Uma alemã que viajou para a Síria quando adolescente para se juntar ao grupo jihadista Estado Islâmico (EI) começou a ser julgada por um tribunal de Halle, no leste da Alemanha, nesta terça-feira (25), acusada de cumplicidade em crimes contra a humanidade.
Agora com 22 anos, Leonora Messing está sendo processada por suspeita de que ela e seu marido, membro do EI, escravizaram uma mulher yazidi em 2015, na Síria.
Neste julgamento, que transcorrerá a portas e deve durar até meados de maio, Messing também é acusada de ter-se integrado a uma organização terrorista e de violação de leis sobre armas.
O caso gerou debate na Alemanha sobre como uma garota de 15 anos, de uma pequena localidade, conseguiu se radicalizar e se juntar à causa islâmica.
Messing fugiu de casa em março de 2015 e seguiu para a parte da Síria controlada pelo EI. Ao chegar a Raqa, então "capital" de facto do EI na Síria, tornou-se a terceira esposa de um alemão de sua região.
O pai de Messing, um padeiro da cidade alemã de Breitenbach, soube que sua filha havia se juntado ao islamismo radical ao abrir seu computador e ler seu diário, após seu desaparecimento.
Seis dias depois que ela partiu, seu pai recebeu uma mensagem, informando que sua filha "escolheu Alá e o Islã" e que "chegou ao califado".
- "Boa aluna" -
"Era uma boa aluna", disse seu pai, Maik Messing, à rádio NDR, em 2019. "Ia para um lar para idosos para ler para eles", contou.
A jovem levava uma vida dupla e frequentava, aparentemente sem o conhecimento dos pais, uma mesquita em Frankfurt.
Messing está entre os mais de 1.150 islâmicos que deixaram a Alemanha desde 2011, rumo à Síria e ao Iraque, segundo o governo alemão.
Seu caso despertou especial atenção por sua idade e porque seu pai concordou em colaborar com uma equipe da televisão e da rádio pública regional NDR.
O homem tornou públicas as milhares de mensagens trocadas com a filha, revelando que a jovem tentava, desesperadamente, fugir do "califado".
A Justiça alemã acusa-a de ter trabalhado durante três meses em um hospital do EI em Raqa e de ter "espionado" as esposas de combatentes para os serviços de Inteligência do grupo.
Ela também é acusada de envolvimento em crimes de tráfico de pessoas, pois seu marido "comprou" uma mulher yazidi de 33 anos e depois a vendeu. Após dar à luz duas meninas, Messing acabou detida em um acampamento controlado pelos curdos no norte da Síria.
Seu marido, Martin Lemke, foi capturado em 2019 pelas Forças Democráticas Sírias (FDS), dominadas pelos curdos, contaram Leonora Messing e outra de suas esposas à AFP.
A jovem foi repatriada em dezembro de 2020 e detida ao chegar ao aeroporto de Frankfurt. Depois, foi liberada.