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O presidente Jair Bolsonaro encaminhou ao Senado, nessa segunda-feira (4), 21 indicações para agências reguladoras, para destravar um pacote de nomeações. As escolhas de apadrinhados políticos beneficiam integrantes do Centrão e outros aliados do governo no Senado, além de membros do Judiciário.

Com isso, o Planalto tenta dividir o poder das agências com parlamentares, em um movimento para ampliar apoio em ano de eleições. Pré-candidato à reeleição, Bolsonaro enfrenta um vácuo na articulação política no Senado, sem líder de governo desde dezembro.

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O presidente chegou a retirar nomes que já haviam sido enviados para "acomodar" exigências de apoiadores. Como mostrou o Estadão/Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, já existiam antes 46 indicações paradas no Senado em meio às disputas em torno das vagas.

Os novos nomes começarão a ser analisados nesta semana e dependem de aprovação dos senadores. O Senado ainda quer fazer um "pente-fino".

No "pacotão", está a geóloga Ana Carolina Argolo Nascimento de Castro para uma vaga na diretoria da Agência Nacional das Águas (ANA) com salário de cerca de R$ 17 mil. Ela se casou em 2011 com Jônathas Assunção Nery de Castro, secretário executivo da Casa Civil, chefiada pelo ministro Ciro Nogueira (PP). Conforme a assessoria da pasta, eles se separaram em dezembro passado e o ministro não tem participação na indicação.

Divisão

Para agradar a aliados, Bolsonaro mexeu com um "território" do MDB: a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). As novas indicações dividem a agência com outros apoiadores do governo, especialmente o Centrão.

O ministro Ciro Nogueira chancelou a escolha do engenheiro Sandoval de Araújo Feitosa Neto como diretor-geral. Além de contemplar o PP, a indicação não contraria o MDB. O engenheiro chegou à diretoria da Aneel em 2018 pelas mãos do ex-senador e ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão (MDB-MA).

O MDB, liderado pelo ex-ministro de Minas e Energia Eduardo Braga (AM) no Senado, foi beneficiado pela indicação de Hélvio Guerra para ser reconduzido à cúpula da Aneel, ao lado de Fernando Mosna, assessor do senador Marcos Rogério (PL-RR), e Ricardo Lavorato Tili, diretor da Eletronorte, indicados pelo presidente.

Bolsonaro ainda indicou ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) Victor Oliveira Fernandes, chefe de gabinete do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, e a advogada Juliana Domingues, assessora do ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres. Ambos nomes foram antecipados pelo Estadão/Broadcast.

O poder de barganha do Centrão na disputa presidencial vai aumentar com a última janela de mudanças partidárias antes das eleições de outubro. Às vésperas do período que permite a troca de legenda sem perda de mandato por infidelidade (3 de março a 1º de abril), líderes e presidentes das siglas avaliam como deve ficar a nova correlação de forças na Câmara e contabilizam perdas e ganhos.

Na prática, o Centrão atrai deputados federais para legendas que ampliaram seu poder de captar votos a partir de cargos influentes no governo de Jair Bolsonaro e verbas milionárias do orçamento secreto. Os principais partidos desse bloco - Progressistas, PL e Republicanos - trabalham para aumentar a influência na Casa.

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Hoje na condição de terceira maior bancada, com 43 deputados, o PL, presidido por Valdemar Costa Neto, ocupará a primeira posição na Câmara, saltando para 65 parlamentares, e o União Brasil, uma fusão do DEM e do PSL, com 61, a segunda. No troca-troca, o PT cairá da segunda para a terceira posição, apesar de também crescer. O partido passará dos atuais 53 parlamentares para 54 - o deputado licenciado Josias Gomes, atual secretário de Desenvolvimento Regional na Bahia, voltará ao plenário.

Já o Progressistas, legenda do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), deve aumentar de 42 para 52 parlamentares, e o PSD, comandado por Gilberto Kassab, espera crescer de 35 para 40. Ambas as siglas, que respectivamente são a quarta e a quinta maiores bancadas na Câmara, devem seguir nas mesmas colocações.

Na estrutura do orçamento secreto, o presidente da Câmara e o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, presidente licenciado do Progressistas, organizam a divisão das indicações de verbas entre os governistas. Já o PL, além de ter filiado o próprio presidente Jair Bolsonaro, tem espaço privilegiado por comandar ministérios como a Secretaria de Governo, com Flávia Arruda, e Desenvolvimento Regional, com Rogério Marinho.

Apesar de não se declarar base de Bolsonaro, o União Brasil tem prestígio na escolha da destinação de recursos. O senador Marcio Bittar (PSL-AC) foi relator do Orçamento de 2021 e a destinação das verbas privilegiou o PSL, que fará parte do União. O deputado Elmar Nascimento (DEM-BA), outro nome que vai compor a nova sigla, foi o responsável por indicar o presidente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). A estatal se tornou um "duto" para resgatar verbas do orçamento secreto.

Entre os partidos que vão perder deputados federais na janela partidária estão o PSDB, que deve ser reduzido de 32 para 27; o PDT, de 25 para 22; o PROS, de dez para sete, e o PTB, que, ao que tudo indica, terá a bancada diminuída pela metade, de dez para cinco.

BARGANHA

Outro efeito será uma maior clareza para os partidos que ainda estão indecisos sobre a eleição presidencial. Legendas grandes, e que vão exercer um papel essencial na disputa pelo Planalto, vão ter mais segurança para negociar.

É o caso do União Brasil - que hoje se divide entre estar com o ex-juiz Sérgio Moro (Podemos), o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), Bolsonaro (PL) e, ainda, não ter uma posição formal de apoio, liberando os diretórios - e do PSD, que avalia lançar candidato próprio ou se aliar ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Com a definição de quem entra e quem sai, os partidos vão conseguir debater de forma mais clara, em abril, o apoio ao candidato à Presidência, pois o tamanho de cada um dos grupos internos, interessados em seguir caminhos distintos, será definido após a janela. A partir do dia 2 de abril também começa outro período importante, que é o intervalo no qual os políticos que quiserem concorrer a qualquer cargo (que não a reeleição) devem se desincompatibilizar. Além disso, ninguém interessado em concorrer pode mais trocar de legenda.

DECLÍNIO

Após a janela, o Centrão vai ganhar ainda mais força e consolidar o declínio da tríade MDB, PSDB e PT que costumava disputar protagonismo na Câmara antes de 2018. A bancada do PL será turbinada com bolsonaristas e deve alcançar o melhor resultado de sua história na Casa. "Vai ser o maior partido do Brasil agora já em março com a vinda dos 25", disse o deputado Capitão Augusto (PL-SP), vice-presidente da sigla.

Augusto afirmou que a expectativa é eleger pelo menos 60 deputados federais em 2022 e ter maior fundo eleitoral e partidário a partir do ano que vem. Em segundo lugar como maior legenda virá o União Brasil, que espera ter 61 deputados, contando com o desembarque de até 30 bolsonaristas e a chegada de pelo menos dez novas pessoas. Mesmo em segundo lugar, a nova legenda terá o maior cofre (cerca de R$ 1 bilhão) para a eleição. O cálculo leva em conta o número de eleitos em 2018.

Entre os que devem se filiar ao União Brasil estão Clarissa Garotinho (PROS-RJ), Capitão Wagner (PROS-CE), Vaidon Oliveira (PROS-CE), Danilo Forte (PSDB-CE), Pedro Lucas Fernandes (PTB-MA) e Daniela do Waguinho (MDB-RJ).

Com recursos bilionários e penetração regional, o União Brasil tem oferecido condições melhores para os parlamentares garantirem seus mandatos. É o caso de Danilo Forte, do PSDB cearense.

Outro partido do Centrão que espera crescer é o Progressistas, chegando a 52 deputados. O Progressistas já confirmou a filiação dos ministros das Comunicações, Fabio Faria, hoje no PSD; e da Agricultura, Tereza Cristina, atualmente no DEM. O PSD já confirmou a filiação de Luiza Canziani (PTB-PR) e deve atrair Laura Carneiro (DEM-RJ), Pedro Paulo (DEM-RJ) e Marcelo Calero (Cidadania-RJ).

Do outro lado, o PSDB vive uma guerra interna e pelo menos seis deputados vão migrar para partidos como União Brasil, PSD, PL e Progressistas, reduzindo a bancada de 32 para 27 deputados, pior resultado de sua história. Já a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) vai aderir aos tucanos.

O partido vive uma crise interna: uma ala tem cobrado Doria a desistir da candidatura presidencial devido ao baixo desempenho nas pesquisas.

O PDT também vai encolher por causa da discordância com o projeto presidencial de Ciro Gomes. No saldo final, o partido deve cair de 25 para 22 parlamentares. Proporcionalmente, o maior derretimento deve ser no PTB. Grande parte dos deputados eleitos discorda do rumo bolsonarista que a direção da sigla tem tomado.

No Podemos, três deputados devem sair por não concordar com a candidatura de Sérgio Moro. São eles José Medeiros (MT) e Diego Garcia (PR), que apoiam Bolsonaro, e Bacelar (BA), que apoia Lula. Já Kim Kataguiri (DEM-SP) e Maurício Dziedricki (PTB-RS) vão entrar no partido por causa de Moro.

Ministros do Centrão pressionam o presidente Jair Bolsonaro (PL) a escolher uma mulher como candidata a vice em sua chapa. O nome que a ala política do governo tenta emplacar é o da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, hoje no DEM, mas prestes a se filiar ao Progressistas, partido do chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira. Pesquisas da pré-campanha indicam o machismo como um dos pontos fracos de Bolsonaro, que perde cada vez mais votos no eleitorado feminino.

A avaliação de aliados do governo é a de que Tereza Cristina, ex-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, pode ajudar a quebrar resistências ao presidente. No núcleo duro do Centrão, bolsonaristas argumentam ainda que, além de auxiliar na tarefa de atrair votos de mulheres, a entrada da ministra na chapa da reeleição também agregaria setores do agronegócio.

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O "agro" sempre foi visto uma das principais bases de apoio de Bolsonaro, mas hoje enfrenta divisões em relação ao governo. Tanto que, no ano passado, sete entidades da agroindústria assinaram manifesto em defesa da democracia e do respeito às instituições.

Favorito nas pesquisas de intenção de voto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também deflagrou uma ofensiva para conquistar apoio do setor. Nas conversas para ter o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin como vice, Lula propôs que ele ocupe o Ministério da Agricultura, caso a chapa seja vitoriosa em outubro.

O Estadão apurou que Bolsonaro confia em Tereza Cristina, mas prefere fazer dobradinha com o ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, com quem se sente mais à vontade. No Palácio do Planalto, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, também chegou a se movimentar pela vaga. Em conversas reservadas, o presidente disse a aliados que a escolha de um militar como ele para vice é uma espécie de "seguro" contra processos de impeachment.

'CUNHADO'

Apesar dos atritos com o atual vice, general Hamilton Mourão, Bolsonaro já afirmou a portas fechadas, em mais de uma ocasião, que, se o cargo fosse ocupado por um político, ele já estaria fora do poder. Mesmo assim, em entrevista, comparou Mourão a um "cunhado". "Vice é igual cunhado, né? Você casa e tem que aturar o cunhado do teu lado. Você não pode mandar o cunhado embora", disse o presidente em julho do ano passado.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) é um dos que tentam convencer o pai a fazer composição com Tereza Cristina, e não com um militar. Trata-se do único nome de mulher sendo discutido no momento, no Planalto. Não há um plano B.

Mas, enquanto o núcleo da pré-campanha tenta atrair o voto feminino, uma postagem do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) nas redes sociais, associando a cratera na Marginal do Tietê à contratação de engenheiras para a obra da Linha 6 do Metrô, acendeu o sinal amarelo no Planalto. Na sexta-feira, o filho do presidente publicou no Twitter vídeo da concessionária Acciona, responsável pelas obras do Metrô de São Paulo, destacando o trabalho das mulheres no projeto. Editada, a gravação apresentou trechos do desastre ocorrido dias antes, ironizando declarações das engenheiras. Acusada de misoginia, a postagem foi alvo de críticas.

O eleitorado feminino também foi uma barreira para Bolsonaro em 2018. Naquele ano, o movimento #EleNão juntou milhares de mulheres em protestos nas capitais do País.

Desde que entrou na vida política, o presidente deu diversas declarações consideradas preconceituosas. Em abril de 2019, por exemplo, Bolsonaro disse que o Brasil não podia ser o paraíso do turismo gay. "Quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade. Agora, não pode ficar conhecido como paraíso do mundo gay aqui dentro."

Além da defesa de uma mulher para vice, ministros de Bolsonaro têm dito a ele que a opção por um nome de outro partido traria mais votos e o ajudaria a construir uma aliança mais ampla. O presidente se filiou ao PL em novembro. Na ocasião, a entrada de Bolsonaro no partido comandado pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto, condenado e preso no mensalão, provocou queixas de outras siglas do Centrão.

DISPUTA

Desde aquela época, o Progressistas de Ciro Nogueira e do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), tenta fazer o vice da chapa. A movimentação causou "ciúmes" no Republicanos, ligado à Igreja Universal, que defende um evangélico para vice. No ano passado, após meses de espera por uma sabatina no Senado, o ministro André Mendonça - definido por Bolsonaro como "terrivelmente evangélico" - conseguiu tomar posse no Supremo Tribunal Federal.

A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, já teve o nome citado para uma dobradinha com o presidente. Agora, porém, está inclinada a disputar o Senado por São Paulo, atendendo a pedido do próprio Bolsonaro, em composição com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, que vai concorrer ao Bandeirantes.

Em público, Tereza Cristina tem dito que prefere concorrer ao Senado. "A ministra já declarou que será pré-candidata ao Senado por seu Estado (MS) e deverá se desincompatibilizar até início de abril, conforme prazo regulamentar", afirmou, por meio de nota, sua assessoria. Antes de se candidatar à Câmara dos Deputados, Tereza Cristina foi cotada para vice na chapa de Alckmin, que, em 2018, concorreu ao Palácio do Planalto pelo PSDB. À época, ela se animou com o projeto, mas a vice do então tucano acabou sendo a senadora do PP Ana Amélia.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a sinalizar para uma política menos combativa e, na possibilidade de ser eleito, defendeu que a relação do governo com o Congresso Nacional dever ser de diálogo. "Você negocia com quem está eleito", afirmou. "Eu não vejo problema em conversar com o Centrão", disse.

"Você negocia com a direita, você negocia com a esquerda, você negocia como centro, você negocia com católico, e evangélico, com ateu. Ou seja, você negocia com quem tem mandato para poder aprovar as coisas que precisam ser aprovadas", afirmou Lula, durante entrevista à rádio CBN do Vale do Paraíba na manhã desta quarta-feira (26).

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Reafirmando o discurso de diálogo com todos os setores, o petista declarou que o jogo político se constrói por meio da conversa com todas as forças políticas. "Convencendo as pessoas, aceitando sugestão, aceitando propostas de mudanças. É assim que se dá o jogo político no Planeta Terra onde existe democracia", disse.

No entanto, Lula voltou a falar de uma renovação do Congresso Nacional. "Nós precisamos eleger um conjunto de deputados que tenha uma visão do Brasil um pouco otimistas, um pouco mais social". "A gente não pode continuar com um Congresso que tornou o presidente da República refém", disse, em críticas às articulações do governo para manter a governabilidade.

Como exemplo, o ex-presidente falou sobre o orçamento secreto. Como revelou o Estadão, o governo Bolsonaro usa as chamadas emendas de relator-geral para conquistar o apoio de políticos do chamado Centrão no Congresso Nacional. A distribuição dos recursos ocorre sem critérios mínimos de transparência, cabendo a um grupo de parlamentares alinhado aos interesses do Palácio do Planalto definir como e onde bilhões de reais das verbas federais devem ser aplicados.

Vice

Lula também voltou a falar sobre sua escolha para a Vice-Presidência. O ex-governador Geraldo Alckmin (sem partido) continua sendo um dos nomes mais mencionados para compor a chapa. Lula, que já declarou não ver problemas em construir aliança com o antigo adversário, voltou a dizer que espera uma escolha de partido pelo ex-tucano. A definição sobre o nome escolhido, continuou o petista, deverá ocorrer entre fevereiro e março.

Depois de assumir o controle sobre as movimentações do Orçamento da União, o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, delegou o poder de dar o aval e a barrar decisões do Ministério da Economia na execução das verbas federais ao secretário especial de Relações Governamentais da Casa Civil, Bruno Cesar Grossi de Souza.

A decisão foi assinada por Ciro Nogueira em uma portaria no último dia 20, sete dias após o presidente Jair Bolsonaro ter escolhido o ministro como "chanceler" do Orçamento no governo federal. Agora, além de Ciro Nogueira, o poder de Paulo Guedes na decisão sobre os gastos federais ficará submetida a um secretário de Nogueira.

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A sanção do Orçamento de 2022, blindando o orçamento secreto e sancionando o reajuste a servidores públicos, mas cortando algumas emendas, foi o primeiro ato do Executivo sob a nova dinâmica estabelecida pelo Palácio do Planalto. A atribuição da Casa Civil vale para 2022, ano de eleições presidenciais e que terá o maior orçamento da história, de R$ 1,7 trilhão.

A entrega da prerrogativa a uma secretaria da Casa Civil é vista nos bastidores como uma decisão equivalente à recriação do Ministério do Planejamento, uma demanda antiga do Centrão para o governo Bolsonaro. O movimento é usado por governistas para justificar um alinhamento entre os filtros técnicos da equipe econômica e as decisões da ala política do Planalto.

O presidente Jair Bolsonaro voltou a justificar sua filiação ao Partido Liberal (PL), cujo líder, Valdemar Costa Neto, foi preso e condenado no escândalo do mensalão, durante os governos do PT. "Vocês votaram em um cara que foi do Centrão", declarou o chefe do Executivo nesta segunda-feira, 10, em entrevista à rádio Jovem Pan.

"Se eu fosse para o PP, seria criticado, se fosse para o PTB, seria. Se eu fosse para qualquer partido, eu seria criticado. O cara fala 'ah, o Centrão'. Vocês votaram num cara que foi do Centrão. Eu fui do PP por muito tempo. Fui do PTB. Fui do PFL", disse Bolsonaro. "Não quer dizer que todas as pessoas que estejam lá mereçam ser rejeitadas pela sociedade", acrescentou, fazendo críticas à esquerda.

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Para justificar sua aliança com o Centrão para a campanha eleitoral deste ano, quando deve concorrer à reeleição, Bolsonaro recorreu a uma analogia. "É a mesma coisa que o cara que fala que quer ter um filho. 'Quero ser papai'. Ou a mulher fala 'quero ser mamãe'. Tem que arranjar uma mulher no primeiro exemplo e, no segundo, tem que arranjar um homem. Eu, para conseguir disputar uma eleição, tenho que ter um partido", disse o presidente, durante a entrevista. Ao afirmar que precisa do apoio dos parlamentares, Bolsonaro também ressaltou que para aprovar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) no Congresso são necessários 308 votos.

Em julho de 2021, quando confirmou a escolha do senador Ciro Nogueira (PP-PI) como ministro da Casa Civil, Bolsonaro já havia dito que "Centrão" é um nome "pejorativo" para se referir a esse grupo de partidos que atua no Congresso. "Eu sou do Centrão", disse, à época. Em novembro do ano passado, após idas e vindas, Bolsonaro se filiou ao PL de Costa Neto.

Moro

Bolsonaro questionou se o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro (Podemos), que deve ser um de seus rivais na eleição de 2022, entrou no governo em 2019 com o objetivo de se preparar para concorrer à Presidência da República. "Se a população acreditar nele, não compete a mim", disse o chefe do Executivo na mesma entrevista.

"Ele teve um ano e quatro meses comigo. Não descobriu nada no governo? Prevaricou?", afirmou Bolsonaro, em referência a Moro, que pediu demissão do Ministério da Justiça em abril de 2020 e acusou o presidente de tentar interferir na Polícia Federal (PF). "Só que eu tinha um problema. Eu achava que a Polícia Federal poderia agir melhor", declarou o presidente.

Bolsonaro também voltou a dizer, durante a entrevista, que Moro queria ser indicado para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). "Que petulância", criticou. "Ele foi no meu governo para fazer um trabalho sério, para se blindar ou para se preparar para ser futuro candidato à Presidência da República? Têm três alternativas. Não deu certo, tirei ele fora, tinha que tirar", declarou o presidente.

Desde que o ex-juiz da Operação Lava Jato se filiou ao Podemos, em novembro do ano passado, para concorrer nas eleições deste ano, apoiadores de Bolsonaro e o próprio presidente têm aumentado o tom das críticas a Moro. O próprio ex-ministro tem tentado se cacifar como candidato da terceira via, em meio à polarização entre o atual chefe do Executivo e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as intenções de voto.

"Temos um país para salvar de uma triste polarização entre pelegos e milicianos. Vamos construir a nação moderna e inclusiva que queremos", escreveu Moro, no Twitter, ao anunciar uma viagem à Paraíba na semana passada.

Quando os brasileiros foram às ruas em junho de 2013, uma das principais pautas que emergiram nos protestos foi o aprimoramento do combate à corrupção. A então presidente, Dilma Rousseff (PT), respondeu com um pacote de leis sobre o tema, que depois foram fundamentais para permitir as investigações da Operação Lava Jato, iniciada em março de 2014.

No entanto, após as apurações alcançarem nomes do partido como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a sigla se voltou contra a chamada "agenda anticorrupção" - e passou a trabalhar para desmantelá-la no Congresso, muitas vezes em conjunto com partidos do Centrão.

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Projetos como a Lei Anticorrupção e a Lei das Organizações Criminosas, ambas de 2013, sofreram modificações ou foram alvo de projetos apresentados por petistas com apoio de parlamentares do PL, do Republicanos e do Progressistas, siglas que ocuparam ministérios nas gestões petistas e hoje dão suporte ao governo de Jair Bolsonaro.

O PT teve também protagonismo em outras mudanças legislativas que tendem a enfraquecer o arcabouço legal anticorrupção no País, de acordo com especialistas que acompanham o assunto. É o caso das alterações na Lei da Improbidade e da proposta de emenda à Constituição que muda a composição do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), e amplia a influência do Legislativo no órgão.

Secretário-geral do PT, o deputado Paulo Teixeira (SP) disse ao Estadão que "não houve mudança" de pensamento do partido sobre as legislações aprovadas, mas a intenção de "fazer o correto combate à corrupção". "A Lei de Improbidade combateu um monte de gente inocente. O correto combate à corrupção não pode destruir empresas, mas tem que tirar os corruptos das empresas", afirmou o parlamentar.

Teixeira declarou ainda considerar que o PT se deixou levar pela pressão que existia a favor do combate à corrupção após os protestos de junho de 2013, e acabou patrocinando leis "autoritárias", como a Lei das Organizações Criminosas.

"Nós erigimos uma legislação autoritária. Na ânsia de responder ao combate à corrupção, acabamos aceitando no Brasil legislações sugeridas pelos Estados Unidos e que eram altamente autoritárias, e que nem eles aplicavam lá", disse o secretário-geral do partido.

Ao lado do colega Wadih Damous (PT-RJ), Teixeira propôs uma série de mudanças na Lei das Organizações Criminosas, criando regras rígidas para os acordos de delação premiada e a exclusão da possibilidade de prisão preventiva para garantia da ordem pública e econômica - justificativa que motivou inúmeras ordens de custódia na Lava Jato.

ELOGIOS

Nos últimos anos, a atuação de governos do PT na agenda anticorrupção chegou a ser elogiada até por quem investigava seus nomes mais proeminentes, como Lula e os ex-ministros Antonio Palocci e José Dirceu. Em 2016, o então procurador regional da República Carlos Fernando dos Santos Lima afirmou que os governos petistas permitiram o fortalecimento da Polícia Federal e do Ministério Público.

Mas o avanço das investigações da Lava Jato foi o estopim para que o PT se voltasse contra legislações criadas durante os 14 anos das gestões Lula e Dilma - normas consideradas pilares no enfrentamento dos crimes de colarinho-branco. O partido que garantiu a independência da PF e do MP passou a questionar a atuação dos órgãos no Congresso.

No fim de outubro, uma proposta de Teixeira tentou aumentar a influência da Câmara e do Senado no CNMP. O órgão responsável por fiscalizar a conduta de promotores e procuradores foi criado em 2004, no governo Lula. Apelidada de "PEC da Vingança" por associações do Ministério Público e considerada uma revanche contra a Lava Jato, a proposta foi barrada na Câmara por 11 votos. A rejeição do texto surpreendeu os parlamentares.

A derrota ocorreu semanas após uma vitória considerada importante pelos deputados. A Lei de Improbidade, de 1992 e anterior aos governos petistas, foi afrouxada pelas mãos de Carlos Zarattini (PT-SP), responsável pelo texto aprovado no Congresso, na maior mudança feita nas normas sobre improbidade até hoje.

'MUDANÇA'

Para especialistas, a nova lei dificulta a punição a políticos. O principal ponto é o que prevê condenação por improbidade apenas nos casos em que seja comprovado o "dolo específico", ou seja, a intenção de cometer a irregularidade. A legislação foi sancionada por Bolsonaro, sem vetos.

Na avaliação do procurador de Justiça Roberto Livianu, "mesmo que existam questionamentos sobre a forma de atuar da Lava Jato, houve uma investigação grande sobre casos de corrupção". "E, quando essas investigações alcançaram quadros do PT, você percebe que o ponto de vista (do partido) sobre o combate à corrupção se modificou", disse Livianu, que preside o Instituto Não Aceito Corrupção.

TEMAS QUE MOBILIZARAM PETISTAS NO CONGRESSO

Improbidade administrativa

No projeto que afrouxou a Lei de Improbidade Administrativa, o texto aprovado foi o do relator, Carlos Zarattini (PT-SP), com apoio do líder do governo, Ricardo Barros (PP-PR), nome do Centrão. Os 52 deputados do PT foram a favor da medida, que dificulta a punição de políticos ao exigir a comprovação de "dolo específico" (intenção de cometer irregularidade).

Organizações criminosas

O deputado Paulo Teixeira (PT-SP), junto com o colega Wadih Damous (PT-RJ), propôs uma série de mudanças na Lei das Organizações Criminosas, criando regras rígidas para os acordos de delação e a exclusão da possibilidade de prisão preventiva para garantia da ordem pública e econômica - justificativa que motivou várias ordens de custódia na Lava Jato.

Conselho Nacional do Ministério Público

No fim de outubro, uma proposta do deputado Paulo Teixeira (PT-SP) tentou aumentar a influência da Câmara e do Senado no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). O órgão é responsável por fiscalizar a conduta de promotores e procuradores e foi criado durante o governo Lula, em 2004. Chamada de "PEC da Vingança" por entidades do Ministério Público e considerada retaliação contra a Operação Lava Jato, a proposta acabou sendo barrada na Câmara dos Deputados.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Desde que assumiu a Presidência do Brasil, em janeiro de 2019, Jair Bolsonaro coleciona polêmicas, e 2021 não foi diferente. Acuado pela CPI da Covid, o mandatário fez diversas ameaças às instituições e acenou até com uma deriva autoritária nos protestos antidemocráticos de 7 de setembro.

No entanto, apesar de tudo, Bolsonaro conseguiu se manter no Palácio do Planalto e ganhar sobrevida com a ajuda do "centrão" grupo de partidos conservadores e fisiológicos que ele prometera combater e que hoje é fiador de seu governo.

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"Bolsonaro chega ao fim do ano sobrevivendo às custas de usar a caneta presidencial para distribuir recursos públicos para as bases políticas", diz à ANSA a cientista política Carolina Botelho, da Universidade Mackenzie.

Desde que chegou ao poder, Bolsonaro se recusou a montar uma base sólida no Congresso - o presidencialismo de coalizão - e se viu em dificuldades para aprovar matérias na Câmara e no Senado.

Contudo, com a popularidade em queda livre devido à pandemia, passou a usar e transferir recursos diretamente para partidos que pudessem lhe garantir apoio no Congresso, inclusive por meio de um Orçamento secreto operado pelo aliado Arthur Lira.

De acordo com a cientista política do Mackenzie, Bolsonaro construiu um tipo de coalizão muito na base do clientelismo político. "Esse dinheiro passa a não ter transparência, a gente passa a não conhecer essas lideranças que estão recebendo esse orçamento que é público e passamos a ter pouco controle sobre como vai ser distribuído nos municípios", acrescenta.

Em troca, o presidente conseguiu formar maioria para as votações de matérias de seu interesse e para evitar a abertura de um processo de impeachment, tornando-se, no entanto, refém do "centrão". "O inédito nessa história foi ele rejeitar a aproximação com os partidos no início de seu governo. Mas no momento em que ele poderia sofrer um impeachment, porque a popularidade estava abaixando e com o governo metido em várias crises sucessivas, ele precisou trazer para seu governo aquele centrão que troca qualquer coisa pela votação", explica Botelho.

"Ter o centrão na base não é inédito, mas a maneira pela qual ele está transformando essa relação tem sido inédita na Nova República", continua a cientista política, enfatizando que a "falta de transparência diminui a qualidade democrática", pois a sociedade perde o controle do que está sendo negociado.

Já o cientista político Rodrigo Prando, professor do Instituto Mackenzie (SP), lembra que a sustentação dada pelo 'centrão' é regada pelo chamado "Orçamento secreto e pelas emendas do relator, uma quantidade enorme de dinheiro público que serviu para cooptar essa base de apoio, já que o governo, em termos programáticos e de agenda, pouco teve a oferecer para a sociedade brasileira".

"Em síntese, nós temos dois 'Ps', um de política e um de pandemia, e na maioria das vezes eles se retroalimentaram e o presidente manteve esse discurso negacionista do começo ao fim do ano", acrescenta.

Para Prando, o governo Bolsonaro termina 2021 como começou: "negacionista e afeito às fake news, pós-verdades e teorias da conspiração".

CPI da Covid

Após quase seis meses de investigações, a CPI da Covid-19 no Senado Federal aprovou um relatório que pede o indiciamento de 78 pessoas, incluindo Bolsonaro, e de duas empresas devido à gestão da pandemia.

Ao todo, a CPI atribuiu 10 possíveis crimes a Bolsonaro, número inédito de acusações contra um presidente na história das comissões parlamentares de inquérito. Entre eles estão epidemia com resultado morte, charlatanismo, emprego irregular de verbas públicas e crimes contra a humanidade.

O procurador-geral da República, Augusto Aras, determinou a abertura de uma investigação preliminar para analisar os dados apresentados no relatório final da CPI, mas ainda não houve avanços concretos.

143 pedidos de Impeachment

Em quase três anos de governo, Bolsonaro já foi alvo de 143 pedidos de impeachment, com alegações que envolvem desde a publicação do vídeo de um "golden shower" no Carnaval de 2019 até declarações em apoio à ditadura militar e ao golpe de 1964. Ainda assim, nenhum procedimento foi instaurado.

"O impeachment é um julgamento de caráter político e jurídico. Juridicamente, me parece que são abundantes as evidências de que o presidente, sucessivas vezes, cometeu crime de responsabilidade. No entanto, politicamente, o presidente tem como principal aliado o 'centrão', um grupo de partidos fisiológicos e que era considerado a velha política", explica Prando.

Botelho segue na mesma linha. "Bolsonaro está usando o orçamento de uma maneira completamente atípica, sem controle, sem transparência, para comprar uma base congressual", afirma.

Desde que assumiu a Câmara, no início do ano, Arthur Lira, expoente do "centrão", tem rechaçado a ideia de abrir um processo contra Bolsonaro, que apoiara sua eleição no Parlamento.

"Quando Bolsonaro apoia o presidente da Câmara e do Senado, ele mostra que colocou pessoas muito dependentes da relação com ele.

Os 'caras' foram lá para defender Bolsonaro", afirma Botelho, lembrando que Lira "tem sido a grande liderança dentro do Congresso" para a distribuição de recursos sem fiscalização.

Segundo ela, todos esses grupos apoiam Bolsonaro porque têm se beneficiado dessa administração, ainda que grande parte da população tenha sofrido com a fome, o desemprego e o descontrole da pandemia durante 2021.

Eleições 2022

O ano também marcou a filiação de Bolsonaro ao PL, do ex-mensaleiro Valdemar Costa Neto, após o fracasso em sua tentativa de criar uma legenda própria para disputar as eleições de 2022.

O mandatário havia saído do PSL em novembro de 2019 e teve de recorrer a uma sigla do "centrão" para conseguir disputar o pleito do ano que vem.

A pré-candidatura de Bolsonaro ainda não foi formalizada, mas pesquisas indicam que ele terá de correr contra o tempo para mudar o cenário que está se desenhando. De acordo com o Datafolha, 53% dos brasileiros reprovam sua gestão, 24% a avaliam como regular, e 22% a consideram "boa ou ótima".

Já nas pesquisas de intenção de voto, Bolsonaro aparece em segundo lugar, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem perderia em um eventual segundo turno.

"No ano que vem, teremos uma guerra política com a construção de narrativas cada vez mais violentas em termos retóricos e, não raro, ameaçando rupturas institucionais", diz Prando, lembrando que um "Bolsonaro fragilizado, com índices de aprovação muito ruins e a probabilidade de ser derrotado, vai radicalizar o discurso e colocar em teste não só a democracia como as instituições brasileiras"

Por Luciana Ribeiro, da Ansa Brasil

Liderados pelo Centrão, vários partidos desencadearam um movimento, nessa segunda-feira (13), para derrubar o veto do presidente Jair Bolsonaro ao aumento do Fundo Eleitoral em 2022 e garantir R$ 5,7 bilhões às campanhas políticas do próximo ano. O grupo não aceita liberar recursos adicionais para o governo em 2021 nem votar o Orçamento do ano que vem antes da análise desse veto.

Nessa segunda-feira, o Centrão, que integra a base do governo na Câmara, obstruiu sessão do Congresso e fez a reunião ser cancelada. Com isso, os parlamentares deixaram de votar um projeto que abre um crédito adicional de R$ 300 milhões no Orçamento de 2021 para conceder um vale gás a famílias carentes a partir deste ano. Além desse projeto, os partidos também barraram a votação de outras propostas que liberam gastos no final do ano para o Executivo.

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"A sessão foi suspensa porque não foi cumprido o acordo de se votar alguns vetos. Estamos construindo um acordo para votação na quinta-feira e acredito que vai ser possível um entendimento para fazer essa agenda", disse o líder do PL na Câmara, Wellington Roberto (PB), durante reunião da Comissão Mista de Orçamento (CMO).

Na CMO, a ordem é não votar nem o relatório geral do Orçamento de 2022 antes da derrubada do veto. Isso porque a decisão sobre o Fundo Eleitoral terá de ser colocada na peça orçamentária. "Não havendo convocação do Congresso antes de sexta-feira, não seria mais prudente aguardar a votação do relatório geral após a sessão do Congresso?", questionou o líder do governo na comissão, deputado Claudio Cajado (Progressistas-BA). A presidente da CMO, senadora Rose de Freitas (MDB-ES), admitiu o impasse. "Não sei, não sei, não sei, não sei", afirmou.

Líderes do Congresso devem conversar entre a noite desta segunda-feira, 13, e a manhã de terça, 14, para definir o futuro da agenda da semana, decisiva para as verbas federais de 2022, ano de eleições. Diante do impasse, o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), disse que a votação do Orçamento de 2022 deve ficar para segunda-feira (20), atrasando o cronograma atual. Ao cancelar a sessão, o deputado convocou uma nova para sexta-feira (17), mesmo dia em que estava marcada a votação da Lei Orçamentária Anual (LOA) no plenário.

Ramos afirmou que a sessão desta segunda-feira ficou inviabilizada porque a base do governo obstruiu a votação do projeto de lei que libera verba do Orçamento para o vale-gás. De acordo com o deputado, o Congresso só votará agora projetos de lei em sessão conjunta após a análise dos vetos de Bolsonaro. Nos bastidores, a principal pressão é sobre o veto do Fundo Eleitoral.

Fundo Eleitoral

Em votação nesta segunda, a CMO manteve o valor do Fundo Eleitoral em R$ 2,1 bilhões para 2022, conforme proposto inicialmente pelo governo do presidente Jair Bolsonaro. O valor pode crescer, no entanto, com aval da própria base governista e chegar a R$ 5,7 bilhões até sexta-feira (17), se o veto for derrubado.

A comissão rejeitou destaque (proposta de modificação do texto) apresentado pelo Novo, com o objetivo de reduzir a verba para R$ 1 bilhão em 2022. "Esse fundo eleitoral, geralmente, com algumas exceções de alguns partidos, é usado para perpetuação de poder e concentração de milhões na mão de poucos", disse a líder do Novo na CMO, Adriana Ventura (SP).

Enquanto os partidos exigem R$ 5,7 bilhões para o chamado "Fundão", a CMO aprovou relatório setorial da Saúde com valor abaixo do mínimo estabelecido pela Constituição para gastos nessa área, deixando um "buraco" de R$ 6,1 bilhões na compra de vacinas e outras ações de combate à Covid-19. O rombo terá de ser resolvido ao longo da semana.

A análise do veto ao aumento do Fundo Eleitoral vem sendo adiada nos últimos meses por falta de acordo entre as bancadas do Congresso. Uma solução no radar é negociar um valor intermediário no Orçamento, próximo a R$ 4 bilhões, o que ainda representaria o dobro do gasto com campanhas eleitorais em 2020.

O relator da Proposta de Emenda à Constituição que restabelece a possibilidade de prisão após condenação em segunda instância, deputado Fábio Trad (PSD-MS), retirou o parecer da pauta dessa quarta-feira (8) e pediu que seja definido outro dia para a discussão. A decisão foi tomada após uma manobra na qual integrantes do Centrão trocaram mais de 15 dos 34 deputados titulares e suplentes na comissão especial encarregada de analisar a PEC. Saíram os favoráveis à proposta e entraram os contrários.

Parlamentares críticos à PEC admitiram que a tentativa de derrubar a PEC é um recado ao ex-juiz Sério Moro, pré-candidato do Podemos à Presidência. Em campanha ao Palácio do Planalto, Moro tem dedicado especial atenção à PEC da Segunda Instância, uma de suas bandeiras, e só nesta semana publicou três postagens sobre o tema nas redes sociais. O ex-juiz enfrenta resistência de políticos do Centrão alvejados pela Lava Jato.

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Na sessão da comissão especial para debater a PEC, o deputado Fausto Pinato (Progressistas-SP), um dos novos escolhidos para integrar o colegiado, fez uma série de críticas à Lava Jato e admitiu ter procurado o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), e pedido para participar do grupo. "Há centenas de juristas que constataram abuso na Lava Jato", afirmou Pinato. "Nós também aprovamos a lei do abuso de autoridade porque sabemos o abuso que estava tendo de promotor e juiz, dando 'canetada' em todo mundo. A grande maioria vilipendia e coloca a classe política como bandida."

Para o líder do Podemos, deputado Igor Timo (MG), há um ataque a Moro por parte de uma ala do Congresso. "Ficou evidente pela citação (à Lava Jato) que houve uma coisa direcionada a Sérgio Moro", afirmou. "Estão sendo infelizes na postura, porque atingem o País como um todo."

O deputado Paulo Teixeira (PT-SP), integrante da comissão, relacionou a articulação para derrubar a proposta ao 'efeito Moro'. "Essa PEC é um erro. Foi também um recado para o Moro", disse. O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) avaliou que a movimentação pode ter efeito contrário ao desejado. "Deixou a pauta viva e para 2022 deu munição e pontos para Moro. O tiro saiu pela culatra", afirmou.

Até essa terça (7), defensores da PEC da Segunda Instância acreditavam ter o apoio necessário para aprovar o texto na comissão especial. Mas no mesmo dia partidos promoveram várias trocas com o objetivo de barrar a proposta, inclusive durante o andamento da sessão.

Partidos

Além de legendas do Centrão, como Republicanos, PL, Progressistas e PSC, outros partidos de oposição ao governo ou "independentes" - PSDB, DEM, MDB, PDT e Solidariedade - também agiram para substituir os integrantes da comissão especial favoráveis à proposta.

Com receio de uma derrota, Trad retirou o parecer que havia apresentado e pediu mais tempo para discussão. Esta é a terceira vez, neste mês, que a leitura do texto é adiada. "Por causa dessa mudança repentina de quase 17 membros (da comissão especial), eu retiro meu relatório e solicito que adie para outra oportunidade, para que meu relatório não vá para o matadouro", disse o deputado. 

Depois de se tornar o primeiro presidente da República a governar sem estar filiado a nenhum partido político por dois anos, nesta terça-feira (30), Jair Bolsonaro oficializou a sua filiação ao PL. O cientista político Elton Gomes afirma que a legenda pode ser “vitaminada” com a chegada de Bolsonaro.

Elton aponta que, assim como o ex-presidente Lula (PT), Jair Bolsonaro é um líder carismático que conseguiu estabelecer uma base eleitoral sólida e apoiadores inamovíveis. “Isso representa uma potência eleitoral para a legenda que tem como candidato à Presidência da República um filiado”, diz.

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O estudioso relembra o ‘efeito Bolsonaro’ que fez com que o então nanico PSL passasse de apenas um deputado (Luciano Bivar) para 54 parlamentares em 2018, com Bolsonaro disputando a Presidência pelo partido.

“O PSL era praticamente uma propriedade particular do Luciano Bivar, e foi elevado ao maior partido da Câmara dos Deputados, com 54 parlamentares - que depois diminuiu para 52 deputados. Então, é provável que a ida de Bolsonaro para o PL vitamine muito o partido”, salienta.

Já existe uma movimentação onde parlamentares do próprio PSL, que continuam fiéis ao presidente Jair Bolsonaro, sinalizam que devem deixar o partido para disputar uma reeleição pelo PL. “Porque eles se elegeram no esteio do bolsonarismo e maioria reconhece que não tem força política própria. Tem força associada ao próprio Bolsonaro, o que é muito racional”, complementa Elton Gomes.

Saídas do PL

Imposições de Jair Bolsonaro, acordos políticos estaduais e diferenças ideológicas devem fazer com que ao menos cinco deputados federais deixem o PL e procurem outra legenda para disputar as eleições de 2022. Três desses deputados são do Nordeste e dois são do Norte. 

Junior Mano (CE), Fabio Abreu (PI), Sergio Toledo (AL), Cristiano Vale (PA) e Marcelo Ramos (AM). A maioria desses parlamentares apoiam, em seus estados, governantes que são de esquerda. Bolsonaro já declarou que o PL não deverá apoiar nenhum candidato de esquerda no país.

O cientista político avalia que os políticos que já estão no PL não perdem nada com a ida do presidente. “Pelo contrário, eles ganham o poder de barganha. Se aumentar o tamanho do partido, o PL passa a dispor de uma fatia maior do fundão eleitoral que foi aprovado pelo Congresso. 

Retorno de Bolsonaro ao Centrão

Mesmo já tendo integrado o Centrão na época que atuava como deputado federal pelo PP, por exemplo, Bolsonaro se elegeu em 2018 criticando esse grupo de 14 partidos que atualmente conta com 260 parlamentares. Antes de se tornar presidente, ele costumava chamar o Centrão de “velha política”.

Bolsonaro até tentou no primeiro ano do seu mandato governar sem fazer barganhas políticas, mas não demonstrou força e depois acabou distribuindo cargos e dinheiro para esse grupo. Elton explica que, dentro do nosso modelo de governo, que é o presidencialismo de coalizão, não é viável governar sem o apoio do Centrão ou de pelo menos parte considerável dele. 

“Bolsonaro é um ator político bastante peculiar. Ele é originário desse grupo político, que chegou ao poder sem o apoio dos grandes partidos, por isso tentou governar no início do seu mandato sem se entregar ao esquema de barganhas e trocas, caracterizador do sistema de presidencialismo brasileiro. Todavia, no final do seu primeiro ano de governo, Bolsonaro começou a fazer acenos para algumas bancadas”, fala o estudioso.

O que a oficialização do retorno de Bolsonaro para o Centrão pode representar para o seu eleitorado? O cientista salienta que, no Brasil, as legendas importam muito pouco porque os partidos políticos são pouco programáticos e pouco consistentes na questão ideológica. 

“O Brasil vive muito o personalismo da vida pública, que é potencializado pelo messianismo político, tendência de procurar sempre os salvadores da pátria”, pontua. 

Sem apoio para criar seu próprio partido, o Aliança Brasil, na manhã desta terça-feira (30), o presidente Jair Bolsonaro filiou-se ao Partido Liberal (PL) em um evento no auditório do complexo Brasil 21, em Brasília. Após abandonar o PSL no primeiro ano de mandato, a filiação confirma a reintegração do gestor ao Centrão.

Antes de iniciar a fala, Bolsonaro fez com que o pastor e deputado Marco Feliciano (PSC-SP) fizesse uma oração para abençoar sua ida ao PL.

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Com 43 deputados federais, a legenda é a terceira bancada mais robusta da Câmara, atrás do PSL (54) E PT (53).

"Estou me sentindo em casa [...] eu vim do meio de vocês", comentou Bolsonaro diante do seu time de ministros e dos representantes do Centrão no Congresso, com destaque ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

Ao recordar sobre as quase três décadas no Legislativo, Bolsonaro externou a companhia dos convidados no evento trazia lembranças agradáveis de luta e embates pelo Brasil. Entre eles, os senadores Fernando Collor de Melo (PROS-AL) e Romário (PL-RJ), qualificado pelo presidente como "uma pessoa leal acima de tudo".

"Seremos uma família, mas vocês todos fazem parte dessa nossa família", reforçou em referência às demais siglas presentes. "A maioria somos nós", assegurou.

Passados os agradecimentos, o chefe do Executivo voltou a criticar as gestões do PT, com ênfase na Educação e nas leis de proteção ambiental.

"Nós todos conseguimos fazer brotar no coração do brasileiro um sentimento de patriotismo. A falar em Deus, Pátria e Família", destacou Bolsonaro, que comparou o Brasil à Venezuela para indicar que o país foi retirado de uma gestão de esquerda.

Dentre às críticas, contou que recebeu a proposta de R$ 1 bilhão de dólares para que Angra dos Reis limitasse a preservação para se tornar um destino turístico. No entanto, a legislação impede a liberação de uso comercial da área sem um decreto de autorização do Congresso.

O presidente Jair Bolsonaro se justificou novamente sobre sua aproximação com o centrão, durante entrevista ao Diálogo com Lacombe, transmitido pela RedeTV nesta quinta-feira (25). "Prefiro Centrão do que esquerdão", disparou o presidente.

Bolsonaro argumentou que a maior parte do Congresso Nacional é composta por integrantes do Centrão. “Já fui do PP, já fui do PTB. É um nome pejorativo que deram. Prefiro estar no Centrão do que no esquerdão, lá você não consegue nada de bom para o país", declarou.

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O presidente negou que sua base no Congresso Nacional tenha sido estabelecida por trocas de cargos e favores, alegando que as tratativas com os parlamentares ocorrem por meio de convencimento. "A negociação não é fácil", afirmou.

Bolsonaro também mencionou conversas de "alto nível" com Valdemar Costa Neto, presidente do PL, partido ao qual pode se filiar nos próximos dias. "Com o PT de volta, todo mundo vai perder. Não tem como fazer milagre na economia e vão voltar para aparelhar tudo no país, para nunca mais sair do poder", defendeu.

O presidente também ironizou a pré-campanha de seu ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro. "Quero ver ele em cima de um caminhão falando para duas mil pessoas. Não consegue conversar", criticou.

Ex-ministro da Secretaria de Governo do governo Jair Bolsonaro, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz tem filiação marcada para esta quinta-feira (25) ao Podemos, partido que planeja lançar o ex-ministro da Justiça Sergio Moro como candidato à Presidência da República. Nos bastidores há uma articulação para Santos Cruz ser candidato a vice de Moro.

A filiação de Santos Cruz e a possibilidade de uma eventual chapa presidencial com Moro é sinal visível do movimento de aproximação do ex-juiz da Lava Jato com oficiais da ativa e da reserva, um dos pilares de sustentação de Bolsonaro. Esta aproximação é recíproca por parte de alguns militares, que têm sinalizado disposição de apoiar uma eventual candidatura do ex-juiz, caso se confirme. No início do mês, Moro convidou outros generais para a cerimônia de sua filiação ao Podemos.

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Na tentativa de livrar da imagem de símbolo da antipolítica - por causa de sua atuação na Lava Jato - Moro tem procurado líderes de partidos do Centrão e da "terceira via" em busca de apoio à sua eventual candidatura. Nos últimos dias, o ex-juiz e dirigentes do Podemos conversaram com Republicanos, Patriota, Novo, Cidadania e União Brasil, legenda que será resultado da fusão do DEM com o PSL.

Ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, o Republicanos integra o Centrão e está na base do governo Bolsonaro, que espera apoio na campanha à reeleição.

Mesmo assim, líderes da sigla não fecham a porta para Moro. O deputado Marcos Pereira (AM), que comanda o partido, e sua colega de Câmara Renata Abreu, presidente do Podemos, são aliados.

Na terça-feira, Moro jantou com a bancada do Cidadania na Câmara. Organizador do encontro, o líder do partido, deputado Alex Manente (SP), fez elogios ao ex-ministro e disse ter "identidade" com as pautas que ele apresenta. "Dialogamos com todas as forças da terceira via, tentando buscar uma unidade capaz de vencer Bolsonaro e o ex-presidente Lula. Moro, na minha opinião, é o pré-candidato mais afirmativo desse campo", disse.

O partido tem o senador Alessandro Vieira (SE) como pré-candidato ao Planalto, mas ele já admitiu abrir mão da disputa em nome de um concorrente com mais chances. Quando questionado sobre Moro, entretanto, o presidente da sigla, Roberto Freire, diz que o ex-juiz é "mais um" entre os nomes apresentados pela terceira via.

Palanque

Moro esteve na quarta-feira (24), em Minas Gerais e participou de um almoço com o governador Romeu Zema (Novo). O líder do Podemos na Câmara, Igor Timo (MG), se mostrou esperançoso com a possibilidade de Zema abrir palanque para o ex-juiz, apesar de o Novo ter lançado o cientista político Luiz Felipe d’Ávila à Presidência. Timo avalia , no entanto, que isso não deve ser empecilho. "Existe uma convergência de bandeiras e ideais. Aos poucos as coisas vão se encaixando".

No começo do mês, Moro e Renata Abreu também estiveram com Ovasco Resende, presidente do Patriota. A exemplo dos outras siglas, Resende não fechou as portas para o ex-juiz, mas também não a abriu.

O avanço das discussões no Congresso sobre a legalização de jogos de azar colocou em campos opostos dois dos principais grupos aliados do governo Jair Bolsonaro. De um lado, o Centrão age para aprovar uma proposta ampla, que inclui a liberação até jogo do bicho, sob a justificativa de que vai favorecer a economia e promover o turismo. Do outro, evangélicos dizem que o vício em jogos prejudica famílias e contraria valores que eles defendem.

O Palácio do Planalto evita se posicionar sobre o assunto, mas o filho mais velho do presidente da República, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), é um dos defensores de tornar a jogatina legal no País.

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Os jogos de azar são proibidos no Brasil desde 1946, quando o então presidente Eurico Gaspar Dutra afirmou que a "tradição moral, jurídica e religiosa" do País não combinava com a prática, além de considerá-los "nocivos à moral e aos bons costumes". Desde então, diversas propostas foram apresentadas para legalizar a jogatina, mas nenhuma avançou.

Um dos líderes do Centrão, o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), decidiu tentar novamente e criou, no mês passado, um grupo de trabalho para discutir um projeto sobre o tema. Ele escalou como relator o deputado Felipe Carreras (PSB-PE), seu aliado, e pretende levar a proposta a votação em plenário em novembro.

O ponto de partida do texto de Carreras é um projeto aprovado em comissão especial da Câmara em 2016, mas que nunca teve a votação no plenário marcada. A proposta regulamenta as atividades de cassinos em resorts, máquinas caça-níqueis, apostas online, bingos e jogo do bicho, além de uma anistia geral, extinguindo processos judiciais em tramitação. Hoje, explorar essas atividades é considerado contravenção, com pena de até um ano de prisão.

Segundo Carreras, embora o projeto seja amplo e inclua o jogo do bicho, seu foco será liberar os cassinos integrados a resorts. "Tem instrumento de fiscalizar e arrecadar. Qual a consequência disso? Gerar emprego formal. Quando traz (para o Brasil) os grandes cassinos integrados de resorts do mundo, você tem um produto turístico. Espanha, França, Itália, Alemanha, Portugal, Reino Unido, Canadá, México têm (cassinos)", afirmou o relator.

Ao mesmo tempo em que Lira acelera a discussão na Câmara, o Senado também analisa projetos sobre jogos de azar. O presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), declarou há duas semanas que pode colocar um deles em votação caso haja acordo.

Sob relatoria do senador Ângelo Coronel (PSD-BA), uma das propostas se limita a regulamentar a abertura de cassinos em hotéis. Segundo Coronel, a liberação desses empreendimentos poderia gerar uma arrecadação de R$ 30 bilhões por ano ao País. O cálculo tem como base a participação que os jogos têm na economia da Itália e considera que a tributação sobre eles no Brasil seria similar à aplicada hoje na aposta esportiva. "Na Itália, em torno de 1,3% do PIB é fruto do jogo. Se tomarmos como base a Itália, a receita para os entes federados (do Brasil) ficará em torno de R$ 30 bilhões com tributação similar à esportiva bancada pela Caixa Econômica Federal", disse.

Coronel tem a seu favor o lobby de Flávio Bolsonaro. No início do ano passado, o filho do presidente visitou cassinos em Las Vegas, acompanhado do então presidente da Embratur e hoje ministro do Turismo, Gilson Machado, e do senador Irajá Abreu (PSD-TO), que também é autor de um projeto que prevê cassinos em resorts. Na ocasião, o grupo se reuniu com Sheldon Adelson, um apoiador de Donald Trump que comandava a Las Vegas Sands, uma das maiores empresas do mundo do ramo de cassinos. Adelson também se encontrou em 2018 com Bolsonaro, então presidente eleito, e com o ministro da Economia, Paulo Guedes. O americano morreu em janeiro deste ano.

Apesar do lobby do filho, Bolsonaro tem dito que, caso a legalização dos jogos seja aprovada, vetará a medida, mas deixou aberta a possibilidade de sua decisão não ser a final. "Eu acho que vai ter mais a perder do que a ganhar no momento. Se, porventura, aprovar, tem o meu veto, que é natural, e depois o Congresso pode derrubar o veto. Sim, o que está sendo discutido até o momento contará com o meu veto. Ponto final", afirmou o presidente à revista Veja no fim de setembro.

O líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (Progressistas-PR), disse, porém, que não há posição oficial do Planalto sobre o tema. "Depende da abrangência", afirmou ele em relação ao apoio ou ao veto do governo à iniciativa.

'Princípios'

A bancada evangélica diz que não medirá esforços para evitar que a legalização dos jogos de azar avancem. "Minha posição contrária à legalização dos jogos de azar continua a mesma, sou visceralmente contra, e, por se tratar de princípios, não mudará jamais", disse o deputado Marco Feliciano (Republicanos-SP), pastor evangélico e um dos congressistas mais próximos de Bolsonaro. "Não falei sobre esse assunto com o presidente, porém, até onde o conheço, acredito que ele não seja a favor."

Auditores fiscais também têm pressionado para que a iniciativa não seja aprovada. A Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Anfip) divulgou nota no fim do ano passado segundo a qual "os efeitos deletérios resultantes da jogatina superam qualquer possível ganho econômico advindo da prática".

"Além de estimular atividades ilícitas como corrupção, prostituição, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, pode causar sérios danos à saúde, desencadeando doenças como a ludopatia - transtorno compulsivo patológico reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), causado pelo vício em jogos", afirmou a associação.

Projetos

Câmara dos Deputados

- Substitutivo ao Projeto de Lei 442/1991 - Legaliza cassinos, jogo do bicho e bingos, anistia acusados de exploração ilegal de jogos de azar e extingue processos judiciais em tramitação. Parado desde 2016, serve de base para o grupo de trabalho montado por Arthur Lira.

Senado

- Projeto de Lei 186/2014 - Libera e regulamenta cassinos, bingos e jogo do bicho. De autoria do hoje ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (Progressistas-PI), foi rejeitado pela CCJ em 2018, mas ainda pode ser analisado pelo plenário.

- Projeto de Lei 4495/2020 - Prevê a regulamentação do funcionamento de cassinos integrados a resorts. Projeto está pendente de análise pelo plenário do Senado - o relator da proposta ainda não apresentou seu parecer.

- Projeto de Lei 2648/2019 - Limita-se a regulamentar cassinos em resorts. Tramita em comissão da Casa e ainda não teve relatório apresentado.

- Projeto de Lei 595/2015 - Trata sobre a proteção ambiental e a promoção do ecoturismo por meio da gestão compartilhada com hotéis autorizados a explorar jogos de apostas. E cria um imposto sobre a operação de hotéis-cassino. Está parado em comissão desde 2018.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Nas redes sociais, orgulho de mil dias de um Governo "sério, honesto e trabalhador". Na vida do brasileiro, desemprego, inflação, combustíveis caros, volta de impostos federais, contas atrasadas e vulnerabilidade alimentar. A comemoração da gestão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deixa a população incrédula sobre a própria realidade. Ao LeiaJá, cientistas políticos analisaram a trajetória que desaguou na instabilidade democrática, coroada com um discurso controverso na ONU, enquanto a CPI da Covid revela graves indícios de corrupção e crimes de responsabilidade contra o presidente.

Sem sucesso até para apoiar as próprias pautas, claramente a estratégia do Boslonaro é responsabilizar terceiros para que não seja apontado como incapaz. "A narrativa sempre é achar outros culpados para o insucesso. O governo trabalha para criar fatos e tentar tumultuar o debate. Poucas coisas são feitas para solucionar problemas", avaliou o cientista político Caio Santos.

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Sustentado por informações falsas disparadas em massa por sua bolha de apoiadores, veículos financiados - e por robôs, como a investiga a CPI das Fake News -, para Santos, o legado deixado pelo presidente é de que "é possível se sustentar no cargo com dinheiro e um percentual de apoiadores radicalizados". 

O cientista político Jorge Oliveira Gomes foi além e acrescentou que a herança da atual gestão é do desmonte estrutural de órgãos de controle e regulamentação, principalmente os destinados à Educação, Saúde e Meio Ambiente. "Estamos lidando com o pior governo da história em termos de amadorismo e falta de credibilidade", classificou.

Reformas

Para Gomes, a única conquista dos mil dias no Planalto foi a Reforma da Previdência que, na verdade, deve ser colocada na conta do ex-presidente da Câmara dos Deputdos, Rodrigo Maia. "Foi muito mais uma vitória do Parlamento do que do Executivo. Bolsonaro nunca foi fã da proposta do próprio Governo e chegou a declarar que não se importava com a Reforma. Não moveu uma palha para que passasse", considerou.

O marco que mudou o cálculo das aposentadorias era considerado necessário pelo aumento da expectativa de vida do brasileiro e um desejo de seus antecessores. Por isso foi aprovada com contribuições das alas da direita e da esquerda. "Entretanto, a legitimidade da Reforma se tornou questionável por conta da manutenção de privilégios para militares e atores políticos em geral", destacou o estudioso.

A carência dos benefícios aparentes, descritos por governistas no lucro da venda de estatais e extinção de instituições, somada à desarmonia com os demais Poderes afastaram até mesmo seus apoiadores, o que expôs a crise de governabilidade no Parlamento. Eleito como um outsider da 'nova política', ainda em campanha, Bolsonaro buscou se distanciar das quase três décadas integrado ao Centrão, período em que macaqueou por partidos acusados de corrupção. 

Sem partido

Sem casa desde que saiu do PSL reclamando de não ter o controle os recursos do Fundo Eleitoral, de acordo com Santos, "as pessoas esqueceram, mas Bolsonaro fracassou em abrir o próprio partido", quando não conseguiu recolher assinaturas suficientes para fundar o Aliança Brasil, mesmo oferecendo camisas em troca da participação popular. Pela sua sobrevida, começou a distribuir emendas e cargos ao Congresso, constituindo uma agenda de trocas ministeriais e rendição a um dos seus principais eixos na candidatura.

"Governos fracos são o paraíso do Centrão. Algumas pautas são boas para essa direita tradicional e, por isso, há mais afinco e velocidade em aprovar certas propostas", explicou o cientista. A metodologia do ‘toma lá, dá cá’ funcionou nas eleições das Casas Legislativas que elegeram seus candidatos, mas para o Voto Impresso, a tática não surtiu mesmo efeito.

A mais nova ambição é colocar seu ministro "terrivelmente evangélico" no Supremo Tribunal Federal (STF). Após promover o ministro Kassio Nunes Marques, o nome da vez é André Mendonça, escolhido para o lugar do ex-ministro Sergio Moro na Justiça e Segurança Pública, e atual Advogado-geral da União (AGU). "A questão de Mendonça é um recado: 'tudo tem que ser negociado e tem que haver ganho para a base do governo no Congresso passar'", comentou Santos.

A situação “constrangedora” é mais um episódio da "infidelidade de Bolsonaro do que de uma suposta falta de comendo", complementou Gomes. No plenário, a rejeição ao AGU é quase unânime. Para limpar a imagem, o próprio Mendonça tenta validar sua candidatura fazendo campanha corpo a corpo e deixa de lado sua doutrina como pastor presbiteriano para se aproximar de representantes da esquerda. A movimentação teria irritado Bolsonaro que, para o cientista, abandonou o ministro.

"Mendonça se porta como um moribundo, mendigando apoios de gabinete em gabinete, e fazendo promessas em Brasília. Foi completamente esquecido por Bolsonaro e só tem algum respaldo na ala evangélica", analisou Gomes.

Em mil dias com acúmulo de pedidos de impeachment engavetados, flerte com posições nazistas e milicianos cariocas acusados de assassinar a ex-vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), também recaem nas costas o presidente o escândalo do esquema de rachadinhas de assessores orquestrado pelo seu núcleo familiar. Como resposta, o mandatário nega todas as acusações e vem impondo sigilos em seus documentos. Quando pode, endossa seu próprio discurso agressivo para reaproximar seus adeptos, que cada vez mais abandonam o projeto de reeleição, como mostram pesquisas de intenção de voto.

Desgaste da imagem no exterior 

O Brasil deixou de ser referência mundial em imunização e, no exterior, perdeu o brilho da tradição diplomática. A ideologia de extrema-direita distanciou o país do rol de lideranças democráticas e o jogou na prateleira composta por regimes como Hungria, Turquia e Arábia Saudita.

 "A linha é de ser um 'pária internacional' pois ele quer essa imagem, não para o Brasil, mas para seus projetos pessoais", afirmou Santos, que comparou à metodologia de domínio do ex-presidente Donald Trump. Ele compreende que o norte-americano enxerga o Poder como “detalhe” e tem como plano "ser sempre uma liderança política, ter apoiadores e pessoas dispostas a tudo por você”, relacionou. Para Santos, “o discurso de Bolsonaro foi feito [apenas] para isso: alisar seu público", alertou.

Depois de 40 anos de amizade, a morte da esposa em decorrência da Covid-19 fez com que o ex-deputado Alberto Fraga bloqueasse Jair Bolsonaro do WhatsApp. Ele diz não compreender “essa falta de sensibilidade” do presidente

Após 40 anos de amizade com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o ex-deputado Alberto Fraga (DEM-DF) declarou ter se afastado do mandatário depois da morte prematura da esposa, Mirta, em decorrência de complicações ocasionadas pela Covid-19.

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Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Fraga disse que chegou a bloquear Bolsonaro no aplicativo de mensagens WhatsApp e que não consegue compreender “essa falta de sensibilidade do presidente com relação à morte das pessoas”.

O ex-aliado conheceu o chefe do Executivo em 1980, durante a Escola de Educação Física do Exército no Rio de Janeiro (RJ). Nos anos que sucederam, continuaram juntos quando foram deputados e, posteriormente, se encontravam com frequência no Palácio da Alvorada (DF).

Durante a pandemia, no entanto, Fraga e a esposa pegaram o novo coronavírus. “Ela teve pneumonia viral. Ficou 73 dias internada e veio a óbito em virtude do pulmão não ter se recuperado. O sentimento mais comum de todos nós que passamos uma situação dessa é que gostaríamos de ter tido a vacina o mais rápido possível”. Para ele, “enquanto se disputava politicamente quem era ‘o pai da criança’, a população ficou sem vacina”.

Coronel da reserva da PM do Distrito Federal e expoente da chamada “bancada da bala” durante o mandato na Câmara, o ex-parlamentar acusa Jair Bolsonaro de ter “politizado” a vacina. Segundo suas declarações, quando o presidente percebeu que havia necessidade de imunizantes contra a doença, “não quis dar o braço a torcer porque o mérito ficaria para o Doria [governador de São Paulo]”.

Na entrevista, Fraga disse ainda que esse era um dos principais pontos de inflexão com o ex-aliado, já que sempre considerou a vacina importante. “Eu disse algumas vezes que a economia se recuperava. As vidas não. Isso fez com que, em diversas situações, eu fosse me decepcionando com algumas posturas”.

Questionado se o rompimento era definitivo, o político disse que se afastou para não estragar a amizade. "Em hipótese alguma eu posso culpar o presidente pela morte da minha mulher. Nunca insinuei isso, mas achei por bem me afastar, não romper. Sempre fui amigo do Jair Messias Bolsonaro. Nunca fui amigo do presidente", afirmou.

Fraga relembrou também a morte do senador Major Olimpio, em março deste ano, que também foi vítima da Covid-19. Segundo o ex-parlamentar, a ausência de manifestação pública de Bolsonaro já mostrava sua "insensibilidade". “Deus foi tão bondoso com ele que ele não teve nenhuma perda. Os que tiveram têm uma visão diferenciada dessa questão”.

“Tem um general aí que está mais para puxar saco do que para ser conselheiro de governo”

Sobre o time de ministros e aliados que cercam o presidente, Fraga ressaltou que “Bolsonaro escolheu muito mal seus conselheiros”. Segundo ele, “tem um general aí que está mais para puxar saco do que para ser conselheiro de governo”, se referindo ao general Luiz Eduardo Ramos, atual ministro da Secretaria-Geral da Presidência. Na avaliação do ex-deputado, a atuação de Ramos agrada o presidente pois o mesmo “não gosta de ser contrariado”.

No que se relaciona às manifestações do dia 7 de setembro, Fraga avaliou que o chefe do Executivo nacional “exagerou na dose”, pronunciando “coisas que era impossível de realizar”, a exemplo do pedido para que o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) retirasse o ministro Alexandre de Moraes do cargo que ocupa. Ele também sugeriu que “não existe a menor chance de as polícias se insurgirem”, e completou declarando que o impeachment só seria possível caso houvesse “algum tipo de esgarçamento na relação entre Centrão e Bolsonaro”.

 

 

O ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, acredita que “os centros urbanos são majoritariamente de esquerda”, enquanto “os votos conservadores estão no campo”. Essa foi uma das declarações concedidas durante entrevista ao colunista Thiago Herdy, do UOL, nesta segunda-feira (30). É a primeira grande entrevista do administrador após a sua exoneração do cargo no governo de Bolsonaro, dois meses atrás. Durante a conversa, Salles falou ainda sobre os ruídos entre o governo e o Supremo, loteamento de cargos no Congresso e supostos problemas com a postura do presidente da república.

Após ser questionado sobre a má avaliação de Jair Bolsonaro (sem partido) no país, Ricardo Salles admitiu não acreditar em pesquisas e que essas mesmas fontes, em 2018, afirmaram que Bolsonaro não ganharia a eleição. Segundo o ex-ministro, só passaram a considerar o potencial do presidente eleito no “finalzinho da eleição, mas antes da facada, não davam a ele o percentual que ele teve”. Na mesma linha, continuou a pontuar sobre a distribuição das forças do eleitorado bolsonarista.

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“Não acho que a pesquisa seja tão fidedigna aqui. O Brasil é muito heterogêneo e as pesquisas tendem a ter uma visão muito concentrada nos centros urbanos. Os centros urbanos são majoritariamente de esquerda. Os votos conservadores, o voto da direita está no campo, isso está claro. No interior do Brasil. Não apenas eles [irão reeleger Bolsonaro]. Acho que quando você faz uma pesquisa que foca preponderantemente em centros urbanos, ela está inexoravelmente tendenciosa. Há grandes chances do Bolsonaro ganhar a eleição. E acho que a alternativa ao Bolsonaro no Brasil, que é um fato que também o ajuda bastante, é ter o Lula como adversário”, respondeu.

Ainda sobre a percepção pública sobre a postura de Bolsonaro, Salles disse que vê o presidente como “duro e sincero”, mas não “intolerante”. “Acho injusto colocar essa conta só no colo do presidente. Se há um excesso de beligerância hoje na política brasileira, isso se deve a todos os envolvidos”, continuou. No entanto, admitiu “excessos” por parte de Jair Bolsonaro ao lidar com a pauta do voto impresso.

“O governo apresentou as pautas de maneira correta, colocou para avançar a privatização dos Correios, da Eletrobras. Mas, realmente, o excesso de animosidade recíproca acaba atrapalhando. A despeito de todos esses problemas e da pandemia, o Brasil fez reformas estruturais importantes. Cito a da Previdência, a da autonomia do Banco Central, os marcos da liberdade econômica e do saneamento”, prosseguiu Salles, admitindo que apenas isso não é suficiente.

O ex-ministro desviou de respostas claras ou diretas sobre o embate com o Supremo Tribunal Federal: “Não entro nessa área [impeachment de ministros] porque há exacerbação recíproca dos ânimos. Todos deveriam serenar as suas ações e suas medidas”.

Diante da comparação entre eleitores de Donald Trump, nos Estados Unidos, com a invasão do Capitólio, e uma possível derrota de Bolsonaro em 2022 somada à invasão do Congresso, Salles disse que há “chance zero” de um evento como esse acontecer e que acredita que os resultados seriam respeitados pelo presidente. “Chance zero. O Bolsonaro não fez nenhuma medida antidemocrática, respeitou as liberdades individuais, respeitou o direito. Nunca alguém foi tão criticado pela imprensa como ele foi”, pontuou.

Quanto à reforma administrativa e loteamento da administração pública com parlamentares do Centrão, disse que não há constrangimento algum em partir para esse tipo de política, que é comum aos governos anteriores, apesar de ir contra o discurso de campanha de Bolsonaro. Ao falar de outros governos, Salles disse que “antes havia um loteamento absurdo do governo em troca de apoio do Congresso. Exemplo disso, o mensalão”, mas nega que esse seja o caso da gestão atual.

“A proximidade do Legislativo com o Executivo impõe que você abra espaço de participação. Isso é natural. Mas está muito longe de ser o loteamento político de cargos, verbas e estatais como no passado. O Centrão tinha todos os cargos do governo nos governos passados. Se nesse governo a classe política tem legitimamente alguma participação no governo, em governos passados eles eram donos. Ciro Nogueira tem uma capacidade de articulação política extremamente importante”, concluiu.

Aliado de Jair Bolsonaro no Congresso, o Centrão se dividiu para a disputa de 2022 e uma importante ala do bloco avalia que a chance de o presidente conquistar o segundo mandato está cada vez mais distante. Em conversas reservadas, o núcleo do Progressistas, partido do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), e do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, tem traçado esse cenário e aposta que a eleição para o Palácio do Planalto pode até mesmo ser decidida no primeiro turno, se o presidente não mudar radicalmente o comportamento e a população não sentir no bolso uma melhoria econômica.

O diagnóstico marca uma mudança significativa na avaliação de políticos próximos do Planalto. Até então, o palpite era de que Bolsonaro voltaria a ser competitivo novamente no ano que vem com crescimento econômico e com um novo Bolsa Família, agora batizado de Auxílio Brasil.

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Apoiadores do presidente também argumentavam que, com todo mundo vacinado, ninguém mais se lembraria do desastre na gestão da pandemia de covid-19. O que mudou? Com inflação, juros e desemprego em alta, a população sente os efeitos da deterioração econômica e do aumento do preço dos alimentos, do gás de cozinha, da conta de luz e da gasolina. Não se trata de uma situação vista como passageira e, além de tudo, é agravada por uma nova onda da pandemia, crise hídrica e arroubos autoritários de Bolsonaro, que investe em ameaças à democracia e em conflitos institucionais.

Até mesmo nas bancadas de legendas com assento na Esplanada de Ministérios, como o Progressistas e o PL, há deputados que admitem muitos obstáculos na campanha de Bolsonaro para 2022.

Presidente do PL no Rio, o deputado Altineu Cortês, por exemplo, disse apoiar a reeleição do presidente, mas afirmou que o governo necessita com urgência fazer mudanças importantes na seara econômica. Bolsonarista de carteirinha, Cortês argumentou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, atrapalha o governo por não ter "sensibilidade social" e deve sair do cargo.

"Precisamos de um ministro que trate da responsabilidade fiscal, mas que tenha sensibilidade social. Essa sensibilidade social, hoje, infelizmente, o ministro Paulo Guedes tem na sola do pé", criticou.

O chefe da equipe econômica trava atualmente uma queda de braço com a articulação política do Planalto sobre o valor a ser pago pela nova versão do Bolsa Família.

"Jogo de Cintura". Cortês destacou não ter nada pessoal contra o ministro, mas disse considerar que ele inviabiliza politicamente o governo. O dirigente do PL avaliou que falta a Guedes "jogo de cintura" nos projetos de refinanciamento das dívidas de companhias e de auxílio financeiro a microempresas.

No Progressistas já há quem considere que não vale a pena ficar com Bolsonaro. É o caso do deputado Eduardo da Fonte (PE), ex-líder do partido, ligado ao ministro Ciro Nogueira e apoiador da pré-candidatura do ex-presidente Lula. Na Bahia, Estado comandado por Rui Costa (PT), o vice-governador João Leão (Progressistas) é outro nome que rechaça uma aliança com Bolsonaro.

O deputado Fausto Pinato (Progressistas-SP) afirmou que a única maneira de o chefe do Executivo ter viabilidade eleitoral em 2022 é contendo os arroubos autoritários. Para Pinato, Bolsonaro precisa ouvir o ministro da Casa Civil e os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, além de cessar os ataques às instituições.

"Se (Bolsonaro) ouvir Ciro Nogueira, Arthur Lira e Pacheco, tem chance (de ser reeleito). Caso contrário, todo mundo vai usar todo mundo e, na hora H, vai ser um salve-se quem puder", previu o deputado, ao alertar sobre possível debandada do governo.

O presidente tem feito constantes ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ao questionar a credibilidade do sistema eleitoral, Bolsonaro acusa, sem provas, parte do Judiciário de ter um conluio para eleger Lula.

Em uma série de declarações contra o Supremo e o TSE, Bolsonaro tem afirmado que não haverá eleições em 2022 sem uma mudança na urna eletrônica que possibilite a impressão do voto. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do voto impresso foi rejeitada por uma comissão especial da Câmara e pelo plenário da Câmara, mas o presidente continua defendendo o tema e tem convocado atos contra o Supremo para o feriado de 7 de setembro.

A PEC do voto impresso foi derrotada com ajuda de parte considerável de deputados do Centrão. O Progressistas liberou os deputados para que votassem como quisessem. Treze foram contra a medida defendida por Bolsonaro, 16 a favor e 11 se ausentaram. O PL foi além e orientou o voto contra a PEC, com a maioria dos deputados agindo para derrubar o texto.

Vice-líder do PL, o deputado Zé Vitor (MG), admitiu dificuldades no horizonte do presidente. "Não é um bom momento para ele", afirmou. Mesmo assim, o parlamentar evitou dizer como avalia as chances de reeleição. "Estamos distante da eleição. Tudo pode acontecer", desconversou. O deputado disse ser contra o apoio a Lula, mas não descartou avalizar um candidato alternativo ao petista e a Bolsonaro.

Flerte

O PL ocupa a Secretaria de Governo, comandada pela deputada licenciada Flávia Arruda (PL-DF). Uma ala do partido, porém, flerta com Lula. O vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), por exemplo, se reuniu com o ex-presidente em abril. Embora ainda não tenha decidido em qual campanha embarcará no ano que vem, Ramos já descartou apoio a Bolsonaro.

"O problema é a inflação alta, a gasolina a R$ 7, a energia subindo, a comida subindo, o gás de cozinha a mais R$ 100, os juros em dois dígitos no longo prazo, a inflação descontrolada, desemprego e fome. A situação dele é muito difícil, não dá tempo de reverter isso", afirmou o vice-presidente da Câmara.

Um deputado, que já foi líder do PL e conversou com a reportagem sob a condição de anonimato, afirmou que hoje a maioria da bancada apoia o governo, mas não está descartado que o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, abandone Bolsonaro em 2022.

Pesquisa XP-Ipespe divulgada na semana passada mostra as dificuldades enfrentadas pelo presidente. Lula obteve 40% das intenções de voto em uma simulação de primeiro turno, Bolsonaro marcou 24% e Ciro Gomes (PDT), 10%.

Presidente do Progressistas, o deputado André Fufuca (MA), diz em público que Bolsonaro pode recuperar a popularidade. "Acredito que o atual cenário é mutável. A tendência é que sua popularidade volte a subir e ele chegue com condições reais de disputar a reeleição", afirmou. Nos bastidores, no entanto, Fufuca conversa com Lula.

O presidente do PSD, Gilberto Kassab, diz em público o que grande parte dos dirigentes de partidos reserva para o bastidor. "Tem uma chance grande de o presidente Bolsonaro não estar no segundo turno. A gestão está ruim e mal avaliada e uma série de fatores o atrapalham", afirmou Kassab, considerado até por adversários como hábil analista de cenários políticos.

Ao fazer o inventário de problemas, Kassab citou "a conduta do presidente na pandemia, as coisas que estão sendo apontadas na CPI da Covid, a inflação chegando no preço do feijão e a vacinação que demorou para começar".

O PSD tem em seus quadros o ministro das Comunicações, Fábio Faria, que está de saída do partido por causa das divergências da sigla comandada por Kassab com o governo. Faria vai para o Progressistas e Kassab faz articulações para filiar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), ao PSD. A ideia é lançá-lo à cadeira de Bolsonaro.

Presidente do Solidariedade, o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SP), também vê possibilidade de Bolsonaro perder já no primeiro turno. "Se o Lula (ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva) souber trabalhar, ampliar, manter a unidade da esquerda - o que é difícil por causa do Ciro (Gomes, candidato do PDT) - e caminhar para o centro, tem muita chance de ganhar a eleição no primeiro turno", afirmou o deputado. Na eleição de 2018, o Solidariedade integrava o Centrão e apoiou a campanha de Geraldo Alckmin (PSDB), mas há tempos o partido se descolou do grupo.

Kassab diz que nem a melhoria no quadro econômico será suficiente para ajudar Bolsonaro. "Bolsa Família ele vai aumentar X e Lula vai falar que vai aumentar dois X. Vou acreditar no Lula", disse o presidente do PSD.

Marcelo Ramos também descartou que a economia possa auxiliar Bolsonaro. "O presidente apostou em uma recuperação econômica que não era motivada por nenhuma ação do governo. Era uma recuperação de quem sai da inércia", observou. "Quando a crise é muito grande, em um momento pós-crise você sempre tem um boom de crescimento. Mas ele cria tanta confusão que tudo indica que até esse boom de crescimento não vai se confirmar."

Em visita ao Estado do Piauí na última quarta-feira (18), o ex-presidente Lula (PT) declarou que a aliança entre o atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o recém nomeado ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), deve durar pouco.

“Eu não sei por quanto tempo o Ciro ficará com Bolsonaro. Não tenho nenhuma certeza”, afirmou, durante uma coletiva de imprensa em Teresina, capital do Estado. “E acredito que esse casamento será mais curto do que eles imaginam”.

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O petista acrescentou que Bolsonaro teria levado Nogueira para o seu governo com o intuito de “salvar a articulação política dele com o Centrão”, mas, segundo ele, a conduta não deve assegurar “a sustentação que ele pensa que tem durante o processo eleitoral”.

Lula, que tem figurado na liderança nas intenções de voto para 2022, também confirmou que tem se reunido com o PP em São Paulo (SP). De acordo com o presidenciável, o partido de Nogueira “não tem centralismo”, e não sabe se a decisão do político em integrar a “tropa de choque” do governo foi coletiva.

“O Bolsonaro já perdeu, nesses dias, o voto impresso e ele já perdeu o distritão”, acrescentou. Ainda durante a coletiva, Lula chegou a dizer que “o Centrão não vai agir enquanto partido político durante o processo eleitoral”, porque, de acordo com a declaração, cada partido do bloco governista vai dar prioridade “a sua tribo no seu Estado”.

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