No lugar dos barracos, fumaça das brasas e entulhos queimados. Na manhã desta quinta-feira (7), um incêndio de pequenas proporções atingiu a ocupação Vila Sul 2, na Avenida Sul, centro do Recife. Erguida desde maio às margens da antiga linha férrea, a comunidade grita por socorro contra ataques que, segundo os moradores, são intencionais. Para eles, os incêndios são criminosos.
“Só pode ser perversidade. Nestes de hoje, nem fiação elétrica tem. Já teve mais de cinco, seis incêndios nos últimos meses. É um perigo para todo mundo”, disse o morador João Eugênio da Silva, com a expressão exausta de quem já muito viveu e ainda não conseguiu ter a tranquilidade tão desejada de uma moradia digna. “Graças a Deus, em todos os incêndios, ninguém ficou ferido”, afirmou Eugênio. Porém, a quantidade de crianças na comunidade é enorme e o risco, eminente.
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No incêndio desta quinta (7), uma viatura do Corpo de Bombeiros foi suficiente para controlar as chamas. Andando pela ocupação, é possível ver outros focos de incêndio. Segundo a moradora Marlene Maria da Silva, alguns moradores tocam fogo em lixo acumulado, mas este não é o motivo primordial para os incêndios. “Na semana passada, um pivete passou e jogou bituca de cigarro. Além disso, sofremos quando chove também, porque fica tudo alagado. Só queremos moradia. Aqui não tem segurança”, salientou Marlene Maria.
A maioria dos moradores da invasão, dividida em Vila Sul 1 e 2, era moradora do Coque, mas há quem veio de outras localidades do Recife, como Maurício Gonçalves, que vivia no Ibura. Nesta quinta, ele foi acordado de forma diferente. “Eu tava dormindo quando ouvi a sirene dos bombeiros. Susto danado, pensei que tinha acontecido algo maior. Não sei confirmar, mas acho que isso são uns moleques que passam, tocam fogo na maldade pra tirar onda”. ![](/sites/default/files/enviados-2014/Moradores%20Vila%20Sul%20II.jpg)
Queixa comum: barracos desocupados
Ao relatar os últimos acontecimentos na comunidade, uma coisa entre os moradores é unânime: parte dos barracos foi construída, mas as pessoas não moram de fato no local. “Levantaram os barracos, mas pode ver, não tem ninguém. Só querem o cadastro na Prefeitura, pra ganhar casa. Acaba prejudicando a gente, que realmente precisa. Deveria ter uma fiscalização à noite aqui, para a Prefeitura ver quem mora mesmo”, indicou Damiana Paula de Amorim, de 60 anos, uma das mais incomodadas com o levantamento de barracos “vazios”.
Com a recorrência dos incêndios e as características de ações criminosas, as lideranças da comunidade afirmaram que, a partir de agora, todas as pessoas que se sentirem lesadas por este tipo de incidente irão prestar queixa na Polícia. “Não queríamos envolver a Polícia, mas não tem jeito. Já entramos em contato com o pessoal da Delegacia da Rio Branco, porque isso não pode ficar assim. São, claramente, incêndios criminosos que podem tirar vidas de pessoas daqui”, enfatizou Bernadete Oliveira, uma das representantes da ocupação.
O Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) dá suporte aos moradores da região, que é uma área da União e está sob as responsabilidades da Ferrovia Transnordestina Logística. As famílias já foram cadastradas pela Prefeitura do Recife e o diálogo vem sendo feito, desde maio, para se chegue a um acordo sobre o destino das mais de 500 pessoas “acampadas” no terreno.