Antes de embarcar para turnê por países da Europa e Ásia, o Sepultura faz uma parada em São Paulo para uma apresentação gratuita e ao ar livre no Sesc Parque Dom Pedro II, neste sábado, às 18h.
A banda brasileira de heavy metal celebra 35 anos de existência e 30 anos de carreira internacional presenteando os fãs com o show que destaca o último álbum "Machine Messiah" (201) e que também conta, cronologicamente, a história do quarteto formado por Derrick Green (vocal), Andreas Kisser (guitarra), Eloy Casagrande (bateria) e Paulo Jr. (baixo).
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O LeiaJá SP conversou com o músico e compositor Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura há 32 anos. Confira:
LeiaJá SP: Andreas, são 35 anos do Sepultura, muitos shows, viagens e histórias. O sucesso ainda surpreende a banda?
Andreas Kisser: Banda velha tem disso (risos), comemorações e celebrações, o que é muito bom. Estamos numa fase muito ativa, fazendo material novo para 2020. O 'Machine Messiah' foi um disco bem aceito pelos fãs e pela crítica, um disco que abriu portas para o Sepultura. Então acho que não medimos as coisas por sucesso ou por fracassos (risos). Uma carreira de 35 anos tem de tudo, momentos bons, momentos ruins, e são nesses momentos de dificuldade que a gente aprende realmente. Por isso é que estamos no melhor momento da banda, com uma formação muito unida, com uma legião de fãs pelo mundo inteiro e que nos mantém motivados. Então acho que o grande sucesso mesmo é estar vivendo o presente, curtindo o que a gente faz, que é o mais importante de tudo. Não somos escravos de um personagem, não somos escravos de uma situação, de uma época. A gente cria um Sepultura novo todos os dias.
LJSP: Fale um pouco sobre a diversidade cultural encontrada pela banda durante essa trajetória de sucesso.
AK: Temos o privilégio de viajar o mundo. Semana que vem estaremos na Rússia, depois Ucrânia, Mongólia, Cazaquistão, Quirguistão. Viajaremos ao Líbano, Turquia, aos Emirados Árabes. Então isso é sensacional, deixa a gente com muita motivação, com ideias novas, conhecer gente, outras bandas e o Sepultura é isso, o espírito do Sepultura é esse. Viajar e conhecer situações diferentes nos inspiram a fazer sempre algo novo. O heavy metal é um planeta, uma tribo, uma nação, independente da religião, da política. Viajamos para quase 80 países nesses 35 anos, fomos desde países muçulmanos, católicos, protestante, que vivem ditaduras, democracias. A gente já tocou em todo tipo de situação.
LJSP: O heavy metal é uma herança passada de pai para filho?
AK: Nos nossos shows, vemos pai trazendo o filho, o tio trazendo o sobrinho. Nesse circuito de apresentações do Sesc, onde o ingresso é barato, o show é no horário, vemos muitas famílias aparecendo para ver o Sepultura, gente de todas as idades, do vovô até o netinho que está nos assistindo pela primeira vez, comprando a sua primeira camiseta. E isso no heavy metal é muito comum, pois vemos esse momento acontecer pelo mundo inteiro em shows como o do Iron Maiden, do Black Sabbath. O heavy metal é uma coisa que não depende de mídia, de clipe, do que está tocando na rádio. O fã do heavy metal gosta de comprar o produto oficial, quer a camiseta, quer o disco, não é uma galera que gosta de comprar produto pirata. É um público muito fiel que vai ao show para curtir, não vai para arrumar briga, nem ficar azarando a mulher do outro, não é balada. Com todo o respeito aos outros estilos de música, mas não é balada. A galera vai para gritar 'seis, seis, seis' como o Bruce Dickinson (risos), é o que o cara mais curte e realmente entra nesse mundo de fantasia do heavy metal, que é um dos estilos mais populares do mundo. Vemos esse estilo em todo lugar, e não só o Sepultura, obviamente, mas todas as bandas que fazem turnês mundiais. Não é uma coisa da moda, é muito bem enraizada e um lance familiar, aquela coisa que você confia, que seu pai passa para você: 'não use drogas, use camisinha e escute heavy metal' (risos), são as coisas boas que a gente tenta passar para os filhos.
LJSP: Durante sua história, o Sepultura acompanhou a disseminação da internet pelo mundo e o último álbum, 'Machine Messiah', faz algumas críticas ao chamado 'emburrecimento digital'. Para o trabalho e o segmento musical, a tecnologia ajuda ou atrapalha?”
AK: O Sepultura não é contra a tecnologia, a tecnologia está aqui para ajudar. No nosso segmento, para coisas de estúdio, ajudou demais no processo de gravação, apesar de fazermos uma gravação meio híbrida, pois ainda gravamos a bateria no rolo de fita, como antigamente, e, depois, fazemos o resto pelo computador pois a edição é muito mais rápida. A gente tenta usar o melhor dos dois mundos para não ficar assim tão refém da tecnologia. Acho que o que falta é uma disciplina do ser humano, de ter tempo de usar o celular, colocar ele de lado um pouco, conversar olho no olho com a família, com amigos, no restaurante. Hoje tem aplicativo para tudo. Você não precisa nem sair de casa, você não precisa pensar, você não precisa se mexer, não precisa fazer nada, e muita gente acha que isso é bom, que esse é o caminho. Mas corremos o risco de não saber fazer nada sozinho, nada além do que apertar um botão do aplicativo para pedir as coisas. A gente não pode ser tão preguiçoso. Preguiça de pensar, preguiça de ver se é fake news ou não, de pesquisar. As pessoas aceitam tudo, algo como 'só porque vem da internet é verdade'. Então é um emburrecimento mesmo, uma coisa de deixar o cérebro meio em ponto morto e aceitar tudo o que vem da internet só porque vem da internet. A gente pode usar a tecnologia de uma forma mais interessante sem perder essa capacidade de pensar e de questionar as coisas.
LJSP: A apresentação deste sábado tem tudo para ser histórica. Qual é a expectativa do Sepultura para o show no Sesc Parque Dom Pedro II?
AK: É a primeira vez que vamos tocar nesse Sesc. Tocar nesse circuito de São Paulo é maravilhoso. Nos sentimos muito confortáveis, pois é tudo muito bem organizado, bem feito, e já fizemos alguns shows históricos na capital paulista, como o da Praça Charles Miller na década de 90, e recentemente no Vale do Anhangabaú. O Sesc Parque Dom Pedro II é um lugar icônico da cidade e vai ser uma bela maneira da gente fazer essa despedida antes de ir para a turnê em abril, pois vamos ficar um mês fora. O show deste sábado é uma celebração dos 35 anos da banda e vamos apresentar um setlist cronológico. Começamos no 'Morbid Vision' de 1985 e, depois, vamos apresentando uma faixa de cada disco, além de colocar mais faixas do 'Machine Messiah' no meio, mostrando esse último disco. Vamos apresentar neste sábado o mesmo show que faremos na turnê que começa na Rússia e segue para outros países.
LJSP: O Sepultura também será atração do Rock In Rio 2019 e a promessa é de apresentar novidades do próximo disco. Alguma possibilidade do público que irá ao SESC neste sábado ouvir um som inédito?
AK: Ainda não, é muito cedo. Em 4 de outubro, no show do Rock In Rio, o plano é lançar a capa do disco, o nome e tocar uma faixa nova. Estamos trabalhando em estúdio, compondo, fazendo a pré-produção, as 'demos". Estamos trabalhando com 10 faixas agora, devemos compor mais umas 4 ou 5 para depois escolher as que vão fazer parte do disco e, em agosto, vamos para a Suécia gravar o álbum que deve sair em fevereiro de 2020.
Serviço:
Sepultura
Sábado (30), às 18h
Sesc Parque Dom Pedro II - Rua São Vito, s/nº, Brás, São Paulo
Entrada gratuita. Não é necessário retirar ingressos previamente.