Com vômitos, extremidades frias e febre, Samuel, uma criança negra de 1 ano e 8 meses de idade, deu entrada na emergência da Hapvida, na Avenida Carlos de Lima Cavalcanti, em Olinda, na noite do dia 22 de novembro e de lá só saiu morto em um caixão. A incerteza, descaso e negligência relatada pelos pais uniram movimentos raciais para um ato de protesto realizado em frente ao hospital nesta quarta-feira (22), data em que completou um mês da morte da criança.
Na cabeça dos pais a pergunta sem resposta, por que? Ninguém sabe a causa da morte Samuel, ou por que o atendimento ocorreu de maneira lenta.
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“Em momento algum eu fui ouvida, ou prestaram atenção sobre o que meu filho tinha e estava sentindo naquele dia. É justiça que a gente quer para que isso não venha a acontecer com outras crianças”, disse Paula Rodrigues, mãe de Samuel.
"Causa indefinida"
Mesmo após a morte do menino a incerteza permanece, uma vez que o próprio atestado de óbito da criança consta como “causa indefinida”. “É uma dor insuportável, insustentável perder um filho por negligência médica, por não ter resposta do significado, o óbito está causa indeterminada, como uma mãe pode viver assim? sem saber porque seu filho morreu”, disse Paula, que não conteve o choro.
Atestado de óbito obtido por exclusividade pelo LeiaJá comprova causa da morte indefinida.
Quem atendeu Miguel inicialmente foi a médica plantonista Dra. Tamy Oliveira Martins, CRM 24669 que identificou todos os sinais vitais como normais. Em seguida, a médica pediu um hemograma, raio-x da criança e prescreveu as seguintes medicações: Aerolin + lavagem nasal + Hidrocortisona + oxigenoterapia através de MNR – Máscara não reinalante.
Mas no posto de enfermagem onde estavam duas profissionais, uma se ausentou restando apenas a outra. Mais de 45 minutos depois os pais de Samuel ainda esperavam a medicação e apelavam por urgência por notarem piora no quadro, mas isso não aconteceu. A única coisa que Paula e Jefferson escutavam era: “a mãezinha tem que aguardar o remédio chegar da farmácia”.
Uma hora depois a outra enfermeira volta e Samuel é chamado para fazer a lavagem nasal. Mas a criança convulsiona, bate as pernas, as mãos, e fecha os olhos. Nessa hora inclusive em um relato duro, Jefferson, pai da criança, lembra do seu filho de apenas um ano chamando por seu nome o que para ele foi um pedido de socorro.
“Ele não podia se defender, não podia gritar com a enfermeira, ele era um bebê e só podia dizer ‘pai, mãe’. Meu filho ainda sorriu para mim e na última hora chamou pela mãe se despedindo dela”, relatou o pai.
Ao notar que não era uma mera convulsão a enfermeira Aldenice foi a procura da Dra Tamy e no caminho encontrou o médico de nome Gilis, mas este negou o socorro por ter outro atendimento. Tamy foi chamada e constatou que não existia acesso venoso na criança, o que prova a ausência de medicação mais de uma hora depois do solicitado.
Tamy pede suporte de mais dois médicos ao notar a gravidade, Gillis, que inicialmente negou atendimento e Dr Aloisio foram amparar. As manobras de ressuscitação e tentativa de intubação foram sem sucesso. Apesar de no relatório médico constar que houve a intubação, às 1:50 da manhã Samuel foi extubado e dado como morto, na frente dos pais, das enfermeiras e dos três médicos.
Mas e a Hapvida?
Detalhe importante dado a nossa reportagem pela advogada Elane Rodrigues é de que nenhum dos médicos que atenderam Samuel tem a pediatria como especialidade.
Nossa reportagem foi ao hospital procurar alguém da assessoria ou da direção que pudesse falar sobre o caso e dar sua versão sobre o ocorrido e até responder as acusações. Mas depois de alguns minutos de espera fomos informados que posteriormente iriam entrar em contato com uma nota esclarecendo a situação. A equipe de comunicação chegou a entrar em contato com o LeiaJá e prometeu um retorno com uma resposta que foi enviada minutos depois da publicação da matéria.
Confira a nota do Hapvida na íntegra:
Cada vida importa, e o respeito e igualdade são premissas fundamentais presentes no nosso dia a dia. Nos solidarizamos com a família. Entender a causa de toda essa situação também é de nosso interesse, por isso, encaminhamos a análise para o Serviço de Verificação de Óbito (SVO).
Possuímos diversas ações em relação à diversidade e igualdade, com treinamentos, orientações e cartilhas para nossos colaboradores, trazendo os principais temas e necessidades para ajustarmos o que for necessário, sempre em cumprimento às regras e políticas dos direitos humanos, não só por obrigação legal, mas por acreditar que as diferenças e semelhanças nos tornam únicos.
Boletim de ocorrência
De acordo com a advogada da família, um boletim de ocorrência foi feito no dia 26 de novembro na delegacia do Varadouro. Uma denúncia no Conselho Regional de Medicina do Estado de Pernambuco também foi realizada. O caso vai ser levado adiante na esfera criminal e civil, restando as oitivas serem feitas para dar continuidade ao processo.
Confira as imagens do ato:
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