Desde o período mais crítico da pandemia de Covid-19, o fechamento das escolas e a manutenção do ano letivo por meio de aulas remotas é defendido e, quase que na mesma proporção, criticado. Com o avanço da vacinação, que iniciou atrasada no Brasil, instituições de ensino voltaram a oferecer aulas no modelo híbrido e adotando, em caso das dinâmicas presenciais, protocolos de biossegurança (uso de máscara, higienização com álcool em gel, aferição de temperatura).
Em Pernambuco, desde o dia 16 de novembro, as instituições públicas e privadas passaram a funcionar sem distanciamento mínimo e extinção do sistema de rodízio, ou seja, com 100% da capacidade. Na época, o anúncio feito pelo secretário estadual de Educação e Esportes, Marcelo Barros, chegou a ser criticado pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Pernambuco (Sintepe), que apontou que Barros desconhecia "a realidade das milhares de escolas públicas e privadas no estado de Pernambuco".
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Mesmo com as medidas adotadas nas instituições da educação básica do Estado, no dia 3 de dezembro, a Escola de Referência em Ensino Médio Ageu Magalhães, localizada no bairro de Casa Amarela, Zona Norte do Recife, registrou, de acordo com a Secretaria de Educação e Esportes (SEE), três casos, em alunos, confirmados do novo coronavírus.
Os diagnósticos ocasionaram a suspensão das aulas e a comunidade escolar foi orientada a realizar testes para detecção da doença. Ainda segundo a SEE, os discentes que testaram positivo estão com o esquema vacinal completo, logo, imunizados com as duas doses.
Questionada sobre o quantitativo de casos de Covid-19 registrados desde a retomada ao modelo presencial, a pasta não divulgou números. Mas, por meio de nota, ressaltou que “todas as escolas estão seguindo um rigoroso protocolo de segurança estabelecido pela Secretaria Estadual de Saúde (SES) a fim de evitar a contaminação do coronavírus”. Além disso, em outro trecho do comunicado, esclarece que “as aulas presenciais não são obrigatórias. O estudante que não se sentir seguro em voltar às atividades presenciais pode continuar na modalidade remota, que continua sendo ofertada”.
E finaliza: "Sobre o número de casos, a SEE reforça que todos os casos estão sendo acompanhados pelas unidades de ensino e os dados apresentados ao comitê estadual de enfrentamento à COVID-19".
No entanto, um levantamento realizado pelo Sintepe e divulgado em março deste ano, foram registrados, apenas nas instutuições estaduais, 115 casos da doença. Esses dados foram coletados durante visita a 132 escolas pernambucanas.
Ampliação da vacinação garante um retorno seguro
Aluna do 7º ano de uma escola particular, Heloiza Sopphia, de 12 anos, optou por permanecer no regime de aulas remotas, mesmo com o retorno presencial. Sopphia conta que acha a dinâmica ‘in loco’ menos cansativa, no entanto, o surgimento de casos do novo coronavírus na instituição de ensino a fizeram retornar ao formato on-line.
“Surgiram alguns casos de Covid-19 na minha escola e, por mais que eu quisesse continuar [presencial], achei melhor parar e prezar pela minha saúde e de quem convive comigo”, afirma.
Mesmo imunizada com as duas doses, a adolescente se diz apreensiva diante da descoberta da variante Ômicron, que, diante de estudos preliminares, apresenta um nível de transmissão mais elevado. Em 2022, ela volta à sala de aula presencialmente, mas com receio de que a pandemia se agrave como em 2020. “Estou bastante apreensiva, mesmo com todos os protocolos de segurança sendo seguidos. Tenho medo de tudo voltar a ser como no começo de 2020”.
Também com esquema vacinal completo, Rayssa Kerolyn, de 17 anos, aluna da Escola de Referência em Ensino Médio Santa Paula Frassinetti, localizada no bairro do Espinheiro, Zona Norte do Recife, se diz segura em frequentar as aulas de forma presencial. De acordo com a estudante, que está no 2º ano, a instituição de ensino promove um ambiente confortável.
“Eu me sinto super segura indo à escola, porque o [Santa] Paula sempre procura trazer conforto e higiene para os alunos. A gente passa pelos corredores e vemos álcool em gel, tem as medidas de segurança de quantas pessoas podem ir ao banheiro e quantas podem ficar na sala”, ressalta.
No próximo ano, Rayssa dará continuidade às aulas presenciais. Questionada sobre a nova variante e a iminência da chegada em Pernambuco, ela é categórica. “Vou continuar indo para as aulas presenciais. Me sinto muito segura, porque sei que a escola sempre encontrará medidas para que a gente [alunos] fique bem”.
Sopphia e Rayssa representam 25% dos jovens, entre 12 e 17 anos, que já estão com o esquema vacinal completo, ou seja, com as duas doses, de acordo com dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES). Ainda segundo a pasta, em Pernambuco e neste intervalo de idade há, aproximadamente, 1.807.269 pessoas.
No Estado, a imunização de jovens de 12 a 17 anos iniciou em agosto. Foto: Arthur Souza/LeiaJáImagens/Arquivo
Esse quantitativo de vacinados, na análise da infectologista Marcela Vieira, ainda é baixo para um retorno seguro às aulas. “Ampliar a imunização, assim como, a autorização do Ministério da Saúde para administração das vacinas nas crianças entre 5 e 11 anos é fundamental”, diz.
É importante destacar que nem só de alunos é formada uma escola. Logo, o número de imunizados da comunidade escolar também é fator importante para consolidar a segurança durante as atividades presenciais neste novo normal. Interpelada sobre a porcentagem de professores vacinados, a SES apresentou dados gerais sobre os profissionais da educação básica (professores, funcionários de áreas administrativas e de gestão, equipes de alimentação e limpeza)
De acordo com a secretaria, cerca de 156.585 trabalhadores receberam, pelo menos, a primeira dose e 135.664 estão com duas doses em dia. No total, cerca de 127,48% desses trabalhadores completaram o esquema vacinal. A reportagem questionou também sobre a dose de reforço e quais medidas poderiam ser adotadas em caso de aumento de casos pela Ômicron, mas não recebemos resposta.