Neste domingo (19) é celebrado o Dia Nacional do Teatro. A data visa relembrar e reforçar a importância das artes cênicas no cenário brasileiro, além de ser uma ocasião especial que para homenagem para todos aqueles profissionais que vivem da dramaturgia teatral.
De acordo com José Eduardo Paraíso Razuk, diretor de teatro e professor dos cursos de comunicação da Universidade Guarulhos (UNG), o teatro tem uma função pedagógica na formação da sociedade, desde o início da história do Brasil, quando os católicos exerciam a catequese por meio das artes cênicas. “Outro papel extremamente importante do teatro é na libertação da mentalidade do brasileiro, já no século XX, durante a ditadura militar. A resistência mais forte que foi encontrada durante esse período se deu nesta área. Dos anos 1960 até os anos 1980 o teatro cumpriu um papel extraordinário”, afirma.
##RECOMENDA##Enquanto todos os meios de comunicação eram severamente vigiados, o teatro cumpria “um papel de formiguinha, de não deixar a peteca cair”. Razuk completa dizendo que é através da encenação no palco que foi possível manter a chama democrática acesa. “É um elemento essencial na cultura e nunca deixou de cumprir seu papel relevante dentro da civilização brasileira”. Vale lembrar que outras formas de arte são consideradas como evolução da dramaturgia teatral, como os filmes de ficação no cinema e as novelas na televisão. E assim, o modelo de se contar histórias por meio dos diálogos predomina até os dias de hoje, mesmo tendo seu nascimento na Grécia Antiga.
Segundo Razuk, é importante ter em mente que o teatro também é considerado uma mídia de massa, já que desde o seu nascimento, os espaços abertos e arenas teatrais na Grécia Antiga chegavam a ter uma média de 15 a 20 mil pessoas. Além disso, também existem os centros e polos teatrais, como em Londres e em Nova York, na Broadway, com peças que estão em cartaz há mais de 20 anos, e ainda recebem milhares de espectadores todos os anos. “O teatro é verdadeiramente o primeiro formato de comunicação de massa que o homem conheceu e tem essa capacidade massiva”, confirma.
Já no período do Império Romano existi a ideia do teatro como forma de entretenimento, de pão e circo. “Então o teatro cumpre essas duas funções, tanto de entretenimento, mas também como ferramenta de modificação de pensamento humano e função lírica. Assim como o teatro Shakespeariano, que vai além do entreter, e cacaba por cumprir funções poéticas dentro da civilização humana”, explica.
A realidade de quem vive do teatro
Carlos Carvalho é técnico de palco e profissional na área e o teatro entrou em sua vida logo aos 14 anos de idade, quando presenciou uma apresentação teatral na escola. “Aquilo encheu meus olhos. Foi meu primeiro contato com o teatro e a partir de então eu passei a consumir espetáculos e espetáculos de dança”. Ao completar o ensino médio, Carvalho estava em dúvida sobre qual carreira iria seguir e começou a estudar um curso de oito meses, disponibilizado por uma ONG em Guarulhos (SP). “Eu pude entender melhor o teatro e me apaixonei perdidamente pelas artes do palco”, admite.
Por volta de 2005, o profissional do teatro parou de se apresentar e cerca de cinco anos depois, sua vontade de voltar ao palco crescia cada vez mais, mas desta vez Carvalho voltou como técnico de palco. “Isso me deu uma abertura gigantesca, porque eu comecei a entender o palco na sua grandiosidade. Como ator eu me via muito restrito ao personagem que eu estava criando, muito restrito ao universo do personagem. Como técnico eu consigo ter a percepção completa do que está acontecendo no palco. Ou seja, luz, cenário, objetos cênicos, figurinos, atuação dos atores e a forma como o diretor optou por contar aquela história”, relata.
Para o artista, o teatro é mais do que trabalho. “O teatro é vida, é necessidade, é uma forma de comunicação e talvez a mais acessível que tem, porque através de um espetáculo teatral você consegue ter acesso a um contexto, a uma boa indagação, a uma boa filosofia. O teatro é fundamental na criação de uma personalidade. É uma das artes que podem trazer uma percepção de vida e uma percepção de sociedade”, explica.
Apesar da arte fazer parte da vida de Carvalho, existem diversas dificuldades para quem vive do teatro no país hoje. “A arte no Brasil é muito renegada e deturpada. O brasileiro não tem o costume de consumir e valorizar a arte e ninguém concebe a ideia de que é possível trabalhar e se sustentar com arte no Brasil”. O artista ressalta que também existe o empecilho em angariar o dinheiro para poder fazer teatro, além de ser reconhecido como artista e se manter pela arte com a arte. Mas independente disso, existe um lugar dentro do profissional que é dedicado às artes do palco. “Dentre todas as artes, é a que mais me toca. É a que mais me faz feliz”, finaliza o artista.