O promotor de justiça Marcellus Ugiette foi afastado nesta segunda-feira (6) de suas funções, em portaria publicada no Diário Oficial, por suposta corrupção passiva que favorecia uma facção criminosa que atuava fortemente em Pernambuco, Alagoas e Rio Grande do Norte, cometendo estelionatos e furtos qualificados. O nome do promotor foi constatado no percurso da investigação Ponto Cego, desencadeada na última sexta-feira (3) pela Polícia Civil de Pernambuco, que direcionou o caso para a competência do Ministério Público do estado, responsável por investigar a situação de possível envolvimento de Ugiette, já que ele tem foro privilegiado.
Marcelos Ugiette é titular da 19ª Promotoria de Justiça Criminal da Capital. Segundo o promotor de justiça Ricardo Lapenda, foram encontrados elementos suficientes de que poderia haver corrupção passiva por parte de Ugiette, que estaria atendendo os pedidos dos advogados da organização criminosa. "Ele passou a auxiliar alguns pedidos como transferência de presos para que os elementos ficassem juntos", afirma Ricardo. Tal ação favorecia com que os bandidos continuassem integrando e comandando, mesmo dentro do sistema prisional, a facção.
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Segundo a promotoria, as investigações contra Marcellus Ugiette vão ser aprofundadas nesta semana, tendo em vista que já foram recolhidos da casa do suspeito celulares, pendrivers; com o afastamento do promotor de suas funções. "Há indícios de que ele obtinha vantagens financeiras (por conta de sua possível atuação de favorecimentos), inclusive com recebimento de presentes", afirma Ricardo Lapenda. O promotor ressalta que não tem informações se Ugiette tinha contato diretamente com os presos, "mas com os advogados nós vemos que efetivamente havia uma troca de interesses (entre Marcellus Ugiette e os dois advogados já identificados)", salienta Lapenda.
O MPPE se diz surpreso por conta do histórico de Ugiette, que é bastante conhecido pela sua atuação contra os descasos do sistema prisional de Pernambuco, tendo sido ele denunciante de vários casos de superlotação dos presídios, más condições de vida dos detentos, dentre outras coisas. "Ele vai ter que se defender sobre essas acusações que hoje estão sendo investigadas. Estão sendo investigados fatos que caracterizam o possível cometimento de um crime", pontua o promotor de justiça Lapenda.
Participação de advogados
Os dois advogados da organização criminosa foram identificados quando começaram a tentar criar situações para beneficiar os alvos da investigação. "Observamos também que eles não só se limitavam a realizar o papel de advogados. Dentre os dois identificados, um escondeu dinheiro ilícito na sua conta bancária e outro participou da venda de mercadorias ilícitas fruto de um dos golpes que eles praticavam”, informa a delegada Viviane Santa Cruz.
Ex-policial
Um ex-policial também atuava para tentar impedir que inquéritos policiais fossem concluídos contra os integrantes da quadrilha, que estavam presos. "Ele cobrava (por esse 'serviço') alegando que o pagamento a ele iria impedir a realização de qualquer punição contra a facção", explica a delegada.
Entenda a Operação Ponto Cego
A 31ª operação de repressão qualificada de Pernambuco foi desencadeada na manhã da última sexta-feira (3), pela Polícia Civil do Estado. A operação iniciou as investigações em janeiro de 2018, com objetivo de prender integrantes de uma organização criminosa envolvida no crime de estelionato, corrupção ativa, corrupção passiva, lavagem de capital, advocacia administrativa (influência junto aos órgãos públicos e outras instituições) e furto qualificado.
Segundo a Polícia, foram cumpridos 19 mandados de prisão preventiva, destes, dois presos foram transferidos para o Regime Disciplinar Diferenciado, além dos 16 mandados de busca e apreensão domiciliar. O delegado Nelson Solto confirmou que as investigações começaram há sete meses e que o grande foco da quadrilha era a prática de estelionato e lavagem de dinheiro.
No esquema, alguns deles tinham atividades, em tese, lícitas para realizar a lavagem de dinheiro. "Eles criavam mercadinhos e outras atividades comerciais para permitir a lavagem de dinheiro criminoso", diz Viviane Santa Cruz. Buscas e apreensões foram realizadas em vários estados como Alagoas, Rio Grande do Norte e Pernambuco, principalmente na Região Metropolitana do Recife.