Cumprir a agenda legislativa em meio a dar atenção à família, esposo e principalmente filhos nem sempre é fácil. As mulheres que são mães e assumem atividades parlamentares precisam ter o desdobramento para dar conta da vida pessoal e política ao mesmo tempo. Para revelar o jogo de cintura que elas precisam fazer, o Portal LeiaJá conversou com algumas deputadas e em homenagem ao Dia das Mães celebrado neste domingo (10), mostrará as estratégias usadas por cada uma.
Para algumas políticas a tarefa é natural. Grávida de nove meses e prestes a dar à luz, a vereadora do Recife, Marília Arraes (PSB), encara a nova fase de forma tranquila. “Eu acredito que é como qualquer outra mulher que tem uma vida profissional e tem a sua família também. Acho que dá para conciliar claramente. (...) É um momento especial, mas que faz parte da vida quando se faz esta escolha, e a gente está muito feliz, muito alegre pela família crescendo, ansiosa pelo trabalho que vai dar, mas preparada”, pontuou.
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De licença maternidade, Arraes garantiu ter se ausentado poucas vezes da Câmara do Recife para cuidar do pré-natal e ressaltou manter a atividade mesmo quando o bebê nascer. “Na verdade o trabalho parlamentar é bem diferente do que a maioria das pessoas imagina. Eu estou de licença dos trabalhos legislativos, ou seja, as três vezes na semana que tem sessão eu não vou estar presente, mas todo o resto do trabalho parlamentar a gente vai fazer da mesma forma. Agora, claro, da forma que a saúde permitir e a assistência ao bebê permitir, porque, afinal, o mandato está em curso e a gente tem obrigação de continuar representando as pessoas”, prometeu, contando com a ajuda das redes sociais para divulgar seus acompanhamentos políticos.
Diferente de Marília, a deputada estadual Raquel Lyra (PSB), mãe de dois filhos - um de dois e outro de cinco anos, disse ter amor pela política, mas destacou a angústia de nem sempre poder acompanhá-los. “Eu vivo todo dia angustiada querendo sair mais cedo e chegar mais tarde. Quem disser que não sofre eu vou perguntar a receita! Eu penso neles todos os dias, mas a gente acaba buscando conciliar a atividade profissional com cuidados com os filhos e a falta de rotina deixa a gente desestabilizada, mas tem um monte de gente que me ajuda, inclusive, a psicóloga (risos)”, contou.
Pontuando a importância do apoio da família para dar conta do recado, Lyra, que aos 40 dias do primeiro parto encarou uma campanha política, revelou ter amamentado até aos seis meses. “Andava com vidro e com isopor para cima e para baixo”, disse, ressaltando também ser um desafio. “Pense numa luta. Eu acho que é tanta gente que não tem uma rotina definida. Eu vou tentando acordar mais cedo, meus meninos acordam cedo, coloquei para estudar à tarde e conto com a ajuda das irmãs, do meu marido e das babás. E para poder compartilhar a atividade política com eles, eu os levo sempre que posso, mas não para atividades cansativas. (...) Eles até perguntam quando vai ter outra campanha e se vai ser mais ou menos corrido, mas, outras mulheres também passam por tantas angústias de trabalhar longe, enfrentar trânsito”, comparou.
Com atuação política bem antes de entrar na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), a deputada Teresa Leitão (PT) contou ser necessário fazer algumas ginásticas para conciliar a vida de mãe com os trabalhos políticos. “Tem que fazer certas ginásticas, abrir mão de certas questões, ter muita segurança de qual momento é prioritário para a família, quais são as coisas onde a presença física é indispensável e também contar com muito apoio e compreensão da família, e graças a Deus eu conto”, frisou.
Outro ponto destacado pela parlamentar é saber valorizar os momentos que está junto às três filhas. “Eu acho, como disse certa vez uma filha minha: o que a gente precisa mainha, é quando a gente tiver juntas resignificar este tempo, valorizar o tempo que a gente está junto, constituir laços de confiança e também, ter que informar a família e fazer com que a família também seja parceira dos seus sonhos e de seus compromissos. Não é preciso todos ser militantes ou filiados , mas ter o nível de compreensão daquela tarefa que você desempenha que não é uma tarefa de cunho individual”, explicou.
Para a deputada federal Érica Kokay (PT-DF) a sociedade cobra muito das mulheres. “A sociedade é muito cruel com as mulheres porque é como se ela dissesse assim: ocupa teu espaço público, mas o espaço doméstico é seu e seu filho não pode adoecer, sua casa não pode estar suja. São as ditaduras da perfeição que a sociedade impõe, ou seja, você tem que assumir com perfeição todas as questões que a sociedade imputa as mulheres, que é a dupla ou tripla jornada”, contextualizou.
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Apesar da análise, Kokay garantiu não ter dificuldade com seus três filhos. “Essas tarefas de educar, e as tarefas domésticas são muito bem compartilhadas na minha casa. Eu tenho três filhos. Meus filhos já são adultos, e quando eles eram crianças eu busquei incorporá-los a minha atividade, e levá-los junto comigo para que pudessem entender pelo que estávamos lutando, porque quando a gente sai em luta, à gente sai em luta por eles também, e como muita coragem, porque as mães têm muita coragem!”, destacou a petista.