Quando seu marido Liu Xiaobo, um ativista dos direitos humanos, recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2010, Liu Xia exultou de alegria.
"Estou tão emocionada, tão empolgada, que não sei o que dizer", confidenciou a poeta e artista plástica por telefone à AFP.
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Liu Xia agradeceu "todas as pessoas que apoiaram Liu Xiaobo" e "pediu vigorosamente" ao governo chinês que libertasse o dissidente, que morreu de câncer no fígado há exatamente um ano, depois de passar oito anos na prisão.
O ativista cumpria uma sentença de 11 anos de prisão por "subversão" depois de reivindicar eleições livres na China. Uma iniciativa suicida em um país onde o Partido Comunista governa sozinho o país.
Em 2010, nem Liu Xia nem os seguidores de seu marido imaginaram as repercussões que este Prêmio Nobel teria para ela, artista e escritora, que nunca foi considerada uma pessoa politizada. Embora sempre tenha demonstrado apoio inabalável ao marido, nunca esteve ativamente envolvida em suas campanhas.
Logo após a atribuição do Prêmio Nobel a seu marido preso, Liu Xia foi colocada em prisão domiciliar em seu apartamento em Pequim, sob estrita vigilância. Apenas excepcionalmente era autorizada a visitar seu marido na prisão ou seus pais.
- Não é uma dissidente -
Depois de ter sido transferido para o hospital em 2017 para tratar o câncer de fígado já em estado terminal, o dissidente pediu para receber atendimento no exterior. Um desejo que, de acordo com pessoas próximas, era na verdade por causa de sua esposa.
O casal se conheceu na década de 1980. Ela era uma jovem poeta, pintora e fotógrafa e ele um intelectual. O amor comum pela literatura os uniu.
"Ela não estava no nosso grupo de dissidentes", relatou à AFP Hu Jia, ativista de Pequim e amigo do casal. "Quando eu visitava Liu Xiaobo, ela não se juntava a nós para fazer parte das discussões políticas".
As pessoas próximas ao casal concordam que Liu Xia era 'culpada' do "crime" de ser a esposa de Liu Xiaobo.
"Quero casar com esse inimigo do Estado!", declarou pouco antes de seu casamento em 1996 a Yu Jie, autor de uma biografia do dissidente.
- 'Deixar-se morrer' -
Liu Xiaobo lamentou que sua esposa tenha sido privada de sua liberdade de movimento.
Depressiva, com problemas cardíacos, Liu Xia, de 57 anos, via como quase todos os amigos que tentavam visitá-la eram expulsos pelos guardas que a vigiavam permanentemente em frente à sua casa.
"Meu amor por você é tão carregado de remorso e arrependimento que às vezes desmorono sob seu peso", disse Liu Xiaobo à esposa em uma de suas últimas declarações públicas.
No início de sua prisão domiciliar, Liu Xia postava regularmente notícias no Twitter para seus amigos preocupados. Muitas vezes irônica, suas mensagens se tornaram melancólicas. "Por que temos que viver esse tipo de vida?", escreveu em 2010.
Após a morte do dissidente, Estados Unidos e União Europeia pediram a Pequim que libertasse Liu Xia e a deixasse sair da China, se fosse este o seu desejo.
De acordo com uma de seus amigos mais próximos, o escritor dissidente Liao Yiwu, que vive exilado na Alemanha, a poeta confidenciou em maio, durante uma conversa por telefone, que estava disposta a "deixar-se morrer".
Até então, as autoridades chinesas proibiam sua saída do país. Finalmente, nesta terça-feira, a viúva deixou o país rumo a Helsinque, capital da Finlândia.