Tópicos | Venezuelanos

Cerca de 100 latino-americanos, entre eles 40 crianças, encontram-se acampados diante da prefeitura de uma cidade próxima de Paris, depois de terem sido expulsos de um prédio que ocupavam. Entre os que se encontram no acampamento, estão colombianos, venezuelanos, peruanos, bolivianos e cubanos.

Nos últimos nove meses, eles fizeram seu lar em um armazém abandonado na cidade de Saint-Ouen, fugindo da pobreza e da falta de oportunidades em seus países. Em 30 de julho, em virtude de uma decisão judicial, foram expulsos do local.

Desde então, 130 pessoas, sendo 40 crianças e várias grávidas, vivem em barracas de campanha diante da prefeitura da cidade. Pela manhã, precisam desfazer o acampamento antes da chegada dos policiais. Os imigrantes contam com a ajuda de voluntários e com doações de moradores.

"Sabemos que somos imigrantes e, infelizmente, alguns não se portam muito bem. Mas o prefeito não nos conhece, não sabe que tipo de pessoas somos. Gostaríamos que nos conhecesse", afirma Mauricio Gómez, um colombiano que atua como pastor da comunidade improvisada.

A prefeitura de Saint-Ouen diz que não corresponde a ela cuidar dos imigrantes. Alguns estão na condição de asilados, mas a maioria se encontra em situação ilegal. O município alega que foi preciso desalojá-los do armazém que ocupavam, porque está prevista a construção de uma escola no local.

Procuradas pela AFP, as autoridades regionais disseram que se ofereceu alojamento em hotéis para 29 famílias com filhos, à espera de uma solução mais definitiva.

O pai de Nastacha Hernandez morreu e ela não foi capaz de se despedir: como muitos venezuelanos nos Estados Unidos, a jovem não conseguiu renovar seu passaporte em meio a uma crise intensificada pela ruptura das relações entre os dois países.

"Sinto-me frustrada, com raiva", disse Hernandez, que não via o pai há seis anos quando este foi internado.

Muitos venezuelanos se encontram num "limbo" desde a ruptura das relações diplomáticas entre os dois países, e agora depositam esperanças na insurreição de um grupo de militares contra o governo de Nicolás Maduro na terça-feira.

"Tenho fé, porque pela primeira vez em 20 anos temos os olhares da comunidade internacional voltados para a Venezuela", disse à AFP Maria Eugenia Montilla, que veio com sua filha para protestar em frente à embaixada de Caracas em Washington, atualmente tomada por ativistas pró-Maduro.

Sua filha Karla Monagas, de 27 anos, teve que deixar o país natal por participar em protestos em 2014. Ela vive atualmente em Maryland, mas seu passaporte vencido ameaça seu status migratório.

"Minha melhor opção agora é que, antes que meu visto expire, um juiz me conceda a entrevista e assim revisem o meu caso", explicou Karla.

Mas, se isso não acontecer, ficará em situação irregular.

- "Uma das coisas mais fortes" -

Há pouco mais de três meses, o presidente venezuelano Nicolás Maduro rompeu relações com os Estados Unidos, depois que o governo de Donald Trump reconheceu o presidente do Parlamento, Juan Guaidó, como presidente interino.

Desde então, a situação dos venezuelanos nos Estados Unidos tornou-se mais complicada.

Os consulados venezuelanos nos Estados Unidos fecharam e Maduro ainda não designou um país que cuide de seus interesses, como fez Washington, que delegou este mandato à Suíça.

"Não poder dar um último adeus a seu pai é uma das coisas mais fortes que há", contou uma mulher de 39 anos, que pediu para ser identificada como Maria por medo de represálias, e que passou pela mesma tragédia que Nastacha Hernandez. Seu pai morreu na Venezuela em setembro de 2018.

"Não pude ir dar meu último adeus por falta de passaporte".

Em meio ao drama, surgem as máfias que podem cobrar até US$ 1.000 por uma extensão do passaporte, que nada mais é do que um adesivo que estende sua validade por dois anos.

A Venezuela atravessa a pior crise de sua história moderna e, desde 2015, quase 3 milhões de venezuelanos emigraram em busca de melhores condições de vida. Estima-se que haja entre 400.000 e 600.000 nos Estados Unidos, segundo pesquisas americanas e dados da delegação de Guaidó.

Segundo a agência de refugiados da ONU, ACNUR, mais de 72.000 venezuelanos solicitaram asilo nos Estados Unidos.

Guaidó, reconhecido como presidente interino por 50 países, nomeou como seu embaixador em Washington Carlos Vecchio, que até agora não conseguiu reabrir a rede consular.

"Passaportes, extensões, dinheiro (...) Nosso trabalho é reabrir os consulados para que os venezuelanos tenham acesso a esses serviços", escreveu Vecchio no Twitter no final de fevereiro.

A delegação de Guaidó tomou o consulado em Nova York, mas em Washington a sede ainda é ocupada por chavistas.

A AFP visitou este prédio de quatro andares localizado no elegante bairro de Georgetown e constatou que os processos parecem ter sido apressadamente abandonados, embora muitos discos rígidos tenham sido extraídos e armários esvaziados. Muitos passaportes foram empilhados nas mesas.

"O regime Maduro desmantelou e fechou toda a rede consular da Venezuela nos Estados Unidos e em alguns outros países", disse à AFP Gustavo Marcano, ministro conselheiro da delegação de Guaidó nos Estados Unidos.

"Obviamente, o regime não está interessado em fornecer qualquer serviço consular, porque há milhões de venezuelanos que tiveram que emigrar".

Onze países da América Latina - Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, México, Panamá, Paraguai, Peru e Uruguai - aceitam a entrada de venezuelanos com passaportes vencidos.

Washington não anunciou medida neste sentido até agora.

Há um projeto no Senado para proteger os migrantes venezuelanos sob a forma de status de proteção temporária (TPS), que protege as pessoas de países que sofrem conflitos ou crises humanitárias.

Embora em índices menores que no vizinho Equador, a xenofobia já preocupa autoridades peruanas, migratórias e a comunidade venezuelana no Peru. De acordo com uma pesquisa feita pelo instituto Ipsos, 55% dos moradores de Lima são contra a chegada de mais venezuelanos ao país.

A cidade, segundo a Organização Internacional para Migrações (OIM), recebe 65% dos imigrantes venezuelanos que chegam. A maioria aponta o medo de perder o emprego e o fato de os refugiados aceitarem trabalhar por salários menores como motivo para ser contra receber os que fogem do chavismo.

##RECOMENDA##

Jonathan Terán saiu de Barinas, terra natal de Hugo Chávez, com mulher e filho pequeno e o sonho de chegar à Argentina. Atravessou a pé, de carona e com o pouco dinheiro que conseguia com bicos, boa parte de Venezuela, Colômbia e Equador até chegar a Tumbes, no norte do Peru, onde encontrou um abrigo para refugiados. Ali, um grupo de peruanas emboscou sua mulher para agredi-la com paus e pedaços de pedra. Acharam que ela era uma venezuelana que havia "roubado" o marido de uma peruana da cidade.

"Confundiram ela com outra moça e começaram a agredi-la. Deixaram uma cicatriz em seu rosto", contou Terán, que vive em um abrigo de Lima mantido pela Igreja em parceria com a ONU. "Minha mulher tem muito medo. Não quer nem ouvir falar da possibilidade de viver aqui depois do que aconteceu."

Iris, a mulher, não quer falar nem ser fotografada. Apenas brinca no abrigo com o filho do casal, de pouco mais de 1 ano. A magreza é nítida nos dois. "Já não conseguíamos mais sobreviver nem ter dinheiro para comer", diz Terán. "Saímos da Venezuela por isso."

Com direito a mais cinco dias de albergue - o máximo permitido é 15 dias -, Terán e a mulher não sabem como será o futuro. Viver no Peru não é uma opção, mas ambos não têm recursos para seguir viagem rumo ao Chile. "Está ficando difícil encontrar trabalho aqui", disse o mecânico. "A documentação também tem sido complicada."

Veronika Guerra é garçonete e trabalha num restaurante venezuelano no bairro de Miraflores, em Lima. No Peru há um ano, ela também já foi vítima da violência. No ano passado, acordou cedo para tirar a permissão de permanência temporária, o PTP, exigida pelo governo peruano para viver no país. Sabendo da má fama de alguns taxistas, associados por trapaças, roubos e agressões, principalmente contra mulheres, ela optou por um motorista do aplicativo Uber. Em vão.

"Ele seguiu um caminho diferente do que deveria e tentou me roubar. Quando viu que eu não tinha dinheiro, tentou me violentar", disse. "Comecei a gritar e um carro que passava parou para ver o que estava acontecendo. Foi a minha sorte."

Indicado pelo líder opositor Juan Guaidó para ser seu representante diplomático em Lima, Carlos Scull reconhece a xenofobia como um dos grandes problemas da comunidade venezuelana no Peru. "Temos organizado programas em parceria com o governo para orientar a comunidade local a se capacitar para buscar empregos e ter maior segurança", disse Scull. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Apesar do impacto da Operação Lava Jato e da queda do preço das commodities, a economia peruana tem apresentado uma rara estabilidade e cresce em ritmo razoável - fato incomum em uma região estagnada. É exatamente a solidez econômica o fator que mais atrai venezuelanos ao Peru. Em fuga da crise criada pelo chavismo, 715 mil vivem hoje no país, segundo dados oficiais do governo peruano.

A enfermeira Lila Valera saiu da Venezuela, deixando para trás as três filhas e a mãe, em busca de dinheiro para alimentar a família, nem que fosse a milhares de quilômetros de distância. A reportagem do jornal O Estado de S. Paulo acompanhou a fuga de Lila da Venezuela, em junho de 2018. Sem dinheiro suficiente para uma passagem inteira, ela então viajou parte do trajeto em pé no veículo, que foi alvo de pedradas de saqueadores na saída de Caracas.

##RECOMENDA##

Dez meses depois, a reportagem voltou a procurá-la em Lima. No Peru, ela conseguiu uma rede de clientes como cuidadora de idosos e plantões na seção de enfermagem de um hospital. Guarda cada trocado que pode para ajudar as filhas. Muito magras, as meninas, às vezes, almoçam só arroz. A casa em que vivem quase nunca tem luz, segundo Lila.

"Vivo há dez meses no Peru. Consegui trabalho e tenho conseguido sobreviver e ajudar minha família na Venezuela. O Peru, na parte econômica, é muito melhor que a Venezuela", conta Lila. "No segundo dia aqui, saí para procurar emprego, com apenas 20 soles (moeda peruana). Com outros venezuelanos, descobrimos onde precisavam de garçonetes. E assim foi indo, até que consegui me estabelecer como enfermeira."

O milagre econômico peruano começou nos anos 90, com a adoção do programa de ajuste do Banco Mundial, que pretendia tornar o país mais atraente para empresas estrangeiras por meio de reformas, desregulamentações e privatizações. Foi a maneira que o então presidente Alberto Fujimori encontrou para superar a crise - a inflação chegou a 400% ao mês em 1990.

Ao abrir sua economia, as exportações dispararam e os investimentos estrangeiros começaram a entrar, o que fez a dívida pública peruana diminuir, a inflação ser contida e as reserva cambiais aumentarem. Em 1990, o Peru exportava US$ 3 bilhões. Em 2010, US$ 36 bilhões.

A estabilidade já dura 20 anos e tem resistido ao fim do ciclo das commodities e aos efeitos da Operação Lava Jato nas obras de infraestrutura. Nos últimos anos, o Peru tem diversificado sua pauta de exportações, que tradicionalmente dependia de metais como cobre, ouro e ferro, e agora conta também com frutas e legumes. Isso, segundo analistas, evitou uma desaceleração maior da economia.

"A diversificação veio após a queda dos preços dos metais, em 2014", explica o economista da Pontifícia Universidade Católica do Peru Óscar Dancourt. "Graças a investimentos em irrigação, com recursos provenientes do boom das commodities, tanto privados quanto públicos, cresceu a produção de aspargos, uvas e abacates, principalmente em razão da demanda de países ricos por uma alimentação mais saudável."

Com a economia mais dinâmica, o consumo cresceu, assim como o emprego formal e a construção civil. Entre 2002 e 2013, o Peru nunca cresceu menos de quatro pontos porcentuais por ano - exceção feita a 2009, quando a crise financeira fez a economia crescer apenas 1,1%.

"Os anos de alta do preço dos metais levaram também a uma necessidade de ampliar a infraestrutura do país", lembra Dancourt. "É nesse momento que aparecem as obras envolvidas na Lava Jato. Estimava-se que a construção do gasoduto no sul do Peru acrescentasse 1 ponto porcentual ao crescimento do PIB (a obra foi paralisada)."

Segundo ele, o maior risco para a economia peruana, depois da Lava Jato, é o desemprego. A quantidade de vagas no setor urbano parou de crescer nos últimos anos e a chegada dos venezuelanos ampliou a oferta de mão de obra. "Uma solução seria o governo apostar em investimento em obras que estão paradas para estimular o emprego, principalmente na construção civil", diz.

O fim do ciclo das commodities coincidiu com o início da diáspora venezuelana e com as denúncias da Lava Jato. A partir de 2015, milhares começam a deixar a Venezuela em razão da escassez de comida e de remédio. O Peru é o destino de muitos que, como Lila, foram atraídos pela promessa de emprego e por uma economia estável, sem se importar com as denúncias de corrupção.

Imigração

Hoje, dos 715 mil venezuelanos que vivem no Peru, 285 mil possuem visto temporário de residência e 205 mil ainda estão à espera da autorização. Segundo autoridades peruanas, pelo menos 10 mil venezuelanos vivem em situação de extrema vulnerabilidade - 1,3 mil, por exemplo, são HIV positivos que chegaram em busca de tratamento. Segundo a Organização Internacional das Migrações (OIM), a média salarial dos venezuelanos no país é de US$ 309 (R$ 1,2 mil). "A economia peruana é um fator de atração para os imigrantes venezuelanos", afirma o diretor da OIM no Peru, José Iván Davalos.

Carlos Scull, representante diplomático do líder opositor venezuelano Juan Guaidó em Lima, diz que oito em cada dez venezuelanos que estão no Peru, assim como Lila, vivem na informalidade - ela trabalha no hospital por diárias, sem registro. E cinco em cada dez, também como ela, têm diploma universitário ou de nível técnico.

"Estamos trabalhando com o governo peruano para que essa validação de diplomas saia mais rápido e possamos interiorizar os venezuelanos, já que Lima abriga 65% deles", afirma Scull. "Seria uma situação boa para todos."

Ao contrário de muitos venezuelanos, portanto, Lila é um caso de sucesso. "Trabalho como autônoma, mas consigo ganhar, em média, 1.500 soles por mês (US$ 451)", diz. "Dois terços disso vão para pagar minhas contas aqui e o restante, para a Venezuela." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Nesta quarta-feira (13), por volta das 13h, Pernambuco receberá mais 23 imigrantes venezuelanos que desembarcam na Base Aérea do Recife. O grupo, que integra o conjunto de 63 pessoas que chegam na cidade, seguirá para a ONG Aldeias Infantis, em Igarassu, na Região Metropolitana (RMR). Os demais seguirão para Paraíba (31 pessoas) e Rio Grande do Norte (8). A aeronave vem de Roraima, onde o grupo estava abrigado emergencialmente.

Após a instalação dos refugiados, o poder público e a instituição devem identificar as principais necessidades e articular ações básicas como atendimento de saúde, inclusão em escolas para as crianças, estratégias de qualificação profissional e inserção no mercado de trabalho. Eles chegam a Pernambuco com CPF, carteira de trabalho e solicitação de refúgio.

##RECOMENDA##

Esses venezuelanos substituíram famílias refugiadas que já conquistaram autonomia, através da inclusão no mercado de trabalho, e saíram das residências da ONG para local de própria escolha. Com a chegada do novo grupo, já chega a 260 o número de venezuelanos que foram acolhidos no processo de interiorização no Estado.

A vinda dos venezuelanos para Pernambuco faz parte do Plano de Interiorização do Governo Brasileiro, organizado pelo Comitê Nacional para Refugiados e operacionalizado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), que desde o início do ano passado tratam do fluxo migratório desses estrangeiros.

LeiaJá também

--> Venezuelanos convivem com saudade e clamam por emprego

--> Com capacitação, venezuelanos buscam nova vida no Recife

 

Os venezuelanos assistem, impotentes, aos alimentos apodrecerem, e travam uma corrida contra o tempo para salvar o que lhes resta em congeladores de residências e restaurantes, devido ao apagão nacional que completou três dias neste domingo (10).

Vicente Fernández, 54, não abre o congelador de sua casa desde a tarde de quinta-feira. "Na minha residência, a luz não voltou nem por um minuto, deve estar tudo podre", lamenta o comerciante, enquanto pede um cacho de bananas "bem verdes" em um mercado da capital, que funciona na penumbra, com pescarias, leiterias e açougues fechados ou com as geladeiras vazias.

Fernández optou por comprar apenas o necessário para cada dia, com um agravante: os comerciantes locais só aceitam pagamento em dinheiro, muito escasso na Venezuela, onde a maioria das transações é eletrônica.

Após convencer o vendedor de que faria uma transferência bancária, o homem mostra cansaço: "Que nos mandem os marines de uma vez!", pede, referindo-se a uma possível intervenção militar americana para tirar o presidente Nicolás Maduro do poder.

Assim como os remédios e outros artigos básicos, o acesso a alimentos é limitado no país petroleiro, devido ao desabastecimento e ao alto custo causado pela hiperinflação, que o FMI projeta em 10.000.000% para 2019. A comida tornou-se, assim, um dos bens mais valorizados durante a crise, quando o salário mínimo dá para comprar apenas dois quilos de carne.

Muitas pessoas perderam peso. "Agora não importa se é caro, e sim, comer. Temos que sair desta loucura, este governo não serve para nada, roubaram o dinheiro para manter a infraestrutura", denuncia.

- 'Mãos peludas'-

Em uma mesa de seu restaurante, localizado em outro mercado de Caracas, Libia Arraiz espera que a comida que mantém refrigerada não estrague. Diz que, se a luz não voltar, perderá carne, frango e peixe para uma semana.

"Ai, meu Deus! Terei que tirá-la e dá-la, porque vendê-la será impossível. Ou distribuí-la entre a família, para que não se perca tudo", diz a mulher, 60, emocionada. No momento, prepara com os colegas do mercado cafés da manhã e almoços comunitários. Cada um traz o que pode, para salvar algo como "estratégia de sobrevivência".

"Isto é obra das mãos peludas que estão metidas no país. As pessoas da oposição dizem, com descaramento, que tudo isto é necessário para que possam tomar o poder, mas afeta todos nós", critica Libia, culpando pela "sabotagem" o líder parlamentar Juan Guaidó.

"Ele diz que vem coisa pior, que tem outra surpresa. Essa gente não tem consciência, são terroristas de verdade", reclama a mulher, referindo-se a advertências de Guaidó de que vêm pela frente "dias difíceis", com um possível desabastecimento de gasolina.

- 'Nem para distribuir' -

Um porco de 80 quilos chega, para a surpresa de muitos, ao açougue onde trabalha Henry Sosa, que o levará para casa, na vizinha Guarenas, onde o fornecimento de energia é intermitente, assim como em outras regiões do país. Sosa conta que perdeu metade de sua mercadoria. "Não deu nem para distribuir. Quem vai comer carne podre?", reclama.

A crise é aproveitada por alguns para fazer dinheiro extra. No setor de El Cafetal, em Caracas, um caminhão vende pequenos sacos de gelo por três dólares, que vizinhos, como María Ribas, pagam com dinheiro enviado do exterior por parentes.

Outros, como María Mendoza, vendem mamões e melancias que em breve estragarão, abrindo mão do lucro e vendendo as frutas a preço de custo, "pelo menos para não perder todo o investimento por causa desta sabotagem e bloqueio dos Estados Unidos".

Cerca de 3,4 milhões de venezuelanos fugiram de seu país desde o início da crise política e econômica, e o fluxo de saídas não diminui, anunciou a ONU nesta sexta-feira (22).

Em um comunicado conjunto, o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur) e a Organização Internacional para as Migrações (OIM) informaram que, no total, cerca de 2,7 milhões de venezuelanos encontraram refúgio em países vizinhos, como Colômbia e Peru, enquanto o restante foi para outros países fora da América Latina.

Em média, no ano de 2018, 5.000 pessoas deixaram a Venezuela a cada dia. Com base nesses números, a ONU declarou em dezembro que espera que o número de pessoas fugindo do país atinja os 5,3 milhões no final desse ano.

A Colômbia recebeu 1,1 milhão de refugiados e migrantes venezuelanos, seguida pelo Peru, com 506.000 pessoas, Chile 288.000, Equador 221.000, Argentina 130.000 e Brasil 96.000.

"Os países da região estão demonstrando grande solidariedade em relação aos refugiados e migrantes da Venezuela (...) Mas esses números ressaltam os desafios que pesam sobre as comunidades de acolhida e as necessidades permanentes de apoio da comunidade internacional", declarou Eduardo Stein, representante especial do Acnur e da OIM para os refugiados e migrantes da Venezuela.

O êxodo de venezuelanos fugindo da situação econômica desastrosa no país é considerado pela ONU o mais maciço da história recente da América Latina.

A Venezuela possui as maiores reservas de petróleo do mundo, mas está asfixiada por uma profunda crise econômica e é alvo de sanções financeiras dos Estados Unidos.

Cerca de 22.000 venezuelanos pediram proteção internacional em 2018 na União Europeia (UE), quase o dobro do ano anterior, segundo o Gabinete Europeu de Apoio ao Asilo (EASO), que também registra um forte aumento entre colombianos.

Os sírios permanecem como os primeiros candidatos a asilo com cerca de 75.000 em 2018 (-24% em relação a 2017), dos 634.700 pedidos de proteção feitos à UE no ano passado, afirma o relatório do EASO.

O texto destaca, pelo segundo ano, o caso dos venezuelanos, cujas solicitações aumentaram 88% em 2018, após um aumento de 155% no ano anterior.

Antes de 2014, os cidadãos da Venezuela apresentavam cerca de 100 solicitações por ano. Até o final de 2018, o número de venezuelanos à espera de uma resposta para seu pedido de asilo é agora em torno de 30.900, segundo o relatório.

Além dos cidadãos da Venezuela, mergulhada em uma profunda crise política, econômica e humanitária, o número de colombianos que solicitaram proteção internacional na UE foi de cerca de 10.000, uma progressão de 210% em relação ao ano anterior, segundo o escritório europeu.

O governo do Brasil vai instalar um centro de distribuição de ajuda humanitária em Roraima, na fronteira com a Venezuela. A decisão foi anunciada hoje (11) durante reunião entre o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e a a nova embaixadora María Teresa Belandria, designada para função há seis dias por Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente interino da República.

"Agradecemos a todo o povo do Brasil, que entende as necessidades de todo o povo venezuelano e que não teve tipo algum de resistência [ao povo venezuelano]”, disse María Teresa Belandria.

##RECOMENDA##

“Espero que logo acabe o pesadelo e que o governo legítimo do presidente Juan Guaidó possa avançar em uma relação mais firme”, acrescentou a embaixadora, informando que aguarda a alta médica do presidente Jair Bolsonaro para se reunir com ele.

Não está definido se o centro de distribuição será instalado em Pacaraima e Boa Vista. A recém-nomeada embaixadora disse que terá encontros nos próximos dias com o grupo de trabalho responsável pela ajuda humanitária coordenado pelos ministérios da Defesa e Saúde.

Segundo María Teresa Belandría, a população venezuelana precisa de alimentos, medicamentos, além de apoio logístico, transporte e segurança.

De acordo com a comitiva venezuelana, formada pela embaixadora e o deputado Lester Toledo, da Assembleia Nacional, que estará na coordenação do apoio ao centro de distribuição a ser instalado em Roraima, doações de outros países, como os que compõem o Grupo de Lima, dos Estados Unidos, Canadá e da Europa, devem passar também pelo Brasil.

O Brasil deve participar da ajuda humanitária também com apoio político e das agências, além de instituições internacionais.

Reconhecimento

María Teresa Belandria disse que durante o encontro com Araújo entregou as cartas credenciais e apresentou-se para assumir a representação em Brasília. Porém, ela não poderá se instalar na Embaixada da Venezuela, pois os representantes do governo Nicolás Maduro permanecem no local.

Além do Brasil, vários países, como a maioria que integra o Grupo de Lima, Estados Unidos, e vários da União Europeia, reconheceram o governo de Guaidó. Questionada se Maduro permanecer no poder como ficará sua situação, a embaixadora afirmou que tal hipótese não estava em consideração. “Não trabalhamos com esse cenário”, afirmou María Teresa Belandria.

Ao ser indagada sobre a impossibilidade de ocupar a embaixada em Brasília, María Teresa Belandria disse que "não precisamos de um prédio”. Na semana passada, ela se reuniu com o chanceler brasileiro em Washington, nos Estados Unidos.

Em relação às dificuldades de acesso ao território venezuelano, o deputado Toledo foi objetivo. "Como entrar? Com gente e acompanhamento das pessoas que querem mudança", disse o parlamentar, lembrando que há falsas informações cercando a ajuda humanitária e inclusive informando que os medicamentos são inadequados.

Diante da crise migratória que envolve a entrada de venezuelanos no Brasil, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, afirmou nesta sexta-feira, 30, que o País precisa acolher os imigrantes, mas que deve também pressionar o governo vizinho para que mude sua política de atendimento à população.

Após visitar o Santuário da Canção Nova, em Cachoeira Paulista (SP), Bolsonaro falou que seu governo não vai deixar o Estado de Roraima, que faz fronteira com a Venezuela, "abandonado à própria sorte".

##RECOMENDA##

"No que depender de mim, vamos acolhê-los. Ninguém está saindo de lá porque quer, está saindo por causa da fome e da ditadura. Devemos acolher, sim, mas também buscar maneiras de pressionar o governo da Venezuela para que aja de maneira diferente", afirmou.

De acordo com Bolsonaro, os governos do PT deveriam ter imposto sanções ao então presidente venezuelano Hugo Chávez quando o processo classificado por ele como "ditadura" começou a ser implantado no país vizinho. Outro erro, afirmou o presidente eleito, foi permitir a entrada da Venezuela no Mercosul.

Angra 3

Também na entrevista, Jair Bolsonaro declarou que a conclusão de Angra 3 é "prioridade" para seu governo. Nesta sexta-feira, ele anunciou o diretor geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha, almirante de esquadra Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior, para o cargo de ministro de Minas e Energia. Bolsonaro afirmou que, com a gestão do futuro ministro, será possível desenvolver a geração de energia através da fonte nuclear, além de solar e eólica.

A Colômbia expulsou 15 venezuelanos do país que provocaram uma série de incidentes em um acampamento humanitário em Bogotá, como saqueamento de armários, confronto com policiais, além de agressão aos moradores da região. Com isto, 13 dos imigrantes serão encaminhados para Cúcuta, capital do departamento de Norte de Santander, na fronteira com a Venezuela. Logo depois serão entregues para as autoridades do país vizinho.

Os outros dois, considerados mais “perigosos”, serão levados de avião até Cúcuta. Em seguida serão enviados para o país de origem junto dos outros venezuelanos.

##RECOMENDA##

A Migração Colombiana afirmou que por se tratar de uma expulsão, os venezuelanos não terão direito a recorrer da decisão.

Os imigrantes fazem parte de um grupo de 400 venezuelanos que estão em um acampamento em Bogotá. Os venezuelanos expulsos protestavam contra a má qualidade da comida fornecida pelo governo colombiano. De acordo com eles, alguns alimentos estavam vencidos.

Uma turma de 30 venezuelanos foi encaminhada de Boa Vista (RR) para Salvador (BA) no processo de interiorização. Segundo as autoridades, os imigrantes terão vagas de trabalho ou empregabilidade reservada na capital baiana. É a primeira vez que um processo de interiorização tem garantia de vagas no mercado de trabalho do destino.

As vagas foram adquiridas em parceria entre o governo e a Associação de Voluntários para o Serviço Internacional (AVSI), que entrou em contato com empresas que tinham interesse em empregar estrangeiros. Dos 30 imigrantes, cinco ficarão instalados na capital, os outros serão encaminhados para a região de Alagoinhas, a cerca de 120 km de Salvador, e serão empregados em uma indústria de bebidas.

##RECOMENDA##

Outros imigrantes serão levados para Florianópolis e Chapecó, em Santa Catarina, onde ficarão instalados na casa de parentes. Mais de 2,8 mil venezuelanos foram encaminhados para outras regiões do Brasil no processo de interiorização, segundo a Casa Civil.  

Nos últimos 12 meses, 14 mil 311 venezuelanos receberam uma carteira de trabalho em Roraima e, por isso, ganharam a oportunidade de ter acesso a possíveis empregos. A emissão dos documentos foi feita pela Superintendência Regional do Trabalho do estado, para assegurar direitos aos imigrantes que vieram ao Brasil em busca de melhores condições de vida.

Entre abril e junho deste ano, o saldo de vagas ocupadas por estrangeiros era de 2,4 mil. Dessas, 802 foram preenchidas por venezuelanos. Eles ocupam sobretudo cargos nos setores de alimentação, comércio, construção civil, supermercados, frigoríficos e limpeza.

Migração

Os imigrantes deixaram a Venezuela com destino ao Brasil para escapar da crise econômica e social que assola a nação vizinha. Para acolher essa massa populacional, que entra no País principalmente por Roraima, foram fornecidos abrigos e remédios aos que chegam.

 Essas ações integram o plano de ajuda humanitária, que ainda opera na interiorização desses imigrantes, transferindo-os para outros estados. Eles ainda recebem vacinas e são encaminhados para a emissão de documentos. Segundo o Governo Federal, o objetivo é que 15 mil venezuelanos sejam interiorizados para cidades onde haja melhores oportunidades e estrutura a eles.

 Com informações do Governo do Brasil

Mais um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) decolou hoje (3) do aeroporto de Boa Vista (RR) com mais de 100 venezuelanos que serão transferidos para Caicó (RN), o Rio de Janeiro (RJ), Guarulhos (SP) e Brasília (DF). O primeiro grupo (60 venezuelanos) chega ao Rio Grande do Norte às 12h50 e será encaminhado para um abrigo Aldeias Infantis SOS.

O Boeing 767 segue para o Rio de Janeiro com mais 16 pessoas e, em uma aeronave menor, 40 venezuelanos serão levados a São Paulo. Outros sete desembarcam em Brasília por volta das 21h30. Esse grupo que chega à capital é formado por pessoas que já têm família na cidade e não dependem de auxílio de abrigos para se integrar à sociedade local.

##RECOMENDA##

Com mais essa fase do programa de interiorização, iniciado este ano para ajudar pessoas que pedem refúgio e residência no país, 2.451 venezuelanos já foram transferidos para outras cidades brasileiras, segundo as contas do governo. A adesão é voluntária e quem manifesta interesse em participar recebe vacinas, passa por exames de saúde e tem a documentação regularizada, com a emissão de CPF e Carteira de Trabalho.

Equipes do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur) identifica os interessados e o perfil das vagas disponíveis nas cidades que manifestam condições para abrigo, além de apoiar a melhoria da infraestrutura desses locais. A Agência da ONU para as Migrações (OIM) orienta os migrantes. O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) trabalham na conscientização das pessoas e mobilização do setor privado para absorver a mão de obra refugiada.

Além dessas ações, as autoridades locais e a coordenação dos abrigos se organizam com integrantes do governo federal para garantir atendimento de saúde, matrícula de crianças em escolas, ensino da Língua Portuguesa e cursos profissionalizantes para essas pessoas.

Desembarcam nesta quinta-feira (20), às 14h,na Base Aérea do Recife, uma nova família de imigrantes venezuelanos. Composta por três pessoas- um homem, uma mulher e uma criança de 4 anos - o grupo se junta aos outros 99 imigrantes refugiados no Estado de Pernambuco. 

Ao chegarem, serão levados para alojamentos em residências geridas pela ONG Aldeias Infantis, em Igarassu, que já abriga dois outros grupos de venezuelanos. A hospedagem tem estrutura para acolher 10 pessoas em cada quarto e possui sete casas com cinco dormitórios cada.  

##RECOMENDA##

A chegada da família foi retardada, em relação ao grupo que chegou na última terça-feira (18), por conta da capacidade da aeronave. 

Por Lídia Dias

Pernambuco vai receber, nesta terça-feira (18), mais 30 venezuelanos que estavam refugiados em Roraima. O grupo, que embarcou na cidade de Boa Vista nesta manhã, chegará ao Aeroporto Internacional do Recife e de lá seguirá para um abrigo em Igarassu, na Região Metropolitana da capital.

Os solicitantes de refúgio e residência embarcaram por volta das 8h em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB). A aeronave fará escala para abastecimento em Belém-PA. Como se trata de um processo voluntário, o número previsto de passageiros estava passível de mudança até o horário de embarque.

##RECOMENDA##

Com o voo desta terça-feira, o número de venezuelanos transportados com ajuda do Governo Federal e da Organização das Nações Unidas (ONU) passa de 1,9 mil. Segundo a Casa Civil, todos aceitam, voluntariamente, participar do programa e são vacinados, submetidos a exame de saúde e regularizados no Brasil, inclusive com CPF e carteira de Trabalho.

Estão previstos para esta semana voos na quarta-feira (19), quinta-feira (20) e sexta-feira (21), tendo como destino final as cidades de Manaus-AM, Conde-PB, Brasília-DF e Rio de Janeiro-RJ. O abrigo Aldeias Infantis SOS, em Igarassu, já recebeu 69 imigrantes da Venezuela na etapa anterior do processo de interiorização, em julho deste ano.

Interiorização

A interiorização conta com apoio da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), da Agência da ONU para as Migrações (OIM), do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Para aderir à interiorização, o ACNUR identifica os venezuelanos interessados em participar e cruza informações com as vagas disponíveis e o perfil dos abrigos participantes. A agência assegura que os indivíduos estejam devidamente documentados e providencia melhoras de infraestrutura nos locais de acolhida. A OIM atua na orientação e informação prévia ao embarque, garantindo que as pessoas possam tomar uma decisão informada e consentida, sempre de forma voluntária, além de realizar o acompanhamento durante todo o transporte.

O UNFPA promove diálogos com mulheres e pessoas LGBTI para que se sintam mais fortalecidas neste processo, além de trabalhar diretamente com a rede de proteção de direitos nas cidades destino com o objetivo de fortalecer a capacidade institucional. Já o PNUD trabalha na conscientização do setor privado para a absorção da mão de obra refugiada.

Reuniões prévias do governo e da ONU com autoridades locais e coordenação dos abrigos definem detalhes sobre atendimento de saúde, matrícula de crianças em escolas, ensino da Língua Portuguesa e cursos profissionalizantes.

Foram confirmadas 17 mortes de venezuelanos que tentaram cruzar a fronteira com a região denominada como Páramo de Berlín, na Colômbia, nos últimos dias. A causa das mortes foi o frio, já que a região tem dezenas de lagoas e as temperaturas podem chegar a 15 graus negativos.

“Ficamos sabendo de muitas histórias, inclusive a de uma mãe que estava alimentando seu bebê - ela e a menina morreram de parada respiratória. E, que a gente saiba, morreram nove crianças e oito adultos. É uma história muito forte e o mais triste é que as suas famílias nem devem saber que morreram no caminho", disse a diretora do albergue Espíritu Santo, localizado na cidade de Tunja (ponto final da travessia do Páramo), Anny Uribe.

##RECOMENDA##

Depois de atravessar a fronteira na cidade de Cúcuta (Colômbia), os venezuelanos que rumam em destino a cidade de Bucaramanga encaram aproximadamente 190 km a pé, caminho que dura 50 horas em cinco dias de caminhada.

"Chegou aqui um grupo de 14 pessoas e eles nos contaram que eram 17. Três morreram na travessia. Eles tiveram que enterrar os corpos na beira da estrada. Essas pessoas chegam com feridas nos pés, uma descompensação total de seu organismo, desidratados, desnutridos, com hipotermia, pressão baixa", conclui.

Cerca de um milhão de venezuelanos cruzaram a fronteira com a Colômbia desde o início da crise na Venezuela. Atualmente 800 mil residem no país. 

O que fazer com a migração venezuelana? Mais restrições? Um fundo comum? Representantes de 12 países da América Latina debatem, a partir desta segunda-feira (3), em Quito, como chegar a uma solução comum para o êxodo de pessoas que transitam pelo continente, fugindo da severa crise na Venezuela.

A região, que no passado viu sair milhões de latino-americanos para Estados Unidos ou Europa em busca de trabalho, ou por causa da violência, enfrenta uma incomum migração dentro de suas fronteiras.

Representantes de 12 países da América Latina se reúnem a partir de hoje, na capital equatoriana, para tentar definir os primeiros passos para uma política regional frente ao êxodo.

O encontro termina nesta terça com declarações à imprensa, disse a Chancelaria equatoriana, que sediará a reunião.

Apesar de ter sido convidado, até domingo Quito não havia recebido a confirmação da participação de representantes do governo de Nicolás Maduro, cada vez mais isolado no continente por conta de suas políticas e abusos em direitos humanos e criticado pela oposição, pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e por outros organismos internacionais.

"Um esforço regional servirá para que nossos países deem uma melhor resposta a essas situações", afirmou o ministro das Relações Exteriores do país anfitrião, José Valencia.

A convite do Equador, estarão presentes Argentina, Bolívia (aliado da Venezuela), Brasil, Colômbia, Costa Rica, Chile, México, Panamá, Paraguai, Peru e Uruguai.

Sobre a mesa devem estar propostas que vão da eliminação de restrições à migração, ou unificação de medidas para o trânsito de venezuelanos, até um fundo comum a pedido da ONU, como propõe a Colômbia.

Ou ainda o estabelecimento de um sistema de cotas de atenção aos migrantes, como sugeriu na semana passada o chefe do governo espanhol, Pedro Sánchez, em sua passagem por Bogotá, onde anunciou recursos europeus de 35 milhões de euros para atender à "crise migratória" negada por Caracas.

"É indispensável que cada país assuma sua porção de responsabilidade", advertiu o vice-ministro equatoriano da Mobilidade Humana, Santiago Chávez.

Isso inclui a Venezuela, a cujo governo será pedido que "implemente políticas" para que a migração seja "atendida de maneira adequada", acrescentou.

- Pressão sobre Maduro -

Cerca de 2,3 milhões de venezuelanos (7,5% da população de 30,6 milhões) vivem no exterior, dos quais 1,6 milhão emigrou desde 2015, quando piorou a escassez de remédios e alimentos em seu país em meio a uma hiperinflação que pulveriza os salários.

Colômbia, Peru e Equador são os principais receptores do fluxo migratório, que se estende para outras nações sul-americanas, como o Brasil.

Para Daniela Salazar, advogada especializada em Direitos Humanos, é necessário atacar as causas da migração, e não apenas buscar paliativos para seus efeitos.

"Já que os governos sentem que isso lhes está afetando, que pelo menos sirva para que não olhem para o outro lado e realmente ponham pressão internacional suficiente para gerar uma mudança na situação política na Venezuela", disse Salazar, catedrática da Universidade San Francisco de Quito.

Na região não há uma postura única frente à situação da Venezuela. Em meio às críticas que a maioria lança contra Maduro, a Bolívia é uma voz dissonante que defende o presidente venezuelano.

A OEA também convocou para 5 de setembro uma reunião extraordinária para tratar do fenômeno migratório.

- Restrições e xenofobia -

Em cada fronteira que cruzam, os venezuelanos enfrentam diferentes requisitos. A Colômbia pede documento de identidade para quem está em trânsito e passaporte para os que pretendem ficar. O Equador exige identidade com um certificado, e o Peru, um passaporte, ou pedido de abrigo.

O Defensor Público do Equador, Ernesto Pazmiño, considerou que "todos os governos deveriam flexibilizar o ingresso para amrnizar essa crise humanitária".

A migração de venezuelanos é uma das maiores da história da América Latina. A situação transbordou a capacidade de atenção dos países, onde já haviam aparecido focos de xenofobia e violência por confrontos com a população local, como no caso do estado de Roraima, onde militares reforçarão a segurança por ordem do governo.

Na quinta-feira passada, a capital equatoriana foi palco de pequenas marchas simultâneas de protestos, sem o registro de incidentes: uma, de trabalhadores informais contra os migrantes venezuelanos, e outra, de ativistas contrários à xenofobia.

"É urgente que os governos abram suas fronteiras, e os habitantes não fechem as portas aos venezuelanos para evitar surtos de xenofobia", disse Pazmiño à AFP.

Em Quito, os governos vão tratar do espinhoso assunto das "necessidades financeiras" para atender aos migrantes, segundo Chávez, motivo pelo qual pedirá contribuições internacionais.

Após decretação da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) em Roraima cerca de 700 homens da 1ª Brigada de Infantaria de Selva já estão atuando nas fronteiras do Brasil com a Venezuela e com a República Cooperativa da Guiana.

O decreto foi assinado na última terça-feira (28) pelo presidente Michel Temer e está em vigor desde então, ampliando o poder de polícia das Forças Armadas em três municípios de Roraima: a capital Boa Vista, a cidade de Pacaraima na fronteira Venezuelana e Bonfim, na divisa com a Guiana. Roraima se tornou a principal rota utilizada pelos imigrantes que fogem da crise na Venezuela. Segundo o IBGE, 30,9 mil estão vivendo no Brasil - 99% em Roraima que aumentou sua população total em 10% depois do início da migração.

##RECOMENDA##

A assessoria de comunicação da 1ª Brigada de Infantaria de Selva, explicou em entrevista que, antes do decreto, o efetivo de militares nas fronteiras era de 370 homens (270 na Venezuela e 100 na Guiana) e agora outros 300 foram enviados para essas regiões.

"O Exercito continuará com seu trabalho de fiscalização e patrulhamento das fronteiras e irá intensificar sua presença nas rodovias, com o estabelecimento de postos de bloqueio e controle de estradas" explicou a assessoria.

O Exército criou ainda um posto volante nas rodovias BR-174 e 401 e ficou definido que a Força Nacional atuará nas ruas de Pacaraima e nos arredores de abrigos na capital Boa Vista, mas o patrulhamento ostensivo dos municípios permanece sob responsabilidade dos Órgãos de Segurança Pública competentes.

O Exército confirmou também que não virão militares de outros Estados para cumprir o decreto, pois o efetivo a ser empregado na operação será o já existente nos quartéis de Roraima.

"A única diferença é que esses militares passam a ter poder de polícia. Se ocorrerem conflitos como aqueles onde os venezuelanos foram expulsos da cidade, os militares poderão agir para conter o tumulto. Agora as Forças Armadas têm competência legal para intervir".

O secretário-Chefe da Casa Civil de Roraima, Frederico Linhares considera que o decreto é limitado e não atinge de maneira efetiva as necessidades do Estado. "Nós entendemos que efetivamente, o GLO é uma ação que não soluciona o problema de fato. É uma ação pontual e muito rápida que vence no dia 12 de setembro, de modo que o legado disso é muito pouco, em relação a um problema que precisa ter uma solução de longo e médio prazos. Hoje a grande prioridade são recursos para a saúde e um hospital de campanha em Boa Vista", acrescentou.

O que é GLO

A ação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), conforme prevista na Constituição Federal, é realizada exclusivamente por ordem do presidente da República, por motivação ou não dos governadores ou dos presidentes dos demais poderes constitucionais. Empregada 29 vezes entre 2010 e 2017, ela ocorre quando há o esgotamento das forças tradicionais de segurança pública, em graves situações de perturbação da ordem.

Reguladas pela Constituição Federal, em seu artigo 142, pela Lei Complementar 97, de 1999, e pelo Decreto 3897, de 2001, as operações de GLO concedem provisoriamente aos militares a faculdade de atuar com poder de polícia até o restabelecimento da normalidade.

Nessas ações, as Forças Armadas agem de forma episódica, em área restrita e por tempo limitado, com o objetivo de preservar a ordem pública, a integridade da população e garantir o funcionamento regular das instituições.

Quatro integrantes de uma mesma família de refugiados venezuelanos chegaram na tarde desta quinta-feira, 30, a Brasília. O grupo foi levado para um abrigo onde receberá apoio até que possa se manter por conta própria.

A família chegou ao Brasil pela fronteira em Roraima e, dentro do processo de interiorização dos refugiados, foi encaminhada à capital federal. O abrigo que os recebeu é o mesmo que acolheu um grupo de 50 refugiados venezuelanos em julho, sendo que 23 eram crianças.

##RECOMENDA##

De acordo com a Casa Civil, 20 adultos do primeiro grupo já estão trabalhando em Brasília e parte dessas pessoas, inclusive já deixaram o abrigo.

Páginas

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando