As lindas bromélias do jardim não significam o mesmo para a dona de casa e para o agente caça-mosquitos que rastreia nas folhas desta planta a presença do inimigo. "Aqui tem uma larva!", exclama Márcio Hoglhammer, um dos agentes de saúde da cidade de São Paulo que se dedicam à caça ao Aedes aegypti.
Este mosquito é o mais famoso vetor de alguns vírus, como os da febre amarela, dengue, chikungunya e o zika, que provoca temores por seu vínculo com uma explosão de casos de bebês nascidos com microcefalia no Brasil e em outros países da América Latina.
São desconhecidos ainda muitos aspectos do vírus, e não está claro se ele pode ser transmitido de pessoa a pessoa. Os cientistas estudam se pode haver contágio por via sexual, através da saliva e da urina, e suspeitam de que o zika esteja por trás de um aumento de síndromes neurológicas como a Guillain-Barré.
O agente mostra a espécie de seringa com a qual retirou a água armazenada entre as folhas côncavas e, olhando contra a luz, explica: "Encontrei uma larva de Aedes aegypti. Esta planta é um grande criadouro". "Eu lhes recomendo que, se não vão cuidar desta planta como é necessário, melhor a trocarem por outras. O mosquito não precisa ter uma selva, mas sim plantas específicas para se reproduzir", explicou o agente à surpresa dona de casa, Juliana Matuoka, 43 anos, que ainda se recupera da dengue que teve no final de janeiro.
Casa por casa
O Brasil declarou situação de emergência de saúde pública em novembro passado, após constatar um aumento inédito de casos de bebês nascidos com microcefalia no nordeste, que, depois, foi vinculado à circulação do vírus zika na mesma região.
A partir desse momento, o governo anunciou um plano nacional de combate ao Aedes aegypti que, entre outras medidas, ampliou de 43.000 para quase 310.000 a quantidade de agentes de saúde que inspecionam domicílios em todo o país para identificar possíveis criadouros do mosquito, aplicar veneno contra larvas em cisternas, piscina e caixas d'água, e informar os habitantes sobre as medidas de prevenção.
No elegante bairro de Alto Pinheiros, no oeste da cidade, um grupo de agentes da prefeitura de São Paulo acompanhados de jovens militares percorrem as casas. Querem verificar se há criadouros de mosquitos, se as famílias estão em risco de contrair um vírus ligado ao Aedes aegypti e orientá-las sobre o combate a este inseto.
Até agora, a mais rica cidade brasileira é mais atingida pela dengue do que pelo vírus zika, que está presente, sobretudo, nos estados mais pobres e quentes do nordeste do país. Mas como o vetor é o mesmo, as autoridades esperam que esta campanha funcione também como prevenção, diante de um vírus que se expande rapidamente.
Mais de 30% das casas do país já foram visitadas por agentes de saúde e militares para combater o mosquito, em torno de 20,7 milhões de imóveis, anunciou nesta sexta-feira o Ministério da Saúde.
As operações realizadas em São Paulo nesta semana são similares às que ocorrerão em todo o Brasil no sábado 13 de fevereiro, dia de mobilização nacional contra o mosquito e quando 220.000 militares das três Forças Armadas irão casa por casa para informar aos cidadãos como lutar contra o mosquito inimigo.
Efetividade incerta
Hoglhammer disse que há alguns dias,com uma equipe de cinco ou seis pessoas, visitou quase 300 casas em um único dia, mas, ainda assim, trata-se de um trabalho de formiga, de eficácia incerta.
As equipes de combate ao mosquito Aedes aegypti já operam há anos em São Paulo, mas, ultimamente, o serviço "está sobrecarregado", reconhece Hoglhammer. "Não sei se temos grande alcance", comenta, sobre a eficácia deste tipo de operação em um país de 200 milhões de habitantes.
Além das visitas casa por casa, as ruas de certos bairros com focos mais propícios para o mosquito estão sendo fumegadas.
Mas nem assim está garantida a eliminação dos insetos: o veneno mata as espécies adultas que estão circulando, mas é muito difícil que alcance os ovos ou larvas que estão se formando, por exemplo, entre as folhas de uma bromélia no quintal de uma casa.