Se não bastassem os efeitos da terrível seca, a maior dos últimos 50 anos, que se prolonga há quatro anos, provocando um rastro de destruição e uma crise hídrica sem precedentes no Nordeste, as doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti estão levando medo, apreensão e até desespero nos rincões sertanejos.
Tudo porque a estrutura de saúde dos hospitais regionais é muito precária. Em Arcoverde, imagens geradas pela TV-Globo, ontem, mostraram um cenário de horror, com homens, mulheres e crianças sendo atendidas no meio da rua, no pátio do hospital e muitas delas deitadas no chão, por falta de leitos.
O drama não está restrito ao hospital de Arcoverde, que já vem há muito sendo apontado como um dos mais precários. Limoeiro, no Agreste Setentrional, a situação é muito mais grave. Ali, não há nem ambulâncias para transportar doentes, que chegam nas emergências levadas em unidades de propriedades de políticos, a maioria vereadores.
Em Santa Cruz do Capibaribe também está instalado o caos. Notícias que chegam de lá é que o hospital regional está lotado de doentes com dengue, chikungunya e até portadores do vírus Zika, responsável pelos casos de microcefalia, que acendeu a luz vermelha, deixou o Governo Federal em pânico e os Estados sem condições de enfrentar uma possível endemia.
Levantamento do Ministério da Saúde aponta a ocorrência de 1.248 casos de microcefalia notificados em 311 municípios de 14 Estados. Até ontem, Pernambuco registrava o maior número de casos (646), sendo o primeiro a identificar o aumento de diagnóstico de microcefalia na região.
Em seguida aparecem os Estados da Paraíba (248), Rio Grande do Norte (79), Sergipe (77), Alagoas (59), Bahia (37), Piauí (36), Ceará (25), Rio de Janeiro (13), Tocantins (12), Maranhão (12), Goiás (2), Mato Grosso do Sul (1) e Distrito Federal (1). A doença não é, entretanto, exclusividade do Brasil nem dos Estados mais pobres no Norte e Nordeste.
Depois de o Brasil confirmar a relação entre o zika e o surto de microcefalia e da Polinésia Francesa divulgar uma suspeita de 17 casos de microcefalia provocados pelo vírus, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) emitiram alerta informando que nove países americanos já confirmaram casos autóctones – circulação interna – da doença.
Além do Brasil, Chile, Colômbia, El Salvador, Guatemala, México, Paraguai, Suriname e Venezuela têm casos registrados. As notificações colombianas são de outubro. Outros seis países registraram casos em novembro. O comunicado da Opas e da OMS pede que seja estabelecido um diagnóstico da doença e que essas unidades federativas preparem a rede de assistência para um aumento no número de casos, com reforço no atendimento pré-natal e neurológico. Isso inclui o monitoramento de como o vírus tem se espalhado para outras regiões e identificando os fatores de risco associados ao zika.
O documento mostra dados de 2000 e 2010 para evidenciar que, no Brasil, os casos de microcefalia cresceram 20 vezes. E também reconhece, pela primeira vez, a conexão entre o zika e a microcefalia, mencionando inclusive os resultados laboratoriais do Instituto Evandro Chagas, ligado ao Ministério da Saúde.
Em entrevista à BBC Brasil, o diretor do departamento de doenças comunicáveis da Organização Pan-Americana de Saúde, Marcos Espinal, afirmou ainda que não dá para se ter a real dimensão da epidemia. As organizações internacionais pedem, ainda, que as grávidas se previnam para um eventual contato com o mosquito Aedes aegypti.
GOVERNO CULPADO- O presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arbovirose, Artur Timerman, alerta que os órgãos federais demoraram a agir contra o surto atual de microcefalia. Os números são alarmantes. Em Natal (RN), três bebês por dia são diagnosticados. Pesquisadores avaliam a hipótese de que a ação do vírus ocorre até o terceiro mês de gestação, período de formação sistema nervoso do feto. Fragmentos do vírus já foram encontrados no líquido amniótico de dois fetos com microcefalia.
Ministro cara-de-pau– O Ministério da Saúde também é apontado como o principal responsável pelo crescimento dos casos de dengue, chikungunya e zika no País, especialmente no Nordeste pelo fato de atrasar em seis meses a remessa dos valores para compra do larvicida que combate as larvas do mosquito e reduzir em mais de 50% dos agentes de combate às endemias, transferindo a responsabilidade aos municípios. Forçado a falar sobre o assunto na sua passagem por Gravatá, segunda-feira passado, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, reconheceu a falha e disse que houve um problema de logística. É muita cara-de-pau!
Fechando o cerco – Tribunais de contas de todo o Brasil assinaram termo de cooperação para aperfeiçoar a fiscalização de estados e municípios que não estão cumprindo a Lei de Acesso à Informação (LAI). Os municípios e estados que não cumprirem a legislação referente à transparência das contas públicas terão recursos de convênios celebrados com o governo federa imediatamente suspensos. O acordo foi assinado durante a realização do Congresso dos Tribunais de Contas do Brasil no Cabo e ratificado pela Associação dos Membros dos Tribunais de Contas (Atricon), Controladoria Geral da União (CGU), Ministério do Planejamento e Instituto Rui Barbosa.
Ação voluntariosa– O teólogo Waldir Benevides quer uma ampla ação de voluntários no combate ao mosquito da dengue. Em carta ao governador Paulo Câmara, propôs uma campanha educacional preventiva com uma força tarefa de voluntários, coordenada pelo gabinete do governador, composta por Gabinete de Projetos Estratégicos, Secretaria de Saúde, Secretaria das Cidades, Secretaria de Educação, e representantes dos grupos religiosos sem restrição. “Esta força tarefa seria composta por voluntários dos grupos religiosos, que serão treinados pela Secretária de Saúde e Educação, para em uma ação urgente orientar a população sobre as medidas que devem ser adotadas. A campanha funcionaria enquanto os números não forem reduzidos satisfatoriamente”, sugeriu.
Patrimônio nebuloso – Um relatório da Receita Federal apontou que há indícios de que três filhos do pecuarista José Carlos Bumlai, preso na 21ª fase da Operação Lava Jato, têm “variação patrimonial a descoberto” que supera R$ 160 milhões. Isso significa que o patrimônio não condiz com a renda declarada. O pecuarista tem um quarto filho, que não faz parte deste relatório. O advogado Ricardo Berenguer, que representa os filhos do Bumlai, afirmou que tudo foi declarado e que não há irregularidades. Ele mencionou que boa parte deste do dinheiro teve origem na venda de uma fazenda, que era o grande patrimônio da família. É mole?
CURTAS
ATÉ PELA AMAMENTAÇÃO– A comprovação de que o zika aumenta os riscos de microcefalia em fetos e de Síndrome de Guillain-Barré em quem contrai o vírus acendeu o alerta para outras três possíveis formas de transmissão da doença, além da picada do Aedes aegypti: pelo sêmen, por transfusão de sangue e por leite materno.
ALÔ, GARANHUNS! – Hoje, estarei em Garanhuns, na Câmara de Vereadores, às 19 horas, para lançar meus livros e fazer palestra sobre a conjuntura nacional. Amanhã, será a vez de Ouricuri, na sede do consórcio do Araripe, às 19 horas, e no sábado, em Itapetim, às 19 horas, na Câmara.
Perguntar não ofende: O Conselho de Ética vai fazer o jogo sujo de Eduardo Cunha?