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O ex-presidenciável e deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) afirmou neste domingo, 27, ao Estadão, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deveria reparar o Brasil dos prejuízos causados durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). A declaração foi uma resposta à afirmação de Lula sobre ser necessário discutir como "reparar" a sua correligionária, que sofreu impeachment em 2016. O debate voltou à tona após o arquivamento da ação de improbidade pelas "pedaladas fiscais" no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). Em 2014, Dilma e Aécio foram adversários diretos nas eleições presidenciais, que resultaram na vitória, nos dois turnos, da petista.

"Lula agora fala em reparar a ex-presidente Dilma pelo suposto 'golpe' do impeachment, ignorando decisões do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele deveria canalizar sua energia para reparar o Brasil dos prejuízos que sua pupila causou ao País e aos brasileiros", disse.

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No governo Dilma o Brasil lidou com uma grave crise econômica. Ao assumir o primeiro mandato, Dilma recebeu a taxa de desemprego em 5,30%, segundo o critério (PME/IBGE) e, ao ser afastada, em maio de 2016, a taxa estava 8,20%. A inflação foi de 5,90% a 9,28% no mesmo período de tempo. O PIB mudou de um crescimento de 7,53% ao ano para uma retração de 3,90% anual.

Dilma deixou o governo em 2016 após sofrer um impeachment. A justificativa do processo defendia que a petista infringiu a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) ao editar decretos para abertura de crédito suplementar sem autorização do Congresso Nacional e atrasar, de maneira proposital, o repasse de dinheiro da União para bancos com o objetivo de melhorar artificialmente as contas. A manobra, batizada de "pedaladas fiscais", foi revelada pelo Estadão.

A declaração de Aécio foi feita no momento em que o PSDB tenta reerguê-lo como liderança política. Na última quinta-feira, 24, o deputado foi ovacionado durante evento "Diálogos Tucanos", promovido para discutir a renovação do partido. Tietado por filiados, Aécio apareceu de visual novo, com barba; subiu ao palco a convite do presidente do PSDB, o governador gaúcho Eduardo Leite, e mostrou confiança de que a legenda voltará a ter protagonismo nacional.

Para Aécio, a narrativa defendida por Lula sobre a ilegalidade do impeachment de Dilma impede o desenvolvimento político do País. "O presidente Lula impede o Brasil de superar o antagonismo raivoso que se instalou na cena política nacional ao insistir em manter o País acorrentado a falsas narrativas do passado", disse. Desde que assumiu o terceiro mandato, o petista tem afirmado em seus discursos que o impedimento de sua correligionária foi um "golpe".

Essa narrativa foi fomentada por Lula na última semana após o Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região em Brasília manter, por unanimidade, o arquivamento da ação de improbidade contra a ex-presidente Dilma. Durante discurso no Fórum Econômico Brasil-Angola na capital de Luanda, o petista defendeu que a colega de sigla "foi cassada de forma leviana" e que o País lhe devia desculpas.

Para Aécio, Lula e o Partido dos Trabalhadores "não fazem bem ao País ao disseminar a fake news" de que a ex-presidente foi absolvida dos crimes de responsabilidade. "O TRF-1 sequer discutiu o mérito da ação. Na verdade, apenas aplicou uma previsão constitucional de que ninguém pode ser condenado duas vezes pelo mesmo crime. Dilma já foi condenada anteriormente pela Lei do Impeachment, inclusive com a perda da Presidência da República, e não poderia, portanto, ser novamente condenada pelos mesmos crimes da Lei de Improbidade", disse. "É lamentável quando o próprio presidente da República e seu partido, que deveriam dar o exemplo, se colocam contra esse esforço nacional em nome de seus objetivos políticos."

A decisão do TRF-1 foi divulgada após o colegiado da 10ª Turma se reunir para julgar uma apelação do Ministério Público Federal (MPF). Como mostrou o Estadão, o Tribunal decidiu que Dilma e o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega não poderiam responder nos termos Lei de Improbidade Administrativa porque já foram responsabilizados por meio da Lei que define os crimes de responsabilidade. Isso ocorre por, em 2018, o Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu que o Presidente da República não deveria estar à mercê do sistema de dupla responsabilização.

Especialistas ouvidos pela reportagem afirmam que o arquivamento da decisão não inocenta Dilma, visto que o mérito da ação não foi analisado; o que houve foi uma análise foi de caráter formal e processual em resposta à decisão do STF em 2018. Eles ainda afirmam que não existe correlação entre a decisão de arquivar a ação no TRF-1 e o processo que levou ao afastamento da ex-presidente, já que cada um dos acontecimento se refere a leis diferentes: a ação no Tribunal enquadra Dilma na Lei de Improbidade Administrativa; enquanto, no passado, ela já havia sido responsabilizada pela Lei do Impeachment.

Aécio defende ainda que, ao repetir sistematicamente a narrativa de "golpe", tanto Lula quanto o Partido dos Trabalhadores tentam se valer da máxima da propaganda de Adolf Hitler: "Tentam, mais uma vez, fazer valer a máxima de Joseph Goebbels, o ministro da propaganda de Hitler, que insistia em que 'uma mentira repetida mil vezes vira verdade'. Como sociedade, temos o dever de reagir a isso, em respeito à nossa História e a diversas gerações de brasileiros vítimas dos descalabros daquele governo", disse.

Após o arquivamento da ação de improbidade pelas "pedaladas fiscais" no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou ser necessário discutir como "reparar" a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), sua correligionária, que sofreu impeachment em 2016. Em entrevista coletiva concedida em Luanda, capital de Angola, neste sábado (26), Lula disse que "é preciso ver como é que se repara uma coisa que foi julgada por uma coisa que não aconteceu".

"A Justiça Federal em Brasília absolveu a companheira Dilma da acusação da pedalada, a Dilma foi absolvida, e eu agora vou discutir como que a gente vai fazer. Não dá para reparar os direitos políticos, porque se ela quiser voltar para ser presidente, eu quero terminar o meu mandato", brincou Lula.

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Dilma, que hoje está na presidência do Banco do Brics, teve seu mandato cassado por crime de responsabilidade, justamente pela prática que ficou conhecida como "pedaladas fiscais" - o suposto uso de bancos públicos para "maquiar o resultado fiscal", o que teria atrasado, por parte da União, repasse de valores às instituições. No entanto, na semana passada, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região em Brasília manteve, por unanimidade, o arquivamento da ação em benefício da ex-presidente e de outros envolvidos, como o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega.

Contudo, apesar de Lula ter dito que a ex-presidente foi "absolvida", não foi essa a decisão do TRF-1. Ao Estadão, a advogada Vera Chemim, mestre em Direito Público Administrativo pela Fundação Getulio Vargas (FGV), disse que o Tribunal nem sequer julgou se Dilma é inocente ou não e, com base em decisão do STF, extinguiu a ação, sem resolução de mérito. "Não é uma questão de inocentar, e sim de caráter formal e processual", explicou.

Guilherme Amorim Campos da Silva, advogado e professor da Faculdade Autônoma de Direito (Fadisp), ponderou, no entanto, que a decisão pode ser interpretada como inocência de Dilma. No âmbito do Poder Judiciário, em relação a essa ação específica, "inexiste qualquer conduta dolosa provada em face da ex-presidente".

Já na sexta-feira, também durante sua visita a Angola, Lula já havia dito que o Tribunal havia "absolvido" a correligionária e que "o Brasil deve desculpas à presidente Dilma, porque ela foi cassada de forma leviana".

Os desembargadores da 7ª Turma Especializada do Tribunal Federal Regional da 2ª Região, decidiram, por unanimidade, extinguir uma ação popular que cobrava da ex-presidente Dilma Rousseff uma suposta 'reparação dos prejuízos' em razão de 'pedaladas fiscais'.

Os magistrados acolheram recurso da defesa da ex-presidenta contra decisão proferida pelo juiz Alberto Nogueira Júnior, da 10ª Vara Federal do Rio em 2020. O julgamento se deu em sessão virtual realizada no último dia 16. A ata foi publicada na sexta-feira, 25.

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"Certifico que a 7ª Turma Especializada, ao apreciar os autos do processo em epígrafe, proferiu a seguinte decisão: A 7ª Turma Especializada decidiu, por unanimidade, dar provimento ao recurso de apelação de Dilma Vana Rousseff, reformando integralmente a sentença atacada para extinguir o feito sem resolução do mérito", registra o documento.

Em primeiro grau, Nogueira Júnior acolheu parcialmente a ação popular e determinou que Dilma indenizasse a União por danos materiais e morais, em valor correspondente 'ao total do endividamento público apurado pelo Tribunal de Contas da União'.

A ação popular foi ajuizada em 2016, antes de a presidente Dilma sofrer impeachment, e também atingia o ex-vice da petista, Michel Temer. Logo no início da tramitação processual, no entanto, o juízo inadmitiu a ação contra o emedebista por considerar que 'ele não praticou quaisquer dos atos que levaram o TCU a rejeitar a prestação de contas da presidência em 2014.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso afirmou que o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016 aconteceu por falta de apoio político, não por conta do crime de responsabilidade fiscal - como foi justificado pelos parlamentares para o seu afastamento. 

“A justificativa formal foram as denominadas 'pedaladas fiscais’' violação de normas orçamentárias, embora o motivo real tenha sido a perda de sustentação política”, afirmou Barroso em artigo para a edição de estreia da revista do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), que será publicada em 10 de fevereiro.

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No texto, ainda inédito, Barroso compara com a situação do ex-presidente Michel Temer (MDB), que sucedeu Dilma. Para ele, o emedebista, acusado de vários casos de corrupção à época, só se manteve no cargo por conta do apoio do Congresso.  

“O vice-presidente Michel Temer assumiu o cargo até a conclusão do mandato, tendo procurado implementar uma agenda liberal, cujo êxito foi abalado por sucessivas acusações de corrupção. Em duas oportunidades, a Câmara dos Deputados impediu a instauração de ações penais contra o presidente”, escreveu o ministro em seu artigo.  

Luís Roberto Barroso aponta que não acredita que o afastamento de Dilma tenha sido um golpe, como o PT e seus aliados fazem questão de afirmar até hoje. Para o ministro do STF, o impeachment da petista “cumpriu a Constituição”. 

 

Pela gravidade do alcance da "pedalada" nas despesas obrigatórias na votação do Orçamento de 2021, auditores do Tribunal de Contas da União (TCU) devem tratar do tema na análise das contas do presidente Jair Bolsonaro de 2021.

Se executar um Orçamento recheado de manobras contábeis, já identificadas por técnicos da própria área orçamentária do governo e do Congresso, o presidente corre o risco de cometer crime de responsabilidade fiscal, passível de impeachment. O tema causa apreensão num momento em que o presidente está sob pressão do Congresso por causa da condução na pandemia e anúncio de trocas nos ministérios.

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A maquiagem orçamentária já está sob exame dos técnicos do tribunal depois que um grupo de parlamentares apresentou ao TCU nesta segunda-feira, 29, requerimento pedindo uma manifestação formal sobre o corte de R$ 26,5 bilhões em despesas obrigatórias, sem respaldo nas projeções oficiais do Ministério da Economia, para viabilizar aumento recorde das emendas parlamentares.

Com o Orçamento na mira do TCU, governo e lideranças do Congresso buscam uma solução para o impasse em meio a acusações de traições, ganância por emendas, irresponsabilidade e quebra de acordo na votação do Orçamento, na semana passada. O clima azedou também entre Senado e Câmara.

A pressão maior é sobre o relator do Orçamento, senador Márcio Bittar (MDB-AC), que está sendo cobrado pelo comando da Câmara a corrigir o "excesso" de emendas parlamentares, que pela primeira vez superaram a barreira de R$ 50 bilhões.

Segundo apurou o Estadão, três opções estão na mesa: a votação de um novo projeto, o ajuste pelo relator ou veto do presidente Jair Bolsonaro. A equipe econômica tem um projeto para acomodar no Orçamento R$ 16 bilhões extras em emendas, que foi o acordo inicial. Em vez disso, Bittar acrescentou quase o dobro, R$ 31,3 bilhões.

Como revelou o Estadão, Guedes e a articulação política do governo Bolsonaro aceitaram incluir no Orçamento mais R$ 16 bilhões em troca da aprovação da PEC do auxílio emergencial sem retirar o programa Bolsa Família da regra do teto de gastos, que impede que as despesas cresçam em ritmo superior à inflação.

O volume de emendas parlamentares subiu depois que o relator Bittar ampliou em mais R$ 6 bilhões a fatia de emendas que ele próprio escolhe o destino, tendo o apoio do ex-presidente da Casa Davi Alcolumbre (DEM-AP). Outros R$ 8 bilhões acomodaram emendas adicionais para o Ministério do Desenvolvimento Regional, de Rogério Marinho.

'Inexequível'

O ministro da Economia, Paulo Guedes, deu o recado que o Orçamento é "inexequível" e que é preciso fazer o ajuste correto.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), é um dos mais irritados com a decisão de Bittar de ampliar o espaço de emendas de relator, além do que havia sido acordado. Como relator do Orçamento, Bittar pode cancelar as emendas e é esse movimento que está sendo esperado desde a sexta-feira.

Lideranças cobram o ajuste do Orçamento antes que o TCU se pronuncie sobre o problema que aumentou a incerteza sobre as contas públicas em 2021.

Um dessas lideranças, que participa das negociações, disse ao Estadão que não tem como o Orçamento ficar do jeito que está e comparou a quebra do acordo pelo relator à entrega de um "cheque de confiança em branco, preenchido com o dobro do valor acertado".

A relatoria do recurso no TCU foi parar nas mãos do ministro Bruno Dantas, que determinou a apresentação de um sumário dos problemas e requisição de informações. "O que a gente espera é que o TCU analise com muita agilidade e retome ainda esta semana com parecer técnico, inclusive do risco da pedalada fiscal", disse o deputado Vinicius Poit (Novo-SP). Lideranças reclamam que Guedes não tem sustentado as negociações que fez para a aprovação da PEC do auxílio emergencial. Também há críticas no Congresso sobre a forma pouco contundente do ministro para barrar a maquiagem orçamentária que teve aval de setores do governo.

Na segunda-feira, 22, depois que o primeiro parecer do relator foi apresentado, ainda sem o corte de despesas obrigatórias, como na Previdência e seguro-desemprego, o Ministério da Economia enviou relatório de avaliação de despesas e receitas mostrando um rombo de R$ 17,5 bilhões para o cumprimento do teto de gasto. A esse buraco se soma os R$ 26,5 bilhões de corte de despesas obrigatórias feitos pelo relator, ampliando para R$ 44 bilhões a necessidade de ajuste do Orçamento.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O juiz Francisco Codevila, da 15ª Vara Federal de Brasília, aceitou denúncia do Ministério Público e colocou no banco dos réus o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, o ex-presidente do Banco do Brasil Aldemir Bendine, o ex-secretário do Tesouro Arno Augustin, e o ex-subsecretário de Políticas Fiscais Marco Pereira Aucélio. Os quatro são acusados no caso das "pedaladas fiscais" do governo Dilma Rousseff (PT).

Na mesma decisão, o magistrado questionou a 'incongruência legal' que deixou de lado a ex-presidente Dilma e o ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho. Por terem mais de 70 anos, o prazo de prescrição para os dois venceu em 2016, deixando-os de fora da denúncia apresentada pelo Ministério Público.

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A procuradoria alega que Mantega e os demais réus praticaram crimes contra as finanças públicas ao atuarem na realização de operações de crédito com recursos do BNDES e do Banco do Brasil para pagamento de programas sociais da União, mantendo assim a meta fiscal do governo.

O caso ficou conhecido como "pedaladas fiscais" e levou à rejeição das contas do governo Dilma Rousseff, além de embasar o pedido de impeachment que a destituiu do cargo em 2016.

"As elevadas dívidas contraídas pela União junto ao Banco do Brasil caracterizam, assim, operação de crédito, pois houve financiamento de despesas com a utilização de recursos de outrem", afirma o Ministério Público.

A procuradoria afirma que os acusados atrasaram o repasse a Estados e Municípios dos royalties referentes à exploração de petróleo ou gás natural. Ao aceitar a denúncia, o juiz Francisco Codevila alega ter encontrado "substrato probatório mínimo" para colocar Mantega, Bendine e os demais acusados no banco dos réus.

"Assim sendo, concluo que a peça acusatória cumpre os requisitos formais, descreve fatos que, em tese, são criminosos e está amparada em elementos de convicção que, em exame preliminar, confortam as circunstâncias de fato e de direito nela relatadas", afirma.

Apesar de ter sido o principal alvo das pedaladas fiscais, a ex-presidente Dilma Rousseff não foi denunciada pelo Ministério Público. A procuradoria alega que, no caso dela e de Luciano Galvão Coutinho, o crime prescreveu em 2016, visto que ambos possuem mais de 70 anos, reduzindo para dois anos o ato prescricional contado a partir de 2014.

O juiz Francisco Codevila ressaltou o que chamou de "incongruência do sistema legal" ao explicar que o suposto crime das pedaladas fiscais está previsto não apenas na lei de crimes de responsabilidade como também no código penal.

"Ou seja, o mesmo ato pode levar o Presidente da República a perder o cargo, no juízo político, e a pagar uma cesta básica, no juízo comum", afirma. "Evidentemente, há algo errado! Ora, se o mesmo fato pode levar à consequência extrema da perda do cargo de Presidente da República, não é razoável que seja apenado com o mero pagamento de uma cesta básica."

Segundo o magistrado, a situação decorre de uma "reforma legislativa descontextualizada do sistema legal". "O equívoco flagrante está em reprimir o crime contra as finanças públicas - que pode ensejar a perda do cargo mais importante do país - com a previsão de uma pena máxima tão baixa", afirma Codevila.

O juiz alega que devido ao curto período de prescrição (dois anos, no caso de Dilma), mesmo se a ex-presidente fosse denunciada, não acarretaria grandes consequências na esfera penal.

"Como explicar para a sociedade que a conduta que redundou na perda do cargo de Presidente da República e gerou tanta celeuma no país devido ao embate de correntes ideológicas divergentes, agora, não acarrete qualquer consequência na esfera penal? Não há como", questionou.

Defesas

A reportagem busca contato com a defesa dos acusados. O espaço está aberto para as manifestações.

O Senado Federal julga a partir desta quinta-feira (25) a presidente afastada Dilma Rousseff (PT), acusada de crime de responsabilidade. A sessão iniciou por volta das 9h20 para a arguição de oito testemunhas, sendo duas da acusação e seis da defesa. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, preside o julgamento. 

Os senadores atuarão como juízes e, ao final, decidirão se ela cometeu ou não crime de responsabilidade pela edição de decretos de crédito suplementar sem autorização do Congresso e por atrasos de repasses do Plano Safra ao Banco do Brasil. Dilma Rousseff fará sua defesa em Plenário na manhã de segunda-feira (29). 

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Acompanhe ao vivo a sessão:

A Comissão Especial do Impeachment retomou a audiência com os assistentes técnicos da perícia após interrupção para votações no plenário do Senado. O perito da defesa, Ricardo Lodi Ribeiro, reiterou que não há ilegalidade nas pedaladas fiscais ou nos decretos de crédito suplementares.

"Só é possível haver crime omissivo impróprio se houver obrigação legal de agir. E no caso do Plano Safra não há essa obrigação", defendeu o assistente da defesa. Já no caso dos decretos, Lodi defende que não há interferência da presidente na parte técnica, que avalia o impacto da decisão, por exemplo, cabendo a ela apenas a assinatura do documento.

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"Não há, no exame dos autos do processo, qualquer indício de tentativa, da Presidente da República, de alterar as manifestações técnicas, no que tange aos decretos de suplementação. A única participação da Presidente, no que está demonstrado nos autos, é a assinatura desses decretos", afirmou Lodi.

Mais cedo, a comissão ouviu também a assistente técnica da acusação, Selene Péres Nunes. E, antes disso, falaram aos senadores os três servidores do Senado que compõem a junta pericial do processo.

Nessa quarta-feira (6) a comissão vai encerrar seus trabalhos na fase probatória do processo com uma depoimento pessoal da presidente Dilma Rousseff. A sessão estava reservada para seu interrogatório, mas como a presidente preferiu não participar, o seu advogado, José Eduardo Cardozo, trará uma mensagem da petista. Ele não poderá responder a questionamentos dos senadores. Após o encerramento dessa fase, abre-se prazo para o envio das alegações finais da defesa e da acusação. (Isabela Bonfim)

Auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) concluiu que o governo da presidente afastada Dilma Rousseff fez empréstimos ilegais com dois bancos públicos em 2015.

O relatório de técnicos da corte confirma que a gestão da petista repetiu as chamadas pedaladas fiscais no primeiro ano de seu segundo mandato, uma das bases do processo de impeachment que tramita no Senado, e indica a responsabilidade de 11 autoridades da equipe econômica nas irregularidades, entre elas o ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy.

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Conforme o parecer, o Tesouro Nacional atrasou repasses devidos não só ao Banco do Brasil para bancar juros subsidiados pelo governo - o que é citado no processo de impeachment -, mas também ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). No entendimento dos auditores do TCU, esses atrasos caracterizaram operações de crédito entre as instituições financeiras estatais e seu ente controlador, a União, o que afronta a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Além das pedaladas, foram apontadas outras falhas, como o pagamento de débitos com o FGTS sem a devida autorização em lei.

As pedaladas somaram R$ 5,63 bilhões no caso do Banco do Brasil; e R$ 8,04 bilhões no caso do BNDES. As conclusões reforçam argumentos de senadores favoráveis ao afastamento definitivo de Dilma; e devem também influenciar eventual parecer da corte pela reprovação das contas de 2015 do governo da petista.

Esse processo que analisa todas as contas da União naquele ano tramita paralelamente no TCU e o relator é o ministro José Múcio Monteiro. Ele também indicou que houve pedaladas nos dois bancos. No dia 15, o tribunal já havia apontado indícios de irregularidades nos balanços apresentados pela gestão da presidente afastada, abrindo prazo para que ela apresentasse defesa.

O relatório foi encaminhado para análise do Ministério Público de Contas, que atua no TCU, e do ministro Raimundo Carreiro, relator do processo. Caberá a ele elaborar um voto a respeito, pautando o caso para julgamento em plenário. Nesta quarta-feira, 29, o gabinete do ministro não quis se pronunciar sobre o parecer.

Os auditores sugerem que a corte aprove audiências das 11 autoridades apontadas como responsáveis para que, em 15 dias, apresentem suas justificativas. Se o TCU não concordar com os argumentos ao analisar as defesas, elas poderão ser punidas com multas e até sofrer sanções mais graves, como a inabilitação para exercer cargos em comissão e funções de confiança. Essa penalidade foi proposta para os integrantes da equipe econômica acusados de "pedalar" em 2014.

Providências

Os técnicos sustentam que Levy cometeu irregularidade porque, supostamente, não tomou providências para garantir o cumprimento de dispositivos legais, o que resultou nas pedaladas do BB e do BNDES. Eles também implicam o ex-secretário do Tesouro Marcelo Saintive por "não implementar" ações necessárias à regularização de obrigações da União com as instituições financeiras.

Os técnicos também acusam três ex-diretores de Política Econômica do Banco Central de maquiar dados da política fiscal ao omitir os valores referentes às "pedaladas" no registro da dívida líquida do setor público. Trata-se de Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo, Luiz Awazu Pereira da Silva e Altamir Lopes. Além dos débitos com o BB e o BNDES, também não foram registrados passivos da União com FGTS e de tarifas devidas à Caixa.

Os técnicos do TCU indicam também a responsabilidade de oito pessoas por autorizar o pagamento de operações de crédito no FGTS sem a devida autorização em lei e desconsiderar alerta da corte de que a manobra é irregular. Além de Levy e Saintive, estão nesse grupo os ex-ministros Nelson Barbosa (Planejamento e da Fazenda) e Valdir Simão (Planejamento), além de Esther Dweck (ex-secretária de Orçamento Federal), Otávio Ladeira Medeiros (ex-secretário do Tesouro), Octávio Luiz Bitencourt e Alfonso Orlandi Neto (ex-subsecretários substitutos de Planejamento, Orçamento e Administração da Secretaria Executiva do Ministério das Cidades).

A reportagem não conseguiu localizar os indicados no caso.

Cardozo

Questionado sobre as irregularidades apontadas pelo TCU, o ex-ministro da Advocacia-Geral da União (AGU) José Eduardo Cardozo, responsável pela defesa de Dilma na Comissão de Impeachment, disse que a posição de alguns setores técnicos do tribunal "já está muito consolidada". "Temos uma divergência frontal em relação a isso. Vamos demonstrar que não há ilegalidade", afirmou.

Cardozo argumentou que, a despeito da decisão a ser tomada pela corte de contas, "as provas coletadas demonstram que não houve crime de responsabilidade" de Dilma. "Não há ato da presidente da República nem dolo. Isso não se qualifica como crime de responsabilidade em nenhuma hipótese." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Ao chegar para mais uma sessão da comissão especial do impeachment, o relator do processo, Antonio Anastasia (PSDB-MG), minimizou as acusações feitas por deputados estaduais mineiros de que ele também realizou pedaladas fiscais durante o mandato como governador do Estado de Minas Gerais entre 2010 e 2014.

"Eu já esperava esse tipo de manobra", disse o senador argumentando que o objetivo dos parlamentares que apoiam o governo é desestabilizar sua legitimidade para exercer a relatoria do processo de impeachment. "Eu não sou mais governador de Minas há dois anos. O que está em discussão aqui não é a minha atuação, mas a acusação contra a presidente", alegou.

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Como adiantou o jornal O Estado de S. Paulo, Anastasia foi questionado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-MG) sobre a abertura de créditos suplementares além dos 10% autorizados pelo Legislativo na Lei de Orçamento. Anastasia ultrapassou esta cota em todos os anos de seu mandato, com exceção de 2011, quando enviou à Assembleia Legislativa um pedido de ampliação do limite para 18,5%.

Além desta acusação, os deputados estaduais apresentaram um dossiê com documentos mostrando outras duas irregularidades na gestão Anastasia. Uma delas é o chamado Termo de Ajustamento de Gestão (TAG), uma manobra para dar legalidade à redução de investimentos previstos na Constituição para a saúde e a educação. O termo é questionado na Justiça pelo Ministério Público (MP-MG). Anastasia foi acusado ainda de extinguir o Fundo de Previdência do Estado de Minas Gerais (Funpemg) para injetar os recursos em sua administração.

O presidente da comissão, Raimundo Lira (PMDB-PB), também minimizou as acusações contra o relator. "Não vejo nada demais, o senador é um homem afável e correto. É uma história que está no passado e não tem nada a ver com o que está sendo julgado hoje", afirmou.

Deputados estaduais de Minas Gerais visitaram nesta quinta-feira, 28, o Congresso Nacional para trazer um dossiê com diferentes acusações sobre as políticas fiscais do relator do processo de impeachment no Senado, Antonio Anastasia (PSDB-MG), enquanto exercia o cargo de governador do Estado. Como adiantou o jornal O Estado de S. Paulo de hoje, os deputados apresentam denúncias de práticas semelhantes às pedaladas fiscais, objeto do processo de impeachment de Dilma Rousseff.

"Anastasia pedalou para cima, para baixo, para todos os lados. O que ele fez foi um verdadeiro malabarismo fiscal. Se ele disser em seu relatório que Dilma cometeu um crime, ele cometeu muito mais", acusou o deputado estadual Rogério Correia.

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Acompanhado dos deputados Cristiano Silveira e Jean Freire, do PT, Correia foi recebido por senadores da base do governo nesta manhã, quando apresentou três denúncias principais contra Anastasia. O objetivo é defender que o tucano não teria condições de ser relator do processo de impeachment da presidente porque responde pelas mesmas práticas.

Créditos suplementares

A primeira denúncia demonstra que Anastasia, que foi governador do Estado de Minas Gerais entre 2010 e 2014, foi contestado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-MG) por abrir créditos suplementares além da autorização do Legislativo, exatamente a mesma acusação que pesa sobre a presidente da República.

O governo de Minas tem autorização para abrir créditos suplementares de até 10% do Orçamento, mas Anastasia não cumpriu o limite em nenhum dos anos de seu governo, com exceção de 2011, quando enviou à Assembleia Legislativa um pedido de ampliação para 18,5%.

Conforme dados emitidos pelo TCE-MG, o porcentual de créditos suplementares no governo Anastasia foi de 18,26% (2011), 22,5% (2012), 22% (2013) e 21% (2014). Os deputados também acusaram Anastasia de nunca ter cumprido a meta de superávit primário, e só ter deixado as contas no azul após empréstimos que endividaram o Estado. Os créditos aprovados de 2010 a 2013 foram de quase R$ 70 bilhões, mas as contas receberam parecer pela aprovação por parte do TCE-MG.

"Trouxemos dados a partir de 2010, mas essa prática vem de 2003. Anastasia é o mentor dessa política fiscal e Aécio Neves é o executor. Eles são unha e carne", afirmou Correia. O senador Paulo Rocha (PT-PA) afirmou que esta é uma prática usada em diferentes governos do PSDB ao redor do País.

Manobra nos investimentos

Outra denúncia feita pelos deputados diz respeito ao "Termo de Ajustamento de Gestão" (TAG), uma proposta enviada em 2012, pelo então governado Anastasia, para o TCE-MG pedindo a redução dos porcentuais mínimos de investimento em saúde e educação. A decisão, que foi autorizada pelo tribunal, está sendo questionada agora pelo Ministério Público (MP-MG), que pede a anulação do TAG.

De acordo com a Constituição, 12% da arrecadação de impostos do Estado deve ser revertida em gastos na área de saúde, enquanto 25% deve ser direcionado para a educação. Durante seu governo, Anastasia não cumpriu a cota mínima, mas usou o TAG para manter a gestão fiscal dentro da legalidade, enquanto repassava um verba porcentualmente menor para a saúde e educação.

Aprovado pelo TCE-MG, o ajustamento reduziu para 9,68% o repasse para a saúde em 2012, e para 10,84% em 2013. Já na educação, a quota foi reduzida para 22,82% em 2012 e 23,91% em 2013.

Segundo cálculos do deputado Correia, Anastasia teria deixado de transferir pelo menos R$ 7,4 bilhões para a educação e outros R$ 7,8 bilhões para a saúde. Caso o MP-MG consiga na Justiça a autorização para reverter o TAG, a dívida será cobrada do Estado de Minas. A preocupação dos petistas é que, agora, o governo está sob a gestão do correligionário Fernando Pimentel (PT). "Esse é um traço da administração de Anastasia e Aécio, que cumprem as determinações fiscais com manobras e depois deixam a dívida para o Estado e gestões seguintes", acusou Correia.

Fundo de previdência

Os deputados também criticaram Anastasia por extinguir, em 2013, o Fundo de Previdência do Estado de Minas Gerais (Funpemg). Eles acusam o ex-governador de retirar o dinheiro dos trabalhadores para injetar em sua administração.

O Funpemg foi criado num regime de contribuição composta, em que parte era custeada pelo Estado e outra era descontada do salário dos servidores. Quando o fundo foi extinto, os recursos estimados em R$ 3,2 bilhões foram transferidos para o Fundo Financeiro de Previdência (Funfip), que é um fundo deficitário. De acordo com Correia, na prática, o recurso teria sido enviado para o caixa do governo.

Os deputados argumentam que o que Anastasia fez com o Funpemg é mais grave do que os atrasos de pagamento (pedaladas fiscais) da presidente Dilma ao Banco do Brasil em relação ao Plano Safra, uma das acusações do parecer de Jovair Arantes (PDT-GO) no processo de impeachment. "A presidente atrasou, mas realizou o pagamento. O Funpemg foi extinto, os trabalhadores nunca vão recuperar este dinheiro", afirmou Correia.

Relator da Comissão do Impeachment no Senado, o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) enfrentou, quando governador de Minas, questionamentos sobre a edição de decretos de suplementação orçamentária supostamente sem aval do Legislativo. Esse tipo de autorização, que visa ampliar despesas, é uma das bases do pedido de afastamento da presidente Dilma Rousseff.

De 2010 a 2014, período em que o tucano comandou Minas, técnicos do Tribunal de Contas do Estado (TCE-MG) apontaram impropriedades nos gastos. O governo podia abrir créditos suplementares de até 10% do Orçamento - em 2011, excepcionalmente, houve uma ampliação para 18,5%. Contudo, alguns tipos de despesas não eram consideradas pelo governo na composição desse limite, especialmente as obrigatórias, como os gastos com pessoal e encargos sociais. Quando levados em conta os itens excluídos da conta, a suplementação extrapolava o máximo permitido.

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Para os técnicos do TCE, a exclusão de parte das despesas afronta dispositivos das constituições do Brasil e de Minas, além da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Diante disso, embora a corte estadual tenha dado parecer pela aprovação das contas de Anastasia em todos os anos de sua gestão, houve recomendação para que o governo estabelecesse um limite próximo do real, que comportasse todas as suplementações feitas num exercício. A sugestão não foi acolhida.

Os créditos aprovados de 2010 a 2013 foram de quase R$ 70 bilhões. Em 2013, por exemplo, consideradas todas as despesas autorizadas, as suplementações corresponderam a 28% do Orçamento.

Defesa

Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa de Anastasia informou que o PSDB se pronunciaria a respeito. Em nota, o partido sustentou que "nenhuma das acusações atribuídas" ao senador se assemelham "ao que está no pedido de impeachment de Dilma". "De 2010 a 2014, todas as leis orçamentárias anuais do Estado permitiam que o governador abrisse parte do orçamento em créditos suplementares", alegou.

O PSDB informou, sem considerar as despesas "extralimite" citadas pelo TCE-MG, que os créditos suplementares estiveram abaixo dos parâmetros definidos e foram de 5,5% do Orçamento em 2010, 13,8% em 2011, 7,6% em 2012, 4,3% em 2013 e 6,5% em 2014. "Enquanto Dilma teve suas contas rejeitadas pelo TCU, todas as contas de Anastasia foram aprovadas pelo TCE e pela Assembleia Legislativa", argumentou o partido.

Sobre os gastos em saúde e educação, o PSDB alegou que, enquanto a legislação sobre o caso não era regulamentada, "várias questões foram levantadas em muitos Estados", mas o governo de Anastasia "respeitou todas as exigências legais".

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) propõe banir de funções públicas o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, o ex-titular da pasta Guido Mantega e mais três integrantes da equipe econômica nos governos de Dilma Rousseff por irregularidades referentes às "pedaladas fiscais". Conforme relatório recém-concluído por técnicos da corte, ao qual o 'Estado' teve acesso, as infrações por eles praticadas foram graves, cabendo inabilitá-los para "o exercício de cargo em comissão ou função de confiança por prazo de cinco a oito anos".

O TCU analisou as defesas apresentadas por 17 autoridades das gestões Dilma para as pedaladas, manobras que consistiram em atrasar repasses para que bancos públicos cobrissem despesas com programas sociais. Além do ministro da Fazenda e de seu antecessor, os auditores sugerem inabilitar mais três nomes do Tesouro Nacional: o ex-secretário Arno Augustin; o ex-subsecretário de Política Fiscal Marcus Pereira Aucélio; e o coordenador-geral de Programação Financeira Marcelo Pereira de Amorim. Pedem ainda a aplicação de multas de até R$ 45 mil aos cinco envolvidos e ao atual secretário executivo da Fazenda, Dyogo Oliveira.

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As conclusões dos auditores serão agora enviadas ao relator do caso, José Múcio Monteiro, ao qual cabe elaborar um voto a respeito e pautá-lo para julgamento. Não há previsão para que isso ocorra. Se o plenário da corte mantiver o entendimento dos técnicos, Barbosa terá de deixar o posto que ocupa desde dezembro do ano passado, quando substituiu Joaquim Levy. A possível condenação agravaria ainda mais as crises política e econômica.

Em julgamentos anteriores, o TCU já havia entendido que as pedaladas foram operações de crédito ilegais que afrontaram a Lei de Responsabilidade Fiscal, entre outras legislações. Esse foi o principal motivo para que o tribunal desse parecer rejeitando as contas de 2014 do governo Dilma. A corte agora analisa a responsabilidade individual dos que deram causa às irregularidades.

O relatório isenta outras 11 autoridades, entre elas o atual presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, por supostas falhas na contabilização das pedaladas. Esse entendimento já havia, no entanto, sido sinalizado pela área técnica da corte.

Barbosa e Dyogo são responsabilizados por assinar portarias que abriram prazo para pagamentos do Tesouro ao BNDES por incentivos em linhas de crédito. Eles chefiaram a Fazenda interinamente, em períodos de ausência de Mantega, no primeiro mandato da presidente Dilma. Nas defesas, eles alegaram que os atos referentes ao repasse de recursos ao banco cabiam ao Tesouro, então chefiado por Augustin.

Defesa

A maioria dos envolvidos seguiu a mesma cartilha, registrando em suas defesas que as operações eram de responsabilidade de Augustin. O governo não esperava um relatório pela condenação de Barbosa e de seu secretário executivo, fiando-se também no argumento de que eles assinaram as portarias apenas interinamente. Fontes do governo, ouvidas pelo Estado, afirmaram que as conclusões dificultam ainda mais a permanência do ministro, já alvo de bombardeio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e alas importantes do PT.

Os auditores aceitaram parcialmente as justificativas apresentadas e também propõem isentar de condenação mais dez pessoas, entre elas o presidente do BNDES, Luciano Coutinho; os ex-presidentes da Caixa, Jorge Hereda, e do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, a ministra Tereza Campelo (Desenvolvimento Social), além dos ex-titulares do Trabalho, Manoel Dias, e das Cidades, Gilberto Occhi.

Desde a virada do ano, economistas que acompanham as contas públicas dedicam artigos a um tema árido: descrever como o Banco Central estaria emprestando dinheiro para o Tesouro Nacional, o que é proibido por lei no Brasil, tanto pela Lei de Responsabilidade Fiscal quanto pela Constituição.

Em dezembro, o tal repasse teria sido decisivo para quitar "pedaladas", jargão usado para débitos protelados pelo Tesouro nos bancos públicos e autarquias. O governo negou a estratégia, mas levantamento de um grupo de economistas ligados ao Senado, obtido pelo jornal O Estado de S. Paulo, sustenta que a operação ocorreu.

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Para eles, o remanejamento de R$ 50 bilhões do Banco Central foi indispensável para o governo fechar a conta e pagar as pedaladas. A sutileza da operação está no fato de o dinheiro do Banco Central não ter sido usado diretamente nas pedaladas. O que ocorreu foi uma triangulação de recursos.

A operação teria se dado da seguinte forma: utilizando duas Medidas Provisórias e quatro portarias, a maior parte emitida às vésperas das festas de fim de ano, o governo remanejou uma série de recursos públicos para poder pagar as pedaladas e, de quebra, cobrir um déficit na Previdência.

Nesse tira daqui, coloca para lá, cerca de R$ 54 bilhões que eram destinados ao pagamento da dívida pública em dezembro tiveram outro destino. Desse total, as pedaladas receberam R$ 21,1 bilhões, que saíram do chamado colchão de liquidez, que é uma espécie de reserva do caixa público. Outros R$ 21,8 bilhões, também do colchão de liquidez, e R$ 11,7 bilhões de remuneração da conta única - que também iriam para pagar dívida pública - foram transferidos para cobrir o déficit da Previdência.

Foi preciso, então, restituir o recurso destinado ao pagamento da dívida. Segundo os economistas que fizeram o levantamento, é nesse ponto que o dinheiro do BC se tornou indispensável.

Há um detalhe importante: repasses do BC ao Tesouro precisam ser obrigatoriamente usados no serviço da dívida. Por coincidência, em dezembro, o Ministério do Planejamento emitiu uma portaria que abriu espaço para que o Tesouro tivesse acesso a R$ 103 bilhões de recursos do BC. E o Tesouro usou R$ 50 bilhões desse dinheiro.

"O que a gente constatou é que pegaram o dinheiro do colchão de liquidez, destinado à dívida, e pagaram as pedaladas; e para cobrir os juros e amortizações da dívida, eles usaram o dinheiro do Banco Central. Houve uma substituição de fontes de recursos", diz Marcos Mendes, consultor legislativo do Senado, um dos integrantes do grupo que destrinchou o pagamento das pedaladas.

Procurado pela reportagem, o BC declarou, em nota, que havia sobra de recursos no colchão de liquidez, mas não negou a operação. O Ministério da Fazenda encaminhou nota onde negou o uso do dinheiro do BC nas pedaladas, mas também não abordou a questão da triangulação, considerada a peça-chave da operação.

"Não adianta: não há como negar que a contabilidade criativa e a pedalada ainda estão sendo usadas, porque está tudo registrado", diz Felipe Salto, assessor econômico do senador José Serra, que também participou do estudo. Leonardo Cezar Ribeiro, outro assessor do gabinete, seguiu o caminho do dinheiro para identificar o uso do recurso do BC. "As portarias, MPs e o Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo, o Siafi, mostram a operação", diz.

Também participaram do levantamento os economistas José Roberto Afonso, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas, e Marcos Köhler, também assessor de Serra. Os economistas também questionam a origem do dinheiro do Banco Central. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Em mais uma derrota para o Palácio do Planalto nesta semana, o Tribunal de Contas da União (TCU) negou nesta quarta-feira (9) o recurso apresentado pelo governo Dilma Rousseff no caso das chamadas "pedaladas fiscais". Na prática, a Corte consolidou o entendimento de que o governo cometeu uma infração grave à Lei de Responsabilidade Fiscal.

Em votação rápida no plenário, todos os membros da Corte de Contas acompanharam o voto do relator, ministro Vital do Rêgo. Ficou definido que as transações têm "todos os atributos de operação de crédito vedadas pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)". A Advocacia-Geral da União (AGU) argumentava que as manobras não caracterizavam operação de crédito.

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Em abril, de forma unânime, os ministros haviam condenado o governo pelas "pedaladas" e considerado a manobra uma infração da LRF. Em seu voto na análise do recurso, Vital ressaltou que é preciso que as operações sejam incluídas na Lei Orçamentária.

O TCU ainda deu provimento parcial ao pedido do Banco Central (BC), sobre o registro das dívidas geradas pelas pedaladas nas estatísticas oficiais de endividamento. Pela decisão, não será preciso que a autoridade monetária incorpore as pedaladas na dívida pública dos anos de 2013 e 2014.

Ficou definido ainda que o FGTS e o Finame, programa operacionalizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), devem informar ao BC, a partir de agora, todas as dívidas mantidas pelo governo com eles. Essas dívidas deverão ser incorporadas pelo Banco Central na dívida líquida do setor público. Além disso, o BC deve incorporar, a partir de agora, os passivos do governo junto ao Banco do Brasil (BB), que opera programas subsidiados de crédito rural.

Essas dívidas todas, chamadas de pedaladas fiscais, serão incorporadas pelo Banco Central já a partir da próxima divulgação mensal de estatística fiscal. Há uma dúvida, porém, se essas dívidas serão incorporadas já nos indicadores de novembro, que serão divulgados no fim deste mês, ou a partir dos dados de dezembro, que somente serão anunciados em janeiro de 2016.

O julgamento desta quarta-feira foi o penúltimo passo para o fim do processo das pedaladas, que deverá ocorrer somente em 2016, com a atribuição de responsabilidade dos 17 envolvidos. Nesse ponto final, o TCU poderá decidir pela inabilitação para o serviço público de autoridades do governo, o que exigiria a demissão imediata dos citados.

Entre os envolvidos estão o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, os presidentes do BNDES, Luciano Coutinho, e da Petrobras, Aldemir Bendine, que foi presidente do Banco do Brasil, além do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega e do ex-secretário do Tesouro Nacional Arno Augustin.

Pedaladas

As pedaladas fiscais consistem em atrasos reiterados no repasse de recursos do Tesouro Nacional aos bancos públicos, ocorridos principalmente em 2013 e 2014, para o custeio de programas sociais. A prática, considerada ilegal pelo TCU, permitiu que o governo Dilma inflasse artificialmente seus resultados e melhorasse o superávit primário em determinados períodos.

O relatório da área técnica do TCU sobre o caso, que embasou os votos dos ministros do Tribunal na análise das contas de 2014 de Dilma, considerou as pedaladas um procedimento irregular.

Depois da deflagração do impeachment, o governo Dilma Rousseff deve ter, nesta semana, uma nova derrota. O Tribunal de Contas da União (TCU) vai analisar o recurso do governo no processo das "pedaladas fiscais" e deve referendar a condenação da prática, considerada pelos ministros como uma infração grave da Lei de Responsabilidade Fiscal.

O advogado-geral da União (AGU), Luís Inácio Adams, lamentou a decisão do ministro-relator do recurso no TCU, Vital do Rêgo, de pautar esse julgamento neste momento. "O ambiente atual é muito ruim, não sei se seria o momento mais adequado para se debater isso com tranquilidade, mas respeito a decisão do relator", disse Adams em entrevista concedida ao jornal O Estado de S. Paulo na Sexta-feira (4).

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"A decisão do plenário pode levar a derrota, que, aliás, considerando os precedentes, acho até provável. Mas isso não me causa espécie. Ainda está pendente o julgamento das responsabilidades, o que, em última hipótese, será levado à Justiça", afirmou Adams.

O relator do recurso do governo no TCU, Vital do Rêgo, foi senador pelo PMDB antes de assumir o cargo no tribunal. Ele deu indicações internas de que seguirá, em seu voto, a visão da área técnica do TCU. Neste sentido, o governo perderá. O relator, que deve ser seguido pelos colegas, vai reforçar o entendimento do tribunal dado em abril. Naquele mês, de forma unânime, os ministros condenaram o governo pelas "pedaladas" e consideraram a manobra uma infração da Lei de Responsabilidade Fiscal. Vital também deve decidir o que o Banco Central deve fazer - se registrará ou não as dívidas geradas pelo governo com as pedaladas nas estatísticas oficiais de endividamento.

Alvos

O julgamento que ocorrerá na quarta-feira será o penúltimo passo para o fim do processo das pedaladas, que deve ocorrer somente em 2016, com a atribuição de responsabilidade dos 17 envolvidos. Neste ponto final, o TCU pode decidir pela inabilitação para o serviço público de autoridades do governo, o que exigiria a demissão imediata dos citados.

Entre os envolvidos estão o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, os presidentes do BNDES, Luciano Coutinho, e da Petrobras, Aldemir Bendine (que foi presidente do Banco do Brasil), além do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega e do ex-secretário do Tesouro Nacional Arno Augustin. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O julgamento final das pedaladas fiscais do governo Dilma Rousseff pelo Tribunal de Contas da União (TCU), ocorridas em 2014, pode ficar para 2016. A corte tem um recurso do governo para analisar, além da atribuição de responsabilidade a 17 autoridades envolvidas no caso, e o calendário do órgão dificulta a conclusão dos trabalhos antes do recesso de fim de ano, para alívio do Planalto.

Condenado por unanimidade pelos ministros do TCU em outubro pela prática de atrasar propositalmente o repasse de recursos a bancos públicos no ano passado, o governo entrou com um recurso para suspender os efeitos administrativos do julgamento e negociar uma forma de pagamento dessas dívidas atrasadas com os bancos públicos. A reprovação das contas de 2014 também depende de análise do Congresso, que dá a palavra final sobre o caso e também deixará qualquer definição para 2016 em diante.

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No TCU, os trabalhos serão feitos em duas partes, e a análise do recurso do governo deve ocorrer antes do julgamento das autoridades. O relator do processo em que o Planalto contesta a reprovação das contas, ministro Vital do Rêgo, está desde terça-feira em viagem oficial à Austrália, e somente retornará à corte de contas para as duas últimas sessões do ano, previstas para os dias 2 e 9 de dezembro.

Mais importante que essa definição será a segunda parte do julgamento: a atribuição de responsabilidade das 17 autoridades do governo envolvidas no processo, entre elas o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa; e os presidentes do Banco Central, Alexandre Tombini; do BNDES, Luciano Coutinho; e da Petrobras, Aldemir Bendine, que no ano passado era presidente do Banco do Brasil.

Todos podem ser inabilitados para atuar na administração federal, caso o TCU siga a pena máxima, o que exigiria a demissão de todos. Essa questão mais dramática, no entanto, só poderá ocorrer após a análise do mérito das pedaladas, que faz parte do recurso do governo a ser analisado por Vital do Rêgo.

À vista ou parcelado

A análise do recurso determinará a forma como o governo vai pagar as pedaladas de 2014. Como relator, Vital indicará a forma de pagamento das pedaladas - à vista ou de forma parcelada. Em mensagem ao Congresso, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, informou que a conta total devida aos bancos públicos e ao FGTS ao final de 2015 será de R$ 57 bilhões. A Secretaria de Recursos (Serur) do TCU entende que o Tesouro Nacional deve encaminhar uma proposta de pagamento dessas pedaladas, um posicionamento que agrada o governo.

Ainda falta a manifestação do Ministério Público de Contas, que está pendente, para que Vital apresente seu voto. Vital pode ou não seguir os auditores da Serur ou o Ministério Público em voto que também será apreciado pelos demais ministros.

Vital aguarda a manifestação do procurador responsável pelo caso, Julio Marcelo de Oliveira. Mesmo que Oliveira conclua seu parecer, o julgamento só ocorrerá após o retorno do ministro da viagem à Austrália.

Respiro

O fato de haver apenas duas sessões do tribunal após a volta de Vital ao Brasil anima o governo, que aposta num esfriamento da turbulência política e da pressão pelo impeachment de Dilma. O principal pedido de afastamento da presidente no Congresso, feito pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Jr., está sustentado justamente nas pedaladas, sob alegação de se tratarem de crime de responsabilidade. O recesso do TCU tomará a metade final de dezembro e todo o mês de janeiro.

Após o julgamento do recurso, o tribunal poderá colocar em pauta o julgamento das autoridades, cujo relator é o ministro José Múcio. Neste caso, Múcio vai deliberar sobre a posição do Ministério Público de Contas, que pode pedir diferentes condenações para as 17 autoridades. Além dos atuais ministros e presidentes de instituições públicas, estão envolvidos no caso o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega e o ex-secretário do Tesouro Arno Augustin. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

De última hora, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, incluiu na proposta de mudança da meta desse ano, apresentada ao Congresso, um novo calote, no valor de R$ 1,5 bilhão, com a Caixa, que ainda sequer foi apontado pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Trata-se de uma dívida com tarifas cobradas pela instituição financeira na prestação de serviços à União e que foi incluída na conta de "pedaladas fiscais" totais de 2015.

A dívida foi descoberta apenas neste ano pela nova equipe econômica e ainda não houve pagamento total do valor. Esse passivo não consta do acórdão do TCU de abril, quando em julgamento, os ministros condenaram a prática das "pedaladas", de forma unânime. Com as pedaladas, o governo adiou as transferências para bancos públicos pagarem programas federais subsidiados.

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A nova conta apresentada por Levy é de um passivo de R$ 882 milhões ao final de 2014. Apenas as obrigações de 2015 somam R$ 981 milhões - que, adicionados ao que está pendurado de 2014 e não foi totalmente pago neste ano, além de encargos, atinge o saldo total de R$ 1,5 bilhão.

O jornal O Estado de S. Paulo apurou que Levy não pagou totalmente a fatura por conta do quadro de grave restrição fiscal. Entre janeiro, quando assumiu, e o mês passado, Levy pagou R$ 518 milhões à Caixa, a título das tarifas cobradas pela instituição por serviços prestados. Mesmo assim, não foi suficiente para cobrir a dívida herdada do antecessor Guido Mantega e também para zerar a dívida gerada neste ano.

No projeto de lei que altera a meta fiscal deste ano, relatado pelo deputado Hugo Leal (PSC-RJ), há a previsão de um abatimento de até R$ 55 bilhões em passivos junto ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Caso o projeto seja aprovado, essa previsão permitirá ao governo dar a meta como "cumprida" mesmo se atingir um déficit fiscal total de R$ 117,9 bilhões.

Conta

O ministro Levy, no entanto, encaminhou à Comissão Mista de Orçamento (CMO) do Congresso uma proposta com uma conta ainda maior de pedaladas para o ano. Essa conta é de R$ 57,03 bilhões em "estoques a pagar previstos para 31 de dezembro deste ano". O aumento de R$ 55 bilhões para R$ 57 bilhões ocorreu justamente para incorporar essa nova dívida.

Na visão do ministro da Fazenda, segundo apurou o Estado, essa dívida não constitui uma operação que fere a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), pois se trata de um atraso no pagamento. Desta forma, o entendimento que a Fazenda trabalha junto ao TCU é de um "resto a pagar", caso a dívida não seja regularizada até o término do exercício. Os restos a pagar são despesas previstas em orçamentos anteriores que podem ser liquidadas em exercício corrente.

No TCU, por outro lado, a percepção é que Levy se antecipou à uma eventual indicação da Corte de Contas de que haveria uma nova pedalada fiscal em sua gestão. Sobre esse calote das tarifas cobradas pela Caixa há, por enquanto, uma representação do Ministério Público de Contas (MPC), de outubro, que considerou a prática uma pedalada. Mas não há nenhum pronunciamento oficial do TCU sobre isso.

Levy negocia com o Tribunal a forma de pagamento de todas essas dívidas. A estratégia, segundo um dos envolvidos nas negociações, é fazer o contato com o TCU de forma "olho por olho", para evitar mais desgastes. Procurada para falar sobre as dívidas, a Caixa não respondeu. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O ministro Raimundo Carreiro, que será o relator de processo no Tribunal de Contas da União (TCU) que investigará as "pedaladas fiscais" do governo Dilma Rousseff em 2015, determinou na quarta-feira (14) que a área técnica da corte faça inspeção no Tesouro Nacional, no Banco Central e no Ministério das Cidades, além de três instituições financeiras controladas pela União (Caixa, BNDES e Banco do Brasil), para confirmar a repetição das irregularidades.

A nova auditoria atende a um pedido do Ministério Público de Contas (MPC), que confirmou a prática das "pedaladas" no primeiro semestre de 2015, após reportagem publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo. Essas manobras, que levaram o TCU a dar parecer pela reprovação das contas do governo em 2014, consistem em atrasar repasses do Tesouro aos bancos públicos para que eles paguem despesas de programas sociais obrigatórios.

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O tribunal entende que, ao fazer esses pagamentos com recursos próprios, as instituições concedem empréstimos irregulares ao governo, seu ente controlador, o que é vedado pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).

Conforme o MPC, o governo já "pedalou" em seis meses, este ano, o equivalente a R$ 40 bilhões, mais que durante 2014 inteiro. Num duro despacho, Carreiro sustenta que o governo estaria repetindo ilegalidades. "Verifica-se que continuam a ser praticados pela União no presente exercício financeiro atos de mesma natureza daqueles já examinados e reprovados (pelo TCU), ou seja, operações de crédito vedadas pela LRF", escreveu.

Na decisão, o ministro alega que o governo age com "imprudência" ao manter as manobras apenas se fiando na possibilidade de o TCU, eventualmente, acolher recurso contra a condenação em processo que considerou as "pedaladas" irregulares. "O gestor prudente, ante tão clara e categórica indicação da ilegalidade de uma conduta pela corte de contas, deve promover de imediato todas as medidas a seu alcance para restauração da legalidade no âmbito da administração, para o exato cumprimento da lei", criticou.

Carreiro argumenta que o governo estaria autorizando gestores a cometer ilegalidades até a apreciação final de um processo no qual já houve condenação, o que, no seu entendimento, é um "absurdo".

O TCU vai analisar, além das "pedaladas" de 2015, se o Banco Central está registrando créditos da Caixa com a União no cálculo do resultado fiscal e do endividamento público.

A auditoria não tem data para ser concluída. Se o TCU confirmar as irregularidades, elas podem implicar a condenação de autoridades da atual equipe econômica de Dilma e reprovação das contas referentes a 2015. Um novo revés na corte também teria impactos na análise de um pedido de impeachment da petista pelo Congresso.

Quinze meses se passaram desde que o Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, e o jornal O Estado de S. Paulo publicaram a primeira de uma série de reportagens que desvendaram as chamadas "pedaladas fiscais" do governo Dilma Rousseff. Até o julgamento histórico de quarta-feira (7) do Tribunal de Contas da União (TCU) que rejeitou as contas da presidente, a prática de atrasar o repasse de recursos do Tesouro para os bancos públicos para maquiar as contas do governo se transformou de debate técnico a político.

Os erros do Ministério da Fazenda sob o comando de Guido Mantega e da Advocacia-Geral da União (AGU) na condução do processo foram muitos e custam caro agora. Os últimos "tiros no pé" foram a tentativa de barrar o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) e de questionar a isenção do relator, ministro Augusto Nardes.

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Desde o início, o governo subestimou a capacidade do TCU de fazer um relatório robusto, técnico e consistente sobre as pedaladas. Não foram poucas as manifestações privadas do ex-secretário do Tesouro Nacional Arno Augustin - principal mentor das pedaladas - de que a decisão do TCU de investigar os atrasos com base inicialmente em reportagens da imprensa se tratava nada mais do que uma sobreposição do trabalho de fiscalização do tribunal.

O TCU não estaria fazendo nada mais do que a sua obrigação na avaliação da equipe econômica de Dilma. Augustin e Mantega não viram nas diligências abertas pelo TCU um risco maior.

Talvez se o governo tivesse tratado com mais urgência a correção de todas as práticas agora condenadas e apontado mais transparência logo de início, o resultado do processo tivesse sido outro. Mas as eleições presidenciais estavam no meio do caminho.

O início difícil do segundo mandato da presidente também fez com que mais uma vez - nos primeiros meses do ano - tivesse havido negligência com a condução do processo no TCU.

É preciso reconhecer que o Banco Central teve papel importante nesse processo. Se inicialmente o BC fez vista grossa ao que estava acontecendo na contabilidade pública, depois - pressionado a dar respostas à imprensa - foi mais duro na cobrança de que o Tesouro começasse a regularizar os atrasos, o que começou de fato entre agosto e setembro do ano passado.

É bem verdade que até hoje não houve a correção de todos os atrasos. E esse processo dificulta o ajuste nas contas públicas e agrava a crise de confiança na economia brasileira.

Agora, o governo terá de conviver com uma ameaça real - e com respaldo técnico - que poderá embasar um pedido de afastamento de Dilma por crime de responsabilidade no Congresso. Diante de uma base aliada revoltada, já insatisfeita, mesmo após uma recém-concluída reforma ministerial, o risco para a presidente não é pequeno.

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