos seus crimes como um maior, por que não autorizarem que possam dirigir?”, reflete o presidente. 

Tanto Marcellus Ugiette quanto Pedro Henrique concordam, entretanto, que é tempo para se pensar em modificações na lei. Ugiette acredita que é razoável pensar num maior tempo de reclusão para os internos, que atualmente é de no máximo três anos, e acredita que deveria haver uma integração entre a Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude e a de Ressocialização, para traçar melhor o perfil do infrator. Já o presidente da OAB-PE pensa que uma das saídas para combater o crime cometido por menores é aumentar a gravidade do crime de aliciamento.

Movimento – Nesta terça-feira (30), na Faculdade de Direito, foi realizado um debate sobre a redução da maioridade penal. Os organizadores participam do movimento #NãoàRedução. Segundo o coordenador da campanha, Lucas Tiné, a proposta não vai mudar a criminalidade no país e ele teme eu mesmo assim ela seja aprovada hoje. “Ela pode passar hoje, mas como o presidente do Senado, Renan Calheiros, já disse que é contra, existe a possibilidade que seja rejeitada”, comenta.

Hoje será a votação em primeira instância da proposta. Quarta-feira (1°) haverá a votação em segunda instância. Se ela for aprovada nas duas votações seguirá para o Senado. Se no Senado houver alteração no texto da PEC, ela volta para a Câmara dos Deputados para ser reanalisada; caso não haja, ela poderá entrar em vigor sem precisar ser sancionada pela presidência da República. 

Na tentativa de impedir a aprovação da redução da maioridade penal na Câmara dos Deputados nesta terça-feira, 30, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que, caso jovens com idade entre 16 e 18 anos sejam punidos como adultos, a situação do sistema prisional brasileiro ficará "catastrófica".

"A situação, caso seja aprovada (a redução), será alarmante. As consequências serão desastrosas para o País", afirmou Cardozo, após reunião com líderes de partidos da base do governo. Os deputados governistas devem tentar retardar o início da votação para que o tema só seja discutido após o recesso parlamentar de julho.

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O ministro disse haver atualmente déficit de mais de 220 mil vagas no sistema prisional brasileiro. "Temos presídios completamente superlotados. A taxa de ocupação chega a 160% e há mais de 400 mil mandados de prisão a serem cumpridos. Temos necessidade de um outro sistema prisional", afirmou.

Segundo Cardozo, a projeção do governo é que, com a aprovação da redução da maioridade penal, de 30 a 40 mil jovens ingressarão anualmente no sistema prisional. A título de comparação, Cardozo disse que o governo entregará no final deste ano 40 mil vagas prometidas pela presidente Dilma Rousseff em 2011. Ou seja, o governo levou quatro anos para construir o número de vagas que, em tese, será ocupado anualmente pelos jovens.

"Isso é uma bomba atômica para o sistema prisional dos Estados", disse o ministro da Justiça. "Há momentos em que o governo não pode deixar de informar que o caminho é desastroso".

Uma pesquisa sobre o sistema penitenciário que Cardozo afirmou ter distribuído a todos os deputados e senadores mostra que detentos têm nível de contaminação por HIV 60 vezes maior do que quem está em liberdade.

Cardozo afirmou ainda que, a alteração na maioridade penal implicará mudanças de outras leis. Como exemplo, disse que a permissão para dirigir também será reduzida para 16 anos e que haverá discussão jurídica para outros temas como idade mínima para consumo de álcool e abrandamento de penas para quem praticar crimes como estupro contra menores.

Votação

A votação está prevista para começar no final da tarde desta terça-feira. No entanto, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pretende votar antes a urgência na apreciação de um projeto que altera as regras de correção do FGTS e um projeto de lei que estabelece regras para a reindexação de dívidas dos Estados.

Deputados contrários à redução formaram uma força-tarefa para criar propostas alternativas na intenção de convencer colegas hoje favoráveis ao texto que será apreciado. A tentativa dos parlamentares é reverter a atual tendência de aprovação, evitando que o PMDB, junto com o PSDB e a chamada "bancada da bala", consigam os 308 votos necessários para a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC).

O texto, aprovado com folga há duas semanas no colegiado formado na Câmara para discutir o tema, reduz de 18 para 16 anos a maioridade penal para crimes hediondos (como estupro e sequestro), homicídio doloso (com intenção de matar), tráfico de drogas, lesão corporal grave, lesão corporal seguida de morte e roubo com causa de aumento de pena, como o uso de arma, a participação de mais de uma pessoa ou quando a vítima sofre lesão ou morre. A proposta dispensa a necessidade de decisão judicial para afastar a inimputabilidade do menor.

A proposta prevê que os maiores de 16 e menores de 18 anos cumprirão a pena em estabelecimento separado dos demais. Também prevê que União e Estados terão de criar os estabelecimentos para o cumprimento das penas.

No Senado, a discussão é em torno de alterações no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). As propostas envolvem ampliação do período de internação para até dez anos. O governo defende relatório do senador José Pimentel (PT-CE) sobre proposta apresentada pelo tucano José Serra (SP). Pelo texto de Pimentel, o período de internação é ampliado apenas em casos de crimes hediondos praticados com violência ou grave ameaça. A proposta é semelhante àquela apresentada pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). O texto de Serra defendia a ampliação da internação para dez anos.

O relatório prevê ainda que a internação deve ser cumprida em estabelecimento específico ou em ala especial, assegurada a separação dos demais internos. Quanto à pena para o adulto que induz ou acompanha menor de idade na prática de crime, o texto de Pimentel é mais brando que aquele apresentado pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG). Enquanto o texto do tucano triplica a pena para o maior de idade, o do senador petista dobra. Assim, a pena máxima para o aliciador, que hoje é de quatro anos, vai a oito anos, segundo o substitutivo de Pimentel. O texto do petista também estabelece prisão de um a quatro anos para quem facilitar a fuga de menor infrator.

Estudioso da violência no Brasil, o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz aponta a redução da maioridade penal como fator capaz de "duplicar ou triplicar" o crescimento do número de homicídios de jovens no País.

Estudo feito pelo pesquisador, divulgado ontem pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, mostra que o homicídio é a principal causa de morte de adolescentes de 16 e 17 anos. Caso a proposta de redução da maioridade seja aprovada no Congresso, jovens dessa faixa etária serão tratados como adultos quando cometerem determinados tipos de crime.

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"Todas as prisões estão dominadas pelo crime. Para sobreviver, o jovem vai aderir a uma das organizações criminosas e sair pós-graduado em criminalidade. Com nossos níveis de violência e a diminuição da idade penal, seremos o primeiro do mundo. Não vai precisar construir presídios, mas necrotérios", diz Waiselfisz, em alusão ao ranking de 85 países em que o Brasil ocupa o terceiro lugar, quando comparada a taxa de homicídios de adolescentes de 15 a 19 anos. O País fica atrás apenas de México e El Salvador.

De acordo com o Mapa da Violência: Adolescentes de 16 e 17 anos do Brasil, dos 8.153 jovens nesta faixa de idade que morreram em 2013, 3.739 (46%) foram vítimas de homicídio, média de 10,3 adolescentes por dia. Em 2012, haviam sido assassinados 3.627. Neste ano, segundo projeção de Waiselfisz, este número chegará a 3.816.

A taxa de mortalidade em 2013 ficou em 54,1 homicídios por 100 mil adolescentes em 2013, crescimento de 2,7% em relação ao ano anterior e de 38,3% quando analisada a última década. Já quando a comparação é de 2013 com o ano de 1980, a taxa de homicídios desses jovens aumentou 496,4%.

"As políticas públicas são tímidas, insuficientes", avalia o pesquisador. "Fiquei apavorado por nunca ter visto essa quantidade (de homicídios). Não estamos prestando atenção às demandas dos jovens", afirma.

Regional

O Nordeste é a região com maior número de homicídios de jovens de 16 e 17 anos; foram 73,3 adolescentes assassinados a cada 100 mil, em 2013. No Centro-Oeste, segundo colocado, foram 65,3 por 100 mil. Simões Filho (BA), Lauro de Freitas (BA), Porto Seguro (BA), Serra (ES), Ananindeua (PA), Maceió (AL), Marituba (PA), Itabuna (BA), Santa Rita (PB) e Fortaleza (CE) são as dez cidades onde a taxa de jovens mortos foi maior em 2013.

Os Estados com menor taxa de homicídio são Piauí, Acre, Rondônia, São Paulo, Santa Catarina e Tocantins.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Com a discussão da redução da maioridade penal em alta na Câmara dos Deputados, a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) vai discutir o tema durante uma audiência pública na próxima segunda-feira (29), às 11h. A sugestão para o debate partiu do deputado federal Tadeu Alencar (PSB) e foi encabeçada na Casa pelos deputados estaduais Waldemar Borges e Raquel Lyra, também do PSB. 

A audiência pretende unificar um posicionamento estadual sobre a proposta que reduz de 18 para 16 anos a idade penal. No último fim de semana, o governador Paulo Câmara (PSB) assinou uma carta pública, junto com os governadores nordestinos, posicionando-se contra a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 177.

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O texto da PEC foi apresentado na Câmara em 1993, pelo então deputado Benedito Domingos (PP-DF), mas somente este ano foi resgatada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e colocada em discussão numa comissão especial criada por ele. A proposta deverá ser votada no plenário em primeiro turno na próxima terça-feira (30), um dia após a audiência pública em Pernambuco.

“Pernambuco sempre foi um Estado de vanguarda na defesa dos direitos humanos, da democracia e da liberdade. Com a audiência pública, podemos tirar uma posição fechada contra a redução e dar um exemplo para o País”, afirmou Tadeu Alencar. 

Além dele, também é esperada a presença da ex-ministra Direitos Humanos, deputada Maria do Rosário (PT-RS) – os dois são integrantes da Comissão Especial da Câmara que aprovou a proposta no último dia 17 –; de entidades da sociedade civil, magistratura, governo e demais setores ligados à criança e ao adolescente. 

O ministro da Secretaria dos Direitos Humanos da presidência da República, Pepe Vargas, afirmou nesta sexta-feira, 26, que o governo recorrerá ao Supremo Tribunal Federal (STF) se for aprovada no Congresso a Proposta de Emenda Constitucional que reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos.

Vargas explicou que, para o governo, "se trata de cláusula pétrea da Constituição, porque se vincula a direitos e garantias individuais." O ministro disse que a eventual aprovação da mudança seria um desastre e resultaria em mais violência.

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"O governo tem posição clara (contra a redução da maioridade), mas esse não é um tema de governo versus oposição. É um assunto da sociedade brasileira. Esperamos que a Câmara dos Deputados compreenda que reduzir a maioridade penal aumentará a violência em vez de reduzir", declarou.

"Essa medida, em vez de proteger a sociedade, vai trazer mais riscos. Não é adequado colocar adolescentes em presídios de adultos e isso só fará com que eles fiquem submetidos às facções do crime organizado, sem alternativa. Esperamos conseguir demover o parlamento. Entendemos que será um desastre se essa situação for encaminhada dessa forma", disse.

Intolerância

O ministro participou de audiência pública sobre intolerância religiosa promovida pelo Conselho Nacional da Criança e do Adolescente, no Rio. Ele também comentou o processo contra o governo brasileiro que será julgado na corte da Organização dos Estados Americanos (OEA) por causa da impunidade em relação a duas chacinas com 26 mortos ocorridas na favela Nova Brasília, no Complexo do Alemão, zona norte do Rio, nos anos de 1994 e 1995.

"O que deveria ter sido feito há 20 anos, lamentavelmente não foi. Quem tinha que ter feito a investigação 20 anos atrás seriam os órgãos aqui do Estado do Rio de Janeiro, e não fizeram. Mas a condenação virá ao Brasil. É para isso que existe a comissão e a corte interamericana, para que graves violações de direitos humanos não fiquem em branco. A partir desses casos esperamos que outros não se repitam."

No caso da primeira chacina, com 13 mortos, no fim de 1994, houve denúncia do Ministério Púbico contra quatro policiais, mas até hoje eles não foram julgados. A investigação do segundo massacre, que ocorreu em maio de 1995, com o mesmo número de mortes, prescreveu no último dia 8 de maio e os autores ficaram impunes. Vinte policiais civis eram investigados.

Realizada no auditório da Ordem dos Advogados do Brasil, no Rio, a audiência teve a participação de Kaylane Campos, de 11 anos, apedrejada após sair de um culto de candomblé na Vila da Penha, zona norte do Rio, no último dia 14. "Em nome de todas as crianças, eu peço respeito e que eu possa sair na rua de novo com branco (roupa branca), sem levar pedrada", disse a menina. Sem citar nomes, o ministro criticou programas e meios de comunicação que "acabam difundindo intolerâncias e banalizando a violência".

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), voltou a defender nesta sexta-feira, 26, a redução da maioridade penal de 18 anos para 16 anos. Embora reconheça que não vai determinar o fim da violência, Cunha argumenta que a medida tem capacidade para "tirar de circulação aqueles que cometeram crimes". Confrontado por jornalistas correspondentes de veículos internacionais sobre a superlotação nas prisões brasileiras, o presidente da Câmara afirmou que a capacidade de recuperação é uma questão "secundária" e que não se pode deixar de colocá-los na cadeia por conta da "falta de condições".

"É óbvio que a redução da maioridade não vai resolver o fim da violência. Mas você terá instrumentos para punir mais. Só a punição resolve? É claro que só a punição não resolve, mas não é pelo fato de o sistema carcerário ser ruim que eu vou abolir o Código Penal", disse Cunha em coletiva no Rio.

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"Essa discussão se cadeia recupera ou não recupera é uma discussão secundária, porque você busca tirar de circulação, do convívio com a sociedade, aqueles (menores entre 16 e 18 anos) que não têm condições de conviver pela prática de crimes. Secundariamente, você tem que ver como pode fazer para recuperá-los. Agora, não é porque a cadeia não está oferecendo condição de recuperação que eu vou deixar de pô-lo na cadeia por ter cometido um crime", acrescentou.

O deputado lembrou ainda que iniciativas do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) já libertaram, só neste ano, 150 mil pessoas que haviam cumprido suas penas. Isso, para Cunha, é um sinal de que já há novas vagas no sistema carcerário brasileiro. "Só nesse ano, foram liberadas 150 mil pessoas. São 150 mil novas vagas no sistema carcerário feitas do ponto de vista de gestão. Os administradores públicos têm de fazer sua parte. Gestos iguais a esses têm de ser feitos", disse.

Para o presidente da Câmara, nem a extensão do período de internação de menores infratores seria uma medida aceitável. Segundo ele, os institutos que recebem esses jovens hoje são "fábricas de bandidos". "É dormitório para bandido que sai para assaltar e volta para dormir sem nenhum controle", afirmou.

Cunha ainda se mostrou contra qualquer medida de liberalização das drogas, que, segundo ele, aumentaria o número de usuários. Para ele, a questão do tráfico de drogas no Brasil é "mercadológica".

"Você não tem traficante de droga e não tem violência associada ao tráfico de droga se você não tem usuário. Nós temos uma elite no nosso País que quer a droga, mas não quer o traficante, e as duas coisas são indissociáveis", disse, defendendo a conscientização de usuários.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), afirmou nesta quinta-feira, 25, que considera "válida" a proposta de reduzir a maioridade penal de 18 para 16 anos em caso de crimes graves e hediondos. Defensor de uma proposta alternativa, para aumentar o prazo máximo de internação dos adolescentes infratores, o tucano recuou nas críticas ao modelo que é defendido por parte do PSDB.

"A redução da maioridade penal também é válida, acontece que implica mudança constitucional e mudança constitucional vai ter enorme discussão no Supremo Tribunal Federal. Pode ou não pode? Tem cláusula pétrea ou não tem? A nossa (proposta) não tem discussão, é rápida e imediata", afirmou.

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A proposta defendida por Alckmin altera o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) para ampliar o prazo máximo de internação dos adolescentes infratores que cometem crimes hediondos de 3 para 8 anos. O senador José Serra apresentou um projeto semelhante a esse, mas estabelecendo o limite de dez anos. Segundo Alckmin, a presidente Dilma Rousseff já falou várias vezes que apoia a mudança no ECA.

Alckmin, no entanto, admite que, se a proposta de emenda à Constituição (PEC) que tramita na Câmara for aprovada, o projeto que altera o ECA torna-se, em parte, "desnecessário", porque os adolescentes a partir de 16 anos passariam a responder diretamente ao Código Penal.

Apesar do recuo de Alckmin, a proposta do tucano ainda continua sendo apontada pelo governo como uma alternativa à redução da maioridade. Na terça-feira, 23, ao apresentar o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen), o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, voltou a defender a ideia como sendo o melhor caminho para combater a impunidade.

No evento desta quinta-feira, 25, o governador paulista disse que é preciso melhorar "muito" o sistema prisional, disse que houve "alguns avanços".

Jovens de 16 a 18 anos estão se unindo em campanha contra a redução da maioridade penal, para disseminar argumentos que contestem a tese de que a diminuição resultará em menos violência. Surgido no Rio há dois meses, o grupo "Amanhecer contra a Redução", o maior deles, tem mobilizado ativistas nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Ceará e Bahia pelo Facebook. Já recebeu apoio de artistas como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gal Costa, Racionais MC, Criolo, Emicida e Gregório Duvivier.

A inspiração veio do movimento "No a la Baja", que em um ano de militância conseguiu que a maioria da população do Uruguai a votar contra a redução no plebiscito realizado há oito meses, revertendo a tendência que se apresentava até a consulta. No Brasil, o desafio é atrair deputados e senadores que ainda não se posicionaram nem a favor nem contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que altera de 18 para 16 anos a idade para imputabilidade penal.

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Os jovens, que são cerca de 200 no Rio e 2.000 no Facebook, pretendem ir a Brasília na próxima terça-feira, quando a Câmara dos Deputados votará a PEC em primeiro turno. A ideia é pressionar os parlamentares. O trabalho de convencimento começou quando a proposta passou na Comissão de Constituição e Justiça, em 31 de março, e se intensificou na última semana, desde que a comissão especial que a analisa aprovou o parecer apresentado pelo relator, Laerte Bessa (PR-DF). O parecer prevê a redução para crimes hediondos, homicídio doloso, roubo qualificado e lesão corporal grave seguida de morte.

Além de debater o assunto em colégios e ocupar praças públicas, os membros do grupo planejam organizar "rolezinhos" em shoppings que chamem a atenção para o tema. No último dia 14, realizaram evento cultural na Praça 15 (centro), com palco e atrações como os cantores Teresa Cristina e Pedro Luís.

"O 'No a la Baja' mostrou que não é só com o debate que se convence a população, mas com cultura também. É importante que o jovem negro da periferia se posicione. Buscamos desde o cara da Baixada Fluminense (região pobre na periferia da capital fluminense), como eu, ao aluno do colégio mais caro do Rio", disse o estudante Jefferson Barbosa, de 18 anos, um dos criadores do Amanhecer.

"Entramos em contato com grêmios de escolas públicas e também particulares", contou a jornalista Thathi Gurgel, de 24 anos, outra articuladora. "Precisamos difundir que o Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo e não reduziu a violência, e que entre menores a reincidência no crime é mais baixa. Em geral, as pessoas que se posicionam a favor da redução estão mal informadas", acrescentou.

Um grupo de deputados de diferentes partidos iniciou uma articulação para derrotar, no plenário da Câmara, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que reduz a maioridade penal para determinados crimes. Segundo argumentam os parlamentares, da forma como foi aprovada na última semana por uma comissão especial, o projeto fere o princípio de isonomia e, ao contrário do propagado pelos defensores da PEC, afeta também adolescentes que tenham praticado delitos menos graves, o que abre brecha para o encarceramento em massa de menores.

Um documento, assinado pelo "Grupo Parlamentar Contra a Redução da Maioridade Penal", foi entregue nesta terça-feira, 23, a jornalistas pelos deputados Darcísio Perondi (PMDB-RS) e Érika Kokay (PT-DF). "Quanto mais se segue a lógica das medidas socioeducativas, mais você recupera (o menor infrator)", declarou a petista. "Quanto mais se aproxima do sistema de um presídio, menos se recupera." Segundo eles, o grupo, suprapartidário, é formado por 25 parlamentares, mas ambos esperam formar um arco de aliança maior para impedir que a PEC atinja os 308 votos necessários para ser aprovada.

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No manifesto, os deputados afirmam que, nos debates sobre o tema, o Congresso não pode "tapar o Sol com a peneira". Eles questionam ainda a tese de que o texto reduz a maioridade penal para 16 anos apenas para os casos de crimes bárbaros. "O que na verdade estaria se aprovando é uma redução da maioridade penal disfarçada, pois ela englobaria os principais crimes responsáveis pelas internações de menores de 18 anos, inclusive os inafiançáveis", defendem.

A redação da PEC, assinada pelo deputado Laerte Bessa (PR-DF), estabelece a redução da maioridade penal para 16 anos nos casos de crimes inafiançáveis, o que inclui o tráfico de drogas. Além do mais, entram na mesma lista homicídio doloso, lesão corporal grave ou seguida de morte e roubo com causa de aumento de pena.

"Incluir o crime de tráfico de drogas na redução da maioridade penal é, repito, prender mais de 41% dos adolescentes que atualmente estão cumprindo medidas socioeducativas", dizem os deputados no documento. "A redução da maioridade penal será de maneira generalizada, pois a lista de delitos abarcados pelo relatório aprovado na Comissão Especial engloba cerca de 80% dos delitos praticados por menores de idade, correspondente à soma dos porcentuais de crimes de tráfico de drogas e roubo qualificado (39%)", acrescentam.

Mobilização

Erika e Perondi relataram que estão angariando apoio entre os deputados para derrubar a PEC relatada por Bessa. Para fortalecer o movimento, eles querem votar, caso a proposta seja rejeitada, alterações no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prevendo o aumento do tempo máximo de internação para menores, de três para nove anos. "A emenda aprovada é inconstitucional porque viola flagrantemente o princípio de isonomia", concluem os congressistas, no manifesto.

Com a discussão da redução da maioridade penal em alta na Câmara dos Deputados, a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) vai discutir o tema durante uma audiência pública na próxima segunda-feira (29), às 10h. A sugestão para o debate partiu do deputado federal Tadeu Alencar (PSB) e foi encabeçada na Casa pelos deputados estaduais Waldemar Borges e Raquel Lyra, também do PSB. 

A audiência pretende unificar um posicionamento estadual sobre a proposta que reduz de 18 para 16 anos a idade penal. No último fim de semana, o governador Paulo Câmara (PSB) assinou uma carta pública, junto com os governadores nordestinos, posicionando-se contra a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 177.

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O texto da PEC foi apresentado na Câmara em 1993, pelo então deputado Benedito Domingos (PP-DF), mas somente este ano foi resgatada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e colocada em discussão numa comissão especial criada por ele. A proposta deverá ser votada no plenário em primeiro turno na próxima terça-feira (30), um dia após a audiência pública em Pernambuco.

“Pernambuco sempre foi um Estado de vanguarda na defesa dos direitos humanos, da democracia e da liberdade. Com a audiência pública, podemos tirar uma posição fechada contra a redução e dar um exemplo para o País”, afirmou Tadeu Alencar. 

Além dele, também é esperada a presença da ex-ministra Direitos Humanos, deputada Maria do Rosário (PT-RS) – os dois são integrantes da Comissão Especial da Câmara que aprovou a proposta no último dia 17 –; de entidades da sociedade civil, magistratura, governo e demais setores ligados à criança e ao adolescente. 

Cerca de 87% dos brasileiros apoiam a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, segundo pesquisa do Datafolha, publicada nesta segunda-feira, 22. A proposta de uma redução "seletiva" foi aprovada em Comissão Especial da Câmara dos Deputados na semana e será analisada no plenário da Casa. Caso seja aceito, o projeto segue para o Senado.

Ao todo, 2.840 pessoas foram ouvidas pelo Datafolha em 174 cidades. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos. Os contrários à redução da maioridade penal representam 11% do total, enquanto 1% é indiferente e outro 1% não soube responder.

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A proposta aprovada em comissão da Câmara prevê punir como adulto o jovem envolvido em crimes hediondos, contra a vida e graves, como roubo qualificado e tráfico de drogas. De acordo com a pesquisa, 27% das pessoas defendem a proposta de alterar a maioridade penal só para determinados casos. Já os 73% querem a redução para qualquer crime.

Para os casos de homicídio, 80% apoiam punir o infrator a partir dos 16 anos. Para estupro, esse número é de 41%, enquanto sequestro chega a 24%.

Ibope

Uma pesquisa do Ibope, encomendada pelo jornal O Estado de S. Paulo e pela TV Globo, em setembro do ano passado, às vésperas das eleições, mostrou que 83% dos brasileiros são favoráveis à redução - 15% são contrários.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nesta quinta-feira, 18, uma nota em que se manifesta contrariamente à aprovação da redução da maioridade penal, que está em discussão no Congresso Nacional. Na mensagem, a entidade pede que fiéis se mobilizem e reivindiquem que autoridades competentes façam uma opção clara em favor da criança e do adolescente. Na avaliação da CNBB, o Estatuto da Criança e do Adolescente já prevê responsabilização penal para maiores de 12 anos. "Se há impunidade, a culpa não é da lei, mas dos responsáveis por sua aplicação", diz o texto.

O documento, preparado durante reunião do Conselho Permanente da entidade, elogia o ECA, afirma que o estatuto é exigente com adolescente em conflito com a lei e não compactua com a impunidade. O documento também avalia que as medidas ali previstas partem do princípio de que todo menor infrator é recuperável, por mais grave que seja o delito cometido.

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O texto alerta ainda que, se aprovada a redução da maioridade penal, abrem-se as portas para o desrespeito a outros direitos da criança. Haveria, de acordo a entidade, um efeito dominó, com reflexos como a mudança na idade mínima para o consumo de bebida alcoólica.

O secretário geral da CNBB, Leonardo Steiner, afirmou que a entidade vem trabalhando ativamente no Congresso Nacional, para tentar convencer parlamentares a votar contrariamente à proposta. "O problema é bem mais amplo, bem mais profundo, não se resolve com o cárcere", disse o vice-presidente da CNBB, dom Murilo Krieger.

O presidente da CNBB, Sergio da Rocha, avalia que o tema não pode ser visto estritamente como segurança pública. "É preciso que se analise toda condição de vida. Estamos preocupados em ir mais a fundo e insistir que é preciso resolver o problema de segurança levando-se em conta os direitos fundamentais", disse. O presidente da entidade avaliou que não houve, por parte das autoridades, a aplicação devida das medidas socioeducativas. "O ECA não foi levado à sério", sentenciou. Para ele o ideal é que o ECA seja revalorizado e as medidas ali previstas sejam de fato colocadas em prática.

A chamada "bancada da bala" manobrou para que a votação do texto que trata da redução da maioridade penal na comissão especial criada para debater o tema na Câmara não fosse adiada nesta quarta-feira, 17. O deputado Alberto Fraga (DEM-DF), coronel da reserva da Polícia Militar, apresentou requerimento para retirar a votação da pauta.

Como sabia ter maioria na comissão para derrubar seu próprio requerimento, apresentou a proposta com a intenção de barrar a apresentação de outros requerimentos que pudessem realmente protelar a votação. O requerimento de Fraga foi propositalmente rejeitado por 21 dos 27 membros da comissão. A manobra é considerada regimentalmente legal.

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"O objetivo deste requerimento é para que se evitem os vários requerimentos que devem ter no sentido de protelar esta questão", justificou Fraga. Pela estratégia, os favoráveis à redução votariam contra o requerimento. "Numa democracia, vence quem tem o voto. O governo pode comprar quem quiser, mas não pode comprar a consciência de parlamentares que sabem que esta PEC (Proposta de Emenda à Constituição) vai trazer benefícios para a população", afirmou.

A deputada Maria do Rosário (PT-RS) reagiu. "O deputado Fraga opta e revela que apresenta o requerimento para impedir que os próximos requerimentos sejam apresentados à comissão", disse à deputada, protestando contra o requerimento. O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) aplaudiu ironicamente a deputada petista. Bolsonaro e Maria do Rosário já bateram boca diversas vezes e a deputada já chegou a processar o colega.

Houve novo tumulto quando deputados da "bancada da bala" identificaram a presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral. O presidente da comissão, André Moura (PSC-SE), permitiu que ela ficasse na sala, desde que atrás do cordão de isolamento. Um dos deputados que pediu a saída da estudante foi o Delegado Éder Mauro (PSD-PA), favorável à redução da maioridade penal. "Prefiro ter que encher a prisão de bandido do que o cemitério de vítima inocente", disse o parlamentar.

A sessão acontece em um plenário pequeno, onde cabem apenas 80 pessoas. No entanto, o local foi superlotado, com dezenas de assessores em pé nos corredores da sala. O clima também era tenso do lado de fora do plenário. Impedidos de entrar, manifestantes fizeram um "apitaço" no corredor onde funcionam as comissões e gritavam "Não à redução" e "Fora Cunha", protestando contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), favorável à redução da maioridade penal.

Novo texto

Pouco antes do início da sessão da comissão especial criada na Câmara para discutir a redução da maioridade penal, o relator do parecer com as novas regras sobre o tema, Laerte Bessa (PR-DF), alterou seu texto e incluiu as propostas acordadas entre PMDB, PSDB e outros partidos. O texto acordado, que seria votado em separado, flexibiliza a redução da maioridade de 18 para 16 anos apenas para alguns tipos de crime. A votação acontece na tarde desta quarta-feira em um plenário aberto apenas a deputados, assessores e jornalistas.

Pela nova redação, maiores de 16 anos serão punidos como adultos quando praticarem crimes hediondos, homicídio doloso (com intenção de matar), lesão corporal grave, lesão corporal seguida de morte e roubo qualificado. No texto anterior, a redução da maioridade era linear, ou seja, valia para qualquer crime. O texto não menciona a necessidade de consultar o Ministério Público, assim como foi acordado.

O texto prevê que os maiores de 16 anos e menores de 18 anos cumprirão a pena em estabelecimento separado dos maiores de 18 anos e dos menores de 16. A nova redação também prevê que União e Estados terão que criar os estabelecimentos para o cumprimento das penas.

A comissão especial que analisa a redução da maioridade penal (Proposta de Emenda à Constituição 171/93 e 36 apensadas) tenta novamente votar o parecer do deputado Laerte Bessa (PR-DF) nesta quarta-feira (17), às 14h30. A votação deverá ser fechada, sem acesso do público. A análise da proposta no Plenário da Câmara está prevista para o dia 30 deste mês.

"Nós deixamos a reunião aberta hoje [na quarta-feira passada] para que pudesse ter a participação de todos os que quisessem vir acompanhar os trabalhos da comissão e, de forma respeitosa, se manifestar a favor ou contrário, mas, infelizmente, aqueles que são contrários não tiveram esse respeito. A próxima sessão será fechada, somente com os deputados e a imprensa", avisou o presidente da comissão especial, deputado André Moura (PSC-SE), na semana passada.

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O relator apresentou substitutivo sobre as propostas (PEC ) que tratam do tema. Em seu texto, Bessa reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos, mas prevê um referendo, nas próximas eleições, para que a população confirme ou não a mudança na Constituição. Segundo a proposta apresentada por Bessa, os maiores de 16 e menores de 18 anos devem cumprir as penas em locais separados dos adultos, com objetivos voltados para a educação e a ressocialização.

 

 

Grupos contrários à redução da maioridade penal, que está em discussão no Congresso Nacional, promovem um dia inteiro de atividades de arte e cultura neste domingo (14), na Praça 15, no centro do Rio. A festa, chamada "Festival do amanhecer - redução não é solução", começou às 10 horas.

Segundo os organizadores, haverá cem espetáculos diferentes de dança, cinema, teatro, literatura, circo, artes plásticas e outros. A convocação para a manifestação nas redes sociais traz depoimentos de vários jovens contrários à mudança na lei.

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"Não vejo como solução colocar uma pessoa na cadeia, sendo que ela vai sair bem pior. Solução é investir em educação, cultura, lazer", disse o skatista Ademar Lucas. "Parece uma medida mais vingativa do que justa", afirmou Flavio Santorua, da banda Antiéticos.

Defensor de uma proposta alternativa à redução da maioridade penal, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), pediu o apoio "de todos" para aprovação da matéria. "Nós queremos o apoio de todos. Trabalhamos nisso e não é de hoje, mas há 10 anos. Hoje vemos que estamos construindo uma maioria", afirmou o tucano, que nesta quarta-feira, 10, participa do 5º Seminário Internacional de Direito Administrativo e de Administração Pública, realizado em Brasília.

"Ao Congresso cabe debater e discutir. Há outras propostas como a redução da maioridade penal. Cabe ao Congresso definir", emendou Alckmin.

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As declarações do governador ocorrem um dia após ele se reunir como o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que sinalizou um apoio à proposta encampada por ele, que não mexe com a questão da maioridade penal, mas amplia o tempo de internação de três para oito anos no caso de crime hediondo.

Nesta quarta-feira, a Comissão Especial da Câmara se reúne para votar relatório da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que estabelece a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos.

O relator da matéria, deputado Laerte Bessa (PR-DF), apresentou nesta terça-feira, 9, o parecer e incluiu no texto a obrigatoriedade de separação de maiores de 16 anos e menores de 18 anos de adultos no sistema carcerário. Pela proposta, o cumprimento da pena para jovens nesta faixa etária deverá "observar finalidade educacional e ressocializante".

No texto, Bessa também segue a orientação do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e propõe a consulta popular através de referendo, a ser realizado simultaneamente com as eleições que ocorrem após a publicação da nova legislação. Caso passe pelo colegiado, a matéria segue para votação em plenário.

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