A continuidade da deterioração da qualidade dos ativos dos grandes bancos fez com que o colchão reservado para perdas fosse quase o dobro do lucro líquido dessas instituições no segundo trimestre. Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander entregaram, juntos, ganhos de cerca de R$ 15 bilhões entre abril e junho, ao mesmo tempo em que tiveram de gastar cerca de R$ 29 bilhões com provisões para devedores duvidosos, as chamadas PDDs. No período, as instituições foram impactadas pelo cenário macroeconômico recessivo e ainda pela exposição à Sete Brasil e à Oi, ambas em processo de recuperação judicial.
No segundo trimestre, o lucro seguiu encolhendo. O resultado do período foi 13,5% inferior ao registrado de abril a junho de 2015, de R$ 17,3 bilhões. Apesar do ganho menor, o ritmo de queda desacelerou e a sinalização dos grandes bancos é de que o pior já passou. No primeiro trimestre, o lucro combinado de Caixa, BB, Itaú, Bradesco e Santander havia caído cerca de 20%, também em relação ao mesmo intervalo do ano passado.
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Do lado das despesas com PDDs, embora ainda estejam em um patamar elevado, os gastos se mantiveram praticamente estáveis no segundo trimestre ante o primeiro. Em um ano, porém, esses gastos cresceram 32,6% como consequência do reforço que os bancos seguem fazendo em seu colchão para perdas. De abril a junho, o saldo de provisões foi a R$ 153,9 bilhões, cifra 49,4% superior em um ano e 4,7% maior em relação aos três meses anteriores.
No comparativo trimestral, o aumento foi impulsionado, principalmente, por maiores provisões feitas por BB e Caixa, ambos com exposição à Sete Brasil e também à operadora de telefonia Oi. O reforço é necessário diante do cenário atual, de acordo com executivos dos grandes bancos, e reflete um primeiro semestre pior do que o esperado por essas instituições. Para o segundo semestre, porém, a expectativa dos grandes bancos é de um menor volume de gastos com PDDs na comparação com a primeira metade do ano.
O presidente da Caixa, Gilberto Occhi, afirmou ontem, em sua primeira coletiva de imprensa de resultados desde que assumiu o cargo, que a instituição preferiu reforçar suas provisões, ainda que a inadimplência do período tenha se reduzido. O indicador considerando atrasos acima de 90 dias melhorou 0,31 ponto porcentual ao final de junho ante março, para 3,2%. A queda dos calotes ocorreu mesmo sem que o banco público tenha feito vendas de carteiras no período, visto que está proibido pelo Tribunal de Contas da União (TCU) de efetuar novas cessões, diante da identificação de irregularidades em algumas operações.
Sem precisar o que espera do comportamento dos calotes para os próximos trimestres, o presidente da Caixa disse que o banco está empenhado em acelerar a redução da sua inadimplência. Ampara-se, para isso, na composição de sua carteira de crédito, preferencialmente composta por segmentos menos arriscados, como imobiliário, do qual segue líder, e consignado (com desconto em folha).
Além disso, desde que chegou à Caixa, Occhi criou uma diretoria específica para cuidar da redução da inadimplência e das provisões. "Nosso objetivo está muito mais voltado à prevenção do que recuperação de crédito", disse ele.
Calotes e crédito
Além da Caixa, o Santander também reduziu seus calotes, considerando atrasos acima de 90 dias, no segundo trimestre ante o primeiro. Os demais foram na contramão. O BB justificou parte do aumento como o impacto já contabilizado de um grande caso específico do setor de óleo e gás. Embora não tenha revelado o nome do cliente, seria a Sete Brasil. Enquanto isso, Itaú e Bradesco esperam que o índice de 90 dias do terceiro trimestre ainda apresente tal reflexo.
Do lado do crédito, os grandes bancos também estão mais cautelosos, inclusive os públicos, que no passado foram usados pelo governo como indutores à oferta de crédito. A Caixa revisou sua projeção para o desempenho da sua carteira. Espera que o saldo de seus empréstimos cresça de 5,5% a 7,5%, e não mais de 7,0% a 10%. É o único grande banco que espera expansão da carteira neste ano. Assim como os privados, o BB passou a considerar a possibilidade de queda de até 2% dos empréstimos neste ano. O Itaú prevê redução de até 10,5% da sua carteira total de financiamentos, enquanto o Bradesco projeta baixa de até 4%. O Santander não divulga guidances.
Emprestando menos e com o peso dos calotes, o retorno dos grandes bancos encolheu no segundo trimestre. O Itaú foi o único que conseguiu manter rentabilidade acima dos 20%. Já o Banco do Brasil reforçou seu comprometimento em encostar nos pares privados em termos de retorno. Ao final de junho, a rentabilidade do banco ficou em 7,7%, ante 14,2% um ano antes e 5,6% em março. "A melhora do retorno do BB será possível com a entrega de melhores margens, aumento de receitas de serviços, corte forte de despesas, busca constante de eficiência e gestão rígida e pró-ativa de capital", afirmou o presidente do banco, Paulo Caffarelli.
A Caixa também tem o desafio de ser mais rentável. O banco entregou no segundo trimestre o pior retorno dos últimos trimestres. Foi a 9,76%, contra 10,27% em março e 12,49% um ano antes. De acordo com Occhi, o resultado da Caixa vai melhorar nos próximos trimestres e um dos pilares serão os ganhos com serviços, seguros e cartões. Apesar disso, o banco público cortou sua estimativa para as receitas de prestação de serviços. Espera alta de até 11%, contra projeção anterior de expansão de até 13%.