A versão live-action de "Mulan" estreia finalmente nesta sexta-feira, mas não nos cinemas e sim na plataforma de streaming da Disney em uma aposta que analistas acreditam que pode mudar Hollywood para sempre.
O filme de US$ 200 milhões sobre a lendária guerreira chinesa estava programado para chegar às telas em março, mas foi uma das primeiras vítimas da pandemia de coronavírus, forçando vários atrasos que levaram à exclusão de um lançamento nos cinemas.
##RECOMENDA##No mês passado, ainda sem saber quando seria seguro voltar aos cinemas, a Disney sacudiu a indústria - e o próprio elenco do filme - ao anunciar que "Mulan" iria estrear nas telas de casa.
"A decisão de fazê-lo estrear no Disney + foi um choque para muitos de nós", disse o ator Jason Scott Lee, que interpreta o principal vilão do filme, acrescentando que a produção foi "feita para ser vista" na tela grande.
"No início foi devastador", disse Tzi Ma, que interpreta o pai de Mulan, à AFP. "Mas depois de um dia ou mais, pensei no lado bom... com a covid-19, nossas responsabilidades aumentam. Queremos manter todos seguros".
Além das preocupações com a saúde pública, a Disney está conduzindo um experimento de exibição sob demanda que pode alterar drasticamente a maneira como as pessoas assistem a filmes.
"Mulan" sai no mesmo fim de semana em que a Warner Bros estreia seu filme de ficção científica "Tenet" nos cinemas americanos que reabriam (70% do total em capacidade reduzida).
Ao contrário do estúdio rival, que terá que dividir a receita de bilheteria com os cinemas, o estúdio do Mickey ficará com 100% da receita de "Mulan", que custará US$ 30 adicionais à assinatura Disney +.
Embora a Disney tenha produzido vários filmes para consumo doméstico, nunca o fez com uma produção deste tamanho, e Hollywood está assistindo nervosamente.
"O que acontecerá neste fim de semana pode ser lembrado para sempre, pode ser um ponto de virada para Hollywood à medida que avançamos para o futuro", aponta o analista Jeff Bock da Exhibitor Relations, que acompanha as receitas do setor.
"É sobre como o público vai digerir o entretenimento dos sucessos de bilheteria daqui para frente."
- "Ponto de referência" -
Ajudou na decisão o fato de na China, onde o Disney + não está disponível, muitos cinemas terem reaberto, o que possibilita o lançamento do filme na próxima semana.
Baseado em uma balada chinesa de 1.500 anos sobre uma jovem que toma o lugar de seu pai doente no exército imperial, "Mulan" deve ser um dos maiores filmes da Disney no mercado chinês.
"Mulan" é inovador em outros aspectos.
Todo o elenco é asiático ou asiático-americano, um grupo demográfico sub-representado em Hollywood, especialmente em megaproduções de grande orçamento.
"É extremamente importante que um grande estúdio tenha a confiança de que um elenco asiático e americano lhes dê força e suporte financeiro", disse Ma.
"Deverá se tornar uma referência. Ser algo que o mundo saiba que é viável".
O sábio dragão Mushu, retratado por Eddie Murphy no desenho animado de 1998, não aparece nesta versão.
Nem os números musicais e as tramas românticas.
A diretora neozelandesa Niki Caro ("A Lenda das Baleias") escolheu um tom mais maduro, com cenas de luta lindamente coreografadas e paisagens que recordam "O Tigre e o Dragão".
O tema do empoderamento feminino também é visível, tanto na capacidade física da estrela Yifei Liu, quanto na introdução de uma misteriosa nova vilã feminina (Gong Li).
"Não acredito que Niki quisesse fazer um remake", disse Ma. "Não era isso que estávamos tentando fazer. Queríamos conectar a balada original com nosso ponto focal".
"Eu amo as músicas... mas não era nosso objetivo aqui", ressaltou.
As críticas iniciais foram cautelosamente positivas: muitos elogiando os visuais impressionantes do filme e a disposição de se desviar da animação, mas alguns criticando a falta de emoção ou humor no roteiro.
Para o elenco, depois de meses no limbo, o tão esperado lançamento do filme é motivo de comemoração.
"Faz tanto tempo que sinto que o filme estava enjaulado e precisava ser lançado", disse Lee.
"Ele precisava ganhar asas... e permitir que as pessoas vissem em qualquer formato."