Foragido da Justiça e com uma ordem de prisão contra si, o empresário Thiago Brennand, 42 - acusado de agredir uma modelo em academia em São Paulo e de crimes sexuais - publicou entre a noite de segunda-feira, 10, e a madrugada desta terça, 11, dois vídeos em um canal do YouTube, tentando se defender dos crimes que lhe são imputados.
"Quem é hoje Thiago Brennand? Talvez um inimigo público, talvez um sociopata, talvez um estuprador. Será mesmo?", diz.
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Ele faz elogios à sua própria ascendência e linhagem familiar. Afirma que nunca teve qualquer antecedente criminal e que tampouco respondeu a qualquer processo, que não perdeu qualquer amizade e que usará de suas relações familiares para provar sua inocência.
"Se eu não tivesse as amizades que fiz nessa vida, no Exército bem, estaria no cárcere, não teria albergue político."
No vídeo, Brennand revelou sua preferência política e declarou apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem faz elogios. Ele diz que se afastou da política por opção e que "se Deus quiser, vamos vencer no 2º turno".
"Sou branco, conservador, armamentista. Pela família, pela propriedade privada, pela disciplina, pelo respeito ao próximo, pela humildade, por colocar o homem no seu lugar e a mulher também", afirma.
Thiago Brennand assegura ter "várias provas" para rebater as acusações que pesam contra ele. "Vocês [em referência a todos os que foram mencionados no vídeo] vão pagar por tudo o que perdi aí. Estou absolutamente tranquilo. Não estou fugindo. Vocês mexeram com a pessoa errada."
É a primeira vez que o empresário vem a público se manifestar. Ele abriu o seu perfil no Instagram, permitindo que suas publicações sejam vistas por todos os usuários da rede, e disponibilizou o link dos vídeos. Embora o canal vinculado a eles tenha sido deletado, os materiais foram replicados na plataforma por outros usuários.
Brennand ganhou as páginas dos noticiários depois de ser flagrado pro câmeras de segurança agredindo a modelo Helena Gomes dentro de uma academia em um shopping center de São Paulo. Desde que ela formalizou denúncia contra o empresário, ao menos mais dez mulheres já procuraram o Ministério Público acusando Brennand de crimes como estupro, cárcere privado, lesão corporal e ameaça. O caso foi revelado pelo programa Fantástico, da TV Globo.
Logo que foi denunciado no caso de Helena, o empresário saiu do País com destino a Dubai e seu paradeiro, até agora, é desconhecido. Ele descumpriu a determinação da juíza Érika Soares de Azevedo Mascarenhas, da 6ª Vara Criminal de São Paulo, para entregar à Justiça seu passaporte até o dia 23 de setembro e, por isso, possui uma ordem de prisão em aberto contra si.
No primeiro vídeo, o empresário aparece com os cabelos cortados, usando óculos e de camisa social. Durante cerca de 32 minutos, ele afirma que "é perseguido" por jornalistas e por um conluio formado entre a ex-promotora de Justiça Gabriela Manssur - a quem chega a se referir como "uma maloqueira que usa Loubotin" -, a Rede Globo e o procurador-geral de Justiça de São Paulo Mário Sarrubbo.
"É um dos maiores vagabundos que já conheci na vida", afirma Thiago Brennand sobre o chefe do Ministério Público paulista.
Brennand diz que foi vítima de "grupo de prostitutas" que, segundo ele, se organizou "para extorqui-lo, agremiando-se em torno de uma campanha em cima dessa pauta comunista", referindo-se ao combate à violência contra as mulheres.
Sobre a modelo Helena Gomes, no começo do vídeo ele afirma que foi um "episódio isolado" e, perto dos 28 minutos da gravação, retorna ao caso. "Quando que eu ia ter interesse numa mulher daquela? Eu não bebo, e sóbrio não tem como."
Já no segundo vídeo postado em seu canal no Youtube, o empresário aparece vestindo uma camiseta cinza, sem os óculos, criticando a advogada Dora Cavalcanti, cujo escritório, Cavalcanti Sion, esteve por um breve período à frente de sua defesa.
"Estamos preparando uma representação na OAB contra ela. Ela me cobrou R$ 4 milhões para ficar com o meu caso. Petista. Para vocês verem do que são capazes esses petistas."
Brennand critica um episódio no qual a advogada teria convidado um psiquiatra para avaliá-lo no escritório. "Eu sou o epíteto de tudo o que ela odeia. Não é você, nem a sua seita, que vão ditar como um homem deve ser, como uma mulher deve ser e como deve ser uma sociedade civilizada", segue o empresário.
COM A PALAVRA, A ADVOGADA DORA CAVALCANTI, DO CAVALCANTI SION ADVOGADOS
Em nota, a advogada mencionada no segundo vídeo afirma que "por uma questão de ética profissional, não comento detalhes de um caso em que atuei. Repudio, sim, as declarações ofensivas e mentirosas dirigidas pelo ex-cliente a mim e à minha equipe".
COM A PALAVRA, GABRIELA MANSSUR, EX-PROMOTORA DE JUSTIÇA E ADVOGADA
Gabriela Manssur, citada em vários momentos do vídeo, afirma por meio de nota: "O que esperar de um assediador em série? O ataque às pessoas que colocaram um ponto final nas suas investidas criminosas é comportamento típico de homens covardes como ele, que tentam intimidar autoridades, profissionais e as vítimas que clamam por Justiça. Os crimes por ele cometidos contra mim serão apurados e denunciados às autoridades competentes. As providências já estão sendo tomadas".
A reportagem também entrou em contato com o Ministério Público de São Paulo, órgão ao qual o procurador de Justiça Mário Sarrubo pertence, e aguarda retorno. A palavra está aberta.