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Citado em delação premiada no caso Marielle Franco, o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) Domingos Brazão ganhou o direito de tirar 360 dias de férias em dinheiro, referentes aos anos de 2017 a 2022, período em que ele esteve afastado da Corte após ser acusado de fraude e corrupção. O benefício foi concedido em sessão do Conselho Superior de Administração do TCE-RJ no último dia 24.

Brazão foi citado em delação premiada de Ronnie Lessa, acusado de matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes em 2018. O acordo de colaboração, que ainda precisa ser homologado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), foi revelado o colunista Lauro Jardim, de O Globo. Segundo o site The Intercept Brasil, Brazão foi apontado por Lessa como o autor intelectual do crime. O conselheiro nega qualquer participação e disse que não teve acesso às investigações.

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Quinto do Ouro

Além de Brazão, o TCE-RJ também concedeu o direito de tirar 360 dias de férias ao conselheiro José Maurício Nolasco. Acusados de fraude e corrupção, Brazão e Nolasco chegaram a ser afastados de suas funções no Tribunal e foram presos temporariamente em 2017. Ambos foram alvo da Operação Quinto do Ouro, que foi um desdobramento da Operação Lava Jato no Rio.

De acordo com a investigação, Nolasco, Brazão e outros três conselheiros teriam organizado um esquema que desviava valores de contratos com órgãos públicos para agentes da administração fluminense.

Nolasco retornou para a Corte estadual em 2021 por decisão do Supremo Tribunal Federal, enquanto a volta de Brazão se deu em março do ano passado, após decisão do Tribunal de Justiça do Rio. Durante o período em que ficaram afastados, os conselheiros tiveram direito ao salário, mas não desfrutaram das férias.

Na terça-feira, o TCE decidiu que Nolasco e Brazão possuem direito às férias passadas e que podem converter o benefício em dinheiro ou tirar os 360 dias de folga. Procurada pelo Estadão, a assessoria da Corte não informou se os conselheiros optaram pelo acréscimo no salário ou pelo período de descanso. Os valores a serem recebidos pelos dois serão divulgados após a escolha dos magistrados.

Caso optem pelo dinheiro, os conselheiros terão um terço do abono de férias acrescido à remuneração básica. Em dezembro do ano passado, o salário bruto de Brazão foi de R$ 52,6 mil. No mesmo mês, Nolasco recebeu R$ 48,3 mil.

Até a publicação deste texto, a reportagem do Estadão procurou Brazão, mas não obteve retorno, enquanto Nolasco não foi localizado. O espaço permanece aberto para manifestações.

Ao O Globo, o conselheiro disse que o dinheiro das férias é um direito dele e que não sabe quanto vai receber. Segundo Brazão, o tempo em que ficou distante das atividades no TCE-RJ produziu um "intenso" sofrimento para ele e para a sua família. "Se tenho direito, eu quero. Faço questão. Não abro mão dos meus direitos, mesmo que eu não precise desse dinheiro. Quero o que a lei manda, nada mais do que isso", afirmou.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta terça-feira, 23, estar "aliviado" com a delação de Ronnie Lessa, acusado de executar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, à Polícia Federal (PF). O acordo de colaboração premiada de Lessa ainda precisa ser homologado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Segundo Bolsonaro, o acordo encerra questionamentos sobre a participação dele no crime contra Marielle. "Para mim, é um alívio. Bota um ponto final nessa história. Em 2019, tentaram me vincular ao caso e me apontar como mandante do crime. Teve o tal do porteiro tentando vincular a mim. Eu estava na Arábia na ocasião e fui massacrado", afirmou ao portal Metrópoles.

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O executor do crime, conforme apontam as investigações do caso, teria citado o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) Domingos Inácio Brazão como o autor intelectual dos assassinatos em 14 de março de 2018, segundo o site The Intercept Brasil.

O advogado Márcio Palma, que defende Brazão, diz que, por mais de uma ocasião, pediu acesso à investigação, tendo seus pedidos sido negados, "motivo pelo qual desconhece o teor dos elementos contidos no inquérito".

"Para além de tais informações, esclarece não conhecer os personagens da trama delituosa. Esclarece, ainda, que jamais teve qualquer envolvimento com eles e tampouco relação com os fatos. Diante das especulações que buscam envolvê-lo no delito, destaca que as matérias apresentam razões inverossímeis para tentar lhe trazer para o bojo das investigações, evidenciando assim a inexistência de motivação que possa lhe vincular ao caso. Por fim, coloca-se à disposição para todo esclarecimento e espera que os fatos sejam concretamente esclarecidos, de modo a encerrar a tentativa de lhe associar ao trágico enredo", diz por nota enviada ao Estadão.

As suspeitas sobre uma possível participação do ex-presidente no caso foram levantadas após a revelação de dois depoimentos à Polícia Civil de um porteiro do condomínio Vivendas da Barra, onde Bolsonaro tem uma casa na zona oeste do Rio. O porteiro afirmou que um dos acusados do assassinato teria entrado no condomínio com autorização de uma pessoa que atendeu o interfone na casa do ex-presidente. A versão, no entanto, foi desmentida pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ).

À época, em 2019, a promotora Simone Sibilio afirmou que a testemunha teria dado informação falsa ao vincular Bolsonaro com Elcio Queiroz, acusado de dirigir o carro de onde partiram os tiros que mataram Marielle e Anderson Gomes. Elcio encontrou Ronnie Lessa, acusado de ter feito os disparos, na casa do atirador. Ronnie morava no Vivendas da Barra, assim como o presidente e seu filho Carlos Bolsonaro.

O porteiro disse que, ao interfonar para a casa, recebeu do "seu Jair" permissão para a entrada do carro no local. O veículo, porém, se dirigiu à casa 65, onde morava Ronnie Lessa - também preso, sob a acusação de ter feito os disparos contra a vereadora e o motorista. Ele registrou que a ligação teria sido feita à casa 58, de Bolsonaro.

Regularização fundiária pode ter motivado o crime

Uma das linhas de investigação da Polícia Federal sobre a motivação do crime é uma disputa por terra na zona oeste do Rio, segundo O Globo. Em delação, Lessa teria dito que Marielle virou alvo por defender a ocupação de terrenos por pessoas de baixa renda e que o processo fosse acompanhado por órgãos como o Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio e o Núcleo de Terra e Habitação, da Defensoria Pública do Rio.

De acordo com Lessa, o mandante do assassinato buscava a regularização de um condomínio na região de Jacarepaguá sem respeitar o critério de área de interesse social. O objetivo seria obter o título de propriedade para especulação imobiliária. Em entrevista ao Estadão, o general Richard Nunes, então secretário da Segurança Pública do Rio, em dezembro de 2018, afirmou que a vereadora foi morta porque milicianos acreditaram que ela podia atrapalhar os negócios ligados à grilagem de terras.

O diretor-geral da Polícia Federa (PF), Andrei Rodrigues, afirmou, nesta terça-feira, 9, em entrevista à Rádio CBN, que a investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes deve ser concluída no primeiro trimestre deste ano.

"Esse é um desafio que a PF assumiu no ano passado. Estamos há menos de um ano à frente dessa investigação, de um crime que aconteceu há cinco anos, mas com a convicção de que ainda neste primeiro trimestre a Polícia Federal dará uma resposta final do caso Marielle", afirmou Rodrigues.

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A declaração do diretor-geral se alinha a uma recente fala do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, que reafirmou o compromisso da PF em elucidar o caso. Marielle e Anderson foram mortos a tiros, em março de 2018, no bairro do Estácio, no Rio de Janeiro.

"Não tenham dúvida, o caso Marielle será, em breve, integralmente elucidado", disse Dino em dezembro. O ministro afirmou ainda que a investigação do caso estava em fase de finalização.

"Até onde esta fase chegará, eu realmente não sei, mas chegará ao final, qualquer que seja ele", afirmou.

Caso foi enviado ao STJ

O inquérito que apura o assassinato foi enviado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) em outubro do ano passado após surgirem novas suspeitas sobre a participação no crime do conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (TCE-RJ) Domingos Brazão. A informação foi revelada pelo colunista de O Globo Bernardo Mello Franco e confirmada pelo Estadão.

A investigação tramitava na Justiça do Rio. A mudança de foro se deu porque Brazão voltou a ser alvo da Justiça depois de ter sido citado no acordo de delação premiada do ex-policial militar Élcio Queiroz - o primeiro acusado pelo crime a assumir a coparticipação no assassinato. Élcio Queiroz está preso.

Caso das joias

Andrei Rodrigues afirmou ainda que espera finalizar a análise das investigações sobre o recebimento e a destinação de joias e presentes dados por autoridades estrangeiras ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) também no primeiro trimestre de 2024.

"No caso das joias, estamos cumprindo uma etapa de colaboração com os Estados Unidos. É preciso lembrar que as joias foram levadas, vendidas e negociadas nos Estados Unidos. Portanto, há muitos elementos de prova que estão naquele país. Agora, estamos finalizando questões administrativas. Deveremos enviar uma equipe nossa para, junto a uma equipe nos Estados Unidos, finalizar essas coletas e essas informações. Estimar prazo de conclusão de investigação é sempre temerário, mas quero crer que, no primeiro trimestre deste ano, a gente já tenha a conclusão desta e de outras investigações", afirmou.

Apuração do Estadão mostrou que o governo de Jair Bolsonaro tentou trazer ilegalmente para o Brasil um conjunto de colar, anel, relógio e um par de brincos de diamantes. Os itens eram um presente do regime da Arábia Saudita para o então presidente e a primeira-dama Michelle Bolsonaro e foram apreendidas no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.

O diretor-geral da PF ainda disse que o caso das joias envolve provas dos Estados Unidos e que o valor das joias, além do preço em si, também envolve o valor da marca dos bens. Ele afirmou que o custo dos presentes recebidos pelo ex-presidente pode chegar próximo de R$ 5 a R$ 6 milhões.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, reafirmou que a Polícia Federal (PF) esclarecerá o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes. Os dois foram mortos a tiros, em março de 2018, no bairro do Estácio, no Rio de Janeiro. Passados mais de cinco anos, ainda não se sabe quem mandou matar a vereadora e a motivação do crime. 

“Não tenham dúvida, o caso Marielle será, em breve, integralmente elucidado”, disse Dino ao apresentar, nesta quinta-feira (21), um balanço preliminar das ações que o ministério realizou este ano. Embora os resultados definitivos só fiquem prontos em janeiro de 2024, Dino decidiu aproveitar a cerimônia de entrega de mais de 700 viaturas policiais para estados, pois deixará a pasta no início de janeiro para assumir o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). 

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Segundo o ministro, a investigação do caso Marielle/Anderson Gomes está em fase de finalização. “Até onde esta fase chegará, eu realmente não sei, mas chegará ao final, qualquer que seja ele”, comentou Dino, sustentando que, ao longo do tempo, a investigação acabou por desaguar em apurações paralelas, sobre outras práticas ilícitas, incluindo a recente operação realizada em parceria com a Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai que resultou na prisão de um homem acusado de ser um dos maiores fornecedores de armas e drogas para organizações criminosas do Rio de Janeiro. 

“É preciso entender que a investigação do caso Marielle e o trabalho que estamos fazendo no Rio de Janeiro não são peças soltas. A operação feita no Paraguai é relativa ao crime organizado no Rio de Janeiro e em São Paulo. E ela continua [em andamento]. Tanto que, esta semana, houve um desdobramento, já envolvendo um brasileiro que trazia armas para o Rio de Janeiro, onde a operação desta semana avançou em direção a braços políticos e financeiros de organizações criminosas”, destacou Dino, sem fornecer mais detalhes. 

O ministro lembrou que, ao assumir o ministério, em janeiro deste ano, declarou que o caso seria esclarecido em breve, com a identificação dos mandantes da morte de Marielle e suas motivações. Hoje, passado quase um ano, ele garantiu que as investigações avançaram, principalmente após a PF ter aberto inquérito para investigar os assassinatos, em fevereiro deste ano. 

“Temos idêntico compromisso com todas as vidas dos brasileiros […], mas este é um caso fundamental por seu simbolismo de defesa das mulheres; das mulheres na política e, portanto, da política. Porque quem precisa de mulheres na política não são as mulheres, mas sim a política e o Brasil”, finalizou o ministro, destacando que o assassinato da vereadora é uma ocorrência simbólica e precisa ser esclarecida.  Presente à mesma cerimônia, o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, reforçou que nem ele, nem o ministro têm acesso aos resultados da investigação, mas disse estar convencido de que o trabalho está perto do fim. “Estes [últimos] meses [de trabalho] nos permitiram ter o otimismo e a convicção, pela qualidade do que está sendo apurado e pelo conteúdo das provas, de que daremos a resposta que a sociedade brasileira espera. Em que momento, só a equipe da investigação dirá.”

O inquérito que apura o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes foi enviado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) após surgirem novas suspeitas sobre a participação no crime do conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (TCE-RJ) Domingos Brazão. A informação foi revelada pelo colunista de O Globo Bernardo Mello Franco e confirmada pelo Estadão.

A investigação tramitava na Justiça do Rio. A mudança de foro se deu porque Brazão voltou a ser alvo da Justiça depois de ter sido citado no acordo de delação premiada do ex-policial militar Élcio Queiroz - o primeiro acusado pelo crime a assumir a coparticipação no assassinato. Élcio Queiroz está preso.

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O envio do inquérito ao STJ, porém, não significa a federalização do caso. As investigações continuaram sob a responsabilidade da Polícia Civil do Rio, do MPRJ e da Polícia Federal. Agora, no entanto, as decisões passam a ser tomadas por um dos ministros da Corte. As investigações rumam à descoberta do mandante e da motivação do crime.

Um relatório da Polícia Federal de 2019 apontou Brazão como o "principal suspeito de ser autor intelectual’ dos assassinatos da vereadora e do motorista. Brazão sempre negou a participação no crime. Ele já havia sido denunciado em 2019 pela então procuradora-geral da República (PGR), Raquel Dodge, em 2019, por atrapalhar a investigação, mas a Justiça do Rio rejeitou o pedido.

"Domingos Brazão, valendo-se do cargo, da estrutura do seu gabinete no Tribunal Contas do Estado do Rio, acionou um de seus servidores, agente da Polícia Federal aposentado, mas que exercia cargo nesse gabinete, para engendrar uma simulação que consistia em prestar informalmente depoimentos perante o delegado Hélio Kristian e, a partir daí, levar uma versão dos fatos à Polícia Civil do Rio de Janeiro, o que acabou paralisando a investigação ou conduzindo-a para um rumo desvirtuado por mais de um ano", afirmou Dodge à época da denúncia.

O advogado Márcio Palma, que assumiu a representação de Brazão junto ao STJ, pediu acesso aos autos logo após a divulgação da remessa dos autos.

"Não nos parece haver razão para o envio das investigações ao Superior Tribunal de Justiça. Até porque o próprio STJ, por unanimidade de votos, já rejeitou um pedido de deslocamento de competência anterior e essa decisão já transitou em julgado. Para além disso, não conseguimos vislumbrar qualquer relação entre a atividade do Conselheiro no TCE e as investigações, circunstância que poderia justificar o reconhecimento do foro por prerrogativa de função", diz Palma.

Dino coloca PF no caso

Em uma tentativa de se chegar aos mandantes do crime, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, determinou que a Polícia Federal no Rio auxiliasse a Polícia Civil e o Ministério Público do Estado nas investigações.

Em julho, menos de seis meses após a entrada da PF no caso, o ex-policial Elcio Queiroz fez um acordo de delação premiada para revelar novas informações sobre o assassinato da vereadora. A delação do ex-policial militar possibilitou que as autoridades terminassem de esclarecer a dinâmica do assassinato de Marielle.

Após quatro anos preso, Queiroz decidiu falar. O ex-PM confessou em delação premiada que dirigia o veículo usado na execução, participou de todo o planejamento e deu detalhes do atentado.

O acordo de colaboração premiada - nome formal da delação - é um meio de obtenção de provas que está no cotidiano de quem atua no direito penal há muito tempo, mas foi regulamentado em 2013 pela Lei de Organizações Criminosas, sancionada no governo de Dilma Rousseff (PT).

Dino negociou um acordo com o MP do Rio antes de determinar a abertura de um inquérito da PF para auxiliar nas investigações. O governo petista procurou evitar atritos com promotores fluminenses e, ao mesmo tempo, cumprir a promessa de campanha feita por partidos de esquerda de colocar órgãos federais na apuração do caso.

Dino colocou um grupo da PF à disposição do MP do Rio na intenção de dar uma resposta em nível federal às pressões sobre a conclusão da investigação do assassinato da vereadora carioca e não criar uma crise institucional com o órgão estadual.

A decisão foi tomada após encontro entre Dino e o procurador-geral de Justiça fluminense, Luciano Mattos. O inquérito da PF é um caminho alternativo à discussão sobre a federalização do caso. Após os dois se reunirem em Brasília, ficou definido que a PF no Rio vai auxiliar o MP na apuração do mandante do crime, sem que os promotores sejam "atropelados".

Quem é Domingos Brazão?

Domingos Inácio Brazão pavimentou sua trajetória política nos subúrbios e na zona oeste do Rio. Foi em alguns dos bairros mais pobres e afastados do centro que o hoje conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado conseguiu os votos que lhe deram o primeiro mandato, de vereador, em 1996. Em abril de 2015, foi eleito conselheiro do TCE - cargo vitalício, com garantias semelhantes às que protegem os magistrados do Judiciário -, com 61 votos.

Ele foi posto no centro do caso Marielle Franco depois que Dodge o denunciou por supostas obstruções nas investigações do assassinato.

Até hoje mantém, porém, influência política, por meio dos irmãos Chiquinho Brazão, deputado federal, e Pedro Brazão, deputado estadual. Em eleições passadas, chegou a emprestar o sobrenome a outros candidatos sem parentesco com ele. Outras acusações recorrentes são de ligação com milícias, que atuam em bairros onde tem muitos votos.

Polêmico, já admitiu ter matado um homem em 1987. O processo ficou parado, subiu para o Tribunal de Justiça em 2000 (depois que se tornou deputado estadual). Em 2002, a Corte Especial rejeitou a condenação. "A Justiça me deu razão", teria dito na Alerj.

Em 29 de março de 2017, veio a queda. Ele foi um dos alvos de operação que prendeu e afastou cinco conselheiros do TCE acusados de corrupção. Na vida política, é temido. Adversários relatam supostas ameaças, que ele nega.

O Caso Marielle Franco acaba de ganhar mais um desdobramento, diante da revelação de que Aline Siqueira, esposa do ex-bombeiro Maxwell Simões, preso por envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, foi até a casa de Ronnie Lessa seis dias depois do crime. A informação foi divulgada durante a exibição do Fantástico, nesse domingo (30).  

Na segunda-feira (24) passada, uma operação da Polícia Federal prendeu o ex-bombeiro conhecido como “Suel”, no Rio de Janeiro. O ex-militar foi citado na delação de Elcio Queiroz, apontado como participante do crime. 

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De acordo com a reportagem do Fantástico, Aline falou com o filho de Ronnie Lessa pelo interfone e não queria que o investigado soubesse da sua presença no local: "Eu queria conversar com a sua mãe porque eu queria pedir uma ajuda pra ela, um momento de desespero meu, por isso que eu tô pedindo se eu poderia falar com ela. Não fala pro seu pai que eu tô aqui não, só fala pra sua mãe". 

LeiaJá também:Elcio confessa participação em assassinato de Marielle’ 

Ao Fantástico, a defesa do casal disse que Maxwell não tem participação no crime e que o áudio da esposa dele na portaria de Ronnie não possui qualquer conexão com o caso. Aline também é investigada pelos assassinatos. 

Já o marido dela, Maxwell Simões Corrêa, teria, segundo investigação do Ministério Público, atuado para obstruir as investigações sobre o assassinato. Em março deste ano, o ex-bombeiro foi condenado pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro a seis anos e nove meses de prisão. Ele cumpria pena em regime aberto. 

 

Em delação premiada, o ex-policial militar do Rio de Janeiro, Élcio Vieira de Queiroz, apontou a participação do grupo liderado pelo contraventor Bernardo Bello no assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista Anderson Gomes. Queiroz fechou um acordo de delação premiada que motivou uma operação da Polícia Federal (PF) para investigar o caso Marielle.

Como mostrou o Estadão, Queiroz também deu o nome de um suposto responsável por contratar o ex-policial militar Ronnie Lessa, apontado pelas investigações como o assassino de Marielle e Anderson. O delator citou que o suposto contratante do crime foi o policial militar Edimilson Oliveira da Silva, conhecido como "Macalé", assassinado em novembro de 2021. Queiroz disse ainda que a arma usada para matar Marielle foi desviada do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), chamada de "trope de elite" da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

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Em um dos depoimentos, Queiroz declarou que "apareceu também celular" para Ronnie Lessa e ele achou "estranho aquele celular aparecer pra ele". Segundo o delator, Lessa "costumava andar com celular de última geração" e o aparelho novo era um smartphone "feio". "Eu perguntei e ele falou que era de uma pessoa que tinha fornecido pra ele", relatou Queiroz.

O delator contou aos investigadores, em depoimento mais recente, que foi Bernardo Bello quem deu o telefone a Ronnie Lessa. O chefe da segurança do bicheiro, José Carlos Roque Barboza, teria fornecido o carro Cobalt, usado no dia do assassinato, em 14 de março de 2018. As informações foram publicadas pelo jornal Folha São Paulo.

Élcio Queiroz é o primeiro envolvido nos assassinatos a assumir a coparticipação no crime. Ele foi expulso das fileiras da corporação em 2015 por fazer segurança ilegal em uma casa de jogos de azar na capital fluminense e passou a atuar à margem da lei. Queiroz e Ronnie Lessa foram presos em março de 2019. Após quatro anos na cadeia, Queiroz decidiu falar. O ex-PM confessou em delação premiada que dirigia o veículo usado na execução, participou de todo o planejamento e deu detalhes do atentado.

Quem é o bicheiro Bernardo Bello

Bernardo Bello Pimentel Barboza tem 41 anos. O bicheiro chegou a ser preso em janeiro de 2022, em Bogotá, na Colômbia, pelo assassinato de Alcebíades Paes Garcia, o Bid, seu suposto concorrente no Rio. Bello foi solto após a Justiça acolher um habeas corpus e determinar sua liberdade.

A Polícia Civil do RJ e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) tentam prender Bello desde novembro de 2023. O Disque-Denúncia publicou neste sábado, 29, que o Bello é procurado por três crimes. Segundo a central, o contraventor passou a figurar como um dos chefes do jogo do bicho no Rio "após romper com a mulher e com toda a família dela - a família Garcia - em uma ascensão marcada a sangue".

Nesta semana, a Promotoria fluminense abriu a operação Às de Ouros II para prender Bernardo Bello e cinco investigados ligados a ele pelo assassinato do advogado Carlos Daniel Ferreira Dias. O crime ocorreu em maio de 2022, em Niterói. Segundo as investigações, o advogado mediou um conflito envolvendo uma empresa do ramo alimentício, cujo desfecho não agradou a Bello.

Jogos de azar

Como mostrou o colunista Leonencio Nossa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva avança no caso Marielle e ao mesmo tempo acena para jogatina. Menos de 24 horas depois de a PF revelar detalhes sobre os assassinatos do Rio e quatro dias após o Ministério da Justiça anunciar ações de segurança pública, o governo enviou ao Congresso uma Medida Provisória para regularizar de vez a prática das apostas esportivas online, as bets. Não é uma liberação geral da jogatina, mas um empurrão para a abertura dos cassinos, bingos e caça-níqueis.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, argumenta que há um vácuo jurídico no setor. As apostas online são uma realidade e se escoram em uma lei, ainda do governo Michel Temer, para atuarem. O argumento de que as apostas podem aumentar a arrecadação já duram mais de cem anos. No século 19, o barão de Drummond criou uma cartela com carinhas de animais para financiar o zoológico de Vila Isabel. Com o tempo, a ideia criada para melhorar a vida dos bichos se espalhou. Mas o zoológico foi fechado por falta de dinheiro.

O caso de Marielle ilustra com fatos a ligação entre o jogo e a criminalidade. Ronnie Lessa, acusado de ser o principal matador da vereadora, foi segurança da família Andrade, um dos principais clãs da contravenção. Ele era dono de 80 máquinas caça-níqueis na Barra da Tijuca.

Enquanto parte dos agentes da Operação Élpis se dirigia ao Recreio dos Bandeirantes, no Rio, na segunda (24), para prender o ex-bombeiro Maxwell Simões Correa por envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, a Polícia Federal também bateu à porta de outros seis alvos em busca de provas para enriquecer uma nova etapa da investigação - agora no rastro dos mandantes e supostos financiadores do crime ocorrido em março de 2018.

A PF pediu autorização judicial para vasculhar a casa de Edílson Barbosa dos Santos, o 'Orelha', Denis Lessa, irmão do ex-PM Ronnie Lessa - denunciado pelo Ministério Público estadual como executor dos disparos de submetralhadora que vitimaram Marielle e Anderson -, João Paulo Viana dos Santos Soares, o 'Gato Do Mato', Alessandra da Silva Farizote, Maurício da Conceição dos Santos Júnior, o 'Mauricinho', e Jomar Duarte Bittencourt Júnior, o 'Jomarzinho'.

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Segundo os investigadores, todos 'prestaram auxílio material ou circundaram os executores do crime na época dos fatos'. A PF alegou a necessidade de inspecionar os endereços desses alvos não só para entender a dimensão de suas participações no crime, mas também viabilizar a identificação de 'camadas mais próximas ao núcleo do grupo criminoso'.

A PF rastreia possíveis mandantes e financiadores do assassinato de Marielle. A suspeita ganhou força a partir do relato do ex-PM Élcio Queiroz, que fechou acordo de delação premiada. Segundo ele, depois do crime, Ronnie Lessa - a quem acusa de ser o autor dos disparos contra a então vereadora e seu motorista - comprou lancha, carro de luxo, viajou e revelou planos de construir uma casa em Angra.

Nessa fase da investigação, a PF deparou com o alvo 'Orelha', apontado como o responsável por 'picotar' o veículo Cobalt usado por Ronnie Lessa e Élcio Queiroz para a emboscada e execução de Marielle e Anderson - o delator diz que era ele o condutor do veículo usado na noite do crime.

A PF argumentou à Justiça que a busca nos endereços de 'Orelha' poderia levar à localização de peças do veículo - segundo Élcio Queiroz, em sua delação premiada, o Cobalt foi destroçado por ordem de Ronnie Lessa.

Além disso, os investigadores queriam acessar os dados dos celulares e computadores do investigado.

Já quanto a Denis Lessa, o objetivo dos investigadores seria o de eventualmente localizar a arma do crime, possíveis fragmentos de projéteis, ou qualquer outro instrumento usado no assassinato de Marielle e Anderson, caso eles não tenham sido repassados a outros investigados.

Segundo o delator, Ronnie teria entregado a um irmão dele, na casa de sua mãe, uma bolsa que continha a arma usada no crime - assim como o casaco usado por Ronnie Lessa na noite do crime e outros 'apetrechos' utilizados no momento dos disparos.

Quanto a João Paulo e Alessandra, a PF destaca a 'relação de proximidade' que eles mantinham com Ronnie Lessa.

Os investigadores apontam que, à época do crime, a Polícia recebeu um disque-denúncia imputando ao casal, considerado de 'estrita confiança' de Ronnie, o depósito da submetralhadora.

A PF informou que poderia localizar a arma do crime ou seus fragmentos na casa de João e Alessandra - seguindo a hipótese de que Ronnie teria resgatado a arma na casa de seus pais e, depois, mantido o objeto sob os cuidados do amigo a partir de 16 de março de 2018.

Maurício e Jomar, por sua vez, tiveram, segundo a PF, 'papel de destaque' no vazamento de informações sobre a Operação Lume, que tinha como alvo Ronnie Lessa. Na ocasião, o ex-PM conseguiu fugir, 'frustrando futura aplicação da lei penal', segundo a PF.

Os investigadores apontam que Júnior recebeu a informação de que, no dia 12 de março de 2019, haveria uma operação ligada ao caso Marielle e a repassou a Mauricinho - que, por sua vez, passou a informação para os demais investigados.

A PF rastreia possíveis mandantes e financiadores do assassinato de Marielle. A suspeita ganhou força a partir do relato do delator. Segundo ele, depois do crime, Ronnie Lessa - a quem acusa de ser o autor dos disparos contra a então vereadora e seu motorista - comprou lancha nova, carro de luxo, viajou e revelou planos de construir casa em Angra.

Um acordo de delação poderá fornecer informações para que a investigação chegue aos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018. A avaliação foi feita ontem pelo ministro da Justiça, Flávio Dino, que anunciou a colaboração premiada do ex-policial Élcio Queiroz, base para nova prisão e revelações relacionadas ao caso. A investigação passou a ser acompanhada pela Polícia Federal em fevereiro deste ano, após a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O delator citou o nome de um suposto intermediário responsável por contratar o ex-policial militar Ronnie Lessa, acusado de efetuar os disparos que mataram a vereadora carioca, e indicou a origem da arma utilizada no crime (mais informações na pág. A8). A partir dos relatos, a PF prendeu na manhã de ontem o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, suspeito de dar "auxílio moral e material" aos assassinatos.

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A execução de Marielle - que estava em exercício de seu mandato - permeou nos últimos anos a mais aguda polarização que marcou a política brasileira. No atual governo do PT, a elucidação do caso se tornou uma "questão de honra do Estado brasileiro", segundo Dino. Lula deu à irmã da vereadora, Anielle Franco, o posto de ministra da Igualdade Racial.

O titular da Justiça afirmou que a delação de Élcio Queiroz colocou o caso em um "novo patamar" e confirmou o que já se sabia sobre a execução do crime. "Há uma espécie de mudança de patamar da investigação. Se conclui a investigação sobre a execução e há elementos para um novo patamar, a identificação dos mandantes. Nas próximas semanas provavelmente haverá novas operações derivadas das provas colhidas hoje."

Conforme o ministro, as diligências realizadas ontem concluíram uma fase da investigação. A operação cumpriu sete mandados de busca e apreensão e um de prisão.

CRIME

Marielle e Anderson Gomes foram atingidos por tiros dentro do carro em que estavam, na região central do Rio, após a vereadora participar de um evento do PSOL. Uma assessora sobreviveu ao atentado. As investigações e acusações apontam que o crime foi praticado por ex-agentes do Estado. Ronnie Lessa e Élcio Queiroz estão presos na Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia.

Após assinar a colaboração premiada, o agora delator prestou depoimento no dia 14 de junho, na sede do Comando de Aviação Operacional, em hangar da PF no Aeroporto de Brasília. O Estadão teve acesso ao documento. Élcio Queiroz confessou sua participação no crime e implicou diretamente Ronnie Lessa e Maxwell. Os relatos apontam a dinâmica do assassinato, detalhando itinerários e roteiros dos criminosos. Conforme já descrito na ação penal, o delator afirmou que Lessa atirou contra a vereadora e o motorista, e que ele dirigiu o carro que perseguiu o veículo das vítimas. Segundo a delação, o suposto contratante do crime foi o então policial militar Edimilson Oliveira da Silva, conhecido como "Macalé", assassinado em novembro de 2021.

De acordo com Dino, há convergência entre a narrativa do ex-PM e informações levantadas pela PF. "Esse evento de enorme importância, a ocorrência da delação premiada, com a confirmação de outros personagens, da dinâmica do crime, dos executores, permitirá esse caminho, que nós temos a convicção, a esperança - como é o nome da operação - de que conduzirá aos mandantes", reforçou o ministro.

‘ESPERANÇA’

Preso preventivamente na operação de ontem, Maxwell já tinha sido condenado por obstrução judicial por ajudar a esconder provas desse caso. A ação conjunta de policiais federais e promotores do Ministério Público do Rio de Janeiro foi batizada de "Élpis" - nome de uma deusa da mitologia grega que personificaria a esperança.

"A gente segue esperançosa de que vai descobrir e vai chegar aos mandantes de quem mandou matar Marielle e por quê", afirmou Anielle Franco. Em agenda oficial na Colômbia, a ministra da Igualdade Racial elogiou o trabalho realizado pela PF na apuração do assassinato da irmã. "Que bom que hoje a gente tem um governo sério, tem pessoas à frente de pastas importantes, que a gente pode confiar e contar", disse. "Sigo dizendo que, enquanto a gente não combater a violência política nesse país, enquanto a gente não souber quem mandou matar Marielle, a nossa democracia segue fragilizada."

POLITIZAÇÃO

Já a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), associou a saída de Jair Bolsonaro (PL) da Presidência ao avanço das investigações. "Muito bom o avanço da Polícia Federal nas investigações sobre o assassinato de Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes. Só foi Bolsonaro sair da Presidência para o inquérito andar. Agora é chegar ao mandante", escreveu Gleisi em uma rede social. Na campanha presidencial do ano passado, o então candidato Lula insinuou que Bolsonaro possuía proximidade com milicianos e afirmou que "gente dele não tem pudor em ter matado a Marielle".

As notícias envolvendo o caso Marielle suscitaram ainda críticas do deputado cassado Deltan Dallagnol, que questionou o uso da delação premiada de Élcio Queiroz na investigação do assassinato da vereadora. Em postagem nas redes sociais, ele ironizou o fato: "A esquerda, os garantistas de ocasião e os prerrogativistas todos festejarão o que até ontem eles criticavam na Lava Jato", escreveu o ex-procurador responsável pela coordenação da Operação Lava Jato no Paraná, que usou extensamente as delações premiadas em suas investigações.

Na coletiva de imprensa, Dino precisou falar sobre o tema. "A delação premiada, sozinha, não constitui um meio de prova suficiente, mas a delação premiada se soma a um conjunto que já havia sido apurado antes", afirmou.

 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O ex-policial militar reformado Ronnie Lessa se desfez dos pedaços da placa do carro usado no assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes na linha férrea dos trens urbanos no Rio de Janeiro, de acordo delação premiada do ex-policial militar Élcio de Queiroz. Segundo o comparsa de Lessa, um terceiro homem, conhecido como "Orelha", foi o responsável por "sumir" com o automóvel. O destino teria sido um desmanche no Morro da Pedreira, na Zona Norte da cidade.

Em relato à Polícia Federal, Élcio contou que Ronnie Lessa apareceu em sua casa no dia seguinte ao crime, acompanhado do ex-bombeiro Maxwell Corrêa, preso nesta segunda-feira, 24, para se desfazer do carro. O automóvel teria sido deixado na rua da casa da mãe do Ronnie, logo após o crime.

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"Após jogar os pedaços da placa e as cápsulas, deixamos o Maxwell na casa da mãe dele, porque ele disse que iria "agitar" o sumiço do carro. Ele falou que iria procurar um conhecido nosso, cujo apelido era Orelha, que já teve agência de automóvel e trabalhava com seguro de carro e hoje em dia tem uma sorveteria (...) Depois disso fiquei sabendo através do Maxwell que esse carro de fato sumiu e que foi para o morro da Pedreira, onde havia um desmanche de carro. Quando eu perguntei para o Orelha se havia dado sumiço no carro, ele me cortava e desconversava", afirmou Élcio em delação.

Maxwell levou uma placa para a casa de Élcio no intuito de modificar o automóvel usado no crime. Segundo Élcio, o carro foi levado para a casa dele, "haja vista que lá tinha uma garagem fechada".

"Ao chegarmos lá, colocamos o carro na garagem, trancamos a porta e trocamos a placa. Nessa época, a parte da frente da casa da minha mãe estava em obra e ele perguntou se tinha alguma coisa para quebrar a placa. Peguei a tesoura de cortar chapa, cortamos a placa na sala da casa da minha mãe e colocamos dentro de uma bolsa plástica. Depois, o Maxwell fez uma varredura no carro, retirou algumas capsulas e colocou dentro do saco e colou um adesivo da Apple no carro", contou.

Segundo o relato, o grupo criminoso deixou o local, passou em um posto de gasolina, encheu o pneu do carro e o deixou em uma rua próxima à casa da mãe do Lessa. Dois dias após o crime, o carro ainda estava sob o poder de Ronnie Lessa.

"Fomos até a casa da mãe dele buscar o carro. Chegando lá, pegamos o Cobalt e fui dirigindo enquanto o Ronnie foi dirigindo o carro dele. Fizemos o mesmo caminho beirando a estação de Engenho de Dentro, passamos por Cascadura e Madureira no sentido Rocha Miranda. Quando chegamos à Rocha Miranda, o Orelha já estava avisado e paramos em uma pracinha", contou.

O encontro com "Orelha" foi o último momento em que Élcio e Lessa teriam tido contato com o automóvel, segundo a delação: "Foi desse modo que nos desfizemos do veículo e das cápsulas", disse.

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, elogiou o trabalho realizado pela Polícia Federal nesta segunda-feira, 24 e disse que a família da ex-vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, assassinada em 2018, mantém a esperança de que irá descobrir quem mandou matá-la.

"A gente segue esperançosa, de que vai descobrir, e vai chegar nos mandantes de quem mandou matar Marielle e por quê", afirmou Anielle, irmã de Marielle. "Que bom que hoje a gente tem um governo sério, tem pessoas à frente de pastas importantes, que a gente pode confiar e contar."

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Ela disse que a notícia da prisão do ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, no âmbito da primeira etapa ostensiva da investigação da corporação sobre os assassinatos de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, no dia 14 de março de 2018, a deixou "abalada" e "mexida". "A gente tem que sempre revisitar a memória daquele dia 14?, recordou.

Para Anielle, a operação da PF realizada nesta segunda-feira indica ter mais crença em descobrir quem mandou matar Marielle.

"A gente espera sim que, de verdade, a partir de agora a gente tenha frutos e colha frutos do mandante e dos motivos de quem mandou matar", afirmou. "Eu sigo dizendo que enquanto a gente não combater a violência política nesse País, enquanto a gente não souber quem mandou matar Marielle, a nossa democracia segue fragilizada."

Anielle está na Colômbia, onde ela firmará acordo com a vice-presidente da Colômbia, Francia Márquez para firmar um memorando de entendimento entre os dois países com foco na promoção da igualdade racial e desenvolvimento social e econômico.

A assinatura do memorando pelas ministras será realizada nesta terça-feira, 25 de julho, dia Internacional da mulher negra latino-americana e caribenha.

Delação de Elcio Queiroz indica um suposto contratante do assassinato

Ainda nesta segunda-feira, o ex-policial Elcio Queiroz assinou acordo de delação premiada e deu o nome de um suposto responsável por contratar o ex-policial militar Ronnie Lessa para matar Marielle. É o que diz o relato dele ao qual o Estadão teve acesso.

No depoimento, Queiroz confirmou sua participação no assassinato de Marielle e o suposto contratante do crime foi o então policial militar Edimilson Oliveira da Silva, conhecido como "Macalé", assassinado em novembro de 2021.

Segundo a delação, Lessa, "’Macalé' e ‘Suel’ estavam ‘empenhados na vigilância e monitoramento de Marielle desde os últimos meses de 2017?.

A presidente nacional do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann, associou a saída de Jair Bolsonaro da Presidência ao avanço das investigações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018. Nesta segunda-feira, a Polícia Federal prendeu o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, suspeito de ocultar provas do crime.

"Muito bom o avanço da Polícia Federal nas investigações sobre o assassinato de Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes. Só foi Bolsonaro sair da Presidência pro inquérito andar. Agora é chegar no mandante", escreveu Gleisi.

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O assassinato de Marielle e Gomes ocorreu em 2018, quando o carro em que ambos estavam foi alvejado por tiros na região central do Rio, após deixarem um evento do PSOL. Uma assessora sobreviveu ao atentado. Dois ex-policiais estão presos - Ronnie Lessa, PM reformado apontado como executor, e Élcio Queiroz, que seria o motorista do carro que perseguiu o veículo de Marielle e Anderson Gomes.

Como mostrou o Estadão, na campanha presidencial de 2022, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, insinuou que Bolsonaro tem proximidade de milicianos e afirmou que "gente dele não tem pudor em ter matado a Marielle".

Operação da PF prende suposto envolvido no assassinato de Marielle

De acordo com o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, Maxwell teria participado de ações de vigilância e acompanhamento de Marielle, dando "apoio logístico de integração" com os demais investigados.

O chefe da corporação diz que o ex-bombeiro teve "papel importante" no caso, tanto "antes como depois". Agentes ainda vasculham sete endereços no Rio de Janeiro e na região metropolitana da capital fluminense.

Maxwell já havia sido preso por suposto envolvimento com a morte de Marielle e Anderson. Em 2020, foi detido sob acusação de tentar obstruir as apurações. No ano seguinte, condenado em razão das mesmas imputações. O ex-bombeiro teria ajudado a ocultar as armas de um dos acusados dos assassinatos da vereadora e do motorista.

Mais cedo, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, contou que falou com o ministro da Justiça, Flávio Dino, que pediu a entrada da Polícia Federal na investigação, e com Andrei Rodrigues, diretor-geral da PF.

"Falei agora por telefone com o ministro Flávio Dino e diretor geral da Polícia Federal sobre as novidades do caso Marielle e Anderson. Reafirmo minha confiança na condução da investigação pela PF e repito a pergunta que faço há 5 anos: quem mandou matar Marielle e por quê?", questionou Anielle.

Preso em uma operação da Polícia Federal que investiga o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, o ex-bombeiro Maxwell Simões Correa, conhecido como Suel, já havia sido detido, em 2020, e condenado a quatro anos de prisão "por atrapalhar de maneira deliberada" as investigações.

Segundo as investigações do MP do Rio e da PF, no dia 13 de março de 2019, um dia depois das prisões dos ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, denunciados como autores dos crimes, Maxwell teria ajudado a ocultar armas de fogo de uso restrito e acessórios pertencentes a Ronnie, que estavam armazenados em um apartamento no bairro do Pechincha utilizado pelo ex-policial e em locais ainda desconhecidos.

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De acordo com a investigação, Maxwell cedeu o veículo utilizado para guardar o vasto arsenal bélico pertencente a Ronnie, entre os dias 13 e 14 de março de 2019, para que o armamento fosse, posteriormente, descartado em alto mar.

Em 2020, foi detido sob acusação de tentar obstruir as apurações. No ano seguinte, condenado em razão das mesmas imputações.

"A obstrução de Justiça praticada pelo denunciado, junto aos outros quatro denunciados, prejudicou de maneira considerável as investigações em curso e a ação penal deflagrada na ocasião da operação ‘Submersus’, na medida em que frustrou cumprimento de ordem judicial, impedindo a apreensão do vasto arsenal bélico ali ocultado e inviabilizando o avanço das investigações. A arma de fogo utilizada nos crimes ainda não foi localizada em razão das condutas criminosas perpetradas pelos cinco denunciados, cabendo ressaltar que Maxwell ostentava vínculo de amizade com os acusados dos crimes e com os denunciados Josinaldo Lucas Freitas e José Márcio Mantovano", ressaltou a nota oficial sobre a operação.

A decisão foi proferida pelo Juízo da 19ª Vara Criminal da Comarca da Capital, informou o MPRJ, em nota à época.

Um ano após a primeira prisão, em fevereiro de 2021, a Justiça condenou o ex-bombeiro a quatro anos de prisão. O juiz Carlos Eduardo Carvalho de Figueiredo, da 19ª Vara Criminal, autorizou o cumprimento da pena em regime aberto e determinou que Maxwell prestasse serviços à comunidade.

Após ser citado como suspeito no caso Marielle Franco, Maxwell foi expulso do Corpo de Bombeiros do Rio, em maio do ano passado. Ele foi alvo de um processo disciplinar.

A defesa de Maxwell recorreu da decisão. Em janeiro deste ano, o juiz Bruno Monteiro Rulière, da 1ª Vara Especializada em Organização Criminosa da Comarca da Capital, atendeu a um dos pedidos pedido da defesa e converteu sua prisão preventiva em domiciliar por 30 dias.

Segundo os advogados dele, o bombeiro precisava de uma cirurgia para a retirada de pedra na vesícula: "Como os dados produzidos conferem e há dificuldades acentuadas de tratamento de saúde no sistema prisional, excepcionalmente no presente caso, faz-se necessária a concessão de prisão domiciliar temporária, apenas e visando a realização do tratamento de forma particular, como forma de salvaguardar a vida, a saúde e a integridade física do réu".

A 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça analisa na tarde desta terça-feira, 18, um pedido dos familiares da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes para terem acesso aos autos da investigação sobre os mandantes do duplo assassinato ocorrido em abril de 2018. Apesar de os executores do crime terem sido identificados e colocados no banco dos réus, a pergunta 'quem mandou matar Marielle e Anderson' segue sem resposta, mesmo cinco anos após os homicídios.

O pedido de acesso às apurações tramita em segredo de Justiça, sob relatoria do ministro Rogério Schietti. A partir das 14h desta terça, os magistrados que integram a 6ª Turma começam a avaliar recurso das famílias de Marielle e Anderson.

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O assunto chegou ao STJ após o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro negar aos familiares da vereadora e do motorista o acesso aos autos da investigação sobre os mandantes do crime.

Em primeira instância, a Justiça fluminense também negou o pedido, feito em dezembro de 2021 por meio de uma carta.

Representantes do Comitê Justiça por Marielle e Anderson, do Instituto Marielle Franco, entidades e familiares da vereadora e do motorista vão acompanhar o julgamento em Brasília.

O assassinato de Marielle e Anderson ocorreu em 2018, quando o carro em que ambos estavam foi alvejado por tiros na região central do Rio, após deixarem um evento do PSOL. Uma assessora da então vereadora sobreviveu ao atentado.

Dois ex-policiais estão presos e são réus pelo assassinato de Marielle e Anderson. Ronnie Lessa, PM reformado, é apontado como executor dos disparos. Élcio Queiroz seria o motorista do carro que perseguiu o veículo ocupado por Marielle que foi alvejado por tiros naquela noite.

Lessa e Élcio foram mandados a júri popular, com o reconhecimento de qualificadoras nos crimes de homicídio - 'motivo torpe', 'outro meio que dificultou a defesa da vítima' e 'para assegurar a impunidade de outro crime'.

Em fevereiro, após requisição do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, a Polícia Federal no Rio abriu um inquérito para apurar o assassinato, em parceria com as autoridades fluminenses. De acordo com o Ministério da Justiça, o inquérito é um procedimento interno, sem prazo para conclusão.

A portaria de abertura dessa investigação diz que a PF vai investigar 'todas as circunstâncias' do crime. O texto destaca que é atribuição da corporação 'apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme'.

O documento cita o princípio da razoável duração do processo.

O general Richard Fernandez Nunes relacionou a mudança da equipe de investigadores - chefiada pelo delegado Giniton Lages - à impunidade dos mandantes da morte de Marielle Franco. Richard era o secretário da Segurança Pública do Rio quando a vereadora do PSOL e o motorista Anderson Gomes foram assassinados, em 14 de março de 2018.

Lages foi removido das investigações em 2019, após a prisão do sargento Ronnie Lessa e do ex-PM Élcio Queiroz, apontados como executores do crime. A decisão foi tomada pelo então governador Wilson Witzel. "Ela (Marielle) foi morta porque fazia parte de um grupo político, e grupos políticos contrariam determinados interesses", afirmou o general.

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As declarações do general estão em sua entrevista aos pesquisadores Celso Castro, Adriana Marques, Verônica Azzi e Igor Acácio para o livro Forças Armadas na Segurança Pública: a visão militar. Ao Estadão, ele confirmou o teor das declarações, feitas em 2021 e publicadas agora, quando o crime completou cinco anos.

"Estava nítido para nós que era um crime encomendado, uma execução, tendo em vista a atuação política no Rio." Segundo ele, para se fazer campanha no Rio, "o camarada tem que pedir voto ou em área controlada pelo tráfico ou por milícia". "Migrar de uma área dessas para outra representa, do ponto de vista do político, um movimento muito arriscado." Marielle começou a atuar em áreas onde milicianos faziam construções clandestinas e praticavam crimes ambientais.

PERGUNTA

O general comandou a Segurança até o fim da intervenção federal, em dezembro de 2018. "Os executores foram presos em março (2019). E o Giniton teve também a lealdade de dizer isso na frente do governador (Witzel), que o crime tinha sido elucidado após uma longa investigação de um ano, que muito se devia ao apoio que ele recebeu da intervenção federal. Aí vocês vão me perguntar: mas por que não chegou aos mandantes até hoje? Ah... pergunta para quem veio depois, porque o Giniton foi afastado do caso. Ali havia um planejamento. A gente tinha uma expectativa na linha do tempo para atingir determinados objetivos." O primeiro deles foi deter os executores.

As suspeitas apontavam então para a participação de políticos ligados à milícia como possíveis mandantes. Para o general, o desmonte da equipe de investigadores teria comprometido o andamento das investigações. Após deixar a secretaria, ele assumiu o Centro de Comunicação Social do Exército e, depois, o Comando Militar do Nordeste, cargo que ocupa até hoje.

Além da equipe policial, as promotoras Simone Sibílio e Letícia Emile, que acompanhavam as investigações, deixaram o caso em 2021. O Estadão procurou Witzel, mas não o localizou. Em janeiro, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, manifestou-se a favor da federalização do caso.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O ministro da Justiça e da Segurança Pública, Flávio Dino, negociou um acordo com o Ministério Público do Rio antes de determinar a abertura de um inquérito da Polícia Federal para auxiliar nas investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes.

O governo petista procurou evitar atritos com promotores fluminenses e, ao mesmo tempo, cumprir a promessa de campanha de colocar órgãos federais na apuração do caso. Foi também uma resposta em nível federal às pressões sobre a conclusão da investigação do assassinato da vereadora.

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A decisão foi tomada após encontro entre Dino e o procurador-geral de Justiça fluminense, Luciano Mattos. O inquérito da PF é um caminho alternativo à discussão sobre a federalização do caso.

 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A vereadora Marielle Franco (PSOL), que foi assassinada no dia 14 de março de 2018, no Rio de Janeiro, completaria 43 anos nesta quarta-feira (27), 1.596 dias após ter sido executada junto ao seu motorista, Anderson Gomes. Desde então, a frase “Quem matou, quem mandou matar Marielle, e por quê?”, perpassam, sem respostas, a vida de quem a amava e admirava. 

Em homenagem à vereadora, uma estátua foi inaugurada nesta quarta-feira (27), no Buraco Lume, Centro do Rio de Janeiro, por iniciativa do Instituto Marielle Franco, criado pela família dela com o objetivo de defender a sua memória, compartilhar o legado e lutar por justiça. O ponto escolhido para receber o monumento teve uma motivação: todas as sextas-feiras, Marielle prestava contas do mandato lá. 

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Era ano de eleição muito polarizada quando Marielle e sua equipe saía, por volta das 12h, do evento “Jovens Negras Movendo as Estruturas”, na Rua dos Inválidos, na Lapa, no dia 14 de março de 2018. O carro da parlamentar, dirigido por Anderson Gomes, foi emparelhado por um outro carro, que disparou vários tiros contra a equipe; quatro atingiram a cabeça de Marielle e outros três, as costas do motorista, que morreram.  

O caso Marielle é investigado desde 2018 e uma das principais suspeitas é de que tenha ligação com a família Bolsonaro, sobretudo pela aproximação da família com sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa, acusado pelo assassinato da ex-vereadora e ex-vizinho de Bolsonaro, e outros suspeitos. O filho mais novo do presidente, Renan Bolsonaro, chegou a namorar com a filha de Ronnie. 

A investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) aponta que um veículo dirigido pelo ex-policial militar, Élcio Queiroz, emparelhou com o carro da parlamentar e, de dentro do veículo, Lessa teria disparado pelo menos 13 tiros contra o grupo. Ambos [Élcio e Lessa] estão presos preventivamente em um presídio federal em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. A dupla teve o pedido da defesa para cassar a decisão que o mandou a júri popular negado pela ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber. Sendo assim, o júri “prossegue para marcação do plenário e julgamento da causa pelo Tribunal Júri”. 

No carro, junto a Marielle e Anderson, também estava a chefe de gabinete do mandato, Fernanda Gonçalves, que foi atingida apenas por estilhaços. 

Em nota exposta pela CNN nesta quarta, a Polícia Civil do Rio de Janeiro informou que as investigações sobre o assassinato seguem na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), em conjunto com a Força-Tarefa do Ministério Público, e estão sob sigilo. O documento diz que várias diligências já foram realizadas neste ano, e que a equipe também se reuniu com os familiares de Marielle. Segundo a nota do MPRJ, o órgão não divulga detalhes sobre investigações sigilosas e ainda em curso. 

Durante o seu primeiro ano, o caso foi investigado pelo delegado Giniton Lages, que deixou a investigação, em março de 2019. O caso foi deixado por Giniton logo após as prisões de Lessa e Queiroz, acusados de serem os assassinos. Lages agora é diretor do Departamento-Geral de Polícia da Baixada Fluminense. Até junho deste ano, quatro delegados já trabalharam na elucidação do crime. 

Ao Estadão, o delegado chegou a expor que o caso está próximo de ser encerrado. “Conheço apenas um fragmento dessa história, o primeiro ano. Mas muita coisa foi feita depois”, disse. Ele contou que o crime foi muito bem pensado no pré e no pós e, por isso, houve dificuldade em encontrar rastros e provas. “A investigação trabalha com vestígios encontrados na cena do crime: imagens, testemunhas, papiloscopia. Mas não tínhamos nada disso. Não havia imagens da execução porque a câmera daquele trecho estava inoperante. Mesmo que houvesse, a imagem não revelaria nada”, expôs. 

“Nós não temos dúvida da participação do Ronnie Lessa e do Élcio Queiroz”, cravou o delegado, que acredita que os criminosos tinham um informante. 

Primeiro delegado designado para investigar o assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol) e do motorista Anderson Gomes, Giniton Lages deixou o caso após um ano de investigações, em março de 2019. Foi logo depois das prisões do sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa e do ex-PM Élcio Queiroz, acusados de serem os executores. De lá para cá, outros quatro delegados trabalharam para a elucidação do crime, mas as perguntas - Quem mandou matar Marielle e Por quê? - permanecem sem respostas.

Lages, que atualmente é diretor do Departamento-Geral de Polícia da Baixada Fluminense, está lançando junto com o cientista político Carlos Ramos o livro Quem Matou Marielle? (Editora Matrix). Na obra, ele se propõe a revelar "os bastidores do caso que abalou o Brasil e o mundo". O delegado, que na época das investigações não dava entrevistas, conversou durante quase duas horas com o Estadão. Ele contou que saiu do caso "transformado em um ser humano melhor".

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Também afirma que, ao longo das investigações, "se apaixonou" por Marielle ao mergulhar no trabalho político feito pela vereadora e ouvir muitas horas de suas conversas pessoais e profissionais em busca de alguma pista para o crime.

Nesta entrevista, ele conta em detalhes como usou de forma inédita as novas tecnologias para chegar aos executores do crime. Uma das hipóteses levantadas por Lages - e ainda em aberto - é a possibilidade de que um informante, alguém próximo à vereadora, estivesse passando informação aos criminosos. Na análise de Lages, não vai tardar muito até que os mandantes sejam descobertos.

"A investigação fez o caminho inverso", explicou. "Não deu para ir dos vestígios para o autor, então fomos do autor para os vestígios. E encontramos os autores no mundo online porque no mundo offline eles tomaram todos os cuidados para não serem identificados."

O senhor acha que estamos próximos da resolução definitiva deste crime, mais de quatro anos depois?

Eu tenho um pouco de dificuldade de pensar no que pode ser. Até porque, conheço apenas um fragmento dessa história, o primeiro ano (das investigações). Muita coisa foi feita depois. Mas estou muito otimista. Conheço a minha instituição e sei que, quem está lá agora é um excelente profissional. Então, tenho muita fé de que, a partir do material que produzimos no primeiro ano, podemos guardar a esperança de que uma resposta está por vir muito brevemente.

O senhor ficou frustrado por ter prendido os executores, mas não ter conseguido chegar ao mandante e à motivação do crime?

Quando a gente começa uma investigação, a expectativa é encontrar todas as respostas, ser capaz de dizer quem foi, por que, de onde veio, que arma usou, quem participou, para onde foi depois do crime. Para além da questão do mando, ainda há uma série de outras questões em aberto. A arma do crime foi mesmo jogada no mar? A arma foi escondida depois do crime? Onde? Enfim. Tínhamos uma grande expectativa de que, com os autores presos, iríamos avançar. Em geral, se avança muito depois de uma prisão assim, inclusive em detalhes a que nunca chegaríamos de outra forma. Mas eles não falaram naquela época e não falaram até hoje.

O anúncio do seu afastamento do caso foi feito no mesmo dia em que foram anunciadas as prisões de Ronnie Lessa e Élcio Queiroz e pegou o senhor meio de surpresa, como mostra o livro. O senhor ficou ressentido de ser afastado?

O investigador se apega ao trabalho, e nós estávamos muito apegados. Queríamos entregar uma resposta e entregar o mais rápido possível. Até porque, para além das cobranças, havia muita desconfiança. A gente vivia um cenário de muita desconfiança nas instituições. Havia muita desconfiança sobre o meu trabalho, o trabalho da delegacia de homicídios. Então queríamos fechar o mais rápido possível. Mas não foi simples, e o caso foi se arrastando. Todas as técnicas que usamos, uma a uma, foram caindo e não alcançávamos os objetivos. Quando soube que ia deixar o caso, houve, sim, um sentimento de frustração. Eu queria continuar. Por outro lado, já sabemos desde que entramos na polícia que a incerteza é certa. Um dia você está na Homicídios, no dia seguinte, na Roubos e Furtos. A frustração seria muito maior se não tivesse entregado os executores. Óbvio que eu queria continuar, mas, por outro lado, estava muito cansado.

O caso Marielle marca uma diferença nos processos de investigação, sobretudo naquele primeiro ano, com a quebra de sigilo telemático de várias pessoas, interceptação de dados de telefonia, a colaboração de plataformas como Google e Facebook. Como foi isso?

Foi um crime milimetricamente pensado. Tenho 14 anos como delegado, nove deles na investigação de homicídios, e nunca tinha visto um crime tão bem preparado, tão bem pensado tanto no pré-crime quanto no pós-crime. E isso dificultou demais a investigação para chegar à autoria de forma rápida. A investigação trabalha com vestígios encontrados na cena do crime, imagens, testemunhas, papiloscopia. Mas não tínhamos nada disso. Não havia imagens da execução porque a câmera daquele trecho estava inoperante. Mas, mesmo que houvesse, a imagem não revelaria nada. O assassino joga para fora do veículo apenas parte do braço e a arma. A mão está envolta em um manguito, então nem sequer teríamos certeza da cor da pele. Ele não desce do veículo, não toca em nada. Ninguém mais fala por telefone, todo mundo usa a internet para falar. Esse foi mais um campo de dificuldade que tivemos.

Mas essa é uma realidade que veio para ficar. Sei que houve resistência por parte da Google de entregar dados, mas o fato é que cada vez mais haverá essa demanda...

Sim, por isso o livro é importante. O livro vai apresentando cronologicamente as dificuldades para que as pessoas tomem contato com o que é a realidade policial brasileira. Não é um seriado de TV americano, é muito mais complexo. Ao mesmo tempo, a investigação é considerada um "case" de sucesso, que inaugura uma relação entre as polícias judiciárias e as empresas de telecomunicação. As relações das investigações com as empresas de telefonia, provedores de internet, multinacionais de comunicação, detentoras de plataformas de redes sociais são muito melhores hoje, justamente após o caso Marielle e toda complicação que houve.

O senhor estava explicando que, normalmente, numa investigação, a polícia parte dos vestígios deixados no local do crime para buscar os suspeitos. Neste caso, não havia vestígios. Vocês tiveram que seguir um caminho diferente, então?

Se não tínhamos vestígios, a investigação fez o caminho inverso. Não deu pra ir dos vestígios para o autor, então fomos do autor para os vestígios. E a gente encontrou os autores no mundo online. Porque, no mundo offline, eles tomaram todos os cuidados, para não serem identificados.

Mas no mundo online também é possível se esconder, não?

Sim, ainda temos algumas fragilidades técnicas que permitem que as pessoas se escondam. Por exemplo, hoje, as operadoras permitem que qualquer pessoa habilite um celular pré-pago, com um número de CPF inexistente, ou o CPF de outra pessoa. É um cadastro bucha. Quebramos muitas antenas de telefonia no caso Marielle e descobrimos muitos usuários se comunicando, mas quando chamávamos a pessoa para depor, não era ela. Era alguém com o CPF dele se comunicando naquele local. Recentemente, o STF (Supremo Tribunal Federal) travou o Telegram. Todas as polícias do Brasil vinham lançando a perspectiva de que a criminalidade estava usando o aplicativo para a prática dos mais diversos crimes e a polícia não conseguia nem sequer mandar um ofício pedindo a identificação de um criminoso. Não tinha nem sequer uma sede aqui no Brasil para conversar com a polícia. Não pode ser terra de ninguém. Foi só o STF suspender o serviço da plataforma que eles nomearam um representante.

Muitos críticos dizem que as provas contra Ronnie Lessa são muito circunstanciais. O que o senhor diz sobre isso?

Nós não temos nenhuma dúvida da participação do Ronnie Lessa e do Élcio Queiroz. E nos acompanham outros atores da persecução penal, como o Ministério Público e o juiz. Eles (Ronnie e Elcio) estão indiciados, denunciados, pronunciados e serão julgados no tribunal do júri. As provas que reunimos sustentam a prisão deles. Eu não tenho nenhuma dúvida, a equipe não tem nenhuma dúvida de que eles estavam naquele veículo, monitoraram a vítima, puxaram o gatilho e mataram Marielle e Anderson.

Quando a investigação começou estávamos em um ano eleitoral já bastante polarizado. Muitas fake news surgiram contra Marielle. Como administrar a polarização dentro da polícia de forma a não interferir nas investigações?

Tínhamos consciência do momento e tentava deixar os policiais distantes disso. Policiais têm as suas convicções político-partidárias, eles não vivem numa bolha. E eu tentava dizer o tempo todo que era preciso deixar tudo isso do lado de fora da delegacia, que o nosso trabalho era mais importante que qualquer outra coisa, que estávamos numa investigação histórica, que tínhamos uma oportunidade de sairmos do caso maiores do que entramos.

A grilagem, da milícia, e as máquinas de caça-níqueis, do bicho, seriam os negócios ilegais que podem estar por trás do assassinato de Marielle. Qual o tamanho desses negócios na história do crime organizado no Rio?

Na primeira fase, quando desenhamos as linhas de investigação, esses dois aparecem. Interessava saber onde o mandato de Marielle tocou. E o mandato dela era muito bem organizado, tinha uma estrutura muito coesa, multitemática, e uma das veias desse mandato era a questão da posse e regularização de terra em Vargem Grande e Vargem Pequena, na zona oeste. Mas não conseguimos avançar, não percebemos uma visão de que teria sido uma atuação contundente o bastante para que o homicídio acontecesse. Mas é uma linha aberta, e a perspectiva é que seja aprofundada. As duas linhas são capazes de produzir homicídios. Onde tem terra e contravenção há um histórico de homicídio no Rio. Mas é preciso buscar uma motivação.

No livro, o senhor levanta a hipótese de que os assassinos tinham um informante, alguém próximo a Marielle. Por quê?

Nós conseguimos muitas imagens do pré-crime. Ao analisar essas imagens, a gente vê que eles não tinham pressa, nenhuma preocupação com o tempo. Se eles tivessem apenas uma informação tirada da rede social, de que ela tinha um evento às 17h30, eles não iam chegar a tempo. Então eles podiam estar trabalhando com informação privilegiada. Na primeira fase, nós chegamos a fazer esse levantamento dentro da Câmara e no entorno da Câmara, para ver se tinha alguém passando informação, mas não conseguimos cravar.

O senhor falou do pré-crime. Mas e o pós-crime? Por que nunca foi possível determinar para onde os assassinos foram depois da execução?

Temos imagens deles indo até o local (Casa das Pretas, onde Marielle tinha um compromisso naquela noite), do local, da perseguição e de logo depois da execução. Depois, temos algumas rotas de fuga possíveis, tentamos todas, mas não conseguimos imagem nenhuma. As câmeras públicas estavam desligadas ou danificadas e as OCRs (Optical Carachter Recognition, um sistema de monitoramento, que faz a leitura automática das placas dos carros) não estavam operantes. Os contratos estavam vencidos e muitas foram desinstaladas; apenas algumas continuaram funcionando na expectativa de que o contrato fosse renovado. Por isso, não tenho nada do pós-crime. Eles somem, desaparecem, por conta dessa ausência de cobertura. Essas tecnologias são valiosíssimas para solucionar crimes.

O senhor conta no livro que, ao longo da investigação, se apaixonou por Marielle. Como foi isso?

Muito, me apaixonei muito. Veja bem, quando trabalhamos num inquérito, a gente se apega, não somos máquinas. Temos um sentimento de revolta, ficamos indignados, queremos alcançar o autor que cometeu aquela brutalidade. Mas existem alguns casos que mexem demais com a humanidade do policial. E o caso Marielle foi um desses. Não só para mim, mas para toda a equipe, na medida em que fomos mergulhando na história daquela pessoa que, para muitos, era só um personagem, alguém na televisão. Até por conta da polarização que estávamos vivendo, houve muitos ataques à imagem dela, muitas fake news. E nós, que estávamos cuidando do caso, que estávamos conhecendo ela de verdade, percebíamos rapidamente que nada daquilo era verdadeiro. No livro, citamos uma frase da (escritora americana) Toni Morrison: "As definições pertencem aos definidores, não aos definidos". Esse era o nosso sentimento. Um dado muito concreto foi que tivemos a oportunidade de conhecer Marielle um ano antes do crime. Ela tinha um aplicativo instalado no celular que gravava todas as ligações que ela fazia e recebia. Esse aplicativo permitiu que a gente retrocedesse e conhecesse essa mulher, essa mãe, essa guerreira, essa profissional que acreditava piamente em seus propósitos. A gente imagina o que vai ouvir de um político durante um ano, em todos os telefonemas gravados.... Já imaginou instalar esse aplicativo no celular de alguns políticos por ai e poder ouvir tudo, durante um ano, sem barreiras? Mas no dela não tinha nada. Era uma pessoa absolutamente ética, com objetivos, uma excelente filha, uma mãe dedicada, apaixonada pelo seu mister, que acreditava que estava transformando as pessoas. A relação dela com os assessores, ela cuidava de cada um deles, a relação com a filha, com a companheira. Então, realmente, não tinha como não se apaixonar por ela.

Mesmo os policiais que não eram de esquerda?

Eu dizia sempre que tínhamos que deixar a polarização lá fora. Mas, nesse momento, todos quebraram. O policial também é um ser político, ele também tem suas preferências. E a polarização vai pra dentro da delegacia também. Mas, rapidamente, aquele pequeno núcleo que operava no caso Marielle, todos foram conhecendo ela e, assim como eu, se apaixonando por ela. E isso fez com que, aos nossos olhos, aumentasse a violência contra ela e levou o nosso ímpeto de encontrar respostas para outro patamar. Muitos saíram do caso Marielle transformados para melhor. Muitos não, acho que todos, inclusive eu.

Transformado como?

Sou um ser humano melhor. Marielle foi uma morte cruel, violenta, uma perda para a democracia, uma voz que foi calada, um vazio que se abriu. Era para ela estar aí, falando. Por que abrir mão de uma fala, de uma voz? Por que essa morte? Não pode ser em vão. Da mesma forma que não podem ser em vão as mortes da juíza (Patrícia Acioli) e de outros tantos defensores de direitos humanos, como Chico Mendes e a irmã Dorothy Stang.

A ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, negou pedido do policial militar reformado Ronnie Lessa, acusado de assassinar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes a tiros em 2018, para cassar decisão que o mandou a júri popular. O crime completou quatro anos, sem resolução, no dia 14 de março deste ano.

Lessa está preso preventivamente na Penitenciária Federal de Segurança Máxima de Campo Grande, sob acusação de envolvimento no homicídio de Marielle e Anderson, sendo que, em outubro de 2021, foi alvo de mais um mandado de prisão, por lavagem de dinheiro. Além disso, o ex-PM foi alvo de uma outra ordem de prisão preventiva, em março, no âmbito de operação da Polícia Federal contra organização criminosa que atua no tráfico internacional de armas.

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O caso chegou ao STF após o Superior Tribunal de Justiça rejeitar recurso da defesa contra a sentença de pronúncia de Lessa, que reconheceu três qualificadoras nos crimes de homicídio imputados ao ex-PM - 'motivo torpe', 'outro meio que dificultou a defesa da vítima' e 'para assegurar a impunidade de outro crime'.

À corte máxima, os advogados de Lessa alegaram que a fundamentação da decisão que mandou o ex-PM a júri popular, em relação às qualificadoras, seria inválida. A defesa também sustentou que não há nos autos informação de qual teria sido o motivo do crime. As informações foram divulgadas pelo STF.

A ministra Rosa Weber negou o pedido por questões processuais, registrando que o STF não discute pressupostos de admissibilidade de recurso interposto ao STJ, como é o caso.

Além disso, a ministra disse que não é cabível a apresentação de habeas corpus para afastar as qualificadoras, pois implicaria no 'revolvimento' de fatos e provas, o que é inviável.

Às vésperas do quarto aniversário do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, na noite de 14 de março de 2018, o Ministério Público do Rio (MP-RJ) ouve novos depoimentos e reexamina, com tecnologia mais moderna, os celulares aprendidos nas apurações. O objetivo é chegar ao mandante ou mandantes do duplo homicídio, ainda investigado como crime político.

Nas oitivas, são interrogadas pessoas da família e outras que trabalhavam com a vereadora. O policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio de Queiroz estão presos há três anos, acusados de serem os executores do crime. O julgamento não foi marcado.

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O coordenador do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MP-RJ), Bruno Gangoni, disse que os celulares são analisados com tecnologia de recuperação de mensagens. Segundo Gangoni, a hipótese de crime político só será confirmada quando o mandante for preso. Até agora, não há indicio da participação de milícias no duplo homicídio.

"Temos revisitado todo o material produzido ao longo da investigação", afirmou Gangoni. "As provas dessa investigação são muito digitais; os softwares hoje têm capacidade tecnológica muito maior do que na época em que os aparelhos foram apreendidos. Todos estão sendo reavaliados na tentativa de conseguirmos encontrar novas mensagens."

O Ministério Público avalia também novas informações enviadas pelo Google e aguarda dados do Facebook. O MP quer saber quem acessou a página de Marielle para consultar sua agenda. Postada na semana do crime, ela trazia detalhes sobre a palestra na Casa das Pretas. Após sair do evento, o carro em que iam Marielle e Anderson foi emboscado.

Em evento na manhã deste sábado, o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), disse que tem cobrado as autoridades policiais sobre o caso. "A Polícia continua investigando. Não me meto em investigação, eu cobro resultado", afirmou, ao "RJTV", da TV Globo.

SOB ESCOLTA

A dificuldade para identificar os mandantes torna cada vez maior o risco para a atuação de mulheres na política, sobretudo as negras, afirmou a deputada estadual Renata Souza (PSOL). Para ela, a morte da vereadora foi um "feminicídio político". Renata circula com seguranças. O mesmo ocorre com outras parlamentares negras que receberam ameaças de morte.

"O conceito de feminicídio político surge após o assassinato de Marielle Franco como um conceito quase que existencial", disse. "Estou falando de mulheres que estão na linha de frente da política, que sofrem um processo de violência política constante, que pode chegar a um feminicídio político. Isso é muito sério."

Primeira vereadora trans da Câmara Municipal de São Paulo, Érika Hilton (PSOL) afirmou na CPI da Violência Contra Pessoas Trans e Travestis, na quinta-feira, que foi ameaçada de morte várias vezes. Como Renata, vive sob escolta. Outra vereadora trans, Benny Briolly (PSOL), de Niterói, na Região Metropolitana do Rio, sofreu três ameaças de morte.

A deputada federal Talíria Petrone (PSOL), que era amiga de Marielle, precisou sair do Rio por causa de ameaças. Para ela, a demora na resolução do crime expõe a "fragilidade da democracia brasileira". "Enquanto não temos resposta a essa execução política, os casos de violência contra nós só aumentam", disse.

"Além de termos que lidar com as dificuldades inerentes a uma sociedade fundamentada no racismo estrutural, também corremos o risco de não podermos exercer o mandato para o qual fomos eleitas", afirmou. "Não podemos perder mais nenhuma de nós e não queremos entrar para a história como mártires." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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