Algumas pessoas ainda caem num erro quando o assunto é educação especial. Muitos pensam que se trata de salas de aulas compostas somente por pessoas com deficiências, sem a presença de alunos da educação regular. A verdade é que isso é coisa do passado.
“A escola está para todo o mundo e cada pessoa tem a sua especificidade. A gente trabalha com a perspectiva de inclusão, pois, educação é um direito de todos”. A afirmação é de uma das gestoras da Gerência de Políticas de Educação Especial (GEDE), da Secretaria de Educação de Pernambuco, Terezinha Beltrão (foto à esquerda). De acordo com ela, a ideia atual é juntar alunos com deficiências aos outros estudantes, todos numa mesma classe.
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O público alvo da educação especial são pessoas com deficiência (Cegueira, Baixa visão; Surdez; Deficiência auditiva; Surdocegueira; Deficiência física; Deficiência Mental; e Deficiências Múltiplas), transtorno global do desenvolvimento (Autismo Clássico; Síndrome de Asperger; Síndrome de Rett; Transtorno Degenerativo da Infância - Psicose Infantil), e alunos com altas habilidades (Superdotação). Essa classificação é realizada pelo Ministério da Educação (MEC) e esses alunos especiais são inseridos na educação regular, em turmas de acordo com o seu nível de escolaridade e idade. Eles, além da ajuda dos professores, têm apoio de profissionais especialistas no assunto, auxiliando o aprendizado dentro das próprias classes, em turnos opostos aos das aulas..
Essa junção faz com que as pessoas convivam com as diferenças sociais, como pensa Terezinha. “Se as escolas não receberem esse público, elas nunca vão poder debater sobre as diferenças. É importante para todos nós sabermos que as pessoas não são iguais”, explana. A gestora diz que os professores são capacitados para atenderem a todos os alunos, conforme a sua necessidade. “Quando há na sala um aluno surdo, por exemplo, os professores não podem falar de costa para ele, e no local também deve ter um intérprete. No caso dos cegos, deve haver uma preparação do material em braile com antecedência e tudo que o professor escrever no quadro, deve ser lido”, exemplifica Terezinha com alguns casos.
As aceitações
Segundo Terezinha, que também é pedagoga e especialista em educação especial, a grande maioria dos estudantes da educação regular aceita bem os amigos especiais. “Eles ajudam muito em todo processo e é ótimo vê a interação deles”. Porém, existem depoimentos opostos em relação ao processo de inclusão. “Há pais com pensamentos mais antigos que acham que os filhos não são capazes de estudar numa sala com outros alunos sem deficiências, porque eles têm medo que os filhos sofram algum tipo de preconceito. Mas, têm alguns que nos falam que o resultado da educação inclusiva é muito bom, e é visível o desenvolvimento do aprendizado dos estudantes especiais”, explica a gestora.
Ingresso e aprovação
Terezinha Beltrão conta que, antes de as pessoas com deficiência se matricularem nas escolas, elas são submetidas a algumas análises. “O objetivo é fazer uma análise, junto a profissionais, como psicólogos, professores, neurologistas, entre outros, para que se possa notar a condição de aprendizado do aluno. Dessa forma, identificamos como serão repassados os assuntos de uma determinada série”, comenta. “O ideal é que os alunos deficientes tenham os mesmos temas do que os estudantes regulares, mas, claro, a forma de ensino tem que ser aplicada conforme as necessidades dos especiais”, completa Terezinha.
No contexto da aprovação, como alunos do ensino regular, pessoas deficientes também são avaliadas em busca de uma progressão para uma nova série. Segundo a gestora, no final de cada ano letivo, os alunos especiais são avaliados por alguns profissionais. “Verificamos se eles devem seguir para a próxima série, como também, podemos segurar esses alunos, com o pensamento de que é melhor para ele repetir mais um ano e ver novamente aqueles conteúdos. Assim, ele tem a oportunidade de aprender mais”, justifica a profissional.
Quem vive a inclusão
A Escola Vidal de Negreiros, localizada no bairro de Afogados, no Recife, é referência no ensino de inclusão. De acordo com a diretoria da escola, atualmente estudam no local 70 alunos especiais na educação regular. De acordo com a coordenadora das aulas inclusivas da escola, Conceição Morais (foto à direita), “os deficientes frequentam as aulas como qualquer outro aluno e ainda recebem um serviço em horários diferentes dos da aula”. Segundo a coordenadora, a proposta não é apenas passar conteúdo para os alunos. “Nós também trabalhamos a autonomia, a autoestima e a integração na sociedade dos estudantes”, completa Conceição.
Os professores Unilton Rodrigues e Olga Perreira são professores da escola. Os dois profissionais apoiam em todo o processo pedagógico e social das aulas, auxiliando os intérpretes e os profissionais especialistas em educação especial. “Além da função profissional, nós aprendemos com a experiência de vida dessas pessoas. Elas nos mostram que podemos superar todas as barreiras”, declara Unilton.
O intérprete de libras (Linguagem Brasileira de Sinais) Daniel Antônio de Lemos, é um dos profissionais que auxiliam os especiais nas aulas. Ele ajudou a reportagem do LeiaJá a conversar com Rosângela Benedita (foto à esquerda), que é surda e muda. Apesar do silêncio, os sinais feitos por Rosângela "ecoam" fortemente a alegria que ela tem por ter conseguido superar a sua dificuldade. A mulher completou o ensino médio na escola e hoje trabalha como voluntária nas aulas da educação regular. “Antigamente, quando eu era cirança, eu achava a escola muito difícil. Todos da sala eram mudos e o professor só queria passar os assuntos sem nenhum tipo de interação. Depois, eu entrei na escola Vidal de Negreiros, junto com pessoas que não tinham deficiência, e a minha vida mudou”, conta Rosângela, interpretada por Daniel. “Estudar com ouvintes me ajudou muito. Eu aprendi muitas coisas. Eles me ensinavam as matérias e eu os ensinava libras. E hoje eu posso ajudar outras pessoas que têm deficiência”, relata Rosângela.
Sem deficiência alguma e com muita vontade de expandir a inclusão social, a estudante da escola Vidal de Negreiros, Sara Emmanuele (foto à direita), de 16 anos, afirma que é importante conviver com pessoas especiais. “Não tenho dificuldade de conviver com elas. São pessoas legais e aprendo com elas que apesar dos problemas, nada é impossível. Sinceramente, eu não vejo diferença entre mim e eles”, diz a jovem.
Números - De acordo com dados da GEDE, atualmente, existem funcionando em Pernambuco 133 salas da educação inclusiva. Trabalhando em todo o processo educativo, são mais de 400 professores e 393 professores de classe especial, que correspondem aos encontros que ocorrem nos contraturnos das aulas.
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