A discriminação faz parte do cotidiano da periferia do Recife. É o que indica um estudo do Instituto de Pesquisas UNINASSAU, realizado em parceria com o LeiaJá.com e o Jornal do Commercio.
A pesquisa foi realizada de forma qualitativa, ou seja, não traz números, mas uma análise a partir dos discursos. Cerca de 40 pessoas das classes C e D dos subúrbios da capital pernambucana foram colocadas ao redor da mesa e instigadas a conversar sobre diversos temas, entre eles, a discriminação sofrida.
##RECOMENDA##Partindo do relato dos pesquisados, é possível perceber vidas que foram vítimas de situações preconceituosas e delas não se esqueceram jamais. É o caso, por exemplo, de Jaciene Mendes, do Córrego do Jenipapo, Zona Norte do Recife, que quando trabalhava num mercadinho ouviu de um suposto juiz que “essa menina é muito imbecil” enquanto ele passava as compras na esteira. Provavelmente, para o juiz, aquele acontecido não ficou mais do que um minuto em sua mente. Ela, que hoje é dona de casa, continua guardando a lembrança com frescor.
Para o músico Ridivaldo Procópio, crescido no Coque, área central do Recife, o mais comum é ser seguido em lojas. “Você é perseguido na loja. Você está sempre sendo vigiado. O que indica que você é um assaltante?”.
O mesmo tipo de situação embaraçosa foi citado por outras pessoas na pesquisa qualitativa. Casos de gente pobre que chegou em uma loja de sapato ou de roupa e ninguém aparecia para atender ou encarava desconfiado. Ou a jovem que levou o filho numa clínica dermatológica e percebeu o olhar torto das pessoas no ambiente por não se trajar como as mesmas. “Pobre não pode ir ao dermatologista?”, ela indagava.
Responsável pela pesquisa, o cientista político Adriano Oliveira percebeu que os pesquisados de todas as idades se dizem vítimas de preconceito, mas que para os mais novos “você é o que tem”. “Os jovens relatam que em determinados bairros e locais, se você não estiver bem vestido, o outro lhe olhará com indiferença. Por isso, é necessário estar bem vestido para não ser discriminado. Portanto, a discriminação social, advinda do consumo, expressa conflito de classes”, ele analisa.
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