O caso de Mariana Ferrer voltou a ser assunto nas redes sociais, nesta terça-feira (3), após o The Intercept Brasil divulgar as imagens de uma das audiências a tratar do estupro da promotora de eventos, no qual o acusado por estupro de vulnerável, André de Camargo Aranha, foi inocentado. Nas imagens, o advogado de Aranha, Cláudio Gastão da Rosa Filho, aparece humilhando a blogueira, chamando-a de “falsa”, de mulher de “baixo nível”, além de outras insinuações sexuais desconectadas do caso.
O fechamento do processo também conta com a sentença inédita de “estupro culposo”, que segundo a decisão, supostamente ocorre quando não há a intenção de estuprar, mas não é reconhecida pela lei. A divulgação das imagens foi suficiente para provocar revolta nas redes sociais, e levantou a preocupação dos internautas, sobretudo mulheres e ativistas, quanto à sentença de estupro culposo, que pode abrir brecha legal para assediadores e estupradores a partir de agora.
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A hashtag #justiçapormariferrer alcançou os trend topics do Twitter. No vídeo divulgado, a influencer começa a chorar em meio às acusações do advogado do acusado, que não sofreu interferência direta por parte do juiz, Rudson Marcos, da 3ª Vara Criminal de Florianópolis. “Excelentíssimo, eu estô implorando por respeito, nem assassinos são tratados do jeito que estou sendo tratada, pelo amor de Deus, gente. O que é isso?”, disse Ferrer, entre humilhações e consentimento de retirada por parte do juiz, que a permitiu sair da chamada para “se recompor ou beber uma água”.
A defesa do empresário mostrou cópias de fotos sensuais produzidas pela jovem, antes mesmo de a acusação de estupro ser feita, e as utilizou como reforço ao argumento de que a relação foi consensual. Cláudio Gastão analisou as imagens, que definiu como “ginecológicas”, sem ser questionado sobre a relação delas com o caso, e afirmou que “jamais teria uma filha” do “nível” de Mariana. Quando a vítima começa a chorar durante a chamada, ele a repreende e diz que “não adianta vir com esse teu choro dissimulado, falso e essa lábia de crocodilo”.
A decisão que inocentou André de Camargo Aranha foi tomada em 10 de setembro. Segundo o promotor responsável pelo caso, não havia como o empresário saber, durante o ato sexual, que a jovem não estava em condições de consentir a relação, não existindo portanto “intenção” de estuprar. Por isso, o juiz aceitou a argumentação de que ele cometeu “estupro culposo”, um “crime” não previsto por lei.
Como ninguém pode ser condenado por um crime que não existe, Aranha foi absolvido. Apesar do caso correr em segredo de justiça, Mariana fez questão de torná-lo público, em busca de ajuda e de um julgamento honesto. A blogueira acusa a polícia e o Ministério Público de proteção ao acusado, uma das personalidades mais ricas de Florianópolis.
O empresário é filho do advogado Luiz de Camargo Aranha Neto, que já representou a Rede Globo em processos judiciais. Ele trabalha assessorando jogadores e é visto com frequência ao lado de figuras como o ex-jogador de futebol Ronaldo Nazário e Gabriel Jesus, atacante do Manchester City, da Inglaterra. Na festa em que Mariana afirma ter sido estuprada, ele estava acompanhado de Roberto Marinho Neto, um dos herdeiros da Globo.
O mais recente advogado no caso, Gastão, também é considerado um dos mais caros de Santa Catarina, e já representou pessoas públicas como Olavo de Carvalho e Sara “Winter” Giromini.
Relembre o caso
A noite do suposto estupro aconteceu em 15 de dezembro de 2018, no Cafe de La Musique, beach club da classe alta de Florianópolis-SC, onde a blogueira Mariana Ferrer, de 23 anos, tornou-se embaixadora. A promotora de eventos, à época, com 20 anos, alega ter sido dopada e violentada pelo empresário André de Camargo Aranha, que é amigo dos proprietários do local. O caso todo veio à tona nas redes sociais da própria Mariana, que, em busca de justiça, resolveu tornar a situação pública.
Foram divulgados vídeos em que ela aparece se apoiando nas paredes, sem conseguir andar sozinha, prints pedindo socorro a amigas que estavam no local, além da foto do vestido que usava na noite, ensanguentado. Segundo uma reportagem da revista “Marie Claire”, os exames feitos por Mariana comprovaram o estupro. O sêmen encontrado na calcinha da jovem, que era virgem, era de André de Camargo Aranha, atualmente de 43 anos, empresário influente do ramo do futebol. Apesar das provas apresentadas por Ferrer, a Justiça não reconheceu legitimidade na acusação.