Apesar de o País ter 65 milhões de adultos que não concluíram o ensino fundamental e de ainda ostentar uma taxa de analfabetismo que beira os 10% (cerca de 20 milhões de pessoas), as matrículas na Educação de Jovens e Adultos (EJA) caem ano após ano.
Dados preliminares do Censo Escolar 2012 divulgados na quinta-feira (6) mostram que, de 2010 a 2012, houve uma diminuição de 11% no número de matriculados nos ensinos fundamental e médio da EJA. O porcentual sobe um ponto, para 12%, se forem considerados apenas os alunos do fundamental (1.º ao 9.º ano).
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No País todo, apenas cinco Estados aumentaram o oferecimento da modalidade. Nos outros 22, o porcentual é negativo e chega a mais de 20% de queda naqueles que têm as maiores redes. No Rio de Janeiro, por exemplo, houve redução de 34% em três anos. Santa Catarina e São Paulo estão na sequência, com 25% e 22% de queda, respectivamente.
A Secretaria de Estado da Educação de São Paulo afirmou, em nota, que a diminuição é um resultado positivo, consequência direta da diminuição do número de alunos com defasagem de idade em relação às séries que cursam. A nota diz, ainda, que todos aqueles que procuram pela modalidade são atendidos.
Para o subsecretário de Gestão de Ensino da Secretaria de Educação do Rio de Janeiro, Antonio Vieira Neto, há duas explicações para o decréscimo no número de matrículas no Estado "Diminuímos a distorção idade-série e fizemos um mapeamento que mostrou que havia matrículas duplicadas no sistema, o que inflava o número."
Descaso
Se as redes comemoram o menor oferecimento, os especialistas lamentam. "As secretarias dizem que as matrículas caem à medida que as pessoas estão ficando mais escolarizadas. Os dados de analfabetismo mostram que isso não confere", afirma Maria Clara di Pierro, da Faculdade de Educação da USP e especialista em EJA.
Para ela, existe uma carência de políticas públicas voltadas exclusivamente à modalidade, o que gera uma desarticulação do que é oferecido na EJA com as necessidades dos alunos. A consequência é a evasão e, consequentemente, a decisão das redes de diminuir o oferecimento.
Por isso, diz, é preciso investir em modelos flexivos e em escolas próximas dos alunos, o contrário do que tem ocorrido recentemente, quando muitas redes concentraram a oferta da EJA apenas em áreas centrais. "Uma pessoa de 50 anos que trabalha em horário comercial não consegue assistir às aulas diariamente das 19 às 23 horas e depois levar mais uma hora até chegar em casa."
Além disso, acrescenta, é preciso entender a relação que essa população tem com a escola. "Se uma senhora está firme nos estudos e, de repente, a filha engravida, ela vai deixar a escola para cuidar do neto. Isso não é evasão, são intermitências que o sistema precisa administrar se quiser mesmo promover a escolarização."
Nesse ponto reside a principal crítica: a EJA não deve se limitar a oferecer espaço a quem procura, é preciso incentivar o retorno à escola, afirma Liana Borges, representante do Fórum Estadual de EJA no Rio Grande do Sul, "O poder público dever ir atrás do analfabeto onde ele estiver, na cidade ou no campo." As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.