O Pernambucano 2017 começou diante de uma grande incerteza sobre o futuro da competição. Logo nas primeiras rodadas do torneio, o que pôde ser visto nos estádios do Estado foi uma grande quantidade de espaços vazios nas arquibancadas. A pior média desde que o Estadual adotou o atual formato de hexagonais, com apenas 2.890 torcedores presentes por jogo. O cenário abriu o debate sobre os prejuízos gerados pelo estadual para as equipes que o disputam e se ele segue sendo uma competição viável no atual modelo.
Enquanto alguns pedem pelo fim da competição, outros acreditam que o formato precisa ser reavaliado em busca de algo que seja mais atrativo para clubes e torcida. Entre os dirigentes dos considerados grandes do torneio, um consenso é de que é preciso rediscutir os caminhos do Pernambucano como competição e como atrativo para todos os envolvidos. No momento, o atual modelo e as atuais taxas de ocupação no estádio acabam causando mais prejuízos do que lucros aos clubes.
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Na visão do vice-presidente do Santa Cruz, Constantino Júnior, os clubes hoje têm praticamente pagado para entrar em campo, devido à quase inexistente renda dos jogos, as taxas que acabam sendo pagas a FPF, e as cotas de televisão com valores abaixo de demais estaduais. “O Pernambucano gera prejuízo demais, porque os públicos têm diminuído bastante e os custos do jogo têm se elevado pelas exigências cada vez maiores e pelas taxas da Federação Pernambucana, que são as mais caras do Brasil. Acredito que dessa forma acaba se tornando um produto inviável e se for ver o televisionamento do pernambucano também é muito baixo. A gente recebe aqui um quarto do que recebe um pequeno do Rio de Janeiro, isso o clube grande, imagine os pequenos. Praticamente temos que pagar para jogar porque não é lucrativo”, comentou, em entrevista ao LeiaJa.com.
O diretor de futebol do Náutico, Marcílio Sales, também ressalta o prejuízo que é causado aos clubes pela baixa média de torcedores, porém mesmo com a queda sendo cada vez mais gradativa a cada edição do estadual, o dirigente vê a acentuação dela nesta temporada ligada a crise econômica do país. “É prejuízo total para o futebol, não só financeiro, mas de insucesso do evento. Mas tenho, particularmente, a opinião que leva em consideração o período da economia brasileira somado ao fato de estarmos numa época festiva na região que é o carnaval, então o futebol acaba ficando em segundo plano” afirmou à reportagem.
Ambos concordam que o modelo de estadual precisa ser revisto, não só como fórmula de disputa, mas com relação a situações que cercam a competição. “O público pernambucano gosta de futebol, mas tem um conjunto de fatores que acaba levando a essa queda como violência, preço de ingresso, crise econômica e horário de jogos. Acho que precisa ser feito um estudo com todos os clubes, a federação e a imprensa, ampliar o debate realizando um fórum adequado, e a gente apontar soluções para minimizar essa diminuição de público e trazê-lo de volta aos estádios”, ressalta Constantino. “É uma situação que precisa ser estudada, ver essa questão de datas, de insucessos, e o que se pode fazer para deixar a competição atrativa. Está na hora da federação provocar um fórum com os clubes, não só os grandes, mas os intermediários e pequenos e realmente escutar os problemas de cada um. O que motiva qualquer campeonato é ele ser forte, bem disputado, e trazer perspectivas de bons confrontos”, complementa Marcílio.
Recentes declarações do presidente da FPF, Evandro Carvalho, jogam a culpa do insucesso do estadual na Copa do Nordeste, por conta da redução de datas que o Pernambucano sofreu em consequência do aumento da duração do regional. A explicação, contudo, não é aceita pelo vice-presidente do Santa Cruz, que aponta que há fatores muito maiores para que o Estadual esteja registrando baixas médias. “Não concordo com essa opinião do Evandro, porque se o campeonato for atrativo, se tiver horário bom, vai ter público. Como disse, é um conjunto de fatores que tem que ser levado em consideração. Achar que o pernambucano está perdendo espaço por conta do nordestão é balela”, critica.
Tendo no extinto programa Todos Com a Nota um dos maiores responsáveis pelas antigas boas médias registradas no estadual, uma saída sempre questionada é a utilização de ingressos promocionais por parte dos clubes. A ação, porém, não pode ser realizada em todas as partidas devido aos custos que o clube teria que arcar junto a FPF por jogo. Marcílio acredita que esse é um dos pontos que precisa ser revisto pela entidade. “O regulamento do campeonato prevê algumas coisas quanto a ingressos promocionais e acho que isso tem que ser reavaliado. Hoje, essa reavaliação da competição a nível local, envolvendo os clubes e seus sócios, por exemplo, é necessária para buscar saber onde esta a razão desses insucessos”, aponta.
A reportagem não conseguiu entrar em contato com a direção do Sport para comentar a situação do Pernambucano. Em sua estreia em casa diante do Central, o clube registrou apenas 3.821 presentes na Ilha do Retiro. Porém, antes mesmo do início da competição, o clube se posicionou colocando o estadual em segundo plano, e assim mostrando-se desinteressado na disputa do torneio.
Visão da FPF
Procurado, o presidente da Federação Pernambucana, Evandro Carvalho, reiterou sua posição de que a Copa do Nordeste influencia nos públicos dos estaduais e explicou sua posição, destacando também que o torneio regional sofre com redução de público. “Nós vemos uma redução de público também na Copa do Nordeste, ela começou com uma media de nove mil e hoje ela está com cinco mil, mas o problema é que a Copa do Nordeste passou de 16 clubes para 20, e de um mês e meio para quatro meses, virou um campeonato, então estamos fazendo dois campeonatos simultâneos com os mesmos clubes envolvidos jogando quarta e domingo. Isso atrapalha a rentabilidade das duas. A CBF também detectou isso e por isso teremos uma reunião na próxima semana com a CBF e a televisão para resolver”, declarou.
Uma das sugestões propostas por ele é de que a partir do próximo ano, o Nordestão passe a ser realizado em outro período. “Em 2018 vamos ter a Copa do Mundo e sugeri a CBF que fizesse a Copa do Nordeste no mês de julho, porque vamos estar parados. Série A e B não terão jogos e a gente pode fazer os jogos nessa época. Vai empolgar a Copa do Nordeste e vai empolgar o Estadual, o problema é que não pode ficar como está”, complementa Evandro.
Quanto ao formato do Pernambucano, o presidente da Federação afirma que a alteração dele hoje é improvável. “Não existe a possibilidade de termos outro formato. Só temos esse porque não temos data, temos 12 clubes e não há como fazer um campeonato com todos porque não. A gente consegue fazer com seis clubes, porque temos a fase anterior, somos o campeonato com menor numero de clubes, todos os outros estados têm entre 10 e 16 clubes. Então, não há como mudar. A não ser que a CBF pegue a Copa do Nordeste, coloque no segundo semestre e aí fazemos o campeonato como era antigamente, com dois turnos ida e volta, mas não há como atualmente”, ressaltou negando a possibilidade proposta pelos dirigentes da realização de um debate em busca de novos caminhos para o Pernambucano.
O dirigente ainda rebate as declarações de Constantino Júnior de que os times pernambucanos tem praticamente pagado para jogar o estadual. Evandro afirma com veemência que a competição não tem dado prejuízos e não vê os times locais com cotas baixas de televisionamento. “Isso ocorre em todos os estados do Norte e Nordeste, mas o único campeonato que não dá prejuízo é o pernambucano. Nos outros é sim verdade, os clubes pagam para jogar, pois nenhum tem rentabilidade, só o pernambucano e isso por conta da televisão. Nós temos um contrato vigente com ela que é o sexto maior do Brasil, superior ao da Bahia, da Paraíba, de Goiás, nós só somos inferiores a são Paulo, Rio, Minas, Rio Grande do Sul e Paraná”, concluiu.
Visão do Interior
Não é só na capital que os públicos têm caído. No interior do estado o cenário é o mesmo e nem a presença dos grandes clubes tem auxiliado no aumento de torcedores nos estádios. Com uma média de mil torcedores na primeira fase, o Central teve diante do Náutico um crescimento tímido de público, em relação as partidas anteriores. O borderô do Antônio Inácio registrou apenas 2.060 torcedores na primeira partida do campeonato em que a Patativa recebeu um dos times considerados grandes. Os números frustraram o presidente do clube Lícius Cavalcanti. “Nós tínhamos uma expectativa de mais público contra o Náutico por ser um jogo contra um time grande. Então esperávamos por uma renda melhor”, contou ao LeiaJa.com.
Se para os grandes há o prejuízo por conta dessas baixas médias, Lícius coloca que para os pequenos do Estado essa dificuldade financeira é aumentada e sem a receita dos jogos os clubes do interior se esforçam para manter os compromissos em dia. “O Central tem uma grande torcida, mas para ir a campo ela é abaixo de mil pessoas, então assim não temos um auxílio para folha de pagamento e para as despesas. É uma coisa muito difícil”, lamenta. “Se cai a renda, se a torcida não vai a campo, eu não sou uma pessoa de posses, então não temos como ter um Central forte”, completou.
Além dos motivos já destacados pelos demais dirigentes, como violência, ausência de datas entre outros, o presidente da patativa acredita que o televisionamento dos principais jogos da competição acaba evitando com que torcedores saiam de casa para assistir a partida do estádio. Além de trazer uma visão mais pessimista da situação. “Outra coisa que geralmente diminui o público é que os melhores jogos geralmente são televisionados e a TV atrai a pessoa a ficar em casa, no seu conforto. Somando com essa onda de violência, as pessoas deixam de ir a campo. A tendência é que isso se agrave mais ainda. Pelo que estou vendo a perspectiva não é boa, e tenho certeza que se os times do interior de Pernambuco vivem uma situação financeira ruim hoje, ela vai piorar mais para frente”, finalizou.