Os candidatos à presidente da República, Marina Silva (PSB-AC), e a vice, Beto Albuquerque (PSB-RS), lançaram, neste sábado (23), no Recife, a nova configuração da chapa da coligação Unidos pelo Brasil, antes liderada pelo ex-governador Eduardo Campos (PSB), falecido no último dia 13, após um acidente aéreo no litoral paulista.
Durante todo o ato, que aconteceu no Clube Português, no bairro da Madalena, o legado de Campos foi lembrado. “A diferença entre o legado e a herança é que quanto mais a herança se divide, mais diminui, mas o legado, quanto mais se divide, mais ele cresce”, disse Marina ao mencionar as bandeiras defendidas pelo ex-governador. “Só queremos o bem do Brasil e de Pernambuco, não queremos o mal de ninguém. Nada é mais poderoso do que uma ideia cujo o tempo chegou”, completou a candidata.
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Marina aproveitou a ocasião para agradecer por ter acreditado em Eduardo Campos. “Quando perdi Eduardo foi a mesma sensação (da perda de Chico Mendes). E ao mesmo tempo um ato de agradecimento a Deus no que aconteceu em 4 de outubro. Foi dado um golpe contra o direito de criar um partido. Eu pensei, posso me recolher ou me candidatar em outro partido. Pensei, o que fazer para que as defesas sociais fossem discutidas. Me veio a ideia de apoiar Eduardo Campos e convenci meus companheiros”, revelou.
Frisando que a aliança deles foi embasada em um programa de governo, Marina pontuou que Eduardo era mais do que ela pensava. “No dia da morte de Eduardo, agradeci a Deus. Ainda bem que a gente viu nele o que ninguém ainda tinha visto. Ainda bem que a gente estava ali, ombro a ombro, lado a lado”, disse.
"Não vai ser fácil esta nossa campanha. É só 44 dias para discutir. O bom é que a gente já tem um programa, alianças e uma militância. Venho da Amazônia. Lá tem uma árvore chamada biorania, uma é branca e outra é preta, ela fica magrinha, mas experimenta bater com o machado que ela não quebra”, comparou-se.
A candidata pontuou também que não estava na disputa para derrotar Dilma Rousseff (PT) ou Aécio Neves (PSDB), mas para fazer o “Brasil vitorioso”. Citando a poesia com a qual recebeu Eduardo no dia da filiação dela, Marina disse ser uma flecha que será impulsionada pelos pernambucanos. “Buscai o melhor de mim e terei o melhor de mim”, bradou.
O ato de lançamento da chapa foi acompanhado pelos candidatos da Frente Popular de Pernambuco a governador, Paulo Câmara (PSB), a vice, Raul Henry (PMDB), e a senador, Fernando Bezerra Coelho (PSB). Para Câmara, a ex-senadora vai atrair mais decência para o país. “Marina vai transformar o Brasil. A nova política que implementamos em Pernambuco, vamos continuar. É a nova política da decência. Ela vai lembrar de Pernambuco todos os dias”, afirmou.
O prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), lembrou do ato de filiação de Marina ao PSB e disse que ela é “uma companheira de luta e de paz de Eduardo Campos”. “Naquele momento o mais importante era fazer uma quebra de forças políticas que estão instaladas no nosso país e não tem feito bem ao povo. Se juntou a Eduardo para que nós pudéssemos abrir uma nova cena política no Brasil”. Para o gestor recifense, o país tem uma infinidade de erros. “O Brasil está colecionando erros e precisa colecionar acertos a favor do povo. A gente tem uma tarefa para honrar a história de Eduardo Campos”, disse citando a eleição de FBC, Paulo Câmara e Marina.
O candidato a vice-governador da Frente, Raul Henry (PMDB), reforçou a parceria que Marina poderá fazer com o PMDB local e nacional. “Este país só será justo quando a escola do pobre for igual à escola do rico. São muitos desafios que você terá que enfrentar. O maior de todos eles é revitalizar a democracia do nosso país. Conte com o nosso PMDB. De Pedro Simon e Jarbas Vasconcelos. Conte com a força da mulher de Pernambuco, representada por Renata Campos”, citou. Ao mencionar a viúva do ex-governador, ela foi ovacionada pelos presentes.
Endossando o discurso do aliando, Bezerra Coelho disse que para os pernambucanos, Marina terá um simbolismo diferente caso seja eleita. “Toda vez que um pernambucano te ver subindo aquela rampa do Palácio, vamos enxergar a mulher do Acre, mas vamos ver dentro do seu coração a imagem de Eduardo Campos. Seja paciente e generosa com Pernambuco. Vamos pedir muito. Vou pedir pelo Arco Metropolitano, a conclusão da BR-101, vou pedir para novos investimentos no interior do estado e o maior programa de drenagem da Região Metropolitana do Recife”, prometeu o candidato a senador.
A última frase emblemática de Eduardo Campos, dita no Jornal Nacional, um dia antes de sua morte, se transformou no jingle da campanha de Marina. “Não vamos desistir do Brasil, estamos juntos com Marina”, diz a um trecho da música.
A escolha da ambientalista e o parlamentar foi confirmada na última quarta-feira (20) durante uma reunião da Executiva Nacional do PSB. De lá para cá, alguns desentendimentos internos marcaram a recepção da nova chapa. Entre eles, a saída dos coordenadores de campanha Carlos Siqueira e Milton Coelho, ambos escolhidos por Campos para compor o time. Siqueira justificou o desembarque nas atitudes da ex-senadora. Segundo ele, Marina foi "grosseira" ao propor alterações no comando da campanha. O lugar de Siqueira foi assumido pela deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP).
Mesmo o presidente do PSB, Roberto Amaral, negando as discordâncias ficou evidente a falta de consenso, não só entre os socialistas, mas também entre os partidos que compõem a chapa. Tanto que o PSL ameaçou deixar a aliança. O presidente do partido, Luciano Bivar, se sentiu inseguro com relação a Marina cumprir as promessas feitas por Campos para o empresariado. A chapa foi oficializada no início da noite dessa sexta-feira (22) no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), sem prejuízos e quebras de acordos entre a coligação.
Primeiro ato de campanha
Durante a manhã deste sábado, Marina e Beto percorreram as ruas do bairro de Casa Amarela, na Zona Norte. No ato, os candidatos reforçaram a importância de eleger a chapa da Frente Popular e deram o pontapé inicial da nova campanha. No local, Marina fez criticas ao governo de Dilma Rousseff (PT) e disse que, se eleita, vai governar com o PSDB de José Serra. Além disso, a candidata se mostrou adepta as bandeiras de Campos, principalmente em relação ao Nordeste brasileiro.
Ao discursar após a caminhada, Marina fez duras observações quando a situação econômica nacional e disse que é necessário cortar gastos gerenciais. "Temos que controlar a nossa inflação, não adianta fazer filme bonitinho dizendo que está tudo cor de rosa, quando a inflação esta atacando o bolso dos trabalhadores", cravou.
Indagada se seria necessário extinguir programas sociais para a inflação não ultrapassar o teto, Marina negou. Para ela é preciso combater o inchaço da máquina pública. "Temos que ter a clareza que esta lógica de para não permitir que a inflação ultrapasse o teto da meta tem que cortar programas sociais, é daqueles que não querem cortar outras coisas, inclusive o inchaço da máquina pública, os desvios do dinheiro público, o privilégio para setores, como se fez desde 2008, usando o BNDES para dar dinheiro para um grupo pequeno de pessoas que não tinha a devida transparência", alfinetou. A candidata se comprometeu ainda em aperfeiçoar iniciativas como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida.